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domingo, 20 de março de 2011

Maria Bonita - Centenário



Os senhores que são amantes do tema "Cangaço", não deixem de prestigiar as festividades do centenário da Rainha do cangaço Maria Bonita, que terá início  no dia 23 de março, deste, na cidade de Paulo Afonso.
 Divulguem e participem!
 








 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

A Traição de Izaías Arruda - Por: José Cícero

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Pesquisador José Cícero, anfitrião na Fazenda Ipueiras,
de Zé Cardoso e Izaias Arruda, durante o Cariri Cangaço 2010.

             A história do cangaço nordestino nem sempre foi possível a construção duradoura de amizades consideradas sólidas. Amigo era quase sempre um artigo que tinha vida efêmera. Não eram amigos apenas cúmplices. Um evidente jogo de interesse que transcorria ao sabor dos acontecimentos. Era um eterno andar sob areia movediça. A lógica dos fatos nos apontava isso. Na vida do cangaço, tantos foram os exemplos desta assertiva. Mas um em particular roubou a cena, de sorte que continua até hoje mexendo com a imaginação e opiniões de pesquisadores, analistas e historiadores da saga lampiônica após o retorno de Mossoró.
 
Lampião
             A começar pela forma como terminou a relação de amizade que(supostamente) existiu entre o rei do cangaço e o Cel. Izaias Arruda – um dos maiores coiteiros que Lampião mantinha a peso de ouro nestas bandas dos sertões do Caririenses. Sim. Nada era de graça quando o que estava em jogo eram os negócios lucrativos do cangaço, guiado no mais das vezes pela teoria macabra do roubo e da pilhagem. O que de fato, corrobora esta lida criminosa como uma opção clara de meio de vida. Um expediente praticado não mais pelos degredados da sorte, mas, sobretudo pelos potentados, políticos e arrogantes coronéis.
Izaias Arruda

             Tanto que em Aurora, Lampião se sentia como que em casa. Com um ingrediente a mais: aqui ele se sentia seguro e em plena mordomia, em face dos verdadeiros banquetes que lhe eram oferecidos pelos poderosos do lugar e das redondezas. E não se diga que era apenas da parte do famoso coronel. Isso não. As regalias assim como os presentes dispensados aos bandoleiros iam muito além dos préstimos oferecidos pelo temível e famoso Izaias Arruda(ex-delegado de Aurora e prefeito pelas balas, de Missão Velha).

            Nas terras aurorenses, Lampião parecia muito mais querido que odiado. Não se sabe se por temor ou pura admiração dos seus feitos cantados e decantados pelo Nordeste adentro. O certo é que em Aurora e circunvizinhança Virgulino promoveu seguidores muito mais que desafetos. Ao passo que verdadeiros bandos nasceram e atuaram anos a fio por estas ribanceiras seguindo a risca os preceitos do renomado cangaceiro. Inclusive de jagunços terríveis e sanguinolentos. Profissionais do crime, organizados como verdadeiras milícias particulares a serviço dos velhos coronéis do latifúndio.
Grupo de Jagunços de Izaias Arruda, em foto de 1926 na Ingazeira

Basta dizer que do subgrupo de Massilon Leite muitos eram naturais d’Aurora principalmente da região do riacho das Antas, tais como: Zé de Lúcio( o Três Pancadas), José de Roque e Zé Côco, só para citar alguns. Além de Asa Branca, natural da Ipueiras, um dos mais jovens a ingressar no bando de Lampião.
 
 
 
              Sua pontaria impressionou sobremaneira o rei do cangaço. Um outro grupo muito mais presente tivera a participação de outros bandoleiros autóctones, uns profissionais outros sazonais de Missão Velha, Aurora e lugares adjacentes que vez por outra, resolviam fazer bico. Tal grupo pertencia ao coronel Izaías sob o comando direto do seu braço direito e confiável Zé Gonçalves.
            Mesmo com sua reconhecida personalidade de homem desconfiado, como era sua praxe, Lampião nunca esperaria uma traição que viesse dos seus amigos das Auroras. Enganara-se redondamente. O tempo não tardaria a lhe provar o contrário em três grandes momentos distintos da sua empreitada nas paragens salgadianas. Tudo envolvido em conjunto na estratégia traçada na fazenda Ipueiras com vista a invasão de Mossoró, o ataque da volante sofrido no sítio Ribeiro( riacho do Bordão de Velhos dia 2 de julho) e por fim, o suculento banquete(envenenado) a cargo do vaqueiro Miguel Saraiva( da serra do Diamante e Coxá) oferecido na casa grande da fazenda-vivenda pertencente a José Cardoso, parente do famoso coronel Izaiais Arruda que terminaria com um cerco policial e o ato incendiário ao bando. Neste episodio marcante ocorrido em 7 de julho de 1927 próximo do meio-dia, cumpre destacar que em cima da hora, Lampião a 500 metros da residência, decidiu que o almoço fosse servido não mais na casa grande, mas ali mesmo, no baixio sob as sombras das Oiticicas e Joazeiros. Uma decisão providencial e salvadora.

 Volante perseguidora de Lampião no Sítio Ribeiro d'Aurora em 1927

             Esta mudança obrigou o major Moisés de Figueiredo com seus quase 80 homens ajudado pelos jagunços do coronel a precipitar o plano de ataque. Empiquetados que estavam em redor da residência. Puseram fogo na manga... Lampião com sua perspicácia saíra quase incólume de mais esta. Não totalmente ileso, mas salvara a sua vida e dos seus próprios apaniguados. Teve pouquíssimas baixas. Uma saída possível do cerco da Ipueiras onde tombaram o cangaceiro Xexéu e Catita após quase quatro horas de fogo cruzados. A chuva de bala não foi nada, comparada ao incêndio do canavial e do algodoal seco que fez daquele ambiente, um verdadeiro inferno de chamas. Por sorte a direção do vento soprou o fogo para o lado dos comandados do major. E Lampião com seu bando escaparam aos gritos de despautérios pela parede do açude velho.

              Foi o preço mínimo que pagara para não sofrer uma derrota ainda mais completa e humilhante. A fome, a sede, o cansaço, a falta de munição e o verdadeiro desmantelamento das suas armas de fogo. Tudo isso somado redundou no enfraquecimento e quase fim do bando lampiônico naquele momento singular da histórica marcha de Lampião depois do malogro de Massoró. Seu know-how de homem estrategista ajudara a escapar de todas as armadilhas e confrontos, contra as volantes dos governos de três estados. Porém aquela refrega o abatera sensivelmente, somada a desproporção do número de combatentes que fora obrigado a enfrentar anteriormente. Chegando em alguns momentos na razão de 40 por 1 em seu desfavor.
 
             Lampião não estava preparado para a derrota. Neste sentido tanto Mossoró quanto Aurora comprometeram para sempre a antes sólida confiança no homem forte de corpo fechado, assim como os inquebrantáveis princípios da velha ousadia dos que fizeram do cangaço uma opção para toda a vida.

José Cícero
Pesquisador - Aurora
Fonte:http://blogdaaurorajc.blogspot.com
 
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Juliana Ischiara no trem da História

           
            Polêmico, controverso e instigante, o cangaço continua vivo, mesmo após 72 anos da morte de Lampião. Se hoje não temos cangaceiros assolando o sertão nordestino, comandado pelo então Capitão Virgulino, hoje temos desbravadores como pesquisadores, estudiosos, colecionadores e demais interessados pela temática.
 
 O rei Lampião
 
             O cangaço conquistou um lugar tão importante na história, que hoje palmilhamos o nordeste seguindo suas pegadas em busca de compreender seus motivos, suas causas. Buscamos a compreensão dos pormenores da vida destes homens e mulheres que, ao mesmo tempo em que nos deixa estarrecidos pelas ações violentas, nos encanta pela sagacidade, pelo estilo de vida nômade, pela fortaleza de espírito e presteza.
             E é se aventurando nas suas trilhas que acabamos conhecendo mais o nordeste e um pouco mais sobre a vida daqueles que foram parte importante no universo do cangaço. Encanta-nos por os pés nos mesmos espaços onde eles pisaram, porém, também nos entristece ver tamanha devastação e desolação desses lugares que serviram de palco para dinâmica do cangaço.
            Recentemente passei uma semana visitando os lugares onde o bando de Lampião passou seus últimos dias. Confesso que, além do natural encantamento pelos espaços históricos, de imediato veio a decepção pelo estado de preservação destes cenários. Claro, não me refiro aos espaços naturais como a Grota do Angico ou o espaço onde se deu o combate de Maranduba, mas o que se encontra hoje em Sergipe, em especial Poço Redondo e Canindé de São Francisco, no que concerne ao cangaço.

Gota de Angico, lugar onde foi abatido Lampião      


              Em Poço Redondo encontra-se uma cidade que, apesar de pacata e acolhedora, comum às cidades do interior nordestino, encontra-se uma cidade que não valoriza ou explora a temática cangaço, apesar do município sediar o coito mais importante da história do cangaço, no caso a Grota do Angico, tendo sido, também, o município escolhido por Lampião para passar uma longa temporada, claro que ele não deveria prever que seria o lugar onde ele viveria seus últimos dias. 
            O fato é que em Poço Redondo encontra-se uma modesta praça com dois chapéus de cangaceiros forjados em ferro fazendo menção ao cangaço e um modesto prédio construído logo na entrada da cidade, que serviria de centro de artesanato e cultura, tendo como objetivo fazer menção ao cangaço, que se encontra fechado e, segundo algumas pessoas, nunca funcionou. Nada mais há na área urbana que diga respeito ao cangaço. 
            Na zona rural de Poço Redondo encontramos o alicerce da casa que pertenceu aos Nicácio, família das cangaceiras Áurea de Mané Moreno, Adelaide de Criança e Rosinha de Mariano, a casa era a sede da fazenda Maranduba, onde houve um dos maiores combates da história do cangaço e, segundo populares, a casa foi demolida sem motivo, apenas por acharem que a mesma não tinha nenhum importância. Cerca de uns 50 metros onde havia a casa, encontramos uma cruz de madeira, posta sobre uma cova funda onde foram sepultados os soldados da volante de Manoel Neto, que tombaram em combate com os cangaceiros, sendo que os corpos dos cangaceiros mortos no combate, não se sabe ao certo o local onde foram sepultados.
O cangaceiro Mané Moreno
 
O cangaceiro Mariano
 
            Neste mesmo perímetro, encontramos duas pias naturais, encravadas nas pedras. Tais pias têm cerca de dois metros de profundidade, segundo disse nosso guia. Vale ressaltar que a volante de Manoel Neto estava numa destas pias enchendo seus cantis, quando ouviram os cangaceiros conversarem embaixo dos umbuzeiros próximos. Estes umbuzeiros ainda estão vivos e frondosos.


Sargento Mané Neto
 
            Para se chegar ao campo onde houve o combate de Maranduba é necessário passarmos por entre dois arames farpados, posto não haver uma cancela de entrada. 
            Indo para o outro lado do município, chegamos à fazenda Logrador de Julio Felix, uma das vias de acesso à Grota do Angico. Seguindo este acesso, chega-se à fazenda Angico, que pertenceu ao pai de Pedro de Cândido e a Durval, coiteiros de Lampião, homens de confiança dos cangaceiros. Vale ressaltar que foi Pedro de Cândido que dedurou Lampião para o tenente João Bezerra. A sede da fazenda Angico fica nas margens do Rio São Francisco e a pouco mais de seiscentos metros da Grota do Angico.
Tenente João Bezerra

            Onde havia a sede da fazenda Logrador encontramos um imponente memorial do cangaço, em fase final de construção. Vale ressaltar que a casa que pertenceu a Julio Felix foi demolida e onde, no mesmo local, está sendo construída outra, em alvenaria, conservando-se a mesma planta. O memorial não está sendo construído pelo município, mas pelo governo do Estado.
 
Juliana Ischiara e Alcindo Alves da Costa
 
            Pela zona urbana de Poço Redondo podemos seguir para localidade de Curralinho, por uma pequena estrada de terra construída por Antonio Conselheiro, onde encontramos os restos de duas cruzes, sinalizando que ali, segundo nosso anfitrião Alcino Alves Costa, duas vidas foram ceifadas pelos cangaceiros Corisco e Mané Moreno, tendo como vítimas os soldados da polícia militar de Sergipe, Sissi (ou Cici) e Antonio Vicente.
Antonio Conselheiro
 
             No lugar onde estão as cruzes vemos algumas réplicas de partes de corpo humano talhadas em madeira onde o povo sertanejo, por ser extremamente religioso, costuma fazer promessas pedindo intervenção para a cura de seus males aos santos ou pessoas mortas de forma trágica, depositando em seus túmulos ou lugares onde morreram, o que eles chamam de milagres, réplicas talhadas em madeira, os ex-votos.
           Chegando a Curralinho encontramos um lugar naturalmente mágico, lindo, às margens do Velho Chico. Porém, as casas que antes pertenceram a um lugar de grande importância, até por ter sido uma espécie de porto de desembarque de mercadorias e pessoas que visitavam o lugar ou seus parentes, hoje se encontra em total estado de abandono com suas casas, antes imponentes em sinal da condição econômica dos que ali moravam, estão quase demolidas pelo tempo e pelo abandono.
 
 
Rio São Francisco
 
             Não se pode deixar de fazer uma comparação com a linda e maravilhosa cidade de Piranhas que fica a poucos quilômetros dali, na outra margem do Rio São Francisco, no estado de Alagoas, que preservou e preserva seu patrimônio cultural, impondo aos nossos olhos admirados por sua beleza a história de um povo. Poço Redondo parece que nega ou não dá o mínimo de importância ao seu sítio histórico.
 
Vista aérea da Usina de Xingó-Foto:Gilton Goes
Vista aérea da Usina de Xingó - Foto: Gilton Goes
            Vale ressaltar que em Curralinho, meio aos escombros das antigas casas que margeiam o velho Chico, encontra-se algumas casas modestas dos que ali ainda vivem. Nesta vila, vemos ainda uma casa bem estruturada, vizinha a igreja nova ou reformada que pertence a um comerciante de Poço Redondo e logo adiante, a casa de Frei Enoque, prefeito de Poço Redondo.
Frei Enoque - Prefeito de Poço Redondo

             Em Curralinho, vemos também uma linda igrejinha construída por Antonio Conselheiro, quando de sua passagem por ali. Como historiadora e pesquisadora, não pude deixar de me perguntar o porquê e o que leva um povo a não preservar e contar em seus livros de história, a importância de ter sido escolhida pelos dois líderes dos maiores fenômenos sociais do nordeste e porque não dizer do Brasil?

Poço Redondo  foto
.skyscrapercity
Poço Redondo foto .skyscrapercity

             Poço Redondo foi coito dos cangaceiros e passagem de Antonio Conselheiro e, mesmo assim, não explora culturalmente tais fatos de relevante valor histórico, não preserva, não dá importância. Cangaço e messianismo, bandidos e fanáticos, fico consternada diante de tanto descaso para com a história e pela formação histórica e cultural do nosso país.
Na casa do Sr. Elsinho. Ele me emprestou esta cartucheira com relíquias: munição intacta e cartuchos que foram utilizados no combate de Maranduba.
             Canindé de São Francisco, cidade vizinha a Poço Redondo. Como é comum a citação de Canindé de São Francisco nos livros sobre cangaço, pensei que lá encontraria as coisas em melhores condições. Ledo engano.
            Um banner gigante na entrada da cidade com a foto de Maria Bonita e três estátuas, uma de Lampião, uma de Maria Bonita e a terceira de um famoso vaqueiro da região, instaladas estratégicamente na entrada da cidade nova e na divisa dos estados de Sergipe e Alagoas, respectivamente, foram as únicas referências ao cangaço que lá encontramos. 
            A sede de Canindé de São Francisco divide-se em duas, uma antiga, às margens do São Francisco e a nova cidade de Canindé de São Francisco, que fica na parte alta do município, ligadas por uma bem cuidada rodovia que descortina uma belíssima paisagem do Rio São Francisco. 
            O que encontramos em Canindé de São Francisco foge a qualquer compreensão racional no que se refere a um fato em especial. Trata-se do antigo cemitério, que fica na cidade antiga de Canindé de São Francisco. 
            Vendo-o ao longe, decidi conhecê-lo. Encontrei-o em meio a um matagal, cercado por um arame farpado, graças à ajuda de um cidadão muito prestativo que se encontrava trabalhando próximo ao local e, ao entrar no cemitério a surpresa foi maior ainda ante o visível estado de abandono que, até então, eu não havia compreendido.
             Todos os túmulos haviam sido violados e onde existiam covas, hoje não há mais nada. A população resolveu, ao se mudar para cidade nova, levar consigo os restos mortais de seus entes queridos. Desenterraram os restos mortais e enterraram, em seus lugares, as suas histórias e os seus sentimentos. Eu realmente não compreendi, pois temos exemplos de cidades que foram cobertas por água após a construção de barragens e açudes de grande porte e a população, ao se mudar para as novas moradas, decidiram por respeitar a memória e o desejo de seus entes queridos, deixando-os em seu descanso eterno, mesmo que sob as águas.
 
Entrada de Canindé no sentido de quem vem pela capital sergipana

Piranhas
            Piranhas, uma cidade linda, encantadora. Parece uma lapinha sertaneja às margens do São Francisco. Os prédios, em sua grande maioria, estão conservados. As pessoas respiram história, cultura. Do artesanato às ruas limpas, da gentileza à consciência de um povo que respeita sua formação histórica e cultural. Para nós que pesquisamos e estudamos o fenômeno cangaço fica a pergunta: como pode municípios como Poço Redondo e Canindé de São Francisco, que estão ali, do outro lado do rio, há poucos quilômetros de Piranhas, ter uma concepção ou comportamento de preservação tão diferentes?
            Sabemos que as receitas dos municípios não são iguais, mas todos estão nas mesmas condições geográficas, às margens do São Francisco e Piranhas, que teve uma participação menor na história do cangaço, soube fazer desta pequena participação um grande feito, mantendo viva a história e o universo cangaceiro. Por outro lado, as duas cidades sergipanas, já referidas, relegam ao esquecimento fatos tão importantes, fatos estes vividos por quase dez anos por aqueles que deixaram suas vidas, até então pacatas, para fazer parte do fenômeno social mais complexo do nordeste, o cangaço.
            Ainda no município de Piranhas, encontramos em sua zona rural a fazenda Patos, com a casa do vaqueiro Domingos Ventura, onde Corisco assassinou pessoas inocentes por pensar ter sido eles os traidores de Lampião. Embora a casa esteja abandonada e aos poucos sendo demolida pelo tempo, ainda encontra-se em pé e, do lado, o curral de pedras, palco da crueldade de Corisco.

Antiga e abandonada casa de Domingos Ventura.

Juliana Ischiara
 Pesquisadora , Quixadá / CE
 

Lampião sem opções

O facínora Lampião

              Quando Lampião tentou invadir Mossoró no ano de 1927, e não sendo bem sucedido, saindo daqui às carreiras para o Estado do Ceará, terra do seu Padim Pade Ciço, como chamava ele, sofreu violenta perseguição nesse Estado, que ele achava ser muito bem apoiado. Mas se enganara. Sim senhor!  Ao seu encalço estavam as tropas do major Moisés, que eram: Laurentino, Abdon Nunes e Agripino do Rio Grande do Norte e Quelé da Paraíba.

Clementino José Furtado, o Clementino Quelé.
Foto extraída do blog BOOM 

             Em 1928, se sentindo pressionado por essas foças volantes, que não o deixavam em paz, e que para o Rio Grande Norte não poderia mais voltar, por ter sido escorraçado de Mossoró; para Alagoas também não arriscaria, já que no início do ano 1927 havia humilhado e bagunçado o Estado, na intenção de denegrir a imagem de José Lucena,  por ter morto 

Tenente Zé Lucena
Foto do blog: Cariri Cangaço

o seu pai, José Ferreira da Silva; para a sua terra natal, Pernambuco, não iria, pois tinha as suas intrigas com o Zé Saturnino, Lampião  com o   seu respeitado bando resolveram o seguinte:

José Saturnino, primeiro inimigo de Virgulino
Foto do blog: Cariri Cangaço

               Já que em nenhum desses Estados eles não poderiam armar o coito nas caatingas,  rumaram para o Estado da Bahia, entrando por Ribeira do Pombal, no dia 21 de agosto de 1928, sendo a primeira vez que Lampião colocou os seus encardidos pés nas terras baianas, aonde chegaram apenas oito companheiros famintos e esfarrapados.

Foto extraída do blog: "Lampião Aceso"
 Sobre esta imagem acima, Ivanildo Régis afirma que Ivanildo Silveira, pesquisador e colecionador do cangaço, faz a seguinte observação: “Embora a identificação dos cangaceiros da foto acima seja um tanto polêmica, consultando especialistas, é quase unânime que a legenda mais que mais se aproxima da realidade, é a seguinte: Lampião; Ezequiel, Virgínio, Luiz Pedro, Mariano, Corisco, Mergulhão e Alvoredo.

Os cangaceiros que em 1928 cruzaram o Rio São Francisco

Observe a foto da esquerda para à direita:
        
             1 - Virgulino Ferreira da Silva - “Lampião”, nasceu no dia 04 de junho de 1898, no Sítio Passagem das Pedras, na Serra Vermelha, atual Serra Talhada, no Estado de Pernambuco.  Era filho de José Ferreira da Silva e Maria Sulena da Purificação, ele sendo o terceiro filho do casal.

Os irmãos de Lampião:

                  1895 - Antonio Ferreira – Morto em combate.
              1896 - Livino Ferreira da Silva – Morto em combate em 1925.
              ???? - Virtuosa Ferreira - Não consegui a data de nascimento.
              1902 - João Ferreira da Silva – Morava em Osasco - São Paulo.
              ???? - Angélica Ferreira - Não consegui a data de nascimento.
              1908 - Ezequiel Ferreira – Morto em combate.
              1910 - Maria Ferreira (Mocinha).
              1912 - Anália Ferreira – Não tenho informação sobre ela.

                  Foto de Maria Ferreira, irmã de Lampião, e o escritor João de Sousa Lima.    
                Observação: O  João de Sousa Lima afirma que Maria Ferreira ainda está viva e reside em São Paulo.                 

             Depois de mais de vinte anos como cangaceiro, foi abatido juntamente com a sua rainha Maria Bonita e mais nove facínoras, na madrugada de 28 de julho de 1938, na grota de Angicos, no Estado de Sergipe.

              2 - Ezequiel Ferreira da Silva - “Ponto Fino” - (irmão de Lampião). Nasceu no ano de 1908, e  foi abatido no dia 23 de abril de 1931, no tiroteio da Fazenda Touro, povoado Baixa do Boi, no Estado da Bahia, ponto conhecido como Lagoa do Mel.

             3 - Virgínio Fortunato da Silva, o “Moderno”, ex-cunhado de Lampião. Nasceu em 1903 e faleceu em 1936, aos 33 anos de idade. Sua companheira no cangaço era Durvalina, que com a sua morte ela se amasiou com Moreno. 
              Segundo o escritor Franklin Jorge, há suspeita, não comprovada, que Virgínio era da cidade de Alexandria, no Estado do Rio Grande do Norte.                                                                

Moreno e Durvalina
Foto de Lenadro Lara

            4 -Luiz Pedro Cordeiro era seu nome de batismo. Também conhecido como Luiz Pedro da Canabrava e ainda Luiz Pedro do Retiro.  
              Nasceu em 1910, na cidade de Triunfo, Pernambuco, e faleceu na Grota de Angico, no Estado de Sergipe, na madrugada do dia 28 de julho de 1938, juntamente com Lampião, Maria Bonita e mais oito cangaceiros.
                 Era um dos maiores astros da Empresa de Cangaceiros Lampiônica & Cia.  Aos 14 anos resolveu juntar-se ao bando de Lampião, deixando a sua família em choque. 
             Luiz Pedro ficou no bando dos Ferreira até morrer. Veio com Lampião à invasão de Mossoró, e foi dos raros que conseguiu chegar à Serra da Baixa Verde, em Triunfo. 
              Mais ou menos com vinte e três anos de vida, passou em Princesa, e lá, que juntamente com os seus companheiros, exterminaram a vida de: Antonio Valdivino, Joaquim Alves (velho de 96 anos de idade). Manoel Rodrigues de Melo, Ananias Alves, Antonio Zuza, Belizário Zuza e o menino Pedro Valdivino, de doze anos de idade.
             Luiz Pedro foi merecedor, fazendo parte do comando maior de Lampião. Um dos mais  confiado do rei Lampião. Nenhum cangaceiro foi tão fiel a Lampião quanto Luiz Pedro. Compadre e irmão (simbolicamente) do rei do cangaço e da rainha. Apesar de ter assassinado por acidente o Antonio Ferreira, irmão de Lampião, e muito prosar com Maria Bonita, tinha um respeito pessoal e consideração ao casal. A amizade de Luiz Pedro com o casal era mútua. Fora   apelidado pelos comparsas  de Príncipe do cangaço.
            Teve como grande companheira, a baiana Neném do Ouro, que morreu muito jovem em combate, no ano de 1936, em Mocambo, perto do Rio São Francisco. Com a sua morte, Luiz Pedro caiu em profunda tristeza, pois muito a amava.   
Riqueza:

             Era um cangaceiro bastante rico. Era tão rico, que quando o policial Mané Véio o assassinou, segundo ele, lá na Grota de Angico, na madrugada de 28 de julho de 1938, saqueou toda sua riqueza, levando consigo: jóias, prata, ouro, dinheiro etc. E com o saque do cangaceiro, Mané Véio tornou-se o policial mais rico de Santa Brígida, lá no Estado na Bahia. (Terra de Maria Bonita). 
            Assim que ele assassinou o grande astro da Empresa de Cangaceiros Lampiônica & Cia., temendo que os companheiros chegassem ao local e invadissem as riquezas do assecla, uma vez que naquele momento, o verdadeiro dono daquela fortuna era ele, por tê-lo assassinado, e como era mais difícil tirar os ricos anéis dos dedos, fez a separação das munhecas e as colocou no seu bornal. 
            Ao terminar, apanhou os lenços, jabiracas e os enfiou em uma sacola. Em seguida, foi aos bolsos e bornais do bandido, e lá estava as maiores riquezas do cangaceiro Luiz Pedro. Uma enorme quantidade de dinheiro.  E ao seu lado, uma lata vomitando ouro e prata. 
            Como as munhecas de Luis Pedro foram cortadas por Mané Véio, as levou em sua companhia para retirar os anéis em casa. E assim que chegou cuidadosamente os retirou. As munhecas foram enterradas no oitão da igreja de Piranhas.

O cangaceiro Mariano
Foto do blog: Lampião Aceso

            5 - Mariano Laurindo Granja, companheiro de Rosinha.  Entrou para o cangaço em 1924. Cruzou o Rio São Francisco com Lampião em 1928 em direção à Bahia. Foi morto no dia 10 de outubro de 1936. O ataque foi entre os municípios de Porto da Folha e Garuru, região conhecida como o Cangaleixo. 
           A pesquisadora do cangaço Juliana Pereira Ischiara, diz que Rosinha foi morta a mando de Lampião.

           O escritor/pesquisador e colecionador do cangaço, Ivanildo Alves Silveira, conta em seu texto: A terrível morte do cangaceiro "Mariano", no blog "Lampião Aceso", publicado no dia 12 de fevereiro de 2010.
           Palavras do escritor: "Bem-Te-Vi", como um louco, saca do punhal escanchase no quase cadáver de Mariano e sua mão sobe e desce em golpes. brutais. Apunhala com tanta fúria o corpo do bandoleiro, que se ouve aquele ranger estridente e áspero da ponta da arma branca atravessando as carnes e os nervos da vítima, furando e mordendo a terra seca ". Jamais um homem matou com tanta alegria, com tanta volúpia, com tanto sadismo.


Soldado Bem-Te-Vi e o coronel Zé Rufino
Foto do Blog: Lampião Aceso

            Era a vingança do filho estraçalhando o corpo daquele que abatera, friamente, o autor da sua vida. Era a lei, a terrível e inflexível lei das caatingas." Voltemos à conversa com o soldado, "Bem-te-vi", cujo nome real é Severiano:
            — Nóis peguemos as armas dos cangacero, us anéis, u dinheiro, us borná, punha, cartuchera, u qui tinha ali se pegô. Já tinham cortado a cabeça de Pae Véio i do otro cangacero i nóis vortemos prá dondi tinha ficado Mariano ...
           Recorremos novamente à pena vibrante do escritor Joaquim Góis. "O que vê estarrece e assombra.
           O cangaceiro a quem o punhal vingativo de ' Bem-te-vi ' e balas de José Rufino haviam prostrado como morto, vivia ainda e num esforço que se poderia chamar de o milagre do desespero, ensaiava levantar-se.
          Os dedos enorme e crispados tentavam afastar dos olhos enevoados a pasta dos cabelos empapados de sangue, a cabeleira escorrendo uma espécie de mingau feito de suor e sangue. Ele todo era uma sangria, um corpo todo aberto em talhos profundos de punhal, de pedaços de aço incandescentes que as descargas da polícia despejaram sobre ele.
           Uma visão para não se esquecer.
           "Bem-te-vi" ao ver Mariano vivo contra todas as probabilidades do possível, face ao número absurdo de punhaladas que ele sofreu das suas próprias mãos e dos balaços recebidos, desembainha a Colt e encostando-a no peito do assassino de seu pai, prepara-se para o tiro de misericórdia.
           Corta o ar a advertência de José Rufino:
           — Tenha cuidado com a cabeça que eu preciso dela.
          Detonações ensurdecedoras, à queima-roupa, perfuram o corpo já todo esburacado de Mariano e a resistência física do bandido pára na imobilidade da morte". Bem, esse foi o fim desse chefe de grupo, do qual todos os companheiros, com quem tenho conversado, gostavam. Aliás, até mesmo alguns paisanos falam favoravelmente a Mariano".

 
O cangaceiro Corisco
Foto do Blog: Lampião Aceso.blogspot.com

          6 - Cristino Gomes da Silva Cleto, “Corisco”, companheiro da cangaceira Dadá. Ele foi abatido no dia 25 de maio de 1940, pelo tenente Zé Rufino, na fazenda Cavaco, em Brotas de Macaúbas, no Estado da Bahia. Com a sua morte, finalmente o cangaço foi enterrado com ele.

           7 – Mergulhão – O escritor Sabino Bassetti, São Paulo, que faz parte da família Cariri Cangaço, disse o seguinte: “-O primeiro Mergulhão, aquele que atravessou o rio São Francisco junto com Lampião em agosto de 1928, morreu logo depois, sendo o primeiro cabra a morrer na Bahia”. 
         Com essa afirmação do Sabino Bassetti, este não é o cangaceiro irmão de Sila que morreu na Grota de Angicos, em Sergipe, em 28 de julho de 1938.

O cangaceiro Alvoredo
Foto do blog: Lampião Aceso.blogspot.com

          8 - Hortêncio Gomes da Silva - o ”Arvoredo” – Foi abatido por dois meninos, quando se desligara do bando no momento do ataque a Jaguarari, na Bahia.


Fontes de Pesquisas:
             Valiosas informações dos escritores:
           Alcindo Alves da Costa, Franklin Jorge, Ivanildo Alves Silveira, Ivanildo Régis, Juliana Ischiara, João de Sousa Lima,  e Sabino Bassetti.