Seguidores

quinta-feira, 26 de outubro de 2017

O SOBRADO DO MEIO DA RUA

Clerisvaldo B. Chagas, 26 de outubro de 2017
                                     Escritor Símbolo do Sertão Alagoano                                    
Crônica 1.767

O chamado pelo povo, “sobrado do meio da rua”, em Santana do Ipanema, Alagoas, era muito elegante na sua arquitetura. Construído no tempo de vila para fins comerciais, funcionava com três lojas no térreo e um salão total que ocupava o primeiro andar. Nos anos sessenta, as três lojas eram ocupadas da seguinte maneira: Na cabeça mais baixa, o comerciante José Constantino e depois Manoel Constantino, negociando com armarinho. No meio, Arquimedes, com vendas de autopeças e, na cabeça mais alta, Abílio Pereira de Melo negociando com armarinho. A casa de José Constantino era chamada “A Triunfante”. A de Abílio Pereira, “Casa Atrativa”. As três lojas do sobrado tinham as portas voltadas para a Praça Manoel Rodrigues da Rocha, como fundos, estando sempre fechadas. Nos fundos do “sobrado do meio da rua”, acontecia nas festas da padroeira à soltura de balões e as armações da onda e do curre. O curre era o carrossel, a onda, mais rústica, era uma tábua grande e redonda segura por vergalhões num mastro central e que rodava perigosamente com dezenas de pessoas sentadas. Um sanfoneiro tocava perto do mastro central à luz de um candeeiro. Os foguetes eram soltos no Beco São Sebastião.
No primeiro andar do sobrado, funcionou de acordo com a época, colégio, teatro, cinema e até o Tribunal do Júri. Era grande atração os debates que aconteciam entre advogados e promotores durante os julgamentos. Ninguém queria perder a contenda entre o advogado Aderval Tenório e o promotor Dr. Fernando. Combates de estremecer o prédio.
Entre a parte considerada da frente e o prédio vizinho denominado “prédio do meio da rua”, formava-se o espaço onde funcionava a feira do fumo, aos sábados. As tardes carnavalescas também eram realizadas neste mesmo espaço quando uma orquestra tocava para todos. Ao mesmo tempo em que estava havendo a folia entre os dois casarões, estava também havendo Carnaval para jovens e crianças no salão do Tênis Clube Santanense. A Casa “Rainha do Norte”, loja de tecidos do empresário Tibúrcio Soares, ficava ao fundo e vendia tudo para Carnaval: confete, máscaras, lança-perfume e tudo o mais.
Primeiro foi demolido o prédio do meio da rua, depois o sobrado do meio da rua teve o mesmo destino. O vazio, antes ocupado pelos dois edifícios, fez um amplo silêncio de perda e de morte na tradição santanense.


http://blogdomendesemendes.blogspot.com

OS RIFLES

Por Rangel Alves da Costa

Todos se exaurem das tratativas de tocaias e mortes. Todos se cansam das estratégias de vingança. Todos se enfadam de tantas ordens dadas e de tantas ordens recebidas. Mas os rifles não.
Os rifles têm de estar continuamente em sentinela, em vigília constante, de boca aberta e olhos atentos. Os rifles não repousam senão ao lado de mãos embrutecidas e dedos vorazes para apertar seus gatilhos.
Coronel Teovegildo diz ter suas razões para manter matadores dia e noite a seu dispor. Ou faz assim ou os inimigos chegam primeiro e fazem jorrar pelo terno de linho branco o sangue muito mais da desonra do que da morte.
Coronel Fenelon diz ter seus motivos para manter tantos jagunços e pistoleiros prontos tanto para o ataque como para a defesa. As inimizades semeadas agora tendem a vingar um mundo de revides sobre si e sua família. Todos estão jurados de morte certa.
Coronel Sá de Quaranta diz ter justificativas mais que suficientes para viver rodeado de homens ramados até os dentes. Os seus desafetos rodeiam seus latifúndios como urubus buscando carniça pra se fartar. Gaviões e carcarás povoam seus terríveis pesadelos.
Há, num mundo assim, um império de rifles, de vinditas de sangue, de desmedidas violências. Cada coronel quer, através das armas e do terror, impor-se sobre o outro a qualquer custo. É o preço do mando, da honra e do poder.
Preço do mando, da honra e do poder, mas também uma doença com feição incurável pelos latifúndios e posses das distâncias nordestinas. Males crônicos que vingam nos casarões e sobrados e se estendem pela terra tingida da vermelhidão putrefata da violência.
Os motivos? São muitos. Cabidos e descabidos, justificados e aberrantes. Mas quem há de falar em justa motivação quando o coronel quer, a todo custo, não só fazer prosperar seu império de poder como dizimar todo aquele igualmente poderoso que se mostra como pedra na botina?
Rixas históricas, confrontos quase épicos senão vergonhosos para a história a ser contada. E os livros com o dever de abrir suas páginas para situações verdadeiramente escabrosas das lutas entre coronéis e suas tropas de desalmados. Bala zunindo, os rifles sedentos de sangue, covas rasas ou carcaças deixadas pelos bicos afiados.
Na conflagração das guerras de poder e honra, não somente os coronéis são personagens principais. Os sobrenomes familiares se envolvem de tal modo nas desavenças que a morte de qualquer é sempre motivo para a deflagração de revides intermináveis.
Assim, se um familiar do Coronel Teovegildo é tocaiado e morto, que não se espere apenas o pranto. Daí em diante terá início uma caçada sem fim aos algozes. É a honra familiar berrando, gritando, bravejando terror.
Se um parente do Coronel Fenelon ou do Coronel Sá Quaranta tomba pelo cuspe do rifle dos homens de qualquer outro coronel, logo o mundo parece que vai acabar. E o sangue vai respingando em irmão, em primo, em afilhado, até em amigo. E as cruzes vão se somando nas guerras familiares.
Vinditas antigas, de raízes as mais distantes. Guerras se muitas vezes se iniciaram pela disputa de terras, pelas espertas demarcações, pelas invasões premeditadas. O acinte de um é logo traduzido pelo outro como um chamamento ao duelo. Mas mesmo os dois desafetos tombando, as rixas repassam para os sobrenomes familiares.
Por isso mesmo que historicamente as famílias permanecem em vingança após vingança. O troco pela morte de um se dá pela morte de outro, ou mais de um, da outra família. Mesmo quem com menos violência nos dias recentes, ainda perduram os ódios, os confrontos e a cusparada dos rifles. Tiro após tiro, bala após bala, morte após morte, assim o mundo medonho e doentio da honra e do poder familiar coronelista.
Em tal configuração, os rifles nunca descansam, nunca adormecem, nunca são deixados esquecidos num canto. Igualmente, agora travestidos de matadores de aluguel, os antigos jagunços continuam em alerta ao recebimento de ordens. Basta que um serviço tenha de ser feito, então a tocaia é logo preparada, a emboscada é colocada em ação.
Jagunço é bicho desalmado. Mão fria e traiçoeira, impiedoso aperto de gatilho. Não há gente diante de sua mira, apenas um bicho qualquer que merece morrer. Não é diferente com os matadores de hoje. A covardia é sempre a mesma, a violência é sempre a mesma, o cuspe da arma nunca muda nesse mundo bárbaro e atroz.
Por isso mesmo que os senhores do sangue e do mando lançam mão de pessoas tão bestiais para os seus intentos igualmente bestiais. Como o jagunço ou o matador não respeita senão ao mandante e ao gatilho, o que se tem a devastação de famílias inteiras pela boca dos rifles, pelos canos famintos de sangue.
Os rifles de outrora são os mesmos rifles de hoje, ainda que em nome de outras armas ainda mais potentes. Mas a situação é a mesma. Apenas cuspir fogo para a desgraça alheia, para o último gemido de vidas entrelaçadas pelas sangrentas vinditas.

Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

HELENA CÂNCIO EM CONFERÊNCIA DE LUXO NO CARIRI CANGAÇO

Por Manoel Severo
O entusiasmo e amor às coisas do Sertão com Helena Câncio no Cariri Cangaço

Uma parceira que iniciou ainda em Fevereiro veio se fortalecendo a cada dia e se consolidou nesta edição do Cariri Cangaço Floresta 2017: Cariri Cangaço e Fundação Padre João Câncio, através da Conferencia de sua Presidente, Helena Câncio, dentro da programação do evento na cidade de Floresta, conferencia que aconteceu na segunda noite, 13 de outubro, na Câmara Municipal de Floresta.

Helena Câncio é uma dessas pessoas que ao longo do tempo se consolidaram como referência de garra, luta, determinação, talento e paixão. Sertaneja arretada que abraçou muitas paixões e por elas se dedicou por toda vida; viúva de uma das lendas do sertão pernambucano; João Câncio, o padre vaqueiro, que ao lado de Luiz Gonzaga e Pedro Bandeira criaram a Missa do Vaqueiro de Serrita em homenagem a Raimundo Jacó; trouxe para si a responsabilidade de perpetuar uma das maiores Festas Nordestinas.

 Helena Câncio em noite de Cariri Cangaço

"Passei e senti na pele o peso do preconceito, na verdade sempre que olhavam para mim viam  a mulher do padre e para uma sociedade hipócrita e cheia de preconceitos, isso era imperdoável, não foi fácil para mim, nem para minha família, mas o amor venceu a tudo e hoje estou aqui para contar esta historia". Desabafa Helena Câncio.

Por mais de uma hora Helena Câncio contou aos convidados da segunda noite de Cariri Cangaço a espetacular história de uma sertaneja de 15 anos que ao ser cortejada por um padre revolucionário, bem no meio do sertão pernambucano, nos anos 70, daria inicio a uma verdadeira saga de fé, amor e tradição, como o próprio título de sua conferencia sugere: "Missa do Vaqueiro: Uma História de Fé, Amor e Tradição". 

 Padre João Câncio e Luiz Gonzaga nas primeiras edições da Missa do Vaqueiro de Serrita

Além dos caminhos traçados por sua vida pessoal, Helena mostrou aos presentes os desafios da Fundação Padre João Câncio e da própria Missa do Vaqueiro de Serrita; uma das maiores manifestações da fé sertaneja no nordeste. "A Fundação Padre João Câncio surgiu com o objetivo de explorar, promover, pesquisar e incentivar sob todas as formas o desenvolvimento da cultura sertaneja. Integramos o projeto do artesanato de Serrita a revitalização do Evento Missa do Vaqueiro, agregando a ele um conjunto de informações que define a história, expressada na arte do nosso povo." comenta Helena Câncio.

 Helena Câncio no Cariri Cangaço Floresta
Secretário de Cultura do Estado de Pernambuco, Marcelino Granja,
 na Conferencia da Noite
Helena Câncio e Ingrid Rebouças 
Prefeito Ricardo Ferraz e Vice Pedrinho Vilarim com Helena Câncio

A tradicional Missa do Vaqueiro de Serrita é o resultado da homenagem prestada pelo povo do sertão ao vaqueiro Raimundo Jacó, célebre por sua coragem e talento na arte da lida e oficio com o gado. Jacó foi assassinado nesta mesma fazenda Lages, local atual do parque, em julho de 1954. A missa teve como idealizadores, seu primo Luiz Gonzaga, o Rei do Baião, o Padre João Câncio e o poeta Pedro Bandeira. 

"Para nós do Cariri Cangaço Floresta foi uma enorme satisfação e honra ter como Conferencista nesta noite a brava sertaneja Helena Câncio, uma mulher que representa como ninguém a fibra e garra da mulher nordestina, a noite de hoje com Helena Câncio consolida a firma parceria entre o Cariri Cangaço e a Fundação Padre João Câncio, iniciada no inicio do ano, depois da Missa do Vaqueiro de Serrita de 2017 e agora em Floresta, muitas coisas ainda estão por vir" Fala o curador do Cariri Cangaço Manoel Severo.

Cariri Cangaço Exu 2017 na Missa do Vaqueiro de Serrita em julho, quando o Cariri Cangaço entregou a Helena Câncio o Título "in Memoriam" de 
Personalidade Eterna do Sertão a Padre João Câncio.

A segunda noite em Floresta 2017 ainda guardava surpresas que ficaram a cargo da arte e tradição de nosso sertão,  a principio com a participação de uma das mais tradicionais artes nordestinas: O Senhor Repente e o improviso ! Em seguida o Cariri Cangaço prestou homenagem ao pesquisador e escritor Gonzaguiano Marcelo Leal por sua incansável luta pela preservação da cultura gonzaguiana e nordestina,  em iniciativa como o Museu de Luiz Gonzaga, com sede em Fortaleza, seu fundador Marcelo Leal recebeu o Diploma de "equipamento imprescindível para a perpetuação da memoria  do sertão"...

 O improviso e o repente abrilhantaram a noite do Cariri Cangaço em Floresta
Marcelo Leal e Ingrid Rebouças: Equipamento imprescindível para a perpetuação da memoria  do sertão

Outro momento marcante da segunda noite de Cariri Cangaço Floresta 2017 foi a apresentação da pequena poetisa, cantora, cordelista e atriz mirim, Francine Maria da cidade cearense de Ibiapina. Francine Maria de 10 anos à exemplo de outros talentos espalhados por este maravilhoso país, mostrou o quanto de esperança ainda cultivamos em nosso coração. Francine apresentou aos presentes os cordéis lançados pelo cordelista Francisco de Assis A.S da cidade de Juazeiro do Norte.

"O Cariri Cangaço se surpreendeu de um momento para o outro com o interesse destas verdadeiras pérolas mirins em participar de nossos encontros. Em Exu tivemos a maravilhosa participação de Pedrinho Popoff, espetacular, da pequena Cecília do Acordeon, de Pedro Lucas Feitosa com seu inédito museu em Crato e ainda de Yasmim Almeida; deste vez em Floresta novamente a linda Cecília do Acordeon e Yasmim Almeida  estiveram juntas com a pequena Francine Maria e arrebentaram, foi realmente extraordinário; e nesta segunda noite Francine de forma maravilhosa declamou os cordéis de nosso amigo Francisco de Assis, com as temáticas justamente dessas crianças maravilhosas, estamos muito felizes por esse novo momento do Cariri Cangaço".

Francisco de Assis A.S e Francine Maria no lançamento dos cordéis das crianças: Pedro Popoff, Cecília do Acordeon e Pedro Lucas Feitosa
 Francine Maria, Manoel Severo e Cecília do Acordeon

Ainda dentro da programação da segunda noite do Cariri Cangaço Floresta 2017 houve o lançamento de mais 3 grandes obras sobre a temática. O pesquisador e escritor sergipano, Conselheiro Cariri Cangaço, Archimedes Marques lançou seu segundo e aguardado livro: "Lampião na Historiografia de Sergipe - Volume I " em seguida a pesquisadora e escritora Verluce Ferraz nos apresentou sua mais nova obra: "Dos Mitologemas na Imortalidade do Passado Lampiônico" e por fim o também Conselheiro Cariri Cangaço, pesquisador e escritor Luiz Ruben nos trouxe seu novo rebento: "Lampião em 1926".

 Verluce Ferraz, Archimedes Marques, Luiz Ruben e Manoel Severo 

"Vocês foram competentes. Todos sabemos que não é fácil organizar um evento grandioso como o Seminário Cariri Cangaço. Todos que se envolveram direta e indiretamente na organização estão de parabéns.  Saudações para todos florestanos e nazarenos " Jorge Remígio, Conselheiro Cariri Cangaço.

Para o pesquisador de Floresta, Betinho Numeriano, "Floresta precisa, cada vez mais, de eventos dessa magnitude. Que mostre nossos valores, nossa cultura, nossa história. Temos uma história belíssima - temos, por exemplo, um casario tão belo que, praticamente, não é encontrado noutro município de Pernambuco, que precisa e merece ser divulgado. São com eventos assim, com a participação de historiadores, escritores, pesquisadores e muitos outros admiradores e formadores de opinião, vindos das diversas partes do Brasil que a imagem positiva do nosso município é disseminada. Floresta precisa, Floresta merece. Quero aproveitar para parabenizar a todos que, direta e indiretamente, participaram desse extraordinário evento. Estão todos de parabéns. Um sucesso absoluto. O evento é uma realização da Prefeitura Municipal de Floresta, com o Prefeito Ricardo Ferraz, o vice Pedrinho Vilarim e toda equipe de governo apoiando e participando ativamente, e do Instituto Cariri do Brasil comandado pelo nosso querido e dedicadíssimo curador, agora florestano, Manoel Severo. Teve inúmeros apoios, e destaco a ABCDE/CESVASF, presidida pela professora Ana Gleide de Souza Leal Sá, Câmara de Vereadores de Floresta, GRE Floresta, Grupo COMPARE - Trevo Hotel, Floresta Hotel, Loja Artmanha e Manoel Serafim. Na verdade merecem aplausos todos os florestanos envolvidos - direta e indiretamente na organização e participação". 

Pedrinho Vilarim, Ana Gleide, Ricardo Ferraz, Marcelino Granja, Jadílson Ferraz,
Ingrid Rebouças e Beto Puça
 Ingrid Rebouças, Francine Maria, Elane Marques e Ana Lucia Souza
 Bia Numeriano, Helena Câncio, Elane Marques, Ingrid Rebouças e Ana Lucia Souza

"Estamos com a a sensação de dever cumprido e gratidão a todos os que se dispuseram a participar conosco na organização do evento e dos que nos visitaram no intuito de conhecer nossa história e cultura, esperamos ter correspondido às expectativas. Ficam também as desculpas pelas eventuais falhas, inerentes a qualquer evento de grande porte como o Cariri Cangaço.O sentimento que fica é o de satisfação, gratidão e saudades de todos." Comenta o pesquisador e escritor Florestano Cristiano Ferraz. Já o memorialista Nivaldo Carvalho completa: "Meus parabéns a todos os que fizeram essa brilhante festa em Floresta DO NAVIO, desatracando tantos conhecimentos sobre os episódios de tão triste memória, acontecidos nesse município, ainda vivamente presentes na memória do seu povo".

Jadilson Ferraz e Neli Conceição
Francimary Oliveira e Ingrid Rebouças
Valdir Nogueira, Francimary Oliveira e Manoel Severo
Camilo Lemos e Ingrid Rebouças

"Desde a primeira edição do Cariri Cangaço, que alimento o sonho de poder participar deste tão magnífico evento. Todavia, quando soube que a lendária Floresta do Navio seria palco de mais um grandioso momento cultural do Cariri Cangaço, não hesitei em participar, visto que o local escolhido, impregnado de histórias e tradições ser a terra dos meus antepassados. Foi um prazer inestimável conhecer o mestre Manoel Severo, quero parabenizá-lo por essa corajosa empreitada, digna de um volante valente. Foi um evento impecável. Fiquei muito feliz por tudo. Grande abraço a todos" ressalta o pesquisador de São José de Belmonte, Valdir José Nogueira.

Valdir Nogueira, Manoel Severo e Wescley Rodrigues

Fotos: Ingrid Rebouças e Louro Teles

Cariri Cangaço Floresta-Centenário de Nazaré
Segunda Noite Cariri Cangaço, 13 de Outubro de 2017
Câmara Municipal - Floresta, Pernambuco

https://cariricangaco.blogspot.com.br/2017/10/helena-cancio-em-conferencia-de-luxo-no.html

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

13 DE OUTUBRO DE 2017 - EVENTO CARIRI CANGAÇO FLORESTA-PE


"Desde o ano passado que estávamos desejando realizar dentro da programação em Floresta um tipo de City Tour pelos principais pontos de visitação histórica na cidade de Floresta para que todos pudessem ver e conhecer mais de perto essa realidade, ano passado não conseguimos fazer, este ano foi possível e tenho certeza que todos gostaram pois foi como se entrássemos de corpo e alma na historia do povo florestano " revela Manoel Severo, curador do Cariri Cangaço.

VALE A PENA VER AS FOTOS - CLIQUE NO LINK ABAIXO:


https://www.facebook.com/groups/lampiaocangacoenordeste/

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

LAMPIÃO E O CANGAÇO NA HISTORIOGRAFIA DE SERGIPE

Autor Archimedes Marques

Esta obra foi escrita pelo pesquisador do cangaço Dr. Archimedes Marques e se você, leitor, deseja adquiri-la, entre em contato com o autor através deste e-mail: archimedes-marques@bol.com.br

Dr Archimedes Marques também é o autor do livro: 

"Lampião Contra o Mata Sete"

Adquira também este através dos e-mails: 

archimedes-marques@bol.com.br
 e franpelima@bol.com.br

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

O CANGACEIRO PORTUGUÊS

Por Sálvio Siqueira

Naquele tempo, por volta de 1928/29, Lampião está se restabelecendo da grande perseguição empregada pela Força Pública de três Estados nordestinos nos sertões da Bahia.

Ele era esperto, ao chegar a terras baianas, não começa de cara a empreender seu terrorismo costumeiro. Pelo contrário. Vai aos poucos tentando cativar a confiança dos roceiros, promovendo festas, apadrinhando e resolvendo ‘causos’ entre eles.

Nos arredores do povoado do Juá, Lampião sempre se mostrava constantemente. Passando, acampando ou mesmo fazendo um grande forró ao som da sanfona pé de bode, na qual também sabia arrancar determinados sons.

Havia, dentre aqueles roceiros que só levavam suas vidas a trabalhar, de sol a sol, como dizemos aqui no sertão do Pajeú das Flores, sem importar-se com passagens, idas ou vindas de cangaceiros, um certo cidadão por todos conhecido com Bispo. Suas determinações eram tão somente em trabalhar e ensinar sua prole, que não era pequena, em ter responsabilidades diante da labuta diária.

Bispo era pai de uma prole onde sua maior parte eram meninas. Os meninos, sempre o acompanhavam para o roçado em auxilio ao cansativo trabalho. As meninas ficavam em casa, ajudando a mãe e aprendendo a ser dona de casa, propriamente dito. Certa feita, ao serem convidados para uma festa promovida pelos cangaceiros, regada a cachaça, vinho e muita carne assada, vários dos filhos de Bispo se fizeram presente, principalmente as moças.

Três das filhas de Bispo chamadas Noca, Verônica e Rita, desde alguns ‘sambas’ que tinham comparecido, já flertavam com alguns dos cangaceiros. E não deu outra, namoraram todas elas.

Para tristeza de Bispo, as três deixam sua casa, mais um dos filhos, chamado Vitô e penetram numa aventura desgraçada. Não sabiam que, aquela seria a última decisão das suas vidas. Vitô ganha a alcunha dentre as hastes cangaceira de ‘Lua Nova’.

Francelino José Nunes o Português

A primeira a perder a vida fora a chamada de Noca, que tinha acompanhado um dos ‘cabras’ de Lampião, virando assim sua companheira, do cangaceiro Francelino José Nunes, conhecido nas hastes do cangaço pela alcunha de “Português”. Após a morte de Noca, sua irmã Verônica, lasca-se do meio do mundo e nunca mais alguém ouviu falar sobre ela. Não se sabe, até hoje, fora morta ou se conseguiu safar-se das garras afiadas do cangaço.

Já a outra irmã, chamada Rita, passou a ser companheira do cangaceiro alcunhado de ‘Baliza’, Venceslau Xavier, filho de Francisco Xavier e dona Ana Xavier. Pouco tempo após a morte de Noca e o sumiço de Verônica, Rita é morta num confronto entre o bando de cangaceiros e uma volante na Serra da Trangueira, nos arredores do Macuraré, BA. Seu irmão, o cangaceiro ‘Lua Nova’, tem um tempo bastante curto, pequeno, como bandoleiro, pois logo seria morto, próximo a Serra do Padre, arredores do povoado Salgadinho, no município de Paulo Afonso, no Estado baiano, onde está sepultado. A morte desse jovem cangaceiro é envolta em mistérios, pra variar, porém, a citação mais correta, ou próxima a isso, seria que ele fora vítima de seus próprios companheiros.

A morte de Noca, uma das filhas do velho Bispo, aquela que fora ser a companheira do jovem Francelino José Nunes, o cangaceiro “Português”, deu-se quando, determinado dia, os cangaceiros estavam a dançarem no terreiro de uma casa no sítio chamado ‘Nas Brabas’. Enquanto os ‘cabras’ dançavam, bebiam, comiam e namoravam de macinho, a volante baiana, sob o comando do sargento Passos, os cerca e começa uma troca de tiro cerrado. Como os soldados tiverem tempo de se aproximarem sem serem notados, os tiros foram quase de ponto.

A presença das moças, a música, a bebida e a dança fizeram com que os cangaceiros não percebessem o cerco que lhe botava a volante. No começo da pendenga, grande confusão se inicia. Corre pra cá, pula pra lá, e um pandemônio está formado. Ao tentar escapar, Noca começa a correr em cima de um lajedo e, nesse momento, é atingida gravemente. Mesmo tendo o auxílio dos amigos, não consegue ir muito longe e cai, pela segunda vez, já sem vida.

Após uma tremenda fuga, ‘Português’, ao se reencontrar na caatinga com alguns companheiros, antevendo ocorrerem fatos iguais, Lampião ensinava aos seus ‘cabras’ que sempre tivessem um ponto de encontro, ou de reencontro de da mata, pergunta por sua companheira Noca. Um de seus companheiros se aproxima e lhe conta o ocorrido. Dias depois, após seu corpo ser encontrado por um morador do lugar, esse comunica a polícia, então o corpo da jovem Noca, é finalmente sepultado pelos homens comandados pelo tenente Zé Joaquim, da Força Baiana.

Sobre o, ou os, cangaceiro(s) de alcunha “Baliza’, a historiografia do tema nos mostra terem havido três. O primeiro “Baliza” tinha o nome de registro Manuel Batista Elifas, que seguiu o chefe cangaceiro Manoel Batista de Morais, o conhecido “Antônio Silvino”, ou o “Rifle de Ouro”. Já o segundo “Baliza”, era o conhecido José Dedé, ou José de Dedé, que fizera parte do bando de Sinhô Pereira, Sebastião Pereira da Silva, aquele que fora chefe de Virgolino Ferreira e seus irmãos, Antônio e Livino, onde ganharam as alcunhas de ‘Lampião’, ‘Esperança’ e ‘Vassoura’, respectivamente. O terceiro, aquele que foi um dos ‘cabras’ do “Rei do Cangaço”, que teve a filha do velho Bispo como companheira, a jovem Rita, fora o baiano Venceslau Xavier.

Depois da morte da companheira Noca, a primeira companheira de Português, o cangaceiro logo se engraça de uma jovem sergipana chamada Cristina, por quem cai de quatro. Em uma das tantas festanças patrocinadas pelos cangaceiros, em uma das várias fazendas dos acoitadores, desta feita em território do Estado de Sergipe, os dois se encontram e terminam por namorarem. A coisa não era moleza quanto aos cangaceiros e as jovens dos sertões nordestinos. Eles queriam jogar pra fora o fogo que os queimava os corpos dia e noite, dentro e fora da mata, talvez sendo mais uma maneira de provar, a si mesmo, suas virilidades. Elas, cheias de ilusões e fascínios, se entregavam para aqueles cabeludos, cheios de ornamentos em suas vestes, com armas nos ombros e punhais na cintura e uma demonstração de coragem que as deixavam estupefatas.

Francelino, segundo o discorrer da sua saga, parece não ter nascido para ter uma companheira. Cristina, mulher jovem e cheia de desejos, começa a traí-lo com um dos cangaceiros que fazia parte do grupo comandado pelo alagoano Cristino Gomes, o cangaceiro Corisco, chamado de ‘Gitirana’.

Ao descobrir a traição, Português, não tendo coragem de ir onde estava o jovem trovador que ficara com sua companheira, contrata um dos ‘cabras’, o cangaceiro Catingueira, que seria o companheiro da cangaceira Aristéia, para fazer o serviço.

Isso tudo estava ocorrendo quando de uma ‘reunião’ com todos os chefes dos subgrupos comandados por Lampião. Lampião sempre fazia, ou promovia ‘eventos’ como esses para que os outros chefes lembrassem sempre quem, realmente, comandava o cangaço naqueles dias. Virgolino era um ‘negociante’, ou negociador nato. Ele, nesses encontros vendia armas e munição para os chefes dos subgrupos pelo valor que queria. Sabedor aonde e a quem encomendar as armas e a munição, jamais passou, disse, para outra pessoa quem na verdade as fornecia. Além disso, sempre levava um plano para uma grande missão onde teria a participação de todos. Esse poderia ocorrer da seguinte forma: não todos para um único local, mas, agindo em lugares distintos, ao mesmo tempo, a força perseguidora ficaria desnorteada, pois não saberia qual trilha seguir. Ocorreu fatos em que no mesmo dia e, mais ou menos, na mesmo hora, lugares distantes um do outro serem atacados, extorquidos e roubados em nome do chefe supremo, Lampião.

Voltando ao caso Português, Cristina e Gitirana. A coisa não foi moleza. Corisco, experiente, logo nota as artimanhas preparadas por Português e Catingueira. Intercede no mesmo momento a favor de seu comandado, pronto a derramar sangue em sua defesa. A coisa fica bastante turva quando a “Rainha do Cangaço”, Maria Gomes de Oliveira, a Maria de Déa, entra na confusão querendo uma atitude do chefe de subgrupo traído. Havia um código, determinado, acreditamos que pelo casal chefe, Lampião e Maria, de que quando ocorresse traição, a traidora seria punida pelo companheiro. Essa punição poderia ser até mesma a morte dela. 

O é que não vimos nada sobre a traição que os homens, os cangaceiros, cometiam e serem punidos.

Segundo Semira Adler Vainsencher, pesquisadora da Fundação Joaquim Nabuco: “Quando Catingueira chegou ao acampamento de Corisco, chamou logo Gitirana para uma conversa particular. Naquele momento, Maria Bonita e Lampião estavam no mesmo acampamento e, por acaso, se aproximaram deles. Maria Bonita adiantou-se, sugerindo a Catingueira que a pessoa a ser eliminada deveria ser Cristina (a verdadeira culpada, segundo ela) e, não, Gitirana. Naquela hora, Corisco retrucou:

“- Ela deu o que era dela! Ninguém tem nada com isso!”

Insatisfeita com a resposta, Maria Bonita continuou defendendo a contrapartida masculina:

“- É, mas Português vai ficar desmoralizado!”

Já impaciente com aquele confronto, o Diabo Louro deu um basta à discussão:

"- Ele que cuide da mulher dele! Do meu rapaz, cuido eu!"

A verdade é que Português medrou e nada fez para lavar sua honra. Isso, naquele tempo, seria mais um crime perante os homens. O cangaceiro ‘Barreira’, João Correia dos Santos, ao matar seu companheiro, o cangaceiro Atividade com um tiro de fuzil nas costas, cortar seu pescoço e levar a cabeça para servir de salvo conduto, quando se entregasse, disse em uma das tantas entrevistas que deu: “Português, seu ex-chefe, Barreira o considerou “covardíssimo”, que “fugia das lutas” e apenas enviava seus cangaceiros em “missões” de extorsão e punição a fazendeiros da região que não lhes dava dinheiro. E foi numa dessas “missões” que Barreira colocou seu plano de sair do cangaço em funcionamento.” (Rostand Medeiros).

Semira em seu texto, ainda refere: “Em relação àquele desenlace amoroso, Lampião deu total apoio a Corisco. Cristina permaneceu com o bando, escondida durante alguns meses. Todavia, como era de se esperar, ela foi morta quando ia para a casa de familiares, já que Português contratara outros cangaceiros para matá-la. Neste sentido, não restava dúvidas: o adultério feminino não era tolerado nos bandos do Nordeste.” A autora não cita nomes em sua matéria.

Já o pesquisador/historiador Antônio Amaury Corrêa de Araújo, em seu livro “Lampião, as Mulheres e o Cangaço”, nas páginas 162 a 167, cita os nomes dos cangaceiros Luiz Pedro, Juriti e Candeeiro com sendo os autores da façanha. O também pesquisador/historiador João De Sousa Lima, em seu livro “Lampião em Paulo Alfonso”, 2ª Edição, na página 123, além de concordar com os três nomes referidos por Amaury, ainda determina a data como sendo em 21 de julho de 1938.

O autor de “Lampião e a Sociologia do Cangaço”, Rodrigues de Carvalho, nos mostra na página 214, a data como sendo 20 de julho de 1938. Data essa, 20/07/1938, que, segundo o autor de “Lampião a Raposa das Caatingas”, 2ª Edição, José Bezerra Lima Irmão, na página 560, discorda categoricamente, afirmando que seria, ou teria sido, em 21 de julho de 1938. Irmão ainda discorda quando citam que fora Português, ou mesmo Lampião, quem ordenou aos três cangaceiros, Luiz Pedro, Juriti e Candeeiro, a execução da sergipana a facadas. Segundo Bezerra, a ordem fora dada pelo chefe cangaceiro Corisco, e não para os três citados em obras anteriores, mas foi ordenado apenas para que um dos seus homens a matasse. O que ocorreu a tiros, ou com tiros, e não a facadas. Outro mistério, outra dúvida que os pesquisadores nos trazem, deixando-nos sem a exata certeza dos acontecimentos.

Pois bem, Cristina teria sido a segunda companheira do cangaceiro Português. Dentre os ‘cabras’ que faziam parte do grupo comandado por ele, havia um cangaceiro que tinha a alcunha de Pedra Roxa. Esse teria uma companheira chamada de Quitéria, que por sinal a achamos bastante bonita e sensual, e a mesma teria ficado com o chefe. Sendo assim, o cangaceiro português, em sua história de cangaceiro tivera três mulheres companheiras. Nos registros fotográficos, após as entregas dos componentes do grupo, vemos que Quitéria deixou-se fotografar ao lado do cangaceiro Português, e não ao lado de Pedra Roxa, que também está registrado no mesmo documento fotográfico. No entanto, notamos nitidamente que Pedra Roxa está com problemas nos ombros. A posição em que se encontram seus braços ‘nos dizem’ que, talvez, estivesse ferido, vítima de alguns balaços das armas dos policiais ou outros ferimentos quaisquer.

O grupo de Português ao se entregar, junto com outros cangaceiros que já encontravam-se presos, são levados para a capital do Estado alagoano, Maceió. Devido o ‘sumiço’ do restante dos cangaceiros dentro da ‘Mata Branca’, eles são transferidos novamente para o xilindró de Santana do Ipanema, AL. Muitos dos cangaceiros que se entregaram passaram a servirem as Forças que os haviam perseguido, perseguindo seus ex companheiros de bando. Citamos com exemplo Velocidade, Pancada, Zé Sereno, Azulão e muitos outros. Isso ocorria, para que eles, sabedores dos lugares dos coitos, acampamentos e esconderijos, pudessem ajudar em suas capturas ou abatimento. Ou mesmo servirem de intermediários para suas entregas. Porém, antes de poder praticar essa ação, Português é assassinado dentro da Cadeia Pública daquela cidade.

Anos antes, por volta dos idos de 1936, o cangaceiro Português havia matado um homem chamado Tomás de Aquino que sempre entregava aos policiais a movimentação dos cangaceiros nos arredores de Santana do Ipanema. Para pessoas que faziam esse tipo de coisa, denúncia, a sentença determinada pelos cangaceiros era a morte, e em condições terríveis. Esse cidadão morto por Português deixou dois filhos, João e José. Eles, quando sabem da prisão do matador do seu pai, armam-se e vão até a cadeia. Lá, matam o chefe cangaceiro, vingando a morte de seu genitor. José, mais novo, era menor de idade, a maioridade só seria após os 21 anos naquela época, é quem leva a culpa do homicídio. Devido sua tenra idade e a pessoa que matou, a coisa fora ‘jogada para debaixo do tapete’.... Nas quebradas do sertão alagoano.


https://www.facebook.com/groups/1617000688612436/permalink/1844640499181786/

http://blogdomendesemendes.blogspot.com