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domingo, 22 de janeiro de 2017

DA MEMÓRIA DE POÇO REDONDO

Por Rangel Alves da Costa

Pedro Rodrigues Rosa, mais conhecido como Pedro de Cândido, filho de Dona Guilhermina e Seu Cândido, antigos donos das terras da Gruta do Angico, e irmão de Durval Rodrigues Rosa. 

Pedro de Cândido

Famoso coiteiro, Pedro de Cândido tornou-se um dos personagens mais emblemáticos da história do cangaço. Apontado por alguns como traidor de Lampião, por ter delatado à volante de João Bezerra, num dia feira em Piranhas, onde o bando cangaceiro estava acoitado no outro lado rio. 

Tenente João Bezerra da Silva

Para outros, apenas uma vítima de maus-tratos da polícia para dizer sobre o destino dos cangaceiros. Com efeito, um vizinho seu em Entremontes, de nome Joca Bernardes, também coiteiro, enciumado pela amizade de Lampião com Pedro, procurou a polícia para avisar que este havia feito grande compra de queijos e outros mantimentos e que certamente tais produtos seriam direcionados ao bando de Lampião. 

Coiteiro João Bernades

Assim, Pedro sabia onde o grupo estava acoitado. De qualquer modo, e segundo o historiador Jairo Luis, de Piranhas, tem-se que após a chacina de Angico Pedro de Cândido assumiu o posto de subdelegado de Piranhas. Morreu assassinado em 22 de agosto de 1941.

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ENTRE UM CAFEZINHO E OUTRO

*Rangel Alves da Costa

E agora me vem à memória aquele entardecer sertanejo e o aroma de café torrado subindo pelo ar. Era a delícia de Dona Lídia, na Praça da Matriz, que a todos encantava quando sua chaleira começava a ferver.

Tantas e tantas vezes que fui lá implorar um tiquinho para saciar minha sede do negro sabor. Implorar por que logo a casa estava cheia com gente esperando o seu tiquinho. Mas dava para todo mundo, mesmo que nova remessa tivesse que ser providenciada.

E agora, de xícara à mão e um café qualquer, relembro Dona Lídia e tantos outros conterrâneos que já partiram em adeuses de lenços molhados. E entre um cafezinho e outro vou a tudo revivendo com uma saudade de filho ausente.

Sem dúvida que é entre um cafezinho e outro que as recordações se avivam no pensamento. O café desperta e a memória vai chamando o passado distante, o ontem e até o instante atrás. Reflexões surgidas entre goles e recordações.

A verdade é que muito se faz entre um cafezinho e outro. Alguns fumam cigarro, charuto ou cachimbo. Alguns esfarelam na boca a bolacha que foi mastigada como companhia. Outros bebem um pouco de água. Tanto faz.

Tanto faz por que o cafezinho passa a ter existência própria depois de sorvido. Anima, revigora, fortalece, e chama outro cafezinho quando já sente esvaindo sua permanência. E entre um cafezinho e outro o dia se alimenta do oloroso sabor.

Também vivo entre um cafezinho e outro. Ou cafezão e mais outro e outro, pois sempre forte e sem açúcar. Sou ávido por café, eis a verdade. Tanto assim que minha madrugada somente passa a ser vivida depois da primeira xícara.

Mas prefiro chamar de cafezinho. Bebo sempre em xícara pequena, então soa melhor chamá-lo de cafezinho. E de repente me vejo esquentando a água para depois derramar sobre a xícara já com as duas pequenas colheradas de café solúvel.


Não gosto de café assim, mas não há outro jeito. Creio ser muito pior o café em pacote, que sempre desce muito fraco e sem qualquer gosto. Nas ruas ainda encontro café forte nas máquinas de lanchonetes e padarias mais antigas. Mas são raridades.

No centro de Aracaju, por exemplo, onde no passado da José do Prado Franco a escolha era difícil ante tanta marca boa de café pelos balcões, agora somente duas ou três opções. Ainda vale a pena um cafezinho numa lanchonete do calçadão, mas principalmente na antiga e pitoresca Luzitânia.

O bom café é sentido ao longe. Tão reconhecível é o cheiro do bom café que nem precisa observá-lo descendo na xícara para certificar sua qualidade. Verdade que quanto mais negro, mais encorpado e oloroso melhor, mas o aroma já garante sua qualidade e sabor.

De vez em quando, quando estou de xícara à mão, relembro os antigos e verdadeiros cafés de bule, de chaleira, de aromas e gostosuras. Café batido em pilão, peneirado no meio do café e preparado em fogão de lenha. Coisa das antigas vovós. E quanta saudade.

Muita gente sertaneja do passado se negava a colocar na boca café de mercearia, já vendido em pacote. Dali apenas o café em grão, ensacado, para depois ser batido em pilão e preparado ao modo do quintal. Por isso tanta gostosura naquelas manhãs e noites sertanejas.

Como não posso voltar no tempo e é muito difícil encontrar o café ainda batido em pilão, então procuro me contentar com aquele que possa dispor. Somente a memória aromatiza a xícara com as lembranças passadas.

Mas seja de que jeito for, é entre um cafezinho e outro que muito acontece na vida. Principalmente na pessoa que segura a xícara e junto dela vai procurar um local ideal para beber aos pouquinhos. É como um ritual de experimentação e encontro. De afeto e abraço.

No meu caso, entre um cafezinho e outro me torno poeta, escritor, filósofo, sábio, profeta, viajante no tempo. É que ao chegar aos lábios e ao escorrer pela boca, o café acaba me transportando para situações jamais imaginadas em outras circunstâncias.

Caminhando para perto da janela, ao longe avisto ainda o meu sertão. Ruazinhas de areia e pedra, casinhas miúdas e cadeiras pelas calçadas, vizinhas conversando de vassoura à mão, um velho sertanejo que pinica seu cigarro de palha num tronco mais adiante.

A festança dos meninos debaixo da chuva, todos nus e felizes demais no viver. As correrias por cimas dos lamaçais e as fugas em direção ao riachinho. Fugir dos olhos dos pais para tomar banho nas águas do riachinho era desafio e experiência única na infância sertaneja.

Seguir ainda em direção à casa de Dona Lídia. Como quem não queria nada, arranjando uma desculpa de encontrar Zé Veinho. Mas nada disso. A intenção mesmo era pedir um golinho daquele café que ainda hoje não me sai da memória. E que até me faz lacrimejar.

Escritor
Membro da Academia de Letras de Aracaju
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O RAPTO FORÇADO NO CANGAÇO

Por Noádia Gomes

Quando se trata da entrada das mulheres nos bandos de cangaceiros, foram duas as formas de ingresso: adesão espontânea e rapto forçado. No rapto forçado a jovem era obrigada a acompanhar o cangaceiro independente de sua vontade. O rapto forçado era uma violência contra a mulher no sentido de que ela era afastada da sua família, de uma rotina de vida a que estava acostumada e obrigada a ingressar em uma vida marcada pela violência e pelo nomadismo. A mulher era forçada a se tornar companheira de um desconhecido, a manter relações sexuais com um homem por quem não tinha afeto. Fora isso estava sujeita a sofrer violência de seu companheiro ou da polícia. O risco de perder a vida fazia parte do cotidiano do Cangaço, onde várias mulheres perderam a vida de forma precoce. Um exemplo de cangaceira que entrou para o Cangaço através do rapto, foi a baiana Inácia Maria das Dores a Inacinha , que foi obrigada pelo cangaceiro Gato a acompanhá-lo. Sobre sua entrada no Cangaço transcrevo sua entrevista ao jornal Diário de Pernambuco do dia 3 /10/1936 página 12. Entrevista retirada do livro Lampião Senhor do Sertão: vidas e mortes de um cangaceiro da escritora Elise Gruspan Jasmin.

Foto extraída do livro Estrelas de Couro

Aprisionada em Alagoas a Companheira do Bandoleiro " Gato".

___ Há quatro anos que andava no Cangaço, mas não era pelo meu gosto.

Eu estava morando no Salgado do Mello, perto de Santo da Glória. Era noiva de um trabalhador da lavoura chamado João. 

Um pouco distante vivia o cabra Satyro, conhecido no Cangaço pela alcunha de Gato.

Inacinha faz uma ligeira pausa e depois continua: 

___ Um dia o Gato me chamou para viver com elle, dizendo que , se eu não fosse, me mataria.

Com medo das ameaças que recebia, abandonei a minha casa para acompanhar o bandido.

E assim passei todo esse tempo com os cabras nas caatingas.

(Texto com grafia da época)


Foto: Inacia após sua prisão na fazenda Picos pela volante de João Bezerra em Setembro de 1936.

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AJEITANDO OS MALOTES

Por Clerisvaldo B. Chagas, 22/23 de janeiro de 2017 - Escritor Símbolo do Sertão Alagoano - Crônica 1.623

Quando os pardais se agitarem no telhado; quando o bem-te-vi estridular no olho do pau; quando o galo carijó pular na estaca do paiol, a pequena equipe geográfica vai cair no oco do mundo.

Foto: (Clerisvaldo).

A direção não é mais para o Alto Sertão Delmiro/ Moxotó. O rumo é caatinga, agreste, baixo São Francisco.

Numa programação seriada e periférica vamos à ravina do riacho João Gomes, Batalha e fazendas, açude de Jaramataia, serrote do Japão, Arapiraca, lagoa Pé Leve, várzeas de Igreja Nova/Porto Real de Colégio, Penedo e Pontal da Barra em terras de Piaçabuçu. E numa volta de alto nível, São Sebastião, Junqueiro, Anadia, Boca da Mata, Maribondo, serra do Ouricuri, vale do rio Porangaba, serra das Pias, serrotes do Cedro e do Vento e assim por diante.

Mês de janeiro em pesquisa de campo é favorável em vários aspectos. Mas o Sol valente que não larga o plantão costuma partir o sujeito em dois. Chapéu à cabeça e um botijão d’água completo nas rampas das serranias, sombra de quixabeira é miragem de caminhante.

Quando o jumento ornejar na hora aprazada; quando gemer a rolinha fogo-pagou; quando o gavião baixar dos céus e quando a sombra chegar à barriga do cavalo, é sinal de estômago vazio. Acampar!!!

E por aqui, amiguinhos, no Sertão afogueado do Ipanema, nem sinal de chuva! Nimbus e Cumulos não surgem mais.  Olhos grudados lá pra cima, sertanejos como nós ainda montam na esperança de robustos e temerários trovões; afinal, dizem os mais velhos: “trovoada de janeiro tarda mais não falha”. Quem sabe!
Vamos à FOZ?


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LIVRO “O SERTÃO ANÁRQUICO DE LAMPIÃO”, DE LUIZ SERRA


Sobre o escritor

Licenciado em Letras e Literatura Brasileira pela Universidade de Brasília (UnB), pós-graduado em Linguagem Psicopedagógica na Educação pela Cândido Mendes do Rio de Janeiro, professor do Instituto de Português Aplicado do Distrito Federal e assessor de revisão de textos em órgão da Força Aérea Brasileira (Cenipa), do Ministério da Defesa, Luiz Serra é militar da reserva. Como colaborador, escreveu artigos para o jornal Correio Braziliense.

Serviço – “O Sertão Anárquico de Lampião” de Luiz Serra, Outubro Edições, 385 páginas, Brasil, 2016.

O livro está sendo comercializado em diversos pontos de Brasília, e na Paraíba, com professor Francisco Pereira Lima. - E-mail: franpelima@bol.com.br

Já os envios para outros Estados, está sendo coordenado por Manoela e Janaína,pelo e-mail: anarquicolampiao@gmail.com.

Coordenação literária: Assessoria de imprensa: Leidiane Silveira – (61) 98212-9563 leidisilveira@gmail.com.

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CABARÉ DO CANGACEIRO MORENO


Fonte: Neli Conceição filha dos cangaceiros Moreno e Durvalina. É verdade, Moreno teve um Cabaré após o cangaço, segundo a Neli Conceição.

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GRAVIDEZ E PARTO NO CANGAÇO

Por Rangel Alves da Costa*

A gravidez, seja em qualquer meio e situação, é sempre uma situação traumática e que requer muitos cuidados. Surgem riscos, muitas vezes graves, tanto para a mãe como para o bebê. Mesmo nas gestantes citadinas, com acompanhamento pré-natal, não se descartam riscos de hipertensão arterial, de diabetes pelo aumento da glicose no organismo, de estresse, além de problemas ginecológicos regulares.

A medicina moderna ainda não conseguiu afastar os riscos da gravidez nem possibilitar que os filhos sempre nasçam saudáveis. Infelizmente, ainda há morte de parto e vidas são perdidas ainda jovens por problemas durante o nascimento do bebê. Hoje se tem evitado muito, mas as mulheres que não recebem tratamento e acompanhamento durante a gravidez e o parto podem sofrer danos irreparáveis. E o que dizer daquelas mulheres do cangaço?

A gravidez de risco e as incertezas do parto foram graves problemas enfrentados na vida cangaceira. Considerando o número de mulheres agregadas ao bando de Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, muitos problemas surgiram na gravidez e parto das cangaceiras, havendo conhecimento de morte. Ora, as parteiras geralmente eram as próprias companheiras de bando, se esmerando em cuidados mas sem muita experiência. Não havia panos limpos, medicamentos, cuidados básicos.

No cangaço, a gravidez, dado o meio e às condições, era sempre de risco. Não se imagine como conduta exemplar uma mulher grávida viver exposta às intempéries, andando e correndo de canto a outro, numa situação de estresse e ansiedade indescritíveis. Dia e noite desconfortáveis, alimentos inadequados, sem poder contar com tempo suficiente para descanso. Certamente as pernas inchavam, havia hemorragias, tensões de todos os tipos. E nem sempre as gestantes podiam se afastar do bando para dar a luz em ambiente menos perigoso.

Por maior cuidado que o companheiro tivesse, ainda assim não podia fugir do cotidiano incerto e apressado do bando. A caminhada não podia sofrer atrasos pelo fato de uma gestante não estar se se sentindo bem. Era a vida de todos que estava em jogo. Daí o imenso sacrifício, dor e sofrimento daquelas buchadas que, intimamente, não suportavam dar mais um passo sem um descanso. Mas tinham de seguir adiante.

Seguir adiante até não mais suportar. Não irrompia o grito, mas a feição apertada, agonizante, já demonstrava haver chegado o instante do parto. E dor sobre dor, pois também a certeza de que seu menino ou menino não poderia permanecer por muito tempo ao seu lado. O cangaço não era lugar de criança, e por isso mesmo os nascidos eram entregues a coiteiros e outros conhecidos do bando.

Os estudos dão conta que após pouco tempo de bando, ao lado do seu Capitão, Maria Bonita engravidou e acabou perdendo o bebê gestado. Sua filha Expedita somente viria nascer em 1932, de parto normal (se assim é possível afirmar), debaixo de um pé de umbuzeiro e depois entregue ao vaqueiro Severo Mamede para ser criada. Sila engravidou pouco tempo depois de chegar ao bando, teve o filho, sendo Maria Bonita a parteira, mas teve de entregá-lo para ser criado por outra família. Adília, que também acompanhava a conterrânea, afirma que era choro de menino misturado ao ribombo de tiros.

Pelos relatos colhidos, a maioria dos meninos e meninas do cangaço - ou filhos de cangaceiros - nasceram debaixo de pés de pau, de umbuzeiros principalmente. Tinha-se como verdadeira dádiva que os nascidos não apresentassem problemas e suas mães em pouco tempo pudessem retomar seus cotidianos. Mas algumas não tiveram essa sorte, pois perderam suas vidas durante o parto. E de ao menos uma a literatura cangaceira dá conta: Adelaide.

Adelaide, nascida em Poço Redondo e primeira companheira de Criança (a outra foi Dulce), morreu de parto. Mas não debaixo de umbuzeiro, mas dentro de uma rede enquanto era transportada, já sem esperança de sobrevida ante seu estado agonizante, para a povoação de Curituba, no sertão sergipano. E certamente consequência das durezas da vida cangaceira.


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NO BRASIL QUEM PROGRIDE E DÁ EMPREGO, CERTAMENTE, MORRE!


Não se têm notícia de morte violenta na fábrica localizada em Pedra, exceto uma, a do próprio Coronel Delmiro. Em 10.10.1917, às 9 horas da noite, quando estava na sua varanda lendo jornal, Delmiro foi alvejado com três tiros, um dos quais lhe acertou o coração. Três pistoleiros foram detidos e, sob tortura, incriminaram dois mandantes, que nunca foram presos, um dos quais por ter imunidade parlamentar. Dois outros suspeitos de encomendar o crime incluíam o pai de uma jovem que Delmiro seduzira e um amigo de Rosa e Silva, o vice-presidente que foi agredido pelo coronel.

Contudo, ficou sempre no ar uma suspeita, a de que Delmiro Gouveia tivesse sido assassinado a mando de seus concorrentes ingleses, mais precisamente da multinacional textil Machine Cottons. Não havia dúvida de que o crescimento do negócio de Delmiro incomodava esta empresa estrangeira. Os ingleses chegaram a boicotar os comerciantes que comprassem as linhas Estrela. A Machine Cottons tinha feito várias propostas de compra da fábrica de Pedra e sempre tendo resposta negativa da parte do Coronel Delmiro. Contudo, nenhuma prova do envolvimento da multinacional foi encontrada nos tiros que vitimaram o empresário. A fábrica continuou prosperando até 1924, quando passou para os três filhos de Delmiro Gouveia.

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SÁTIRO CAVALCANTE DANTAS


Sátiro Cavalcanti Dantas – Este grande sacerdote da Diocese de Mossoró nasceu no dia 22 de janeiro de 1930, na cidade de Pau dos Ferros-RN, filho de João Fernandes Dantas e dona Erondina Cavalcante Dantas. Ele recebeu esse nome em homenagem ao seu avô materno.

A sua infância se constituiu de momentos felizes, brincava muito com os seus 12 primos, na então casa grande dos avós maternos; era um menino de família muito simples, mas sua infância foi de muita brincadeiras.

Como tudo na vida não são somente flores, um grande fato muito triste aconteceu na vida de Sátiro Cavalcanti, que foi a morte de seu pai João Fernandes Dantas, com apenas 42 anos de idade, nesta época o menino Sátiro estava apenas com 11 anos de idade. Com essa fatalidade da vida a família ficou em apuros, que sua mãe dona Erondina não teve mais como manter o comércio que foi deixado pelo marido, tudo foi a falência, em apenas dois anos. 

Após a morte do seu pai, ele começou a trabalhar “Fui botador d’água”, essa lembrança ainda traz na memória, dizendo mais adiante que seus instrumentos de trabalhos era “um burro com ancoretas de barril de vinagre”, onde colocava água nas residências, mas com esse trabalho Sátiro ajudava na renda da família. 

Os inícios de seus estudos foram realizado na sua cidade natal, no Grupo Escolar Joaquim Correia, onde cursou o primário: ali, começava uma das mais brilhantes carreiras profissionais, neste tempo ele surpreendia a família, quando decidiu ser coroinha na Paróquia de Nossa Senhora da Conceição, o pároco daquela época era Monsenhor Manoel Caminha. Ao optar pela vida religiosa foi muito criticado pelos irmãos e amigos, mas por essa vida ele não desanimou. Sua mãe e o monsenhor Caminha que depositaram toda confiança em Sátiro Cavalcante. 

O rapaz Sátiro Cavalcante foi sacristão e ajudava na Paróquia de Nossa Senhora da Conceição, na cidade de Pau dos Ferros, também prestava serviços para a sua mãe, dona Erondina no comércio. Ele sempre colocava água nas residências com o auxílio de um jumentinho, e o dinheiro arrecadado foi investido na compra de seu enxoval para ingressar no Seminário Santa Teresinha.

A sua vocação religiosa foi despertado aos 14 anos de idade, "Nunca quis ser padre. Quem tinha esse desejo era Zé Dantas (irmão). “Quando decidi me tornar sacerdote, somente minha mãe e padre Caminha acreditaram. Minhas professoras diziam que eu era um menino inteligente e queria só os estudos e depois não seguiria”. Recordou. Sátiro começou a se aproximar da igreja aos 14 anos, quando teve um contato mais amplo com o padre Caminha, pároco da cidade de Pau dos Ferros-RN. 

Ele foi crismado no dia 15 de agosto de 1936, na Matriz de Nossa Senhora da Conceição, na cidade de Pau dos Ferros-RN, por Dom Jaime de Barros Câmara.

No ano de 1942, Sátiro disse que queria ser padre, mas somente sua mãe e o padre Caminha o apoiaram. No dia 09 de fevereiro de 1943, após seguir viagem de trem, desembarcou na cidade de Mossoró, junto com a mãe e os cinco irmãos; e naquele mesmo dia, o rapaz Sátiro ingressou no Seminário Santa Teresinha, para continuar a formação de seus estudos, realizando o Primeiro Grau Menor, o Reitor naquele tempo era padre Huberto Bruening, e o orientador espiritual era padre Miguel Nunes, e em seguida foi padre Gentil Diniz Barreto, estes foram muito importantes para a formação religiosa do seminarista Sátiro Cavalcante Dantas, e naquele seminário ele concluiu o curso ginasial e científico. 

Quando terminou o curso no Seminário Santa Teresinha foi estudar no Seminário em Fortaleza, logo após em Olinda-PE, e mais adiante cursou Filosofia, no Seminário Central Nossa Senhora da Conceição, em São Leopoldo-RS, entre 1949 até 1951; cursou Teologia Dogmática, realizado na Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma, no período de 1951 a 1954; cursou Licenciatura Plena, realizado na Universidade Católica de Pernambuco, em 1970; cursou Ciências Jurídicas, realizado na Fundação Padre Ibiapina, em Souza-PB, no período de 1974 a 1977 e ainda possui Especialização para Docentes do Ensino Superior, área de Sociologia.

É um homem muito sábio e estudioso, que não se contenta somente em Filosofia; ele progrediu sua formação intelectual, na Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma, cursando o curso de Teologia Dogmática, até o ano de 1954, ali naquela cidade recebeu a tonsura no dia 26 de outubro de 1952, diaconato em 31 de outubro de 1954, ordenado sacerdote em 08 de dezembro de 1954, por ocasião dos cem anos do Dogma da Imaculada Conceição, pelo Arcebispo de Puebla, México, que reuniu nesta celebração todos os ordenados da América Latina. Após permaneceu mais um ano em Roma, para concluir os estudos de Teologia, ele foi ordenado um ano anterior por autorização do Santo Padre, Papa Pio XII.

Depois que concluiu os estudos e da sua ordenação em Roma, retornou ao seu País de origem, em 1955, voltando à cidade de Mossoró em 28 de novembro daquele mesmo ano, no outro dia estava em sua cidade natal, onde permaneceu em festa devido ao seu retorno ao Brasil.

Sua primeira missa foi celebrada no dia 08 de dezembro de 1955, na Matriz de Nossa Senhora da Conceição, na cidade de Pau dos Ferros-RN, berço de sua família e de sua vocação. Em seguida foi nomeado cooperador da Paróquia da cidade de Areia Branca-RN, viajando somente nos finais de semana para este município auxiliando o Cônego Ismar Fernandes, pároco daquela cidade.

No ano de 1956, padre Sátiro foi nomeado Secretário Geral do Colégio Diocesano Santa Luzia, onde também foi professor das disciplinas: História Geral e Moral e Cívica, no período de 1956 a 1973; lecionou na Escola Normal de Mossoró, quando ingressou naquele estabelecimento, em 01 de março de 1956; seu maior marco aconteceu no dia 01 de janeiro de 1961, quando foi nomeado Diretor do Colégio Diocesano Santa Luzia, pelo então bispo Dom Gentil Diniz Barreto, onde permanece neste cargo até os dias atuais. Durante o seu direcionamento neste colégio, ele edificou várias obras, tais como: a criação da Universidade Infantil – UNIFAM; construiu o Parque Poliesportivo, Salas de aula, Salas ambientais e a Capela ecumênica etc.


No ano de 1970, padre Sátiro foi para a cidade de Recife-PE, onde cursou Licenciatura Plena, na Universidade Católica de Pernambuco, mas foi na Fundação Padre Ibiapina, na cidade de Sousa-PE, que padre Sátiro realizou o curso de Ciências Jurídicas, entre os anos de 1974 a 1977; II Curso para diretores, secretários e assessores do Ensino Superior, promovido pela Consultoria e Administração de Ensino, no período de janeiro a 05 de fevereiro de 1977, em Belo Horizonte-MG; Técnico de Ensino – Didática Superior, promovido pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte, no período de 08 a 13 de setembro de 1969; Curso de Administração Escolar – realizado no período de 16 a 21 de novembro de 1970, em Natal-RN; Formou-se em Direito pela Universidade Federal da Paraíba/PB.

Padre Sátiro é um sacerdote muito sábio, conhecedor das seguintes Línguas Estrangeiras: Inglês lê e escreve; Italiano, lê e fala; Espanhol, lê, escreve e fala; Francês, lê, escrever e fala; Latim, lê, escreve e fala.

Padre Sátiro Dantas também se especializou na área de Sociologia, curso de pós-graduação, promovido pelo MEC, DAU, CAPES, FURRN, na cidade de Mossoró de 03 a 29 de julho de 1978, depois concluiu a segunda etapa do curso de 15 de janeiro a 22 de fevereiro de 1979. Além de participar de cursos de aperfeiçoamento, de extensão universitária, ele participava em seminários, congressos e simpósios.

Ele desempenhou vários cargos dentro da igreja: Vigário Cooperador da Paróquia Areia Branca, Capelão Eclesiástico da Juventude Estudantil Católica - JEC, Membro do Conselho Presbiterial da Diocese de Mossoró, Vice-Presidente da Fundação Santa Luzia 1985-1989, Vigário Cooperador da Paróquia do Alto São Manoel, Vigário Substituto no Município de Dix-Sept Rosado, Assistente Espiritual Conferência Vicentina, Consultor do Conselho Administrativo da Diocese, da Fundação Diocesana Santa Luzia, defensor do Vínculo na Câmara Eclesiástica, Assistente Espiritual e Fundador da Congregação das Filhas de Santa Clara, Capelão da Igreja de São Vicente de Paula, desde 30 de dezembro de 1956; Pároco da Paróquia de São Manoel, a partir de 22 de março de 1985.

Padre Sátiro é um grande educador, pois seu trabalho veio a beneficiar Mossoró e o Estado do Rio Grande do Norte, ele foi um lutador incansável pela estadualização da Fundação Universidade Regional do Rio Grande do Norte - URRN, hoje Universidade Estadual do Rio Grande do Norte - UERN, quando padre Sátiro ocupava o cargo de Reitor “Pro-Tempore”, daquela Casa de Educação, no período de 05/08/85 a 07/01/87, quando a estadualização foi alcançada no ano 1986, no Governo do então Governador Radir Pereira de Araújo. 

Ele também foi professor no Ginásio Sagrado Coração de Maria; Diretor Fundador da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Mossoró da FURRN 1967-1969 e professor de Direito na Universidade Estadual do Rio Grande do Norte. Exerceu magistério durante 43 anos; Foi Diretor da Faculdade de Educação da FURRN; Membro do Grupo Fundador da Universidade Regional do Rio Grande do Norte; Membro do Conselho Universitário da FURRN; Diretor Fundador do Ginásio Centenário de Mossoró; Diretor Fundador da Escola Treze de Junho, fundado em 13 de junho de 1974; Professor de Sociologia da Faculdade de Economia, no período de 1966 a 1973; Professor de Filosofia da Educação do Colégio Normal do Centro Educacional Jerônimo Rosado, entre os anos de 1956 a 1974; Professor de Sociologia do Instituto de Ciências Humanas, entre 1967 a 1981; Professor de Sociologia da Faculdade de Educação – URRN, entre 1966 a 1983; Presidente da Escola Ambulatório Cardeal Câmara, a partir de 01 de março de 1966; Diretor Fundador do Ginásio Centenário de Mossoró, em 09 de março de 1970; Coordenador do Seminário sobre “Agressão à Vida Humana”, promovido pela Campanha da Fraternidade de 1974, no período de 01 a 03 de abril de 1974; Professor de História do 2° Grau do Colégio Diocesano Santa Luzia, entre 1975 a 1976; Presidente da Comissão de Justiça dos JERN’S 11° NURE, entre 26 de agosto a 02 de setembro de 1979; Professor de Moral e Cívica do 2° Grau do Colégio Diocesano Santa Luzia, de março a agosto de 1985; Diretor Fundador da Universidade Infantil de Mossoró; Presidente da Fundação Sócio Educativa do Rio Grande do Norte – FUNSERN; Presidente do Conselho Estadual de Educação do Rio Grande do Norte (1991-1993); Presidente da ACODINE- Associação dos Colégios Diocesanos do Nordeste – 2000/2001; Diretor fundador da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Mossoró, entre 1967 a 1969; Diretor do Instituto de Ciências Humanas, entre maio a julho de 1974; Membro do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte; Membro da Academia de Letras de Mossoró, sendo o primeiro ocupante da Cadeira N° 11, que tem como patrono Luis Ferreira Cunha da Mota; 

Padre Sátiro publicou diversas obras: Contribuição de Leão XIII à Questão Social, 1966; Evasão Escolar – Coleção Mossoroense N° 159; Educação – Crônica – pela Coleção Mossoroense N° 167; O Fenômeno das Secas no Nordeste – Coleção Mossoroense N° 210; Evolução Histórica dos Pensamentos Sociais da Antiguidade até Augusto Comte – Coleção Mossoroense N° 216; O Perfil Psico-Social do Educador, publicado pelo Jornal O Mossoroense; Os Jesuítas no Brasil, publicado pelo “O Seminário”, Revista dos Seminaristas do Brasil, São Leopoldo, RS; De Collectiva Hominum Responsabilitate – trabalho apresentado para obtenção de Licenciatura na Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma; Homenagem Póstuma ao Acadêmico Raimundo Nonato Nunes, 1990; Os Bastidores de uma Luta, 1991; Revista do Conselho Estadual de Educação – N° 10, dezembro de 1991 e além de outros. 

Este grande mestre é membro dos seguintes órgãos culturais: Instituto Histórico do Oeste Potiguar – ICOP; Academia Mossoroense de Letras – AMOL, ocupando a cadeira N° 11, do qual o patrono é monsenhor Luiz Ferreira Cunha da Mota e do Conselho Estadual de Educação. 

Padre Sátiro Cavalcanti Dantas ainda foi presidente do Conselho cinco vezes, em Natal, assim disse ele “Fazíamos seminários regionais com vários outros Conselhos Estaduais participando. Colocamos a revista do Conselho em dia", ao comparar o que acontece atualmente com os atuais integrantes do Conselho Estadual de Educação do Rio Grande do Norte; e num desses Conselhos, no dia 20 de outubro de 1999, após presidir uma reunião do Conselho Estadual de Educação, na capital do Estado, nas proximidades da sede campestre do Alecrim, quando retornava à Mossoró, o carro que ele vinha, sendo dirigido pelo senhor Elpídio Neto, foi violentamente colhido por um caminhão e nesta batida padre Sátiro teve como consequência sete costelas quebradas, uma forte pancada na cabeça, que lhe fez perder 40% da visão do olho direito. Ele ficou muitos dias hospitalizado, chegando muitas vezes imaginar que iria morrer, ele considera esta data o dia de seu renascimento. 

Vejamos agora alguns títulos, diplomas e honrarias que o Padre Sátiro recebeu: Troféu Educação, em 1966, pelo Centro Estudantil Mossoroense; Destaque no Setor de Educação e Cultura, em 1966; Destaque no Setor de Alfabetização de Adultos, em 1967; Medalha Centenária, em 1970, pela Prefeitura Municipal de Mossoró; Mérito Universitário em 1975, pelo ACEU; Medalha da Resistência, pelo transcurso do Cinquentenário da Resistência Cívica de Mossoró ao Bando de Lampião, em junho de 1977; Mérito Universitário em 1977; Amigo do Cantador – Conferido pela Associação Estadual de Poetas Populares; Medalha do Reconhecimento, pela Câmara Municipal de Mossoró, através do Decreto Legislativo N° 11/79, de 13 de novembro de 1979; Amigo do Escoteiro – Grupo de Escoteiro Professor Antônio da Graça Machado, em 03 de novembro de 1983; Medalha de Mérito Educacional Professor Solon Moura, pelo Decreto Legislativo N° 03/85, em 09 de abril de 1985, promovido pela Câmara Municipal de Mossoró, da autoria do então vereador José de Almeida Sobrinho; Diploma de Honra ao Mérito, outorgada pela Câmara Municipal de Mossoró, pelo Decreto N° 452/97, de 09 de setembro de 1997, da autoria do vereador João Newton da Escóssia Júnior; Concedido ainda pela Câmara Municipal de Mossoró, a Medalha do Mérito Religioso “João Paulo II”, pelo Decreto Legislativo N° 941/05 , em 14 de setembro de 2005, da autoria da então vereadora Gilvanda Peixoto; homenageado em sua cidade Natal, durante a inauguração da Praça Monsenhor Caminha, em Pau dos Ferros, em julho/2009. Sendo que ele foi homenageado pelo Tribunal Regional do Trabalho do Rio Grande do Norte, com a “Comenda da Ordem do Mérito Judiciário do Trabalho Djalma Aranha Marinho”, sendo uma justa e merecida homenagem a esse pauferrense que muito contribui para a educação do nosso Estado. A homenagem ocorreu no dia 25 de setembro, no auditório do Tribunal Regional do Trabalho, em Natal; Diploma de Reconhecimento concedido pela Câmara Municipal de Mossoró, pelo Decreto Legislativo N° 1178/09, de 23 de junho de 2009, da autoria do vereador Flávio Tácito da Silva Vieira.

Este sacerdote fundou em 05 de março de 1981 a Fundação Sócio-Educativa do Rio Grande do Norte (FUNSERN), e todo o complexo de educação que a envolve, sendo elas a Creche Erundina Cavalcanti Dantas; a Biblioteca Dorian Jorge Freire, com um vasto acervo doado por Padre Sátiro, Jornalista Canindé Queiroz e Raul Fernandes; a Banda de Música Cabo Pereira; a FM Santa Clara, inaugurada em 18 de maio de 1988, que até hoje presta inestimável serviços na área de educação e vida religiosa; a Pastoral da Gruta e o Posto de Saúde Alice Almeida.

Esse homem de Deus por ser um grande devoto de Santa Clara, a qual foi herdada de sua mãe Erondina, foi o responsável pela construção do Santuário de Santa Clara e do Mosteiro Fraternidade São Francisco de Assis, inaugurado em 11 de agosto de 1999, no bairro Dom Jaime Câmara, em Mossoró. 

Ele tem raízes política na família, seus tios, Israel Nunes foi, por cinco vezes deputado estadual e Licurgo Nunes foi prefeito de Pau dos Ferros-RN, por duas vezes. No ano de 1972, o líder do Movimento Democrático Brasileiro – MDB, convidou o Padre Sátiro Cavalcanti para disputar a eleição municipal de Mossoró, contra o Dr. Jerônimo Dix-huit Rosado Maia e o Professor Francisco Canindé de Queiroz, mas naquela reunião a única palavra que padre Sátiro pronunciou foi um NÃO.

Assim Padre Sátiro Cavalcanti encerra os seus dizeres: “Há uma coisa muito importante em minha vida. Eu sou velho na idade. Se bem que hoje em dia nem tem mais isso... Mas sou jovem no espírito. E a minha jovialidade do espírito que faz com que eu acompanhe todas as mudanças na área da educação, na igreja, na área da religião, na área social e na compreensão dos jovens...”

Seu maior sonho ainda é a construção e funcionamento do Mosteiro Contemplativo, para vocações masculinas, mas ele diz o seguinte: “São muitas as dificuldades e acho que não viverei o suficiente para realizá-lo.”

Fonte: facebook
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MENSAGEM!




*A AMANTE...*

Simplesmente Formidável!!!

*A ESTRANHA VERDADE:*

Alguns anos depois que nasci, meu pai conheceu uma estranha, recém-chegada à nossa pequena cidade.


Desde o princípio, meu pai ficou fascinado com esta encantadora personagem e, em seguida, a convidou a viver com nossa família.


A estranha aceitou e, desde então, tem estado connosco.


Enquanto eu crescia, nunca perguntei sobre seu lugar em minha família; na minha mente jovem já tinha um lugar muito especial.


Meus pais eram instrutores complementares... minha mãe me ensinou o que era bom e o que era mau e meu pai me ensinou a obedecer.


Mas a estranha era nossa narradora.


Mantinha-nos enfeitiçados por horas com aventuras, mistérios e comédias.


Ela sempre tinha respostas para qualquer coisa que quiséssemos saber de política, história ou ciência.


Conhecia tudo do passado, do presente e até podia predizer o futuro!


Levou minha família ao primeiro jogo de futebol.


Fazia-me rir, e me fazia chorar.


A estranha nunca parava de falar, mas o meu pai não se importava.


Às vezes, minha mãe se levantava cedo e calada, enquanto o resto de nós ficava escutando o que tinha que dizer, mas só ela ia à cozinha para ter paz e tranquilidade. (Agora me pergunto se ela teria rezado alguma vez para que a estranha fosse embora).


Meu pai dirigia nosso lar com certas convicções morais, mas a estranha nunca se sentia obrigada a honrá-las.


As blasfêmias, os palavrões, por exemplo, não eram permitidos em nossa casa… nem por parte nossa, nem de nossos amigos ou de qualquer um que nos visitasse.


Entretanto, nossa visitante de longo prazo usava sem problemas sua linguagem inapropriada que às vezes queimava meus ouvidos e que fazia meu pai se retorcer e minha mãe se ruborizar.


Meu pai nunca nos deu permissão para tomar álcool. Mas a estranha nos animou a tentá-lo e a fazê-lo regularmente.


Fez com que o cigarro parecesse fresco e inofensivo, e que os charutos e os cachimbos fossem distinguidos.


Falava livremente (talvez demasiado) sobre sexo. Seus comentários eram às vezes evidentes, outras sugestivos, e geralmente vergonhosos.


Agora sei que meus conceitos sobre relações foram influenciados fortemente durante minha adolescência pela estranha.


Repetidas vezes a criticaram, mas ela nunca fez caso aos valores de meus pais, mesmo assim, permaneceu em nosso lar.


Passaram-se mais de cinquenta anos desde que a estranha veio para nossa família. Desde então mudou muito; já não é tão fascinante como era no princípio.


Não obstante, se hoje você pudesse entrar na guarida de meus pais, ainda a encontraria sentada em seu canto, esperando que alguém quisesse escutar suas conversas ou dedicar seu tempo livre a fazer-lhe companhia...


Seu nome? Ah. seu nome…

*Chamamos de TELEVISÃO!*

É isso mesmo; a intrusa se chama *TELEVISÃO!*

Agora ela tem um marido que se chama *Computador,* um filho que se chama *Celular* e um neto de nome *Tablet.*

A estranha agora tem uma família. A nossa será que ainda existe?


Enviado pelo professor e escritor Benedito Vasconcelos Mendes

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