Por Sálvio Siqueira
O domínio territorial, naqueles idos tempos, era significativo para o destaque de alguns em relação a maioria das outras pessoas. Possuir muita terra, várias fazendas, também significava comandar a 'vida' daqueles que em sua volta sobreviviam.
Em determinada localidade quando dois ou mais senhores tinham essas posses,
normalmente iniciava-se uma guerra particular entre eles e pra eles. Com isso,
sobrava sempre para os menores proprietários que, dependendo do local da sua
pequena propriedade, tinham porque tinham que aliar-se ao mais próximo. A
partir daí, de um lado tinham seus aliados que, de uma ou de outra forma, lhes
ajudavam, no entanto, os adversários do grande proprietário, tinham-no como
inimigo e, muitas das vezes, sem conseguir ferir, matar e ou castigar seu
inimigo maior, descontava nas costas dos pequenos.
Desta maneira aconteceu nas plagas e rincões do Sertão do Pajeú, interior do
Estado de Pernambuco, no ocaso do século XIX para o início do século XX, com
duas famílias, colonizadoras, deste Leão do Norte.
Trata-se das famílias Pereira e Carvalho. Citando essas duas famílias, queremos
mostrar como eram que todos e em todos os lugares dos sertões nordestino
faziam. O que tentaremos transmitir para o amigo que nos acompanha, é uma
'amostra' daquilo que acontecia com todas as famílias de poder, sem tirar nem
colocar nada. Os Pereiras e os Carvalhos, nada fizeram que as outras famílias,
do mesmo porte e domínio, também não tenham feito.
Em determinada época, migram para o Sertão do Pajeú, uma família, vinda dos
torrões baianos, e se estabelecem na Fazenda Barra do Exu, no município da
então Vila Bela - PE, hoje Serra Talhada, tendo como seu patriarca o Sr.
Francisco Alves da Fonseca Barros. A partir desse ponto, estava plantado o
'tronco' dos Carvalhos. Ao longo do tempo, espalham-se e seus domínios
atravessam fronteiras municipais e estaduais, conseguindo estenderem-se os
mesmos, aos municípios, além do de Vila Bela, aos de Mirandiba, Belmonte,
Cabrobó e Itacuruba.
Antes, porém, também tendo migrado das terras do Estado baiano, o Sr. José
Pereira da Silva, um português, que se arrancha no município da Exu - PE, e,
não conseguindo ancorar sua 'Caravela' nele, perambula pelos municípios de Bom
Nome em Pernambuco e Inhamuns no Ceará. Até dar-se então o casamento do mesmo
com uma herdeira das terras da Fazenda Carnaúba, localizada no município de
Vila Bela- PE, onde se estabelece. Com o passar dos anos, sua prole é
largamente elastecida e seus domínios iam aonde as vistas alcançavam.
Possuidores de léguas e léguas de terras, escravos e, segundo alguns
escritores, muito ouro. Um de seus descendentes recebe as medalha de Comendador
da Imperial Ordem da Rosa e de Cavaleiro da Ordem de Cristo. Ficando, a partir
de então, conhecido como "O Comendador", o qual gerará um filho, que
na história ficará conhecido como o Barão da Pitombeira, por ser dono de uma
fazenda de nome Pitombeira, e mais tarde, por Barão do Pajeú.
Abrimos aqui um parêntese para falarmos de uma outra família, que no futuro, se
entrelaça nas famílias Pereira e Carvalho. Trata-se da família Nogueira ou
Barbosa Nogueira. Descende também de um português chamado Francisco Barbosa
Nogueira, dono de uma grande e conhecida fazenda denominada Escadinha, por
isso, todos o conheciam popularmente como Barbosa da Escadinha.
Três troncos, três âncoras, três árvores genealógicas que farão parte, num
futuro próximo, de uma das sagas mais sangrentas da história nordestina. Antes,
caros amigos, fiquem cientes de que, por serem os senhores destas famílias,
donos de tudo, naquela região do semiárido nordestino, na época, as três
descendência se entrelaçam. Se misturam, tornando-se ou gerando-se, muita
vezes, em um herdeiro dos três sangues.
A política, como sempre, e não poderia ser diferente, está entrelaçada na vida
dos homens. Principalmente daqueles que tem, de algum modo, poder sobre os
outros. A família Carvalho e a família Nogueira fazem parte do Partido Liberal,
sendo, no momento seus adversários, a família Pereira, que eram do Partido
Conservador. Por aquelas datas, ocorrem vários movimentos com espingardas em
mãos, servindo de ofício para muitos. Citamos alguns desses movimentos que
envolvem-se em ideias separatistas, contrária as dos republicanos, tornando-se
a primeira como revolucionárias, isso lá pelos anos de 1817, no Segundo Reinado
Imperial. Entre 1832 e 1835 tivemos a Cabanada, já nos idos 1848 descambando
para 1849, a tão discutida e estudada, Revolução Praieira, até meus caros, nas
terras paraibanas, em sua região sertaneja, eclodir, em 1874, a Quebra- Quilos,
que estende-se pelos Estados vizinhos.
Voltemos as famílias. Em 1838, Francisco Alves de Carvalho, ligado ao tronco
Carvalho-Nogueira, manda assassinar o, então, capitão-general das Ordenanças de
Flores, Joaquim Nunes de Magalhães, correligionário da família Pereira. Em
represália, Manoel Pereira da Silva, que era cel da Guarda Nacional na ocasião,
ataca os Nogueira e os Carvalho. Sendo o ataque revidado a altura pelas
famílias conjuntas. Na ocasião os Pereira, por força política, ficaram na
legalidade, pois faziam parte do Partido Conservador. Nisso, o chefe atual da
família Pereira, Manoel Pereira da Silva é nomeado delegado da Comarca da Pajeú
de Flores, hoje Flores, assumindo a vaga do deposto Herculano Ferreira Pena,
pelo governador do Estado de Pernambuco.
Mas, meus amigos, mesmo tendo sido uma ação com ordem direta da maior
autoridade do Estado, não foi moleza cumprir-se sua decisão. Francisco Barbosa
Nogueira Paz, do Partido Liberal, segura um fogo contínuo durante dois dias a
fim de impedir que o cargo fosse assumido pela pessoa da família Pereira. Após
dois dias de intenso tiroteio, Simplício Pereira da Silva, ciente do que estava
a se passar na cidade, reúne seus cabras na fazenda e parte em socorro do
familiar, e só assim, com sua ajuda, o novo delegado é empossado.
Pronto, guerra declarada abertamente entre eles. De um lado o Partido Liberal,
tendo como chefes os tenentes-coronéis Serafim de Souza Ferraz e Francisco
Barbosa Nogueira Paz, fazendo oposição direta, com fogo e bala, aos do Partido
Conservador, coronéis da Guarda Nacional, os irmãos Manoel e Simplício Pereira.
A velha Pajeú de Flores assim como a região da Serra Negra, juntamente as
margens do Riacho do Navio, transformam-se em palcos de lutas, dores, sangue,
lágrimas e vinganças constante, só amenizando quando Nogueira Paz, tomba pelas
balas mortais dos Pereira, os quais também conseguem deter e prender Serafim
Ferraz nos idos de 1849.
Assim, de tempos em tempos, sempre aconteceram tiroteios com várias vidas
tiradas, entre essas famílias. Quando o Partido Político que uma segue, está no
poder, conseguindo "vencer" as eleições, o outro lado, o lado
derrotado, a outra família, que se aguentasse... pois vinha chumbo quente
por aí.
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