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segunda-feira, 24 de setembro de 2012

LAMPIÃO EM AURORA


Em virtude da amizade com o Coronel Isaias Arruda, na verdade um dos grandes coiteiros de Lampião no Ceará, o rei do cangaço, como era chamado, esteve, mais de uma vez, no município de Aurora. 

Coronel Isaías Arruda

Em suas incursões pelo município sul-cearense, o bandoleiro se acoitava na fazenda Ipueiras, de José Cardoso, cunhado de Isaias. Uma dessas vezes foi nos primeiros dias de junho de 1927. Na fazenda Ipueiras, onde já se encontrava 

O cangaceiro Massilon Leite

Massilon Leite, que chefiava um pequeno grupo de cangaceiros. Lampião foi incentivado a atacar a cidade norte-riograndese de Mossoró, plano que Lampião pôs em prática no dia 13 do citado mês. Em razão do incentivo, Lampião adquiriu do coronel um grande lote de munição de fuzil, que de mão beijada, Isaias havia recebido do governo Federal (Artur Bernardes, quando este promoveu farta distribuição de armas a coronéis para alimentar o combate dos batalhões patrióticos contra a coluna Prestes).

Presente aquela negociação, que rendeu ao coronel Isaias a considerável quantia de trinta e cinco contos de réis, esteve o cangaceiro Massilon, que teve valiosa influência junto a Lampião, no sentido de atacar Mossoró, cujos preparativos tiveram lugar na fazenda ipueiras. Consta que Massilon Leite, associado a Lampião no sinistro empreendimento, tinha em mente assaltar a agência local do Banco do Brasil e sequestrar uma filha do coronel Rodolfo Fernandes. 

O ex-prefeito de Mossoró - Rodolfo Fernandes

O Bando de Lampião que chegou a Aurora  era composto de uns cinquenta cangaceiros, dentre eles Rouxinol, Jararaca e Severiano, os quais já se encontravam, há dias, na aludida fazenda acoitados por José Cardoso. De Aurora, Lampião levou José de Lúcio, José de Roque e José Cocô (José dos Santos chumbim), todos naturais da região de Antas, tendo sido incluídos no subgrupo de Massilon.

No dia 13 de junho de 1927, Lampião ataca a cidade de Mossoró, a mais importante do interior do Estado potiguar. “Após quarenta minutos de fogo, já tendo tomado duas ruas, Lampião ordena a retirada". Fracassara o seu maior plano. Lampião bate em retirada, entrando no Ceará pela cidade de Limoeiro, onde não é importunado.  Ante a ameaça de invasão das cidades da zona Jaguaribana e já havendo um plano de combate ao famigerado bando, juntaram-se contingentes policiais de três estados: Ceará, Rio Grande do Norte e Paraíba. Foi nomeado “Comandante geral das forças em operações“ o oficial cearense, Major Moisés Leite de Figueiredo. No dia 16 de junho, a força paraibana havia seguido para Limoeiro, mas ao chegar ali, Lampião já tinha levantado acampamento. Prosseguindo em sua retirada pelo território cearense, com um grupo reduzido a trinta e poucos homens, em virtude da morte de alguns cangaceiros, entre eles os terríveis Jararaca e colchete, e das deserções que se seguiram ao fracassado ataque, inclusive a de Massilon Leite e seu sub-grupo.

Lampião é perseguido por volantes, com as quais trava combates. Dentre estes, o mais intenso foi o travado no dia 25 de junho, na Serra da Macambira, município de Riacho do Sangue, no qual Lampião, mais um vez, provou a sua invencibilidade. Enfrentando uma força de mais de trezentas praças, sob o comando exclusivo do tenente Manoel Firmo, este sendo auxiliado por nove tenentes, José Bezerra, Ózimo de Alencar, Luiz David, Veríssimo Alves, Antonio Pereira, Germano Sólon, Gomes de Matos, João Costa e Joaquim Moura. Lampião pôs-se em fuga são e salvo, deixando quatro soldados mortos. Seguram-se combates menores em cacimbas (Icó), Ribeiro, no vale do Bordão de Velho, e Ipueiras, os dois últimos no município de Aurora, com o rei do cangaço levando a melhor.

No dia 28 de junho, Lampião contorna a serra do Pereiro, passando pelas serras vermelhas, Michaela e Bastiões. O Grupo marchava a pé, por veredas e nunca por estradas, tendo a tropa em seu encalço. É ai que Lampião resolve derivar para o lado do cariri e continuar a retirada em direção ao município de Aurora, onde esperava encontrar refúgio no valha Couto do seu “amigo” Isaias Arruda. Em seu livro “ Lampião no Ceará", narra o Major Moisés Leite Figueiredo que, no dia 1º de julho de 1927, Lampião com seu grupo estacionava no alto da serra de Várzea Grande no lugar Olho d’água das éguas. E que ali perto, no lugar Ribeiro, já se encontrava as forças do tenente Agripino Lima, José Guedes e Manoel Aruda. O primeiro, da polícia do Rio Grande do Norte, e os dois últimos, da polícia Paraibana, valendo salientar que tais contingentes totalizavam cerca de duzentos homens, bem aparelhados, segundo o major Moisés. A tropa que teve encontro com os bandoleiros foi a do tenente Arruda, no sítio Ribeiro, onde aconteceu um fato misterioso e engraçado.

Não obstante o lugar se achar “bem guarnecido“, ao clarear a barra, “O Grupo de Bandoleiros, sem sofrer o menor revés, passou entre as trincheiras, nas quais os soldados dormiam, para só despertarem depois, com cerrada fuzilaria, quando os bandidos não estavam mais ao alcance da pontaria da polícia” O Grupo ocultou-se no vale do Bordão de velho. Do local onde estava, Lampião enviou dois cabras a casa de João Cabral, morador ali perto, convidando-o a vir a sua presença. João Cabral atendeu e Lampião disse-lhe estar com fome e sede, pedindo alimento e água para o grupo, no qual foi atendido.

Marchando pelo pé da Serra da várzea grande, Lampião chega a fazenda Malhada funda, onde faz parada, sendo recebido por Gregório Gonçalves, que, após saber com quem estava falando, perguntou a Lampião em que podia servi-lo. Este respondeu “só quero comida para minha rapaziada". Gregório Mandou matar um boi que estava no curral e duas ou três ovelhas. Os cangaceiros estavam com tanta fome, que não esperaram. Comendo as carnes sapecadas. Os quartos de Ovelha, eles colocaram nos bornais sobressalentes, junto com farinha e rapadura. Ao retirar-se, Lampião levou João Teófilo como guia. Este saiu montado num burro que o cangaceiro havia tomado de um cidadão que estava comprando rapaduras. O Bando saiu na direção sudeste do município. Lá muito adiante, o guia foi substituído por outro de nome David Silva, tendo Lampião recomendado a João Teófilo para só voltar quando escurecesse e que não fosse pelo mesmo caminho.

“Em sua marcha, Lampião procurou a Serra do Coxá, na divisa do município de Aurora com o de Milagres, burlando a vigilância dos policiais, de tal modo que estes se afastavam do ponto em que estavam os bandidos, tomando o rumo de Boa Esperança, Serrote do cachimbo, Riacho dos Cavalos, Ingazeiras e Milagres". Narra ainda o Major Moisés.

Lampião era um perito em estratégia Militar, uma de suas táticas consistia em ludibriar a polícia que andava no seu encalço, como fez, quando procurou a Serra do Coxá. Deste modo, tornou-se inofensiva a providência do Major Moisés, designando o tenente Caminha para colocar piquetes nas estradas, uma vez que, por estas, não passaria o grupo de cangaceiros. Enquanto Lampião ficava escondido na Serra do Coxá, O tenente Manoel Firmo seguia para o lado oposto com a sua tropa, passava de trem por Aurora, em demanda ao cariri, sem dar satisfações ao seu chefe, major Moisés, que naqueles dias se encontrava em nossa cidade, em tratamento de saúde. Com o tenente Manoel Firmo, viajavam os tenentes Luis Leite, laurentino, Moura Germano, em passeio a Juazeiro e Crato, totalmente despreocupados com os bandidos.

Para piorar a situação do “comandante das tropas em operações”, chegavam em Aurora o contingente comandado pelo tenente Agripino de Lima, que conduzia trinta e quatro animais de montaria, tomados de fazendeiros de Icó, Pereiro e Jaguaribe. Enquanto o Major pensava que o oficial vinha em seu auxilio, o tenente agripino comunicava-lhe que resolvera abandonar a campanha e voltar pra o Rio Grande do Norte. Diante disso, o Major Moisés apreendeu os referidos animais, entregando ao sr. Vicente Leite de Macedo, com a recomendação de devolvê-los aos respectivos donos. Além dos animais tomados de sertanejos, o Major Moisés constatou irregularidades na tropa do tenente Agripino, como a venda de munição feita por praças e muitas destas se entregando a embriaguez. A Atitude do tenente Manoel Firmo, viajando para juazeiro e Crato, arrastando o grosso da tropa e quatro tenentes, deixou o comandante “num mato sem cachorro“.

O Major viu-se na contigência de pedir ajuda ao coronel Isaias Arruda, o mesmo que, tempos atrás, havia acoitado Lampião, mas que agora, dava uma de perseguidor do bandoleiro, pondo oitenta e sete cabras á disposição do major Moisés. Se no combate travado com os bandidos, na serra da macambira, havia cerca de 400 praças, como se explica ter o major Moisés levado para Ipueiras apenas 15 soldados. Descoberto o paradeiro de Lampião no alto da Serra do coxá, destacaram-se elementos de confiança para, aproximando-se do grupo, conhecerem melhor a sua posição, dentre eles Miguel Saraiva, tio de um dos bandoleiros e morador nas proximidades. Foi então que o Major Moisés e Isaías Arruda conceberam um estratagema, que consistia em preparar um almoço para lampião e seus cabras, na casa de José Cardoso, em Ipueiras, e juntos, abaterem o bandido, na hora conveniente.

Miguel Saraiva se faz acompanhar de oito homens que se apresentam a Lampião, fingem que são perseguidos pela polícia, e para melhor comover o chefe do bandoleiros, lamentam e choram a sua desgraça, tentando com isso, infiltrar-se no bando. “Alguns bandoleiros aceitaram a presença de novos companheiros, mas Lampião logo faz sentir que não acolhia em seu grupo pessoas que lhe fossem estranhas”, os oito homens de Miguel Saraiva tinham recebido instruções para atacar os bandidos na hora em que o grupo “ descansasse” a armas para almoçar. Simultaneamente, os soldados e jagunços puseram-se discretamente em volta de casa, prontos para fechar o cerco aos bandidos, no momento oportuno. Mas o ardil fracassou, porque Lampião, sagaz, arisco e desconfiado, chegou a rejeitou o almoço oferecido por Miguel Saraiva. E colocou sua gente em pontos diversos e estratégicos.

“Conhecido o fracasso do estratagema, fomos impelidos a atacar os bandidos, com ímpeto, de sorte que, em pouco tempo, estavam debaixo de cerrada fuzilaria. A luta teve início pouco mais ou menos as 12 horas do dia 7 de julho, tendo uma duração de mais de três horas, terminou infelizmente, porque os bandido caíram em fuga, e no campo deixaram dois mortos, um queimado, que recebeu vários ferimentos, e outro também morto na ocasião em que fugia”. Essa foi a história narrada pelo major Moisés no livro "AURORA HISTÓRIA E FOLCLORE de AMARÍLIO GONÇALVES TAVARES".

http://coisadecearense.blogspot.com.br/2010/11/historia-do-ceara-lampiao-em-aurora.html

Nota: A fonte pesquisada não apresenta o autor 

GONZAGA, DE PAI PRA FILHO

Luiz Gonzaga, Mãe Santana, Rosinha, Pai Januário e Dona Helena - fabiomota1977.wordpress.com

Preparem-se para boas surpresas no filme Gonzaga – de Pai Pra Filho, 

Gonzaguinha e Gonzagão - poemia.wordpress.com

que assisti na última sexta à tarde na sede da distribuidora Paris Filmes em São Paulo, ao lado de Chambinho do Acordeon e outros amigos. 

http://assisangelo.blogspot.com.br/


Enviado pelo escritor e poeta de Floresta: 
Kydelmir Dantas

Lampião contra o mata sete


Autor: Archimedes Marques


Preço: R$ 50,00
BANCO DO BRASIL
Agência: 3088-0
Conta: 33384.0

Em nome de Elane Lima
Marques (Minha esposa).
E-mail
archimedes-marques@bol.com.br

http://blogdomendesemendes.blogspot.com 

Palestras As Mulheres no Cangaço

Por: João de Sousa Lima

Durante os dias 13 à 23 de setembro de 2012 João de Sousa Lima realizou um cronograma de seis palestras nas cidades de Juazeiro do Norte (CE), Serra Talhada (PE), Água Branca (AL), Paulo Afonso (BA), Porto da Folha (SE) e Aracaju (SE).

O evento foi organizado pela Lampiãozinho Produções que realizou a turnê Lampiãozinho e Maria Bonitinha, uma peça teatral de grande sucesso que já ganhou 19 prêmios no Brasil.

João, Fernando e Reginaldo.

Em Juazeiro do Norte contamos com a presença de Reginaldo, ex-produtor musical de Luiz Gonzaga.


Neto, João, Zenaide, Reginaldo e o compositor e cantor Luis Fidélis.


Alunos da Escola Iva Emídio Gondin em fila para autógrafos do escritor João Lima.


Com o tema as Mulheres no Cangaço a palestra foi sucesso de público.


Na cidade alagoana de Água Branca, Alagoas, participação dos educadores da rede pública e municipal.


Em Serra Talhada, Pernambuco,  alunos conheceram um pouco mais da história do cangaço.


Serra Talhada: Alunos comportados ouvindo o escritor João de Sousa Lima.


Em Porto da Folha, com professores e alunos.



Água Branca, Alagoas

Enviado pelo escritor e pesquisador do cangaço: 
João de Sousa Lima

LAMPIÃO NA GRÁFICA


Por: Clerisvaldo B. Chagas, Crônica Nº 870
Clerisvaldo B. Chagas

LAMPIÃO NA GRÁFICA

Alívio! Finalmente depois de tanta luta, levamos “Lampião em Alagoas” para brigar com o dono da gráfica mais pujante do estado.

Foto Wikipedia

Escrever um livro com responsabilidade pode até ser fácil, mas a dose de paciência é sem limite. Nossa previsão era fazer lançamento no dia 28 de julho, mas as coisas não somente dependem de nós. É fase da pesquisa, ordem, correção, acréscimos, cortes, digitação e tantas e tantas coisas mais para que possamos apresentar um documento como verdadeiro e limpo. Depois de tudo pronto, surge o problema monetário que não poucas vezes puxa na camisa por trás. Tudo resolvido, os autores entregam o livro à gráfica, discutem os detalhes e ficam aguardando a prova, também chamada vulgarmente “boneca”. De posse da prova, novo polimento nos nervos, olhos atentos e, original ao lado. Após essa transição, vem o nascimento da obra, beijada por todos os lados pelos autores. O primeiro filho ou mais um, não importa, a emoção sempre está presente. Ainda falta a parte do planejamento para a entrega ao público, local a ser escolhido, modelo de convites, cartazes, divulgação na mídia, recepção aos convidados e vendas, autógrafos e, a última etapa, ir para casa descansar.

Falamos cedo demais sobre as nossas pretensões e sem querer, causamos uma expectativa forte. Cobranças agora nos chegam de todos os lugares e inúmeros pedidos já são apalavrados. Como o mais difícil já foi feito, agora é ter mais um pouco de paciência, para reviver os episódios isolados, lampiônicos, em Alagoas, narrados por diversos autores em livros, artigos, revistas, mais documentos e narrativas orais. Essas narrativas isoladas foram coordenadas pelos autores, seguindo a ordem cronológica sempre que possível. O conjunto de episódios organizados com mais algumas novidades, formam um todo que recebeu


o título de “Lampião em Alagoas”. A história do célebre cangaceiro vai desde 1918 (quando os Ferreira vieram para Alagoas) até 1938. Acrescentamos por exemplo “o casamento de


Corisco e Dadá”, o “verdadeiro matador do pai de Virgolino”, a morte do “coronel Lucena” e outros atos inéditos.

Coronel Lucena

Quase em estilo acadêmico, o livro tem apresentações de Inácio Loiola e Silvio Bulhões (filho de Corisco e Dadá).

Inácio de Loiola
Inácio Loyola e Sílvio Bulhões - o último filho de Dadá e Corisco

“Negros em Santana”, um paradidático de pouco mais de cinquenta páginas, também está em outra gráfica. Os dois poderão ser lançados juntos, em Maceió, Santana, Piranhas, Batalha, Palmeira dos Índios, Cacimbinhas, Pão de Açúcar, Mata Grande, Delmiro, Água Branca, Inhapi, Pariconha, Jirau do Ponciano, Dois Riachos, Poço das Trincheiras, Ouro Branco, Maravilha, Olivença, Major Isidoro, São José da Tapera, Traipu... Municípios que viveram episódios de cangaceiros e são citados. Aguardemos o resultado do combate de LAMPIÃO NA GRÁFICA.  




SANTINHOS DE SÉTIMO DIA (Crônica)

Por: Rangel Alves da Costa(*)
Rangel Alves da Costa

SANTINHOS DE SÉTIMO DIA

Santinhos de missa de sétimo dia, impressa recordação de quem partiu, lembrança visível espalhada entre todos. Há os que apenas recebem; há os que colecionam com singeleza e ternura; há os que não vivem sem ter ao lado aquela fotografia datada com uma mensagem escrita.

Na missa de sétimo dia a família do falecido distribui a recordação entre os presentes. Na fotografia, a eternidade no semblante desaparecido, o olhar que agora parece triste na distância. Talvez um ou outro aviste um sorriso, uma incrível sensação de presença naquele gesto que parece saindo do papel, alcançando a vida, talvez dizendo: Não fique triste que estou aqui!


Outro dia, numa missa do entardecer na Capela do São Salvador, em Aracaju, após o sacerdote citar nomes de falecidos, escutei-o dizer, a pleno pulmão, que se engana quem achar ou costumeiramente ficar dizendo que quem morre continua com alguma presença na terra. E afirmou que quem morre desaparece, some totalmente da vida terrena.

Se o religioso quis afirmar do total desaparecimento corporal, não proferiu a explanação com tal intenção, e sim como se quisesse dizer que os mortos sucumbem até aos sentimentos familiares; que os falecidos devem, portanto, dar menor importância aos entes que partiram. Apenas, ouvi, calei. Mas não posso concordar de jeito nenhum com tal concepção, principalmente vinda de um sacerdote.

É uma questão sentimental, de amor, de reconhecimento familiar e de amizade. Não há concepção desse tipo que prevaleça diante do sentimento familiar, dos inevitáveis gestos de dor, de saudade, de profunda falta. E é um sofrimento tão forte, espalhado entre parentes e amigos, que outra coisa não emerge senão o duvidar do acontecimento, a não-aceitação da perda, o sentimento inafastável da presença. E isto perdurará na mesma dimensão do sentimento com relação à pessoa falecida.

Não há, pois, como negar que a morte corporal de uma pessoa querida, de um pai, uma mãe, um irmão, um bom parente, um grande amigo, aumenta ainda mais a sua visibilidade sentimental. Eis que muitas vezes o verdadeiro reconhecimento do amor sentido por aquela pessoa só se descortina depois de sua perda. E isto não é fator negativo, pois a presença faz com que as demonstrações de carinho e afeto sejam sempre adiadas.

Daí é que a perda, a morte, seja lá por qual motivo for, surge sempre como algo dolorosamente inaceitável. Dentro do coração de cada um permanece a presença do outro, ou mesmo parecendo que ainda se encontra por ali fisicamente, e tal sensação logo demonstra que o advento da morte faz surgir uma contínua proximidade entre a presença e a ausência: a saudade, a vontade de estar lado a lado, a recordação tecendo o que poderia ter sido realizado...

Os indescritíveis sentimentos pela perda de alguém querido, amado, adorado, se fazem como entorpecidos e conflitantes até chegar o momento da missa de sétimo dia. Nesta missa, que representa o marco do descanso bíblico - eis que Deus criou o mundo em seis dias e no sétimo descansou – e ora-se pela alma para que ela repouse eternamente ao lado do Senhor, é também o momento de fortalecer o significado que teve a pessoa na sua passagem terrena.

São belos e tristes os ritos iniciais desta missa: “Irmãos e irmãs, para quem crê, a morte é apenas mudança de uma aparência passageira, Jesus Cristo nos garante; a saudade triste, que hoje nos aflige, traz consigo a esperança de que um dia nos encontraremos de novo para nunca mais nos separarmos”.


E tal fortalecimento se dá de maneira simbólica, com a oferta a cada um dos presentes na missa de um santinho contendo uma fotografia da pessoa falecida, sempre acompanha de uma mensagem, um poema, uma verdade brotada da mão de um familiar que, com poucas palavras, procura expressar tudo aquilo que a pessoa representou para aqueles que compartilharam do seu convívio.

Contudo, penso eu que os santinhos de sétimo dia possuem uma simbologia ainda maior, mais contundente, mais permanente. Vejo em cada um deles uma casa, um lar, uma vida em miniatura. Representando uma existência partida, continuará existindo ao lado de cada um, reencontrando ali o olhar, a feição, o sorriso, em todo momento que a saudade chamar.

(*)Poeta e cronista
e-mail: rac3478@hotmail.com


História do Cangaço


As volantes

O agravamento do problema do cangaço levou as polícias estaduais a criar forças especiais para combatê-lo, as chamadas "volantes", comandadas por policiais de carreira, mas formadas por "soldados" temporários e cujos métodos de atuação - em especial em relação à população pobre - não era muito diferente daqueles dos próprios cangaceiros. Quanto ao governo federal, seu descaso pelo cangaço foi sempre o mesmo manifestado pelo semi-árido de um modo geral.

De qualquer modo, em 1938, o governo de Alagoas se empenhou na captura de Lampião. Uma volante comandada por João Bezerra conseguiu cercá-lo na fazenda de Angicos, um refúgio no Estado de Sergipe. Depois de vinte minutos de tiroteio, cerca de 40 cangaceiros conseguiram escapar, mas onze foram mortos, entre eles o líder do bando e sua mulher, conhecida como Maria Bonita.


Para se ter uma ideia do caráter violento da sociedade em que isso aconteceu, vale mencionar que os onze mortos foram decapitados e suas cabeças, levadas para Salvador (BA), ficaram expostas no museu Nina Rodrigues até 1968 - quando foram finalmente sepultadas.

http://maccord-rita-prof.blogspot.com.br/2012_02_24_archive.html

DE UMA SEXTA FEIRA ENSOLARADA

Por: Honório de Medeiros
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O carro parou ao lado da criança. Havia como que um assento de cimento – se é que se pode dizer assim – ao lado da banca de revistas, mas ela não deu muita atenção ao carro, nem mesmo quando seus ocupantes saíram e um deles lhe fez cócegas na cabeça e passou apressado.

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A mãe, sentada, de cabeça baixa, cotovelo cravado nas pernas, tinha os olhos ocultos pela mão direita espalmada e não modificou sua postura para ver o que se passava ao seu redor. De relance se pôde perceber que parecia insensível ao tráfego barulhento, enquanto sua mão esquerda segurava firmemente o pulso da criança.

Entraram na banca. Compraram jornais. Separaram, de comum acordo, um chocolate para ser dado à criança. Saíram. Nada mudara. Ao se aproximarem perceberam as roupas de ambas – singelas, mas compostas. Ofereceram o chocolate sem dizerem qualquer palavra. A mãozinha frágil o pegou, ávida, enquanto um “oba!” despertava a atenção da mãe. Esta, tirando a mão dos olhos e encarando os dois homens que observavam sua filha deixou a descoberto um rosto ainda jovem, banhado em lágrimas.

- “Minha senhora”, perguntaram, “porque está chorando?”

 “Fome!”, respondeu.

A criança, de um louro amarelado que ressaltava sua ascendência negra, magrinha, magrinha, lambia, deliciada, o chocolate totalmente despido. Não se dava conta do que se passava ao seu lado.

- “Fome?”. Perguntaram novamente.

-  “É”. “Não tenho vergonha em dizer”. “Os senhores sabem se tem alguma Casa de Apoio aqui perto?”

- “Tem uma logo naquela rua”, responderam.

- “Está fechada”. “Tem o Albergue”, ela continuou, “na descida da ladeira, mas ele cobra vinte reais para o pernoite e refeições”.

Fez-se um silêncio incômodo, doloroso. Será que ali estava alguém querendo aplicar um golpe, explorando aquela infância comovente que agora brincava de lamber, um a um, os dedinhos sujos de chocolate, eles se perguntaram.

- “Vim do interior no carro da Prefeitura trazer meu marido para o hospital de emergência, mas não posso ficar lá e ele só sai segunda”

Era uma sexta-feira radiante, ensolarada...

- “Eu ia ficar na casa do meu pai. Ele mora aqui, mas se mudou e não mandou seu endereço novo. O carro da Prefeitura só vem na segunda, o que vou fazer para dar de comer a essa criança? Pedir eu não peço. Falei com o motorista da Besta para ele nos levar que eu pagava lá. Ele disse que não fazia fiado”.

Enquanto falava, as lágrimas pingavam uma a uma no regaço do vestido. As mãos torciam uma à outra. A bolsa, preta, de material ordinário, flácida, vazia, separava-a da criança que então olhava, atenta, um pequeno jorro de água que brotava da torneira mal fechada e originava um pequeno córrego a deslizar por entre o capim limitado por pedras de contenção. Os olhos da mãe já há muito não encaravam nada nem ninguém. Estavam perdidos no vazio. O desabafo era para o mundo que a cercava. Eles apenas o desencadearam. Parecia alheada de tudo.

- “Olhe”, disse um deles estendendo a mão que segurava a cédula.

Ela olhou durante algum tempo antes de pegá-la. Abriram as portas do carro.

- “Como é o nome dos senhores?” Levantara-se, puxando a menina.

- “Por quê?”

- “Eu quero rezar pelos senhores”.

Foram-se. Pelo vidro retrovisor era possível perceber a imagem que se distanciava. Continuavam no mesmo lugar, imóveis, as duas, olhando o carro. Mesmo pelo espelho era possível perceber uma mão segurando, firmemente, a cédula, enquanto a outra não largava a criança que dava adeus, em câmara lenta – tão pequena, tão frágil – destacando-se delicadamente contra o cinza da banca de revistas.

Extraído do blog do escritor e pesquisador do cangaço:
Honório de Medeiros