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quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

O RAPOSA DAS CAATINGAS É SUCESSO NACIONAL E JÁ ESTÁ NA 3ª. EDIÇÃO


Se você ainda não comprou este fantástico trabalho do escritor José Bezerra Lima Irmão adquira-o agora. Saiu a 3ª Edição. Lembre-se que quando lançam livros sobre cangaço os colecionadores arrebatam logo para suas estantes. Seja mais um conhecedor das histórias sobre cangaço, para ter firmeza em determinadas reuniões quando o assunto é "cangaço". 

São 736 páginas.
29 centímetros de tamanho. 
19,5 de largura. 
4 centímetros de altura.
Foram 11 anos de pesquisas feitas pelo autor 

É o maior livro escrito até hoje sobre "Cangaço". Fala desde a juventude  e namoro dos pais de Lampião. Quem comprou, sabe muito bem a razão do 
"Sucesso a nível nacional do Raposa das Caatingas" 
que já está na 3ª. edição. 

O autor aceita e agradece suas críticas, correções, comentários e sugestões:

(71)9240-6736 - 9938-7760 - 8603-6799 

Pedidos via internet:
Mastrângelo (Mazinho), baseado em Aracaju:

Tel.:  (79)9878-5445 - (79)8814-8345

Clique no link abaixo para você acompanhar tantas outras informações sobre o livro.
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AS PALAVRAS DO SR. GACHOUD

Por Rangel Alves da Costa*

O ilustre Sr. Gachoud, em homenagem ao princípio da liberdade de expressão, pode afirmar o que bem desejar, pode se expressar como bem entender. Do meu lado, também em louvor ao princípio do contraditório, posso desafiar todas as suas assertivas. Eu com a minha e ele com a sua razão.

Nada mais que obedecer ao velho ensinamento atribuído a Voltaire (pois muitos afirmam que não é da lavra do filósofo francês), aquele mesmo estabelecido como balizamento da liberdade de expressão: “Posso não concordar com o que você diz, mas defenderei até a morte o seu direito de dizê-lo”.

As palavras do Sr. Gachoud são interessantes, principalmente quando diz que o governante representa o povo e a nação. Mas não posso concordar com o Sr. Gachoud pelo fato de o governante representar somente a si próprio. As histórias dos governos e seus egoísmos parcem suficientes para tal comprovação.

Ora, o Sr. Gachoud há de compreender que nenhum governante dá a mínima importância se o povo está de panela vazia ou já não suporta a carestia dos alimentos. Do mesmo modo, para o governante, o bem da nação representa a imagem de seu governo, que outra coisa não é do cuidar apenas de si mesmo e da manutenção de seu poder.

Mas as palavras do Sr. Gachoud são deveras auspiciosas, principalmente quando afirma ser o homem a salvação do próprio homem. Contudo, não posso comungar com o Sr. Gachoud. Fosse o homem responsável pela salvação do próprio homem não teria provocado tantos malefícios ao seu presente e ao seu futuro.

Como todo respeito ao Sr. Gachoud, mas o homem é o seu próprio algoz, seu carrasco e seu juízo final. Desde que sua existência foi-lhe concedida após o ato bíblico da criação, outra coisa não fez senão destruir tudo sobre o que lança mão. Destrói a si mesmo, o que possui o outro e vai além, pois se arvora no direito de devastar a natureza e todos os bens da vida planetária.


O Sr. Gachoud insiste em afirmar e eu insisto em prestar bastante atenção. E dize-me o ilustre senhor que o futuro da humanidade é aprender com os próprios erros e daí provocar um forçado renascimento. Entretanto, mais uma vez me permito discordar do pensamento do Sr. Gachoud, principalmente porque vivemos em sociedade e não em devaneios mitológicos onde de repente tudo pode alçar diferente como num voo de Fênix.

E digo mais ao Sr. Gachoud: Como o homem tem plantado e vem semeando, outro não será o futuro da humanidade senão o caos, a nefasta e plena desordem. Os erros humanos se acumulam, as iniquidades humanas persistem, as irracionalidades vão se tornando irremediáveis. Não parece possível o renascimento no homem que elegeu a violência, a destruição, a barbárie e a desumanidade como princípios de vida. Para que surja a esperança será preciso que as cinzas devastem o mundo de agora e, sobre seus escombros, da dor talvez surja outra vida.

Mas o Sr. Gachoud é insistente. E tão persistente que apregoa estar o mundo em plena ordem com o seu tempo e que todo mal existente não é consequência de um desacerto do homem, mas do próprio mundo que vai acumulando um fardo pesado das realizações negativas passadas. E aí mais um erro do eminente senhor. Nem o mundo está em plena concordância com o seu tempo nem a desordem existente é culpa das cinzas dos anos.

Não sei se o Sr. Gachoud irá compreender, mas é fácil observar que o mundo vem em contínuo avanço, anda sempre para frente, e nesta caminhada há a oferta de meios que permitam o avanço do conhecimento, há as descobertas científicas que permitem muitas soluções para os problemas existentes, há mais liberdade e condições de ação, mas ainda assim quase nada que efetivamente melhore a vida do planeta e do homem. Os exemplos são muitos, e por todos os lugares. Aumentou o medo, a violência, a permissividade nefasta, o pecado e a ganância. Assim, a culpa de tudo não poderá recair no passado se o homem atual não se cansa de produzir seu próprio fim.

Por último, afirma o Sr. Gachoud que há um pessimismo exagerado em relação à vida e ao mundo. Neste aspecto, ouso discordar apenas em parte do nobre senhor. Realmente há pessimismo em todos os quadrantes da existência. Porém não exagerado. O negativismo existente nada mais é que reflexo daquilo que é confrontado todos os dias, em todo lugar, desde uma emergência de hospital, passando pela arrogância nas relações sociais e chegando até as imensas filas para a matrícula dos alunos.

O Sr. Gachoud também há de observar que ninguém em sã consciência irá se sentir otimista ante a corrupção desenfreada, as roubalheiras sem fim, a inflação galopante, os preços dos remédios e dos alimentos, as contas de energia que sobem todos os dias. O povo tem fome de otimismo, tem sede de otimismo, sonha com otimismo. Mas tudo se transforma ao abrir a porta e encontrar mil razões para ser pessimista.
O Sr. Gachoud não existe, é um interlocutor meramente ficcional. Mas sei que existem muitos Gachoud por aí. E para todos eu apresentaria as mesmas contestações, ainda que outros surjam para discordar de nós dois.

Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com

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“O FIM DE VIRGULINO LAMPIÃO” O que disseram os JORNAIS SERGIPANOS


O livro “O FIM DE VIRGULINO LAMPIÃO” O que disseram os JORNAIS SERGIPANOS custa:
30,00 reais, com frete incluso.

Como adquiri-lo:
Antonio Corrêa Sobrinho
Agência: 4775-9
Conta corrente do Banco do Brasil:
N°. 13.780-4

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COMBATE NA PERI – PERI E FAVELA


Naquele tempo, muito das vezes, a Força e o grupo de cangaceiros passavam dias, semanas e até meses embrenhados nas caatingas.

Uns se faziam necessário para sumirem... Para despistarem seus perseguidores. Os outros tinham que descobrir os rastros deixados pelos cangaceiros e seguirem-no... Assim passou muito da vida daqueles que viveram nas fileiras do cangaço.


Próximo à cidade de Juazeiro – BA, certa feita, Lampião está na mata com sua cabroeira...

... de repente, começa um tiroteio intenso contra uma volante. O “Rei Vesgo”, divide seu grupo e, dando ordens ao cangaceiro Zé Baiano, manda que siga para outra fazenda e procure emboscar os soldados por lá.

O cangaceiro Zé Baiano

Segundo relato de ex cangaceiros, muitos dos embates não tinham a finalidade de matar os volantes. Faziam-se necessário imporem-se e, através da ‘espoleta quebrando’, encontrar tempo e rota de fuga... Muitas estratégias em guerra de movimento foram utilizadas pelos dois lados, nas semi-áridas terras sertanejas.


Zé Baiano segue para fazenda Favela e seu chefe-mor, fica na fazenda Peri – Peri. O interessante é que quase simultaneamente os dois grupos abrem combate contra a Força Policial. “A 24 de março de 1930 estourou um combate na Fazenda Peri-Peri, próxima a Juazeiro, estendendo-se até a Fazenda Favela”. Na batalha, feriram-se o sargento Aderbal Borges, e os soldados Calixto Eleuterio dos Santos e José Domingos dos Santos. O primeiro soldado teve três ou duas costelas do lado esquerdo fraturadas por tiros e outro uma das coxas varada e o polegar esquerdo. Já o comandante da patrulha teve ferimento na altura da mandíbula, no lado direito da face, onde o projétil penetrou, tendo ‘saído’ pelo lado esquerdo do lábio inferior.


Sobre essa batalha, veremos a seguir o depoimento de um dos chefes dos subgrupos de Lampião, que lá estava...


Trata-se de Ângelo Roque, conhecido como o cangaceiro “Labareda”, que faz o seguinte relato a Estácio de Lima:

“"Nóis ia viajano, um dia, na rodage i topemo us macaco du sargento ADERBÁ... Nóis nun teve certeza si êles vinha da FAVELA, ou du JUAZÊRO. Sustentemo um fôgo currido, i mergúiemo na caatinga. Us macaco perdero a pista. E nóis tinha ali pru perto um pôso que nun era bom, mas porém sirvia. Cumpade LAMPIÃO riuniu us pessoá i mandô ZÉ BAIANO imboscá a istrada di FAVELA i nós fiquemo di imboscada na istrada di JUAZÊRO. Peguemo, aí, um portadô, i toquemo-lhe o pau, i tomemo um dinhêro qui ficô cum LAMPIÃO. Dinhêro era perciso, mas nun fartava, vino dus Coroné, dus amigo, di quem fô. U capitão deu orde i dispachô um camarada pra buscá mais u’a importânça in JUAZÊRO. Nóis fumo denunciado pru êsse cabrinha faladô i tivemo duas brigada, pra bem dizê uma pru riba da outa. ZÉ BAIANO cum a volante qui vinha da FAVELA i LAMPIÃO cum nóis, di nôvo brigano mais um sargento ADERBÁ i us macaco dêle. A orde nun era pra nóis combatê pra valê, inté u fim. Nóis di nôvo arricuemo, si sumino, pra vortá na casião dérêita. I sempre gritano, subiano, discompono. Nu’a dessas casião, u fôgo cerrô feio, i u sargento ADERBÁ, cum dispusição di home, vançô pra nóis, quereno cabá cá gente, i entonces si discubriu. Levô um tiro danado qui firiu na cabêça, bem nus quêxo da cara; nóis subemo qui foi coisa fêia, mais porém u sargento guentô cumo home i u resto dus macaco nun correro. ADERBÁ inda véve, sendo Coroné da Puliça. Nóis ivitô cuntinuá nas brigada dêsse dia, apois nun paricia havê vantage pra nóis. Cumpadi LAMPIÃO deu siná i nóis abrimo caatinga adentro. ZÉ BAIANO já tinha chegado, mas VORTA SÊCA tava sumido. Ninguém creditô qui êle tivesse sido matado! Drumiu nu mato, i nu outo dia quando nóis tava distanciado i cumecemo a cantá MULÉ RENDÊRA, VORTA SÊCA chegô, contano qui teve pirdido, i achô nóis pulo canto da MULÉ RENDÊRA."(cangaconabahia.blogspot.com)

Foto Blog Ct. - Benjamin Abrahão

Fonte: facebook
Página: Sálvio Siqueira

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LAMPIÃO (VIRGULINO FERREIRA DA SILVA)

Por Semira Adler Vainsencher

Apesar de muito inteligente, Virgulino abandona a escola para ajudar a família no plantio da roça e na criação de gado. Torna-se famoso nas vaquejadas. Gosta muito de dançar, de tocar sanfona, compõe versos e adora um rifle. Sabe costurar muito bem em pano e couro e confecciona as próprias roupas.

Lampião costurando

Ele tinha 19 anos quando entrou para o cangaço. Dizem que tudo começou através de disputas com José Saturnino, membro da família Nogueira e vizinha de terras. 

Zé Saturnino inimigo de Lampião

Lutando contra essa família durante muitos anos, Virgulino e seus irmãos já se comportavam como futuros cangaceiros, não tardando a entrar em conflito com a polícia. A decisão de viver e morrer como bandido, contudo, só foi tomada, mesmo, quando a polícia mata José Ferreira da Silva - o patriarca da família - enquanto ele debulhava milho.

Imagem: Família de Lampião (desenho de Lauro Villares utilizando-se de antigos retratos) - Infelizmente eu perdi a fonte desta foto.


No bando de Lampião tinha indivíduos de todos os tipos: gordos, magros, ruivos, louros, morenos, altos, baixos, negros e caboclos. Alguns, inclusive, eram jovens demais: Volta Seca (11 anos), Criança (15 anos), Oliveira (16 anos). O mais idoso era Pai Velho, com 71 anos de idade.

Lampião arranjava, facilmente, armamentos e munições, mas, como o fazia, era um segredo que não contava a ninguém. Uma parte das armas automáticas, para combater a Coluna Prestes, foi adquirida através do Deputado Floro Bartholomeu e do Padre Cícero. Os demais armamentos do bando foram arranjados mediante a intervenção de amigos.

http://basilio.fundaj.gov.br/pesquisaescolar../index.php?option=com_content&view=article&id=320&Itemid=1

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NOTÍCIA URGENTE...

Fez o papel do cangaceiro Sabonete na Minissérie Lampião e Maria Bonita em 1982 - Globo.com

Faleceu hoje (05/01/2016) o ator Antônio Pompeu que interpretou o cangaceiro Sabonete na Minissérie Lampião e Maria Bonita (1982) da Rede Globo.

Filme - Lampião e Maria Bonita (1982) - https://www.youtube.com/watch?v=uiyl7Kl3Mhw

Morreu aos 62 anos o ator Antonio Pompêo. O corpo dele foi encontrado nesta terça-feira (5) por vizinhos em sua casa, no bairro de Guaratiba, zona oeste do Rio de Janeiro. A Polícia Militar confirma a morte. Segundo o delegado local, Pompêo estava morto havia três dias. O Sindicato dos Artistas (SATED) e os atores Milton Gonçalves e Jorge Coutinho estão atrás de familiares do ator, que morava sozinho.

De acordo com informações da 43ª DP, de Guaratiba, um inquérito foi instaurado para apurar as circunstâncias da morte de Pompêo. A perícia do local foi realizada e o corpo encaminhado ao IML (Instituto Médico Legal) para identificação.

A atriz Zezé Motta, que trabalhou com Pompêo no filme "Xica da Silva" (1976) e outras cinco novelas, lamentou a morte do colega em sua rede social.

"Em choque e com muito pesar que comunicado a perda do meu amigo e grande ator Antonio Pompêo. Juntos, trabalhos em 'Xica da Silva', 'Quilombo', entre tantos outros projetos no cinema, na televisão foram mais de cinco novelas onde tivemos a oportunidade em estarmos juntos... Pompêo também presidiu o Centro de Informação e Documentação do Artista Negro, fundado por mim em 1984. A dor é grande! Descanse em paz meu amigo", escreveu a atriz no Facebook.

A Record, última emissora onde Pompêo trabalhou, enviou à imprensa uma nota de pesar pela morte do ator.

"A Record recebeu com pesar a notícia do falecimento do ator Antonio Pompêo. Pompêo está no ar nas reprises das novelas "Prova de Amor" (2005) e "Chamas da Vida" (2008). O ator também esteve no elenco de outras duas produções da Record: "Rebelde" (2011) e "Balacobaco" (2012), seu último trabalho na TV. Externamos nossa solidariedade à família, aos amigos e fãs de Antônio Pompêo", disse a emissora.

Reprodução/Facebook/Antonio Pompêo
O ator Antonio Pompêo
Biografia e principais trabalhos

Nascido em 1953 e natural de São José do Rio Preto, interior de São Paulo, Pompêo atuou em mais de 30 trabalhos na televisão e no cinema. Sua estreia na TV foi em 1975, na novela "A Moreninha", da Globo. Também fez 12 filmes. O primeiro foi "Xica da Silva" (1976), estrelado por Zezé Motta dirigido por Cacá Diegues.

Em 1982, Pompêo interpretou o cangaceiro Sabonete na minissérie "Lampião e Maria Bonita". Na sequência, participou das minisséries "A Máfia no Brasil" (1984), "O Tempo e o Vento" (1985) e "Tenda dos Milagres" (1985). Retornou às novelas em "Sinhá Moça" (1986) e "O Outro" (1987).

O ator trocou a Globo pela Manchete em 1989. Na nova casa, atuou em "Kananga do Japão" (1989), "Escrava Anastácia", "Rosa dos Rumos" e "A História de Ana Raio e Zé Trovão" (1990). De volta à Globo, participou das novelas "Pedra Sobre Pedra" (1992), "Mulheres de Areia" (1993), "Fera Ferida" e "A Viagem" (1994).

Em nova passagem pela Manchete, atuou em "Tocaia Grande" (1995), porém o ator retornou rapidamente para a Globo, onde fez "O Rei do Gado" (1996), "Pecado Capital" (1998) e "A Casa das Sete Mulheres" (2003).

Pompêo assinou com a Record em 2005. Dois de seus trabalhos estão sendo reprisados atualmente pela emissora: "Prova de Amor" (2005) e "Chamas da Vida" (2008). Após breve retorno à Globo, na série "Força-Tarefa" (2010), voltou para a Record e atuou em "Rebelde" (2011) e "Balacobaco" (2012), sua última novela.

Além de ator, Pompêo era artista plástico e ativista dos direitos dos negros. Ele foi diretor de Promoção, Estudos, Pesquisas e Divulgação da Cultura Afro-Brasileira da Fundação Palmares, ligada ao Ministério da Cultura.

Fonte: UOL Notícias

Foto: Wikipédia

Fonte: facebook
Página: Geraldo Júnior
Grupo: O Cangaço

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BENJAMIM ABRAÃO BOTTO E O BANDO DE LAMPIÃO


Benjamin Abrahão Botto (Zahlé, Líbano, c. 1890 - Serra Talhada, PE, 10 de maio de 1938) foi um fotógrafo sírio-libanês-brasileiro, responsável pelo registro iconográfico do cangaço e de seu líder, Virgulino Ferreira da Silva – o Lampião. Abrahão morreu assassinado durante o Estado Novo.

A fim de fugir à convocação obrigatória pelo Império Otomano de lutar durante a Primeira Guerra Mundial, migrou para o Brasil em 1915. Foi comerciante (mascate) de tecidos e miudezas, além de produtos típicos nordestinos, primeiro em Recife, depois para Juazeiro do Norte, com dois burros (chamados Assanhado e Buril) e um cavalo (de nome Sultão), atraído pela grande freqüência de romeiros.

Abrahão foi secretário do Padre Cícero, e conheceu o cangaceiro Lampião em 1926, quando este foi até Juazeiro do Norte a fim de receber a bênção do célebre vigário e a patente de capitão, para auxiliar na perseguição da Coluna Prestes, sendo que não se encontrou com Lampião em 1924, quando de outra de sua visita à cidade, apesar de estar em Juazeiro. A nomeação fora feita, a mando do padre, pelo funcionário federal Pedro de Albuquerque Uchoa, segundo uma autorização dada ao deputado Floro Bartolomeu pelo próprio presidente Artur Bernardes - ordem que em nada adiantou, pois não foi respeitada nos demais estados, resultando que Lampião e seu bando jamais efetuaram perseguição a Prestes. Em 1929 Abrahão fotografou o líder cangaceiro ao lado de padre Cícero.

Benjamim apertando a mão de Lampião
Após a morte de Padre Cícero, Abrahão solicitou e obteve do "Rei do Cangaço" a permissão para acompanhar o bando na caatinga e realizar as imagens que o imortalizaram. Para tanto teve a parceria do cearense Ademar Bezerra de Albuquerque, dono da ABAFILM que, além de emprestar os equipamentos, ensinou o fotógrafo seu uso. Ao menos por duas ocasiões, esteve junto ao bando de Lampião, realizando seu intuito.

Dadá, Corisco e Benjamin Abraão

Abrahão teve seus trabalhos apreendidos pela ditadura de Getúlio Vargas, que nele viu um antagonista do regime. Guardada pela família de libaneses Elihimas, em Pernambuco, a película foi analisada pelo Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), um órgão de censura.

Morreu esfaqueado (quarenta e duas facadas), sem que o crime jamais viesse a ser esclarecido, tanto na autoria como na motivação, donde se especula ter sido mais uma das mortes arquitetadas pelo sistema, como outras ocorridas em situação análoga, a exemplo de Horácio de Matos (embora exista a versão de que o fotógrafo sírio-libanês teria sido alvo de roubo, por algum ladrão, apesar de com este nada de valor haver).

Para a realização do filme Abrahão contou com verdadeiro trabalho de aproximação junto ao bando, que fugia da perseguição cada vez mais feroz do governo. O encontro veio finalmente a ocorrer em um lugar chamado Bom Nome, onde o cangaceiro, desconfiado, primeiro realizou ele mesmo a filmagem do ex-mascate (em trecho que se perdeu) e só então consentiu que fosse filmado. Abrahão retorna a Fortaleza, onde este primeiro sucesso permite-lhe obter mais rolos de filmes, e voltar para registrar os cangaceiros, sendo que o resultado dessa segunda incursão também se perdeu. Abrahão passou a ser considerado suspeito, pois além das filmagens, enviava matérias aos jornais, relatando suas aventuras. O seu conhecimento do paradeiro do bando era indício forte demais, de seu envolvimento com este.

Benjamim abraão deixou para a história o maior acervo existente sobre Lampião e o cangaço. Seria impossível refazer a história com fatos tão precisos se não fossem suas fotografias.


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CINEMA E CANGAÇO NA TERRA DO SOL

Por Fernando Monteiro
O encontro de Abrahão com o bando de Virgulino, em foto tirada pelo cangaceiro Juriti. Da esquerda para a direita: Vila Nova, não identificado, Luís Pedro, Benjamin Abrahão (à frente), Amoroso, Lampião, Cacheado (ao fundo), Maria Bonita, não identificado, Quinta-Feira

A saga do cineasta amador Benjamin Abrahão, o único a filmar Lampião e seu bando de cangaceiros, antes do massacre de Angicos.

Dentre os jovens libaneses que, durante a Primeira Guerra Mundial, deixaram vilas e cidades até hoje obscuras entre as montanhas de cedros, estava um rapaz de Zahelh (a das tâmaras doces) chamado Benjamin Abrahão. Ele seguiu o impulso de evasão, mas em vez do destino preferencial, a América do Norte, foi para o borrão dos edens do hemisfério sul e suas estranhezas: selvas, sertões e sertanejos parecidos com alguns dos imigrantes da sua terra. Abrahão deu adeus às tâmaras em busca dos frutos tropicais ácidos e barrocos no aspecto, naqueles lugares de sol refulgindo em nomes inesperados como "Pernambuco" - com a sua sugestão de oco do mundo e porto de ventos entre fáceis riquezas. Abrahão chegou, assim, a um Recife ainda sereno, cortado por um rio lento. O rapaz dos jardins orientais viu o Derby elegante, os jogos de times de futebol e regatas, os cinemas Royal e o Glória às vezes exibindo filmes locais, cujos letreiros ajudavam a aprender a língua.

No melodramático Filho sem mãe, de Edson Chagas, o imigrante veria, pela primeira vez, a figura de um cangaceiro, ao mesmo tempo mítica e pobre, injuriada e condenada a morrer, no futuro imediato, pela chegada do progresso. Nessa altura, Abrahão vendia tecidos, como um mascate entre os muitos que percorriam as ruas de casas com varais coloridos de roupas ao vento. Passado um tempo, as ofertas do libanês se ampliaram também para farinha, fubá de milho, rapadura e carne do sertão. Esta palavra - "sertão" - viria a fazer parte fundamental da sua vida, embalaria seus sonhos e selaria, um dia, o seu destino. Ele era um montanhês, e sentia falta dos espaços mais livres das pontes graciosas sobre o Capibaribe. Um dia, Benjamin comprou dois burros - Assanhado e Buril -, o cavalo Sultão e um segundo estoque de mercadorias. Em seguida, partiu para Juazeiro do Norte (CE), o antigo arraial "inchado" pelos romeiros do padre Cícero Romão Batista. Começava a aventura cinematográfica do mascate vindo dos sertões do Líbano.

No staff do Padim

Estrangeiro jeitoso e falante, Benjamin Abrahão conheceu logo o Padim Padre Ciço dos cangaceiros e coronéis, e se tornou, com o tempo, nada menos que o seu "secretário para assuntos internacionais". Na louca Juazeiro das fanáticas multidões, passava pela cabeça do padre a possibilidade de ter assuntos de "relações exteriores" para tratar. Foi nessa condição que o nosso peregrino da sorte pôde testemunhar, na verdade, as relações conflitadas no próprio sertão, quando, numa clara manhã de março de 1926, o cangaceiro Lampião e mais 49 cabras triunfalmente entraram na cidade das rezas. Dizem que Abrahão já alcançara status suficiente, naquela "corte", para estar presente à reunião na qual o "primeiro-ministro" do padre Cícero - o deputado Floro Bartolomeu - concedeu a patente de "Capitão" ao controverso "afilhado" do religioso, a fim de atraí-lo para a luta contra a Coluna Prestes, inimiga do governo do presidente Artur Bernardes.

Virgulino Ferreira da Silva desde o primeiro momento impressionou o assessor juazeirense para assuntos das "estranjas". Ali estava uma espécie de guerreiro de Saladino, agarrando o seu punhal de 48 centímetros com dedos morenos enfeitados dos anéis de pedras duvidosas. Tinha senso da cena, nas suas chegadas e ataques: vestia-se com uma roupa de campanha atravessada de bandoleiras que lembravam mexicanos revoltosos, sem perder nada do exame de uns óculos de finos aros de ouro a lhe darem certa distinção equívoca, feita de segurança e ameaça. Desfilando pela rua, pisava forte como um príncipe tisnado, e dava entrevistas, era fotografado pelos repórteres (Lauro Cabral e Pedro Maia) convidados do "Dr. Floro".

Com senso de decoro, o bandoleiro não se hospedou na casa vizinha do "coroné", nem muito menos foi se aboletar numa casa próxima da residência casa paroquial. Ficou alojado no lar do comerciante e cordelista João Mendes, amigo de Abrahão Benjamin. "Tem um filme nisso tudo" - é possível que ele tenha pensado, lembrando dos cinemas do Recife. Seja como for, a impressão ficou, indelével, nas retinas do almocreve e antigo fã de Tom Mix. Abrahão era, agora, fã do cavaleiro andante do sertão de verdade, no "Oeste" da seca queimando entre os santos e pecadores cantados em folhetos.

Passou o tempo. Aclimatado aos Brasis, mais adiante o libanês-brasileiro estava em outro cenário: num cinema da avenida Rio Branco, em julho de 1931, já casado com cabocla cearense que o acompanha em viagem de férias ao Rio de Janeiro. No Cine Parisiense, ele recebeu o impacto de A fera do Nordeste, documentário da época do filão aberto pelos filmes sobre crimes, trazia fotos da "chacina do rio de Peixe", na Bahia, Um retrato realista das fammigeradas acções do famoso bandido Lampeão.

Na vida de Abrahão, tal impacto foi ao mesmo tempo bom e mau: bom, porque ele viu que o assunto já despontava nas telas, e mau, porque aquela "fera" nordestina não correspondia à imagem viva do homem que ele pudera ver na cidade dos romeiros. Mais do que de perto, na verdade ficara ao alcance da perscrutação aguda do olho bom do "Cego", espécie de olhar de Anjo da Vingança, ou de Demônio de Astúcia, atravessando um sujeito. Nunca o esqueceria.

Em busca do protagonista 

Quando voltou para o sertão, Abrahão se associou com dois tropeiros - Noel Cassis e Zé da Bodega - que gostavam de conversar sobre Virgulino Ferreira. Zé dizia que, aos 15 anos, conhecera o cangaceiro, ainda um artesão de selas, cabrestos e arreios bem feitos, que ele vendia nos dias de feira em vilas do alto sertão pernambucano. Por isso, podia falar dos motivos pessoais, que Virgulino tivera, para entrar na vida de bandoleiro: vingar a morte do pai e outras humilhações sofridas nas disputas com um fazendeiro de Vila Bela (José Saturnino) e a jagunçada a seu serviço. Por Noel, o mascate ficou sabendo que, muito recentemente, dois americanos tinham andado pelas caatingas, com "máquinas de fazer filmes", dispostos a mostrar "o paradeiro do bando de Lampião". Sabedor da sabujice dos sujeitos afoitos na sua pista, parece que o celerado tinha mandado "dar um susto nos gringos" - o que fora feito (e bem feito). Os dois cineastas desistiram da empreitada e foram para Juazeiro, com o intuito de aproveitar o espetáculo das procissões de romeiros. Deviam estar lá, naquele momento.

Foi assim que os dois aventureiros - seus nomes se perderam - foram procurados por Abrahão, mais do que nunca interessado em câmeras e truques de cinema. Servindo de guia para os ianques na cidade que era a sua base, Abrahão se inteirou dos erros cometidos por eles, nas tentativas de aproximação do arisco "Capitão", e também de como funcionava aquele equipamento capaz de imortalizar as criaturas pelo menos em celulóide (o que era, sim, um milagre verdadeiro).

Outro milagre era a sorte que Abrahão, o Pai, reservara para o filho do Líbano: estar em condições de pedir carta de apresentação do Padim para o Cego que gostava de cinema, quando acontecia de encontrar algum em funcionamento nos lugares que ele invadia como se fosse o Pancho Villa. Os americanos contaram que o ex-bandoleiro Pancho fora, um dia, procurado no seu retiro de Chihuahua - depois dos anos de "revolucionário" -, para encenar as batalhas contra os "federales", diante de uma equipe de Hollywood. A oferta em dinheiro, atraente para o velho "general", fizera Villa sair dos seus cuidados e se lançar à tarefa de reunir antigos comandados, com armas e outras lembranças guardadas em casa. Feito isso, aconteceram as filmagens veristas e violentas, no meio da poeira. Nada foi aproveitado pelos produtores de Los Angeles. Ou seja, o contrário da meta cinematográfica do ex-mascate, que agora lidava com o comércio de pedras preciosas e queria filmar cangaceiros de carne e osso, no seu áspero hábitat em vias de mudança, naquele Brasil dos anos 30: um país que não admitia lidar com os redutos do banditismo rural individualista.

Sandálias ao contrário

Certo de que o cangaço "estava com os dias contados" (ouvia isso nas rodas de Juazeiro e da boca torta do deputado Floro Bartolomeu), Abrahão Benjamin sentiu a urgência de filmar o bando de Virgulino Ferreira, no seu cenário. Contou com a influência do Padim e de alguns bons contatos na rede dos coiteiros que, bem ou mal, garantiam os meios de proteção do bandido. Era um trançado de nós de confiança misturados com o poder da ameaça e das altas quantias, pagas pelo cangaceiro.

O antigo mascate resolveu se internar na sombra perigosa da busca dos "coitos" e esconderijos do chefe cheio de truques e mestre da contra-informação. Lampião nunca dormia dois dias no mesmo lugar. Ao "farejar" perigo, fazia seus homens calçarem as sandálias de couro ao contrário, a fim de mudar o ir para o "vir" falso dos cabras, e espremia roupa ensangüentada, nas trilhas, para dar a impressão de arrastar muitos, no cálculo dos seus perseguidores. E, principalmente, vigiava a lealdade dos sertanejos incumbidos de levar, para o chefe e os subgrupos, os víveres necessários, as armas e as notícias, vitais, da movimentação dos macacos (os soldados das volantes).

Virgulino Ferreira da Silva gostava de ver filmes, quando havia quem os projetasse para ele e seus cabras. Na invasão da cidade sergipana de Capela, em 25 de novembro de 1929, quando tomou o lugar na companhia do irmão (Ezequiel) e dos famosos Zé Bahiano, Volta Seca, Arvoredo, Mourão, Gavião e Moderno, ele encontrou um cinema funcionando. O filme em exibição era Anjo das ruas, com Janet Gaynor. À surpresa da entrada daqueles novos espectadores, foi-se a música do pianista e do sanfoneiro presentes. Pouco depois, pararam a projeção. Lampião apenas dardejou um olhar inquisitivo na direção da cabine às escuras. A sessão recomeçou, mas tão nervosa e confusa, na troca dos rolos de filme , que o bandido se retirou com os seus. Zé Bahiano, dizem, costumava atirar na tela, contra os soldados romanos da Paixão de Cristo.

Assim, quando um obstinado Abrahão Benjamin fez chegar o seu primeiro recado, Lampião apenas mandou perguntar se o estrangeiro teria mesmo coragem de vir se embrenhar "nas sertãs do inferno". Em resposta, Abrahão garantiu que era o que mais queria, depois de aumentar a fama do "Capitão" promovido no Juazeiro ("Lampião lembrava-se dele?"). No passo seguinte, o antigo mascate seguia a caminho de Fortaleza, onde sabia que o cearense Adhemar Bezerra Albuquerque, dono da Abafilm, possuía uma câmera 35 mm disponível. Era uma engenhoca de corda, da marca Nizo Kiamo, com lente normal Zeiss, que Abrahão contava poder dominar, com um treino básico e muita vontade de pôr na frente da Zeiss aquele violento fantasma do Brasil profundo.

Adhemar Albuquerque foi conquistado para a idéia da produção de um filme-reportagem sobre o mais célebre dos cangaceiros. Dele, Abrahão levou a tal câmera, cinco rolos de 100 pés de filme Gevaert Belgium e mais uma máquina fotográfica Interview Établissements André Debrie, carregada com cartuchos. Adhemar também lhe deu noções elementares do manejo do equipamento, com a recomendação de que os filmes teriam de ser bem protegidos e revelados na processadora de origem francesa que compunha o estúdio da Abafilm, no começo de 1936.

Diante da "costureira"

Passando por Juazeiro, Abrahão fez mais alguns testes de câmera com padre Cícero e depois partiu em busca da aventura da sua vida, tomando o rumo do interior de Alagoas. Em maio daquele ano, estava no sítio das Emendadas do velho Bilé, parada de "reconhecimento", onde foi abordado por dois cabras (um dos quais, o temível Sabonete) enviados pelo "Capitão", depois de mudanças e rumos novos, traçados por emissários discretos, cruzando aquelas paragens como simples tropeiros. Abrahão chegou ao seu destino, na viagem ao centro da terra do seu interesse: foi levado, com o equipamento, para as terras da fazenda Bom Nome, onde esperou ainda algumas hora antes de se apresentar diante do homem que, durante anos, não havia esquecido, na sua estranha magnificência. Dele ouviu uma pergunta hostil, já que boas-vindas Lampião só dava ao Padim Ciço: "Cuma é que você chegou aqui com vida, cabra velho?".

A primeira tomada feita no reduto de Bom Nome foi operada pelo próprio chefe dos cangaceiros. Foi o take número 1 da produção que restaria incompleta, inacabada e parcialmente destruída nos porões da ditadura Vargas. Ao fazê-lo, Lampião se tornou o cineasta de si mesmo, o diretor de uma cena que mostrava Benjamin Abrahão olhando para a câmera e fincada, sobre o rústico tripé de madeira da Abafilm. Isso aconteceu porque um homem com a história de Virgulino teria de desconfiar até da própria sombra alongada sob os céus da tarde. Ou seja, seus óculos examinaram a geringonça de metal, cheia de parafusos e manivelas, meio parecida com as "costureiras" (como chamavam as metralhadoras). E o "cabra velho", afinal, o que havia de querer com ele?

Mandou, portanto, que Abrahão montasse a coisa, de imediato, e ficasse na frente dela. Só então largou do fuzil e, pedindo instruções, acionou, ele mesmo, a máquina misteriosa. Ela fez um som cavo, de algum tatu-bola rodando numa caixa de alumínio, e foi tudo. Estava feita a primeira cena, perdida para sempre. Em seguida, foram ao almoço tardio - o estranho da máquina sem balas como convidado do "Capitão".

Abrahão, naquele primeira "temporada", ficaria cinco dias no coito de Bom Nome e mais um outro acampamento provisório. Fez fotografias (Lampião gostava delas) e gastou os cinco rolos 35 mm com as primeiras cenas, nas quais apareciam Lampião e Maria Déa ("Maria Bonita", no imaginário popular), além de Cacheado, Luiz Pedro, Elétrico, Gorgulho, Vila Nova, Marreca, Juriti, Zabelê e outros homens enfeitados ao máximo para aparecer "dentro da geringonça do turco".

Dançarino e escrevinhador

Usados os primeiros rolos, o produtor arrojado correu para Fortaleza, a fim de revelar aquele material inacreditável, histórico, etnográfico e documental da mais alta importância. Estava apenas no começo do projeto que rolava na sua cabeça.

Pretendia voltar para prosseguir filmando um modo de vida já condenado a morrer, pelas ordens - cada vez mais impacientes - do Rio de Janeiro: o "cangaço" é para ser extirpado, e seus favorecedores e admiradores, castigados pelas forças policiais e de segurança vigiando, ao máximo, os focos de resistência e simpatia para com a sobrevivência, anômala e bizarra, de sertanejos violentos e desafiadores dos poderes da República.

Tudo se revelou melhor do que o esperado, na processadora importada da Abafilm. A primeira tomada, feita pelo "Cego", estava perfeita na angulação e na luz do acaso movendo o dedo mais acostumado com o gatilho. Aqui e ali, acontecera alguma subexposição do negativo, pelo amadorismo do "iluminador" que nem sempre verificara, também, o perfeito encaixe da fita na grifa. A imagem, em conseqüência, tremia um pouco, por momentos, até o celulóide se ajustar, naturalmente, no chassi da Nizo. Normalizadas, tais cenas até pareciam refletir, pitorescamente, o nervosismo do cineasta diante da "fera do Nordeste" desembainhando seu longo punhal exibido para a lente.

Adhemar Albuquerque ficou, mais do que nunca, entusiasmado com a co-produção ousada. Forneceu uma boa quantidade de latas de filme ao seu sócio, e o instruiu em mais alguns detalhes técnicos, antes de ver o homem temerário partir, de novo, para o mistério das trilhas mal escondendo, agora, um cangaceiro perseguido com fúria nova. Ao mesmo tempo, a façanha do árabe era notícia em jornais como o Correio de Aracaju, não deixando de se insinuar certo receio de o futuro filme vir a dar contornos de herói a um velho "inimigo do povo". Em outubro, apareceram matérias redigidas, de Piranhas (AL), por Abrahão a caminho de um novo encontro com Lampião e, agora, francamente malvisto pela polícia. Como é que o gringo poderia saber das tocas e dos descansos do Cego, de modo a filmar aquela gente posando como "artistas"?

Quando Abrahão mais uma vez sumiu de vista, todo mundo sabia que deveria estar em algum lugar perdido da caatinga, na companhia do "cínico facínora", dormindo nos bivaques, de dia, para se movimentar durante a noite. E era assim mesmo. Só que, agora, tudo estava sendo impresso nos rolos de filme de que restou só uma parte das cenas de Lampião escrevendo bilhetes, costurando numa máquina (macho à prova das Singers), fingindo atirar e, logo, dançando perfumado como uma "mulé-dama".

Seus cangaceiros apareciam cumprindo ordens de rotina: caçar, preparar comida etc., e também junto com as poucas mulheres introduzidas nos grupos, tudo em boa e espartana disciplina, na medida do possível. Um mundo de homens, organizado para cabras dispensados de se retardar fazendo agrados em mulheres talvez cansadas das longas caminhadas ("diagnóstico" que se ouvia, com outras palavras, quando ainda estavam vivos muitos dos cabras e sertanejos contemporâneos de Virgulino Ferreira da Silva).

Não havia saída para o cangaço, por volta do terço final da década de 30. O cerco se fechava, sob o tacão da Nova República, e na dobra da falta de lealdade de alguns coiteiros abrindo caminho para o massacre de Angicos. Por um leito sinuoso de traições, armou-se a armadilha para Lampião e seus comandados, na manhã do dia 28 de julho de 1938. A história é bem conhecida. Só alguns poucos dos cabras escaparam, e os mortos de destaque (Virgulino Ferreira e Maria Déa, entre eles) tiveram as cabeças decepadas e levadas, no mesmo dia, para exposição improvisada na calçada da prefeitura de Piranhas.

Homem implacável 

Onde estava Benjamin Abrahão, que não apareceu para acrescentar um tão horrível epílogo ao projeto do seu filme? O ex-mascate que se tornara o cineasta de uma obra só, rodada em duas temporadas nas caatingas, já estava morto a essa altura. Sua vida tomara rumos estranhos, após voltar a Fortaleza, depois das últimas tomadas de 1936, noticiadas na primeira página da edição de O Povo de 9 de janeiro de 1937, com manchetes em negrito: "O Filme de Lampeão - Regressou a Fortaleza o Ex-Secretário do Padre Cícero - Uma Entrevista a O POVO sobre os seus Encontros com o famoso Cangaceiro. Como o Sr. Benjamin Abrahão conseguiu apanhar o Grupo - A Mulher de Virgulino Ferreira - As Precauções do Bandido".

Suas "atividades" haviam despertado o mais vivo interesse da polícia. Três dias depois da publicação da matéria, o homem do filme foi ouvido, em depoimento, pelo sargento Optato Gueiros, um dos mais ferozes perseguidores de Lampião. Optato fora cabra do bando de Sinhô Pereira, onde conhecera o jovem Virgulino (obsessão de 17 anos da vida do cabra depois transformado em macaco caçador de bandoleiros). Esse homem implacável "apertou" Abrahão de muitas maneiras, e a montagem do documentário foi feita, na Abafilm, debaixo de um clima de medo da polícia desconfiada dos "filmadores de cangaceiros".

Abrahão ficou assustado. Viajou para Pernambuco. Deixou seu filme por ser ordenado pelo menos num conjunto mais ou menos lógico das cenas que ele pretendia comentar, ao vivo, nas apresentações um dia sonhadas, ao conceber o documentário como uma espécie de esforço de "humanização" da figura anatematizada como fera, celerado, facínora e monstro bandido inimigo do governo e do povo. Em Águas Belas, no dia 10 de maio de 1938, o documentarista amador apareceu morto, com 42 facadas, supostamente dadas por um ladrão em busca das pedras que o antigo comerciante já não trazia nos bolsos. E quando, afinal, se pôde exibir, no Ceará, uma primeira montagem do filme Lampeão, o seu autor já estava sepultado com os segredos nos quais, eventualmente, poderia ter se enfronhado a respeito do bando que a polícia iria aniquilar, dois meses depois. Essa sessão - no Cine Moderno - não foi aberta ao público, mas especial para o então chefe de polícia, capitão Cordeiro Neto, e outras autoridades presentes à projeção privada de 2 de julho de 1938.

Alguns jornalistas - convidados da polícia - fizeram eco ao protesto dos homens de farda, após se acenderem as luzes. Um deles perguntou, mais tarde, em tipos impressos: "Haverá, porventura, maior vergonha para nós do que assistirmos, país afora, a uma película, em série, do famoso assaltante de lares, de bolsas e de vidas, que é Virgulino?". Apreendida pelas instâncias de segurança federal - sob a alegação de "ser de molde a comprometer a ordem pública" -, a obra de Abrahão Benjamin foi parar num porão do DIP (Departamento de Imprensa e Propaganda) de Lourival Fontes, o Goebbels tupiniquim do Estado Novo. E lá ficaria por 20 anos, oxidando em meio ao mofo e à poeira, até ser recuperada, por Alexandre Wulfes e Alcebíades Ghiu, em 1957. Estava reduzida a cerca de 15 minutos de filme ainda aproveitável para se fazer as cópias que, então, puderam se espalhar pelo mundo, talvez chegando, quem sabe, muito próximo de algum Cinema Paradise das montanhas da terra natal do cineasta das caatingas.

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