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quarta-feira, 11 de dezembro de 2019

CURIOSIDADES POR SÍLVIO BULHÕES



VÍDEO...Curiosidades por Sílvio Bulhões. (filho do casal de cangaceiros, Dadá e Corisco). Bulhões fala sobre a descendência de Dadá, o roubo de dadá por Corisco e o termo 'cangaceiro'.


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Livro "Lampião a Raposa das Caatingas"


Depois de onze anos de pesquisas e mais de trinta viagens por sete Estados do Nordeste, entrego afinal aos meus amigos e estudiosos do fenômeno do cangaço o resultado desta árdua porém prazerosa tarefa: Lampião – a Raposa das Caatingas.

Lamento que meu dileto amigo Alcino Costa não se encontre mais entre nós para ver e avaliar este livro, ele que foi meu maior incentivador, meu companheiro de inesquecíveis e aventurosas andanças pelas caatingas de Poço Redondo e Canindé.

O autor José Bezerra Lima Irmão

Este livro – 740 páginas – tem como fio condutor a vida do cangaceiro Lampião, o maior guerrilheiro das Américas.

Analisa as causas históricas, políticas, sociais e econômicas do cangaceirismo no Nordeste brasileiro, numa época em que cangaceiro era a profissão da moda.

Os fatos são narrados na sequência natural do tempo, muitas vezes dia a dia, semana a semana, mês a mês.

Destaca os principais precursores de Lampião.
Conta a infância e juventude de um típico garoto do sertão chamado Virgulino, filho de almocreve, que as circunstâncias do tempo e do meio empurraram para o cangaço.

Lampião iniciou sua vida de cangaceiro por motivos de vingança, mas com o tempo se tornou um cangaceiro profissional – raposa matreira que durante quase vinte anos, por méritos próprios ou por incompetência dos governos, percorreu as veredas poeirentas das caatingas do Nordeste, ludibriando caçadores de sete Estados.
O autor aceita e agradece suas críticas, correções, comentários e sugestões:

(71)9240-6736 - 9938-7760 - 8603-6799 

Pedidos via internet:
franpelima@bol.com.br
Mastrângelo (Mazinho), baseado em Aracaju:
Tel.:  (79)9878-5445 - (79)8814-8345

Clique no link abaixo para você acompanhar tantas outras informações sobre o livro.
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RÉVEILLON: ALAGOAS RECEBE O MUNDO

Clerisvaldo B. Chagas, 11 de dezembro de 2019
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.227

Mais uma vez Alagoas sai na frente diante do Brasil inteiro como destino mais procurado para o fim de ano. Isso quer dizer que o estado bateu Rio de Janeiro, São Paulo e Salvador, ficando no topo das dez cidades mais procuradas para o Ano Novo. Dois milhões de turistas são aguardados e lotarão mais de 90% dos hotéis, dizem notícias sobre o assunto. Em Alagoas ganha força: Maceió, Maragogi e São Miguel dos Milagres para quem deseja ir para o Norte; e Barra de São Miguel, destino Sul. Todas têm praias belíssimas, entre tantas outras que encantam os nativos e os de fora. Outros destinos dentro do estado também recebem turistas como os cânions do São Francisco, Delmiro Gouveia, Piranhas, Traipu e Penedo.

PRAIA DE PAJUÇARA. (FOTO: B. CHAGAS/R. GEOGRAFIA DE ALAGOAS).

Não só brasileiros de todas as Cinco Regiões estarão presentes em Alagoas, mas também argentinos, chilenos, e portugueses, falam notícias dos entendidos. Apesar de atrações por todos os lugares e manchas de óleo que afetaram praias do estado, Maceió e Maragogi deverão ser os destinos mais procurados. Inúmeros turistas não chegam somente para o Ano Novo, mas complementam até com semanas suas incursões por essas bandas. As praias são conhecidas como as mais belas do Brasil, mas não só de praias vive o turismo alagoano. Entretanto, a orla de Maceió estar preparada tanto em beleza quanto em atrações culturais. Quem anda pelo Comércio sente a movimentação incomum de invasões benfazejas.
Quanto às manchas de óleo que invadiram alguns pontos do nosso litoral, praticamente desapareceram e o banho de mar não encontra problemas nas praias de Maceió. Entretanto, a movimentação alagoana, funciona em duas mãos. Muitos são também os que deixam a capital e se dirigem aos interiores procurando suas raízes, longe do foguetório da orla. Destinos do Sertão, Agreste, Alto Sertão, Zona da Mata, Sertão do São Francisco e Foz, movimentam a rodoviária e o grande número de transportes alternativos.
Nem tudo são flores, mas...
Alagoas espera por você.

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DAS HISTÓRIAS DO MEU LUGAR

*Rangel Alves da Costa

Poço Redondo, meu sertão querido, o seu álbum e suas molduras ainda vivem em mim como imagens eternizadas no coração. Por isso tanto me lembro, tanto recordo, tanto busco nas nostalgias suas feições mais singelas.
Ainda me lembro da tábua de pirulitos de mel de Dona Luisinha, do arroz-doce de Baíta ao entardecer, de Maria do Piau aparecendo na esquina com sua piaba salgada em cesto na cabeça. Mãeta em sua calçada dando a benção a quem passasse e pedisse a proteção. Seu João Retratista chegando de Pão de Açúcar e armando seu tripé perante aquele que desejasse uma fotografia como recordação. 
Nas proximidades da Festa de Agosto, Manezinho Tem-tem, famoso engraxate daqueles idos, atravessava o rio para fazer verdadeiros milagres em sapatos tortos, tronchos, de muito caminho andado. Delino vendendo banana, Delino com o seu bar, e das três portas adentro o forró comendo no centro.
Certa feita, num dia de forró de Festa de Agosto, Heraldo Carvalho da Serra Negra entrou pelas portas do bar com cavalo e tudo. Quem reclamava? Quantos sanfoneiros bons já animaram aquele passado poço-redondense: Zé Aleixo, Zé Goití, Dudu, Agenor da Barra, Dida e tantos outros. Zelito era a voz do forró de Zé Aleixo. Miltinho abria as portas de seu bar para resgatar aquele forró pé-de-serra que já descambava para o esquecimento.
Camisa chique de volta-ao-mundo, calça boca-de-sino, brilhantina no cabelo e nos bolsos um pente e um espelhinho ovalado. Ali na Praça da Matriz, bem defronte à casa de Tia Cordélia, a marinete de Seu Vavá parando depois de mais de cinco horas de viagem por estrada de chão, e todo o sacrifício para chegar ao sertão. E, tantas vezes, para fazer retornar sertanejos depois de uma estadia no sul.
Gente passando menos de ano pelo Rio de Janeiro e São Paulo e logo chegando com falar diferente, num carioquês ou paulistês desavergonhado que só. Trazia sempre uma radiola e discos de Maurício Reis, Odair José e Fernando Mendes. Depois era uma farra, mas só até o dinheiro ir minguando e o sertanejo se virar como podia para se manter. Tudo isso ainda possui presença forte na minha memória.


As calçadas do entardecer tomadas pelas senhoras e suas almofadas de renda de bilros. Araci, Maria de Iaiá, Dom, Clotilde, uma irmandade que era só maestria no tracejar dos bilros fazendo encantamentos sobre as marcações das almofadas. No barraco de Zé de Lola a pinga boa. Não havia quem não se encantasse com o doce de leite de bolas do Bar de Noélia. Também local onde a vaqueirama se juntava para a farra e o aboio.
Quando Zé Ferreira, Ademor e tantos outros chegavam por ali, então tudo parecia cheirando a terra e a gado, mas principalmente a aboio e toada, e tudo em meio a uma cervejada sem fim. Pelas ruas, o que sempre há em toda cidade interiorana: os doidos, desajuizados, ou aluados, como melhor se dizia. Zé Gabão, Expedito e até Tonho Bioto, quando a lua desandava o seu juízo. Tonho Doido e Nalvinha viviam na paz de seus poucos juízos, sendo amigos de todo mundo.
Pano de roupa de festa, florido, bonito, tudo era encontrado com a irmandade Izabel Marques, Mãezinha e Conceição. Uma vez por ano, eis que a cidade parecia ser outra. Além da roupa nova para a Festa de Agosto, também as fachadas das casas recebiam pintura nova. Nas calçadas, por riba de cadeiras, colchas e panos rendados ao sol. Também uma forma de mostrar as posses daquela família.
Um dia inesquecível foi a chegada da televisão na cidade. O colorido era apenas numa tela de plástico de diversas cores colocada sobre o chuvisquento preto e branco. Parecia coisa do outro mundo! Mas nada igual ao Cassimicoco de Julinho e as serenatas ao som da sanfona de Zé Goiti pelas noites enluaradas da cidade. Já perto da meia-noite a Praça do Cruzeiro parecia só de Alcino. Chegava com sua radiola e discos sertanejos e então deixava se embriagar pela lua e as estrelas de seu sertão.
Poço Redondo era um mundo assim, de viver singelo e pacato, mas de uma grandiosidade sem fim. Aquela Rua dos Vaqueiros e suas porteiras agora saudosas dos grandes homens: Abdias, Tião de Sinhá, Mané Cante, Bastião Joaquim e tantos outros. Chico de Celina ora passava esquipando em cavalo bom ora passava tangendo um carro-de-bois. Mariá juntava uma trouxa grande e seguia com as muitas roupas em direção às pedras do riachinho.
Maninho chegava junto pé do balcão e pedia uma relepada boa, não demorava muito e já estava esfuziante: “Ora, pois, pois...”. Dizia sem nada reclamar da vida. Nos anos 70, a inauguração da energia elétrica fez a noite virar dia. Galinhas, pintos e galos, confundidos com o clarão, desceram de seus poleiros e tomaram a cidade inteira, dividindo as ruas com as pessoas maravilhadas.
E eu aqui apenas com muita saudade, tendo que me contentar em abrir aqueles velhos baús para reencontrar o doce e nostálgico passado de Poço Redondo.

Escritor
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O SERTÃO DE ANTONINO PEREGRINO POR:BRUNO PAULINO

o
Muito já se escreveu sobre Antônio Conselheiro, o personagem central e emblemático da Guerra de Canudos – episódio dos mais sangrentos da história do Brasil. Durante muito tempo, como asseverou o grande pesquisador José Calassans, o peregrino ficou preso com a pencha de fanático - “gnóstico bronco” ou “grande homem pelo avesso” - na “gaiola de ouro” que lhe colou Euclides da Cunha, no clássico maior de nossas letras, Os Sertões, de 1902.

Com o passar do tempo, sobretudo, após a década de 50 do século passado, vários de seus biógrafos fugindo a leitura euclidiana trouxeram à luz dos fatos, um Conselheiro de boa paz, manso, humilde, quase um ermitão, após a edificação da cidade santa do Belo Monte - que num massacre hediondo viria a ser completamente destruída pelo exercito brasileiro. Agora já se sabe que o beato era versado em boas leituras, escrevia razoavelmente bem, citava filósofos e transcrevia uma bíblia para uso próprio. Era um homem “biblado”, como definiu o professor Pedro Lima Vasconcelos, importante pesquisador do tema.

Foi partindo dessa forma outra de narrar à saga de Antônio Conselheiro, com um olhar distante da “gaiola de ouro” euclidiana e com uma prosa poética muito particular – embebido dos universos estéticos de Guimarães Rosa e Manoel de Barros – que Osvaldo Costa escreveu o romance infanto-juvenil Antonino Peregrino. Um texto potente, enriquecido pelas vivas ilustrações da talentosa Luci Sacoleira. O sertão bonito pintado em cores, mesmo quando seco e sem vida. O resultado é um livro daqueles que a gente tem vontade de morar dentro.

Osvaldo Costa e Luci Sacoleira

Osvaldo Costa souber manter com maestria na obra o equilíbrio entre o caráter histórico e a ficção. É um livro para todos – gente pequena e gente grande. Para os que nada sabem sobre o Conselheiro, para quem o pesquisa de muito tempo; e, claro, para quem quer apenas encontrar boa literatura. Tudo isso sem cair na armadilha ardilosa do sentimentalismo, na imagem idealizada, devocional que muitos caem quando se propõem a tal empreitada.

Antonino Peregrino é narrado em primeira pessoa. É o Conselheiro que se conta através da escrita quase mediúnica do autor. “Minha chegança se deu no sertão, no pedaço de um campo maior, chamado de Quixeramobim. Lá a cor do mundo se derrama diferente, o sol grita luz e as sombras das árvores são afagos que a natureza faz nas gentes”. É assim, como um afago por entre ruinas, que Antonino nos convida a viajar nas páginas de sua história, para junto dele reconstruir a peregrinação de suas dores, dramas e sonhos – a grande utopia revolucionaria do Nordeste – que ainda hoje teima em viver, porque também é a utopia de muitos, coletiva e plural.

Com engenho, como num convite a calçar as alpercatas, o autor nos faz penetrar no mundo interior de Antonino, e segui-lo na sua peregrinação tanto física quanto espiritual partindo de Quixeramobim até os dias finais no Belo Monte: suas dúvidas, alegrias, decepções, temores e esperanças.Antonino Peregrino é, por fim, um livro sobre o existir e o lutar no sertão. Resistência!

Bruno Paulino, poeta e escritor.
09 de Dezembro de 2019 - Quixeramobim, Ceará
Cariri Cangaço
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TODAS AS REDES QUE O CARIRI CANGAÇO PROPORCIONOU AO LONGO DO TEMPO POR:GUERHANSBERGER TAYLLOW

Filósofa argentina Esther Díaz e Guerhansberger Tayllow

Escrever para este blog é sempre um exercício de memória: rememoro os primeiros passos, os primeiros eventos e todas as redes que o Cariri Cangaço proporcionou. Sempre acreditei na possibilidade do diálogo entre a universidade e as produções que são desenvolvidas cotidianamente para além de seus muros. Nessas produções encontrei amigos, afetos e espaços. Sonhei desde o primeiro dia na possibilidade da criação, de entregar algo assinado por mim, mas que ao mesmo tempo estivesse em conexão com outros. Foi assim que surgiu meu primeiro livro, através do encontro com o Cariri Cangaço e as orientações recebidas enquanto aluno do curso de História na UFCG/Cajazeiras.

É verdade que também contei com a sorte, pois em Cajazeiras vive um dos maiores livreiros sobre o cangaço. Trata-se do professor Pereira; Conselheiro Cariri Cangaço; homem digno, sábio e de espírito iluminador. Conversar com Pereira, sentí o clima do seu livreiro sempre foi um disparate de estímulo. Para quem gosta desse universo a companhia de Pereira é um acontecimento, momento de leitura de muitas páginas. Daí surgiram as primeiras indicações de livros, direcionamentos que me encaminhavam para a realização de projetos. Sou muito grato ao amigo e professor Pereira, obrigado!

No decorrer do tempo fui afunilando minhas reflexões em torno do cangaceiro paraibano Chico Pereira. Enquanto muitos estavam interessados na verdade histórica sobre o personagem, percebi que essa “verdade” biográfica foi construída por meio de múltiplos interesses em redes de memórias. A medida que dissecava as redes memorialísticas do passado  em torno de Chico Pereira, costurava outras no presente com pessoas incríveis. Em Nazarezinho (terra de Chico Pereira)  conheci Iris Mendes, mulher militante nas causas culturais e de um coração encantador. Iris é sertaneja que, assim como Jarda, sabe  soletrar a mensagem do perdão e do amor que o padre Pereira deixou em sua construção narrativa sobre seu pai cangaceiro.  Iris, muito mais do que amiga tornou-se uma irmã.

Guerhansberger Tayllow recebe o Diploma do Cariri Cangaço durante o Cariri Cangaço na cidade de Lastro, Paraíba. 
o
Nesse mesmo momento tive a oportunidade de conhecer e estabelece amizade com o professor e escritor José Romero, que já não está entre nós, mas que nunca deixou de fazer presença nos meus escritos e nas minhas lembranças. Romero nunca se recusou em ajudar foi um dos grandes divulgadores dos meus escritos. Obrigado eterno amigo!

Vejam só quantas redes costurei. Na verdade, muitos e muitas que fazem parte dos eventos do Cariri Cangaço me ajudaram de alguma forma. Esse é o lado humano e corpóreo da pesquisa, atravessado por afetos e recordações. Não por acaso o resultado foi um livro plural desde o título: Nas redes das memórias: as múltiplas faces do cangaceiro Chico Pereira até as ultimas páginas que inconformadas com essa condição, isto é, de serem as últimas, apontaram para  novos caminhos, outros territórios.


Agora venho oferecer ao olhar crítico do leitor meu mais novo livro VIRGULINO  CARTOGRAFADO:  RELAÇÕES  DE  PODER  E TERRITORIALIZAÇÕES  DO  CANGACEIRO  LAMPIÃO. O  mesmo foi fruto  de uma pesquisa de mestrado pela qual busquei lançar reflexões sobre a primeira fase do cangaço lampiônico (1920-1928) através de conceitos espacias (como espaço e território). Espero ter conseguido lançar novas interpretações, tarefa difícil dada a quantidade de trabalhos sobre a vida do cangaceiro Lampião. Trata-se de uma conversa criativa  entre um jovem historiador com geógrafos, antropólogos e filósofos já consagrados. É um livro que não tem medo de dialogar, argumentar,  entra e sair de territórios. A tese principal é que Lampião viveu e constituiu uma multiterritorialidade. É um trabalho inspirado por autores do pensamento nômade, que em sua feitoria possibilitou o nomadismo profissional do próprio autor. É um escrito de vida diante de tantos eventos de morte. Isso porque minha vida está diretamente relacionada com os meus estudos. Foi nesse universo que encontrei amigos, respeito, admiração e conhecimento.

Guerhansberger Tayllow
Pesquiador e escritor do Cariri Cangaço
La Rioja, Argentina, 28 de novembro de 2019.

CARIRI CANGAÇO HOMENAGEIA CANGAÇO OVERDRIVE DO ROTEIRISTA ZÉ WELLINGTON



Zé Wellington e Manoel Severo

Já há muito tempo conhecia o trabalho e o talento de Zé Wellington, depois esse talento acabou chegando ainda mais próximo através de minha filha; Manoela Barbosa, estudante do curso de Sistemas e Mídias Digitais na Universidade Federal do Ceará; uma apaixonada por todas as manifestações de mídia; imagem, comunicação, literatura, enfim. Certo dia Manoela me abordou e perguntou: "Pai você já viu o novo e espetacular gibi, Cangaço Overdrive do Zé Wellington?" Na verdade Manoela já era fã incondicional de um dos maiores roteiristas de quadrinhos do Brasil...

"Cangaço Overdrive" é a mais nova e festejada obra desse cearense de Sobral, nascido em 1984, José Wellington Alves Granjeiro Filho. Administrador, escritor e roteirista de história em quadrinho, Zé Wellington já vem se destacando há algum tempo no universo dos gibis de vanguarda. Foi indicado dois anos consecutivos ao Troféu HQMIX na categoria "Novos Talentos", nos anos de 2015 e 2016 tendo sido vencedor no ano de 2016 e com seu trabalho Cangaço Overdrive foi indicado para o Prêmio Jabuti 2019.

O cordel se une à batalhas cibernéticas no universo futurista para trazer a obra cyberpunk genuinamente nordestino em quadrinhos, Cangaço Overdrive justamente com o roteiro de Zé Wellington, que já havia produzido; Quem Matou João Ninguém? e Steampunk Ladies: Vingança a vapor; os desenhos são de Walter Geovani (Red SonjaSala Imaculada) e Luiz Carlos B. Freitas e cores ficaram a cargo de Dika Araújo (Quimera) e Tiago Barsa (The few and the cursed). 

Se nas terras áridas das caatingas sertanejas os protagonistas principais  eram Virgulino Ferreira da Silva, vulgo Lampião e Maria Bonita, nas ousadas e inéditas páginas de Cangaço Overdrive o principal personagem é Capitão Cotiara seguido de sua amada Flor de Lis. O cenário do cangaço real se passa no sertão dos sete estados nordestinos, já o cyberpunk se passa no nosso Ceará, num futuro próximo e num cenário de seca das mais terríveis, onde vão se enfrentar novamente os lendários cangaceiros e os coronéis do futuro, representados pelos grandes conglomerados empresariais. 

"O cangaço é um destes exemplos que chegam a ser paradoxais. A partir de uma história de deslocamento, imaginando um cangaceiro reanimado num futuro distópico, Cangaço Overdrive quer mostrar como o contraste social pode também tornar frágeis os limites entre bem e mal. Como dizia Chico Science: o medo dá origem ao mal" revela Zé Wellington ao portal judao.com e continua o portal, o Nordeste possibilitou alguns paralelos interessantes. Por exemplo, qual é o cenário comum das histórias cyberpunks? Cidades sem vida e interesses das grandes corporações sobrepujando interesses sociais, com ricos muito ricos e pobres em situação de extrema pobreza. E conclui Zé Wellington “veja só, foi num cenário parecido com esse que surgiu o cangaço, no século XIX. O produto final é um legítimo cyberpunk, mas sem perder a regionalidade. Os cangaceiros, um dos assuntos preferidos dos cordelistas, viviam em seu próprio mundo pós-apocalíptico — e aí eu penso agora que esse apocalipse começou para o Nordeste quando o Brasil foi descoberto, a luta de classes que representa o PUNK do cyberpunk possibilitou alguma relações interessantes com o banditismo social".

 Zé Wellington recebe Comenda do Cariri Cangaço das mãos de Manoel Severo
O Curador do Cariri Cangaço, Manoel Severo confirma, "para nós que fazemos o Cariri Cangaço foi uma grande honra poder homenagear na noite de hoje o talento, a arte, e principalmente a determinação e perseverança deste que sem dúvidas é um dos maiores roteiristas de quadrinhos do Brasil, Zé Wellington Filho". Em suas palavras o festejado roteirista confessa: "A honra é inteiramente nossa, sua fã do Cariri Cangaço e do trabalho do Severo há muito tempo e quis o destino que hoje nos encontrássemos nessa noite muito importante para mim"encerra Zé Wellington.

Por fim mais um trecho da entrevista de Zé Wellington ao portal judao.com de Thiago Cardim: "Mesmo depois de ler romances como Grande Sertão: VeredasVidas Secas e Os Sertões, ainda sentia um certo formalismo na minha escrita: ainda parecia um cyberpunk escrito fora do país, dai dei de frente com alguns experimentos do cordelista e quadrinista Klévisson Viana, entre eles adaptações de cordéis clássicos para quadrinhos, respeitando integralmente o texto original. Funcionava muito bem. Já havia na história uma personagem no futuro que tinha uma forte relação com a cultura popular e pensei: e se ela fosse a narradora da história e o fizesse como cordel?" E assim nasceu Cangaço Overdrive. 

Por Manoel Severo
Homenagem a Zé Wellington e Cangaço Overdrive
Shopping Benfica - Fliace 2019 - Fortaleza,CE
29 de Novembro de 2019

FÁTIMA PINHO DEFENDE TESE SOBRE PADRE CÍCERO

Por Cláudio Sousa
 Maria de Fátima de Morais Pinho, professora adjunta do Departamento de História da Universidade Regional do Cariri – Urca.

Estará neste dia 11/12/2019 , às 10h da manhã no Campus Gragoatá, a defender sua tese visando obtenção do grau de Doutor, Tese apresentada ao Programa de Pós-graduação em História da Universidade Federal Fluminense.  

A tese em foco tem por objetivo analisar as teias de notícias e representações construídas na imprensa sobre o padre Cícero Romão Baptista ao longo de cinco décadas (1870-1915). Durante sua vida e após sua morte, o sacerdote foi transformado numa espécie de celebridade, tudo a seu respeito e em torno dele desperta a atenção da grande e pequena imprensa dentro e fora do Brasil, constituindo-se, possivelmente, no personagem mais polemizado, noticiado e debatido do sertão brasileiro da história contemporânea do Brasil. Nesse sentido, busca-se discutir, a partir de dois momentos distintos - a instauração, na imprensa, do debate sobre os “fatos extraordinários do Juazeiro” nas últimas décadas do século XIX e a inserção do sacerdote na política partidária na segunda década do século XX - a formação de teias de notícias acerca do acontecimento chamado “padre Cícero”, identificando as permanências ressignificadas na produção e na construção de múltiplas representações e sentidos. 

Na primeira parte, portanto, é discutida a presença do padre Cícero na imprensa antes e depois dos fatos extraordinários do Juazeiro com a análise da formação de uma rede de notícias na divulgação dos mesmos, buscando perceber as representações construídas sobre os principais protagonistas - a beata e o padre -, mas, sobretudo, identificando em que momento da narrativa Cícero assumiu o papel de destaque e de que forma se deu a instauração do debate maniqueísta sobre o sacerdote. Na segunda parte, é observado um conjunto de narrativas e imagens (fotos, charges, alegorias carnavalescas e teatrais) que circularam na imprensa sobre a atuação política do padre Cícero, analisando como essas redes de notícias contribuem na formação, conformação e consolidação de representações do sacerdote enquanto politiqueiro, cangaceiro, criminoso, explorador, fanatizador.

Fátima Pinho em sua palestra no Cariri Cangaço Fortaleza 2018

Saiba mais sobre a postulante...
Maria de Fátima de Morais Pinho nasceu em Várzea Alegre em 1966. Filha do ex-vereador e conhecido político da cidade, Raimundo Morais Pinho e de Vicência Alves Pinho, mais conhecida como Noêmia. Na década de 80, após voltar a residir em Várzea Alegre, começou a integrar a Sociedade São Vicente de Paula, na conferência dos Jovens, da qual foi presidente. Sendo indicada pelo padre Mota para representar a paróquia na Comissão diocesana, passou a militar na Pastoral de Juventude do Meio Popular – PJMP. Era um momento político marcado pela redemocratização do País, após 20 anos de ditadura Militar. Os movimentos da chamada “Teologia de Libertação”, tinham grande atuação no seio da Igreja Católica e nas comunidades. Neste período, começou a trabalhar como professora de religião na escola Presidente Castelo e no Colégio São Raimundo Nonato.

Em decorrência da sua militância na PJMP e como servidora, fez parte do grupo que protagonizou a primeira greve dos servidores municipais de Várzea Alegre em 1988, reivindicando melhorias salarias. Como consequência da greve, começou a organizar, juntamente com outros servidores (as) o Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de Várzea Alegre, constituindo-se sua primeira presidente. Nos anos que ficou à frente do Sindicato, empreendeu a luta pela implantação do salário mínimo (neste período o salário dos servidores não chegava nem a meio salário). Para tal ingressou na justiça do trabalho com mais de duzentas ações, luta concluída por Vicente Julião que lhe sucedeu em 1992, quando foi morar em Fortaleza.


Fátima Pinho é hoje professora adjunta do Departamento de História da Universidade Regional do Cariri. Doutorando em História Social pelo programa de Pós-graduação (Interinstitucional UFF/URCA) em História, Mestre em Desenvolvimento Regional pela Universidade Regional do Cariri (2002), possui especialização em Planejamento Educacional pela Universidade Vale do Acaraú (1998) e graduação em História pela Universidade Regional do Cariri (1992). Desenvolve pesquisa sobre Religiosidade Popular com foco no padre Cícero. É também seu o Trabalho de pesquisa intitulado: NO SILÊNCIO OBSEQUIOSO, PREPARO MINHA PRÓPRIA DEFESA PADRE CÍCERO: arquivista de si mesmo

O presente trabalho tem por objetivo analisar a prática contumaz do padre Cícero Romão Baptista em, ao longo de sua trajetória religiosa e política, copiar e guardar todos os documentos escritos, hemerográficos e iconográficos, constituindo um considerável e consistente arquivo de si que dava conta, igualmente, de aspectos da história política, econômica e social não apenas da localidade em se estabelecera, Juazeiro do Norte, mas do Ceará e do Brasil nas primeiras décadas da República Velha. O chamado “grande arquivo do padre Cícero” é composto por cartas e telegramas tanto de natureza eclesiástica quanto cartorial, fotografias, artigos de jornais, películas de filmes, etc. Neste trabalho tomando como referência as reflexões do historiador francês Philippe Artierés publicadas na revista Estudos Históricos em 1998, intituladas “Arquivar a própria vida”.

Maria de Fátima de Morais Pinho
Universidade Regional do Cariri

LAMPIAO E CORISCO, "O DIABO LOIRO":



Por diversas vezes Lampiao desentendia com Corisco, que ja tinha seu próprio grupo. Maria Bonita o chamava de "galo de briga", por Corisco ser bem avermelhado. Maria Bonita também nao falava com sua companheira Dadá. Lampiao não concordava com atos de Corisco, que na ocasião saía com seus cabras, retornando e se juntando ao bando de lampiao pra alguma ação.

Corisco praticou uma barbárie (estrupo) em uma região que Lampião tinha grandes coiteiros e era bem recebido. A localidade ficava próximoa à Fazenda Malhada da Caiçara, onde Maria Bonita nasceu. 

Os moradores da localidade não gostaram nenhum pouco, pois Lampião era bem recebido por todos. Lampião ao chegar na localidade Corisco já estava lá com seus homens. Quando houve o ato Lampião foi informado de imediato, chegando os dois grandes chefes a não se entenderem, porque Lampião de imediato não castigou o cangaceiro Corisco, que sendo outro, seria talvez até sangrado.


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ESCONDE-ESCONDE COM LAMPIÃO.

Por João Filho de Paula Pessoa

Na fuga da derrota em Mossoró, em 1927, Lampião e seu bando, feridos, cansados e moralmente aniquilados, correndo por trilhas diferentes das que conheciam, chegam à um pequeno sítio com uma humilde casinha, batem à porta e D. Maria Liberata abre a parte superior da porta e depara-se com a visão de um bando de cangaceiros enlouquecidos e ensanguentados, tomada pelo pavor e medo ouve de Lampião um pedido de água e sal para lavar os ferimentos. 

A amedrontada senhora corre para atender ao pedido, sem, contudo desesperadamente tentar esconder sua filha adolescente debaixo das cascas de feijão que tinha debulhado, mas que não eram suficiente para cobrir toda a moça, ficando seus pés de fora e Lampião viu. 

A senhora ao retornar com água e sal Lampião percebendo aquela agonia, tentou tranquilizá-la dizendo que só queria água e sal e que a pessoa que se escondia em baixo das cascas podia sair sem medo, que nenhum mal lhe aconteceria, e que suas vidas estavam garantidas.

Os cangaceiros receberam a água e o sal, lavaram suas feridas e partiram rumo ao Ceará. 

(João Filho de Paula Pessoa, Fortaleza/Ce.) 15/10/2019

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90 ANOS DE LAMPIÃO EM CAPELA


Do acervo do pesquisador Antonio Correa Sobrinho

90 ANOS, data completada no dia 25 de novembro próximo passado, que o rei do cangaço VIRGULINO FERREIRA DA SILVA, "LAMPIÃO" e comparsas invadiram e saquearam a cidade de Capela, burgo da zona da mata sergipana, onde hoje me encontro a trabalho.

Permitam-me dizer que guardo comigo um certo sentimento de pertencimento em relação a esta que foi das mais espetaculosas presenças deste cangaceiro a uma localidade, em razão do parentesco afetivo e da amizade que me vinculam a Zozimo Lima Filho, o filho remanescente do telegrafista e jornalista ZOZIMO LIMA, sim, o cidadão capelense que, na condição de telegrafista e correspondente do jornal "Correio de Aracaju", por horas esteve à mercê do punhal do rei do cangaço, tendo que acompanhar o pistoleiro praticamente durante toda a "excursão", do começo da noite a horas da madrugada, chegando a tomar tragos de cachaça com o famanaz. 


Zozimo Lima que, já no dia seguinte noticiou no "Correio" o ataque dos cangaceiros a Capela, e, quatro dias depois, na edição de 29.11.1929, viu publicada a sua reportagem "LAMPIÃO EM CAPELA", que trago abaixo, sem dúvida, uma das mais confiáveis provas da presença de Lampião em atividade criminosa a um núcleo populacional; sem mencionar ter sido esta uma das raras ocasiões em que o famanaz bandoleiro esteve lado a lado e travou colóquio com um profissional de imprensa, e, por coincidência, logo com aquele que se transformou no grande cronista do seu tempo, o autor das famosas "Variações em Fá Sustenido", um dos mais notáveis homens de letras do seu tempo, intelectual respeitável, Zozimo que chegou a presidir os Correios e Telégrafos em Sergipe, e, como membro da Academia Sergipana de Letras, foi seu presidente, além de fazer parte e ter dirigido a Associação Sergipana dos Jornalistas (ASI). Lampião foi honrado em estar na presença do capelense Zozimo Lima. 

LAMPIÃO EM CAPELA

INFORMAÇÕES INTERESSANTES COLHIDAS PELO CORRESPONDENTE DO "CORREIO" - A ATITUDE DIGNA DO INTENDENTE ANTÃO CORRÊA - LAMPIÃO ACHA QUE A VIDA DO CANGAÇO É DIVERTIDA - OUTRAS NOTAS

Segunda-feira, 25, esta cidade teve o seu dia máximo de vibração e emoção popular. Precisamente às 20 horas, quando se encontrava funcionando o cinema municipal, portas adentro da popular casa de diversão capelense surgiu a figura temível de Lampião que, acompanhado do prefeito local, vinha à procura do encarregado da estação telegráfica da cidade com o fim de intimá-lo a não se comunicar com as demais estações correspondentes. Igual procedimento tivera, posteriormente, para com a encarregada do posto telefônico e do Telégrafo da estrada de ferro.

Historiemos os pormenores dos seus receios e tentativas de assalto à cidade, o que se verificou.

Às 19 h 40 min, à casa do coronel Antão Corrêa, intendente local, justamente quando este distinto cavalheiro acabava de jantar com sua família, apareceu, de automóvel, o Sr. Otacílio Azevedo, negociante em Dores. Vinha procurar o jovem prefeito para uma conferência. Tinha por fim esta lhe dar conhecimento de que Lampião e o seu grupo, em número de dez ao todo, exigiam a sua presença no lugar denominado Sobradinho, à entrada da cidade, onde todos se encontravam parados por se ter furado uma câmara de ar do carro que conduzia o audacioso bando.

O Sr. Otacílio trazia-os de Dores à força, em seu automóvel. Juntamente com mais três carros daquela cidade, aonde chegara, procedente de Carira, às 16 horas, para rumar em direção à Capela, às 19 horas.

O intendente Corrêa, depois de ouvir o Sr. Otacílio Azevedo, improvisado de chofer, deu ciência à sua esposa do que ocorria, tomou rápidas providências, em sigilo, para que o minguado destacamento local não saísse ostensivamente à rua em virtude da insuficiência de forças para um ataque, e foi ter com o grupo que o esperava.

Antão Corrêa foi recebido por Lampião que lhe disse desejar entrar à cidade sem outro intuito que o de angariar uns cobres, prometendo não cometer depredações.

O jovem intendente pediu-lhe manter-se em atitude pacífica e, entrando no automóvel ao lado de Lampião, às 20 horas chegaram todos à cidade.

Lampião mandou Arvoredo tomar o telefone, de passagem, e rumou para o Telégrafo. Corrêa fez-lhe ver àquela hora que o telegrafista estava no cinema e não deveriam ir à cidade-repartição, pois lá só se encontrava a família do respectivo funcionário, Sr. Zozimo Lima. As senhoras eram nervosas e podiam ter uma crise de consequências desagradáveis.

— Tá direito, disse Lampião, mulher é bicho danado pra dar chilique.

E rumaram para o cinema. Ali, o intendente Corrêa entrou logo no cinema e chamou o telegrafista para apresentá-lo a Lampião. Este assomou logo na sala de projeções e foi gritando — “não corram!” Foi um pânico medonho, indescritível! Os demais companheiros foram entrando aos poucos.

O povo, apavorado, não se mexeu mais. O operador em dois minutos quebrou mais de trinta metros de fita. A música perdeu o compasso e os instrumentos começaram a engasgar. Um grupo quis sair mas Moderno, cunhado e secretário de Lampião, gritou — “se saírem eu dou um tiro pra vocês verem como a coisa é boa”. Logo aí Lampião ordenou ao telegrafista que não fosse mais à repartição sob pena de responsabilidade. Mandou logo quatro companheiros esperar o trem, que chegaria às 21 horas.

Estabelecida confiança do povo que entrou logo de simpatizar com Lampião, que se mostrou sobremodo atencioso, delicado, palestrador incansável, bem como os seus companheiros, começou a população em peso cercar a horda temível. Mandou logo que o intendente organizasse a lista das pessoas que deviam entrar com dinheiro, exigindo, porém, quantia não inferior a vinte contos. O Intendente fez lhe ver a impossibilidade de arranjar aquela quantia, visto o comércio estar exausto e estarmos sendo perseguidos por três anos de seca. Diante desta ponderação Lampião respondeu — “É, major, eu também venho atravessando uma seca de 14 anos. Arranje pelo menos uns seis contos”.

Depois de ter comparecido à presença de Lampião, por exigência deste, o delegado de polícia, foi-se tratar de arranjar, entre os negociantes e usineiros, a importância exigida. Não se encontrou má vontade. Pudera! Lampião com aquela espetaculosa indumentária, não é para brincadeira.
Conseguidos os cinco contos e pico, o famanaz Moderno, por ordem do chefe, contou, emaçou e guardou a bolada no mocó, que estava recheado de dinheiro.

E daí em diante, pela noite adentro, as ruas em desusado movimento, Lampião e seu bando percorriam as praças em automóveis, espalhando-se pelas ruas frequentadas pelo meretrício, entrando em casas de bebidas para constantes libações.

Arvoredo, Volta Seca (uma criança quase) e Ponto Fino contavam trágicas façanhas aos grupos numerosos que os cercavam.

Visitaram as casas dos ourives Alfredo Assis e Euclides Silva, onde fizeram compras de joias, pagando-as. Foram depois ao estabelecimento comercial de Jackson Alves, adquirindo por 500$000 uma gabardine e um revólver. As compras efetuadas eram pagas pelos preços estipulados, sem relutância por parte dos compradores. Todo mundo queria ver, ouvir, dar dois dedos de prosa com o célebre campeador nordestino e era imediatamente atendido com satisfação. Lampião, depois das 23 horas, foi ao telefone intermunicipal para falar diretamente com o chefe de Polícia, não se conseguindo, àquela hora, obter a comunicação desejada, apesar da insistência da respectiva funcionária com as estações intermediárias, dormindo àquelas horas. Pelo esforço da telefonista Lampião gratificou-a com 50$000.

Às 3 horas da manhã, sempre acompanhado do povo, Lampião tocou reunir, com um apito estridente. Pouco a pouco foram chegando os companheiros dispersos. Feito isso, tomaram os automóveis e dirigiram-se ao povoado Pedras, onde se demoram pouco tempo, seguindo rápido para Aquidabã, a cavalo, pois fizeram dali seguir os autos para Dores.

A força que chegou de Aracaju, de manhã, depois de ligeiras e indispensáveis preparativos para combate, seguiu no encalço dos bandidos. Se se não tomaram, da capital, providências imediatas para a vinda, em tempo, da força, é claro, foi porque todas as comunicações estavam interceptadas pelo bando sinistro.

Lampião, se bem que inculto é, não resta dúvida, um sujeito arguto e inteligentíssimo.

Sejamos imparciais e justos — os nossos últimos e indesejáveis visitantes, pelo trato ameno, pela atenção e cordialidade, deixaram boa impressão ao público.

Essas qualidades aqui exibidas pelos bandoleiros foram, não há negar, devido à maneira porque, na situação em que nos encontrávamos, se portou o digno intendente Antão Corrêa, desenvolvendo fina diplomacia para conter os impulsos latentes que moram nos corações de gente de tal jaez. Não há exagero em se afirmar, e disso todos estão gratos e cientes, que a tranquilidade pública repousou na ação eficaz, ordenada e destemerosa do jovem prefeito que, por esse gesto, mais conquistou as simpatias dos capelenses.

Afrontar um bando aguerrido como o de Lampião, com quatro soldados, desmuniciados, porque o complemento do mesmo tinha seguido para o sertão, dois dias antes, com o tenente Elesbão de Brito, seria um sacrifício inútil.

O Sr. Antão Corrêa embora sem a proteção da força, com as responsabilidades especiais do seu cargo político e administrativo, alvo principal das vistas tigrinas do bando trágico, sem saber a sorte que lhe aguardava, não atendeu a rogos de parentes sentimentais, não poupou sacrifícios para salvar a cidade de um saque provável, defender a honra da família capelense e seguiu, aventurosamente, para negociar com o celerado a paz de que tanto ansiávamos.

Porque fosse outro o Sr. Antão Corrêa, seguisse o exemplo de muito valiente que conhecemos, teria Sua Senhoria, após receber o convite de Lampião, sem saber das suas intenções, se metido no seu automóvel com a família e azulado por esse mundo afora, deixando a cidade entregue à sanha do audaz e facinoroso grupo.

Não podemos, também, deixar de elogiar a ação do cônego José Cabral, que muito nos auxiliou, impondo-se, pela sua correção moral e seus conselhos, no meio do bando de Lampião. Dois sequazes ao vê-lo, pediram-lhe a benção.

O cônego desejou-lhes regeneração. Eles sorriram.

Lampião mandou, por dois dos seus companheiros, buscar de automóvel o delegado, major Pedro Rocha, que, no momento de sua chegada, se achava na estação esperando o trem. Felicitou-o por conhecer mais um colega.

Gato foi jantar na Pensão Cabral. Interrogado pela proprietária sobre se era verdade não suportarem as mulheres, teve como resposta: — “Não gostamos das mulheres fuxiqueiras”.

Interrogado Lampião pelo autor destas notas se não pretendia deixar a vida que levava, teve como resposta: — “Qual moço, não há mais jeito. Deixe lá que a vida do cangaço é bem divertida”.

Ao Dr. Ozório Ribeiro disse Arvoredo que só tinha dois amigos: a Providência e o seu fuzil.

Conhecido diretor de importante repartição federal, que se encontrava na estação férrea, ao saber que Lampião tinha entrado na cidade, foi para a casa com as calças “pesadas”, infeccionando as ruas, fazendo os transeuntes, raros, levarem o lenço ao nariz.

Correio de Aracaju (SE) – 29.11.1929


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