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sexta-feira, 11 de maio de 2012

Francisco Ramos de Almeida, vulgo Mormaço em interrogatório



Auto de perguntas feito ao cangaceiro. Dado à autoridade policial da cidade do Crato/CE, em 9/8/1927.

(Em grafia e formatação original)

Aos nove dias do mês de Agosto do anno de mil novecentos e vinte e sete, as treze horas, nesta cidade do Crato, Estado do Ceará na delegacia de policia, onde estava presente o delegado em exercicio, major Raymundo de Moraes Britto, commigo, escrivão do seu cargo, abaixo nomeado, ahi foi apresentado o preso - Francisco Ramos de Almeida, por alcunha de Mormaço, de vinte (20) annos de idade, filho de Jose Ramos de Almeida, solteiro, natural do municipio de Araripe, logar “Baixio do Ramos”, deste Estado, não sabendo ler nem escrever.

Interrogado a respeito do que causa a sua prisão, disse: - que no anno de mil novecentos e vinte e quatro (1924) elle respondente, residindo em Araripe, deste Estado, seguiu com destino a Ouricury, no Estado de Pernambuco, afim de assentar praça na policia desse Estado, cujo alistamento estava sendo feito pelo Sr. capitão João acob, pertencente á mesma; que chegando ali o tenente Manuel Antonio, elle respondente, em companhia deste seguiu para São Gonçalo e dali até Valença, no Estado do Piauhy, onde deram combate aos revoltosos, sob o commando do coronel João Nunes; que, dali, voltando, effectuaram diversas volantes, terminando no logar “Custodia”, do Estado de Pernambuco, onde, devido á quebra de disciplina para com o cabo commandante da força, foi por este motivo excluido, tendo servido nesta corporação cerca de um anno e cinco meses, mais ou menos; que dali veio para o logar “São Francisco”, do municipio de Villa Bella, encontrou-se com o grupo de Lampeão, no qual foi apresentado como um dos soldados que já o havia perseguido; que nessa occasião Lampeão tentou mata-lo e depois o convidou para andar em sua companhia, sob pena de morte; que, em vista da ameaça, o respondente preferiu acompanhá-lo; que, no dia seguinte, mais ou menos no meiado do anno de mil novecentos e vinte e seis, seguiu todo o grupo, acompanhado de guias, embrenhando-se na matta, com destino ao Estado de Alagoas; que o grupo nessa occasião se compunha de cincoenta (50) homens, na sua maior parte armados de fuzis e mosquetões mauser, e alguns rifles, todos bem municiados, sendo que diversos possuiam um equipamento de oitocentos (800) e mais cartuchos; que o grupo saiu na povoação de “Entre Montes”, no Estado de Alagoas, donde seguiram para “Olho dagua das Flores, passando pelos logares “Capim” e “Pedrão” e dali com direção a “Sertãozinho”, onde tencionava o grupo atacar, o que não foi realizado pelo motivo de ali se achar um forte destacamento que na viagem Lampeão chefiava um grupo e seu irmão Antonio Ferreira, outro, os quaes estavam unidos que nas villas e povoações onde passava o grupo roubavam o que encontravam e incendiavam as fazendas das lojas e quanto ás peças de ouro e outros objectos que encontravam, tomava cada um, para si, o que achavam; que, quanto adinheiro, quando um dos companheiros achava maior quantidade, ou melhor, importancia mais elevada, era dividida a metade para Lampeão; que do Estado de Alagoas, regressaram com destino ao de Pernambuco, e que em viagem, quando se achavam acampados em uma fazenda, foram vistos por um dos destacamentos da policia alagoana; que este tendo disparado alguns tiros contra o grupo deu causa a este continuar a viagem; indo homisiar-se na fazenda “Patos” no municipio de Princeza, do Estado da Parahyba, de propriedade do cel. Marcolino Diniz, residente em Princeza; que o cel. Marclino Diniz é protector de Lampeão e de Sabino Gomes; que o grupo demorou-se na fazenda “Patos”, por essa epoca cerca de quinze dias; que dali seguiu o grupo para a fazenda “Poço do Ferro” para a casa do coronel Angelo da Gia, onde emorou-se mais de um mês, porque naquelle local Lampeão é bem recebido e não teme ataques de forças, por ser o coronel Angelo pessoa influente e chefe dos logares circumvizinhos, de forma que, quando ali chega um grupo, elle telegrapha dando um roteiro muito differente, desorientando assim as forças que perseguem o grupo; disse mais o respondente que o coronel Angelo é um dos maiores fornecedores de munição a Lampeão, alem da proteção que lhe dispensa; que o coronel Angelo sempre recebe dinheiro de Lampeão por pagamento de munição e tambem por gratificações de serviços prestados; que o major Numeriano, morador na Villa de Rio bRanco, é protector de Lampeão e do seu grupo, pois o grupo já se tem homisiado nas suas fazendas Santa Rita e Cavaco, onde demora dias sem o maior receio; que o major Numeriano fornece munição ao grupo, recebendo por pagamento dinheiro, que lhe manda Lampeão; que os vaqueiros do major Numeriano, de nomes - Jose Juvino e Manuel Ignacio são quem auxiliam o grupo nas suas necessidades; que o vaqueiro Manuel Ignacio reside na fazenda Cavaco e Jose Juvino na fazenda Santa Rita; que ainda é protector de Lampeão, o major Tiburtino morador distante sete leguas da cidade de Floresta, no mesmo Estado de Pernambuco, o qual se encarrega do tratamento de feridos do grupo de Lampeão, mediante gratificação em dinheiro, que lhe dá o mesmo Lampeão; que o cel. Pedro da Luz, morador no lugar Barrinha, municipio de Belem de Cabrobó, e proximo a Serra dUman cerca de uma legua, muito protege Lampeão, fornecendo munição e occultando o grupo na mesma serra, em logares delle conhecido, desviando por todos os meios a pista do grupo; que o mesmo cel. recebe de Lampeão dinheiro a titulo de gratificação pelos serviços prestados; que estando o grupo afastado seis legoas de Villa Bella, elle respondente ouviu Lampeão dizer que estavam ali a mandado do major Theophanes e que ele ia mandar um portador, em Villa Bella, buscar munição; que Lampeão escreveu um bilhete ao major Theophanes, pedindo munição e que o portador era um rapaz, morador na serra, justamente no logar onde estava o gruo; que elle respondente viu o portador ir e voltar, trazendo mil cartuchos, cuja munição o respondente verificou ser para fuzil a qual foi distribuida entre os grupos, inclusive o respondente; que, no dia seguinte, o respondente com os demais foram atacados por uma força sob o commando do tenente Gino e sargento Manuel Netto, resultando a morte de diversos soldados, e que a luta durou cerca de doze horas; que ouviu Lampeão dizer, por diversas vezes, que tinha mandado quinze contos de reis para o major Theophanes, afim deste protegê-lo; que o grupo passou diversas vezes pelas fazendas do major Theophanes, porem em nada as offendiam, porque sabiam que era para em nada as offender; que, na occasião em que o grupo foi atacado pelas forças commandadas pelo tte. Gino, este ainda compunha-se de cincoenta homens; que na occasião do fogo a que o respondente se refere acima, ainda se encontrava com o grupo o caixeiro viajante de nome Mineiro, o qual tinha sido preso por Lampeão, dias antes entre Flores e Villa Bella, tomando deste quatro contos de reis e o sujeito mais a oito contos pela liberdade que no dia seguinte Lampeão dispensou ao rferido caixeiro e este seguiu com destino ao logar Bethania; que logo ao entrar para o grupo , soube o respondente que Lampeão enviara quinze contos de reis para o major Theophanes afim deste facilitar a munição para o grupo; que deste logar o grupo se dirigiu a Cabrobó e voltando passaram por Granito, indo acampar na fazenda Ipueira, de propriedade de Antonio Xavier, pessôa esta que mantinha amizade com Lampeão, onde este recebeu visita de Apparicio e Francisco Romão, os quaes forneceram comida e trataram bem o grupo; que depois da attitude tomada pelo governo de Pernambuco, os acima referidos não protegeram mais e perseguiram tambem o grupo; que de Ipueira seguiram com destino á Serra dUman, onde passaram dois mezes, occultado pelo Cel. Pedro da Luz, que fornecia todo o necessario, neste local de sua propriedade; que deste local sairam com destino ao Ceará, vindo arrancharem-se ao pé de um açude no logar Custodio, do Estado do Ceará, sendo no dia seguinte cercados pela força do sargento Arlindo, travando-se um forte tiroteio, durante três horas, resultando a morte de dois cangaceiros cujos nomes são: Manuel Nogueira e Joaquim Leite, que ha tempo acompanhava Lampeão; que sairam dois outros feridos e que são: Arminio Xavier, vulgo Chumbinho e Mergulhão, este ferido levemente no braço e aquelle, gravemente, motivo porque ficou, digo, porque acompanhando o grupo, teve que ficar em tratamento na Serra do Matto em uma casa, cujo morador o respondente não sabe o nome; que na occasião em que o grupo foi atacado pela força commandada pelo sargento Arlindo, compunha-se de 50 homens, cujos nomes são:

Lampeão, Sabino Gomes, Jararaca, Mareca, Ezequiel, irmão de Lampeão, Ignacio Medeiros, vulgo Jurema, Navieiro, Domingos, vulgo Serra dUman, Jose Pretinho, Francisco Ramos, vulgo Mormaço, Luiz Pedro, Vicente Feliciano, Luiz Sabino, Lua Branca, irmão do cangaceiro Marcelino, Elisiario, vulgo Barra Nova, Arminio Xavier, vulgo Chimbinho, Nevoeiro, Damasio, vulgo Chá Preto, Salú, Juriti, Colchete, Fortaleza, Antonio Rosa, vulgo Mergulhão, Coqueiro, Creança, que pudera ter quinze annos de idade, Antão, Virginio, cunhado de Lampeão, Jose Delphino, Cornelio, vulgo Trovão, Euclides, João Marcelino, vulgo 22, Frazão, vulgo Pae Velho, Palmeira, As de Ouro, Bemtivi, Balão, Oliveira, de cerca de dezoito annos, Jose Izidio, vulgo Pinga Fogo, Moreno Jatobá, Manuel Nogueira, Joaquim Leite e outros que não se lembra dos nomes;

que Chimbinho tendo sido ferido, Lampeão resolveu deixa-lo na Serra do Matto, como já referiu o que fez, deixando-o na companhia de João Marcelino, vulgo 22, Lua Branca, Balão, Relampago e Manuel Mauricio; que ainda ficaram no Estado de Pernambuco, os cangaceiros Manuel Antonio e Francisco Antonio, que são residentes no logar Barreiros; que por duas vezes Lampeão foi acampar no logar Serra do Matto e que quando acamparam sempre recebiam munição de Julio Pereira, que ahi residia, se encarregando tambem, de fornecer gado alheio para sustento do grupo e que sempre deixavam animaes nas mãos de Julio Pereira, para trata-los; que quando deu-se o fogo de Custodia o respondente cm o grupo, passou meia legua afastado da Serra do Matto em virtude de se achar ali destacado o sargento Firmino e vinte praças passando afastado de Brabalha uma legua, na direção do Riacho dos Porcos, indo dormir na fazenda Varzinha, de propriedade do Sr. Filemon Telles, onde foi morto um boi, que Lampeão pediu ao vaqueiro; que passaram nesta fazenda em virtude de ser a estrada que desejavam seguir; que no dia seguinte o grupo levantou acampamento, passando nos logares Canto do Feijão e Piões, já no Estado da Parahyba; que antes o grupo esteve no logar Antas, municipio de Aurora, entraram para o mesmo grupo os individuos Antonio Leite, vulgo Massilon e seu irmão Manuel Leite, , os quaes estavam homisiados na Serra do Diamante, do mesmo municipio, sob a proteção de Jose Crdoso e Izaias Arruda; que o grupo ao passar na Serra do Diamante, Lampeão ali deixou três cangaceiros sob a proteção de Jose Cardoso, cujos nomes são: Marreco, Xexeú e Cafinfin, os quaes o respondente ainda não s havia referido anteriormente; seguindo depois ate o logar Belem, onde houve resistencia, não conseguindo o grupo entrar no povoado, donde o grupo voltou pela catinga, ate a Serra do Diamante, municipio de Aurora, neste Estado, onde ficou occulto cerca de um mês, sob a proteção de Jose Cardoso e Izaias Arruda e Gustavo, e que o delegado de policia de Aurora de nome João Macedo, tambem sabia pois, foi ali visitar o grupo; que o respondente viu o delegado referido, na Serra do Diamante, em visita a Lampeão, uma vez, que Izaias Arruda fôra ali, tambem duas vezes e que Jose Carsoso ia sempre, um dia, outro não; que tambem esteve ali Julio Pereira, na companhia de um filho do Cel. Sant’Anna , conhecido por Zezinho e nesta occasião Sabino Gomes deu três contos de reis a Julio Pereira para este botar uma bodega em Joazeiro; que Lampeão nesse espaço de tempo, recebeu de Izaias Arruda dois mil cartuchos, entregues por intermedio de Jose Cardoso, que sempre era acompanhado de Gustavo e Jose Gonçalves, irmão daquelle; que todas essas pessoas sabiam que Lampeão estava se preparando para ir atacar Mossoró no Rio Grande do Norte, ataque este que era acomselhado por Izaias Arruda e Jose Cardoso, que diziam alli existir pouca força e se tornar facil, assim, o roubo; que em vista disto seguiu o grupo guiado pelo vaqueiro de Jose Cardoso, de nome Miguel, por veredas, numa extensão de dez legoas dali voltando, ficando como guia Massilon, que conhecia todo o caminho; que a viagem se fazia sempre á noite e durante o dia escondiam-se no matto; que o respondente sabe por ter ouvido Lampeão dizer e disto ter certeza, que este, por intermedio de Jose Cardoso, enviou vinte contos de reis para serem entregues a Izaias Arruda, afim deste, quando voltasse o grupo do Rio Grande do Norte, fornecer munição precisa; que isto deu-se quando o grupo ainda se encontrava na “Serra do Diamante”; que o respondente assistiu com os demais ao ataque a cidade de Mossoró, no Rio Grande do Norte, durante o tiroteio de quatro a seis horas da tarde; que do ataque resultou a morte de dois cangaceiros de nome - Colchete e Jararaca e que nessa occasião o grupo se compunha de cincoenta homens, mais ou menos; que em vista da resistencia offerecida em Mossoró, o grupo recuou, passando pela Villa de Limoeiro, neste Estado, onde o grupo tirou photographia; que em Limoeiro, demorou, o grupo, meio dia; que de Limoeiro marchou o grupo para o “Serrote Vermelho” e ao sairem, digo, e quando ali estavam homiziados, foram informados por um morador dali de nome Ottilio Salustiano de que vinha uma força parahybana e cearense fazer uma batida no mesmo serrote; que em vista disto, tomou o grupo uma vereda e ao sair na estrada encontraram-se com a força travando-se um forte tiroteio; que o grupo nessa occasião vinha todo montado e que em vista do tiroteio, viram forçados a abandonar os animaes e alguns nas sellas; que nesse tiroteio saiu ferido o cangaceiro Heleno Caetano, vulgo “Moreno”; que desse ponto o grupo correu, indo homiziar-se no luagr “Riacho do Velame”, onde se arrancharam, entrincheirando-se tendo ahi um morador muito conhecido de Antonio Leite, vulgo Massilon o qual a mandado de Lampeão foi comprar farinha e rapaduras, isto pela tarde e que a noite Sabino Gomes indo a casa deste morador com o fim de comprar uma creação, quando foi avisado que a força já se achava proxima da morada; que nessa occasião Sabino voltou e avisou a Lampeão o roteiro da força, respondendo este que dali só sairia depois que brigasse com a força e, em seguida, tomou as cabeceiras do riacho entrincheirando todo grupo que ao amanhecer do dia seguinte cerca de seis horas, a força com um guia da casa foi ter ás barreiras do Riacho, travando-se o tiroteio do lado em que estava Lampeão, e que este depois allegou ter atirado em um tenente, o qual caiu; que o tiroteio demorou três horas, francamente e que o grupo respondia ao ataque da forçacom a mesma fuzilaria; que não saiu nenhum cangaceiro ferido e nem orto; que gastaram quase toda munição, ficando cada um, mais ou menos, com cincoenta a sessenta balas; que continuavam presos no mesmo local da luta, o Sr. Antonio Gurgel e uma senhora de que o respondente não sabe o nome, dos quaes Lampeão exigia vinte contos de Antonio Gurgel e trinta da referida mulher, pela sua liberdade; que desse local seguiram e, chegando nas vizinhanças da casa de Ottilio Salustiano, já referido acima, oito leguas distante do local da luta, o respondente, em companhia de sabino Gomes, foi deixar os referidos presos a quem Lampeão deu liberdade e algum dinheiro para a viagem; que deste local seguiu o grupo, por dentro do matto, acompanhado de guias e algumas vezes andando pela estrada porem eram repellidos pela força cearense que estava em seu encalço e novamente os obrigava a internar-se na matta; que nessa marcha veio o grupo ter á “Serra do Diamante”, já alludida atrás, onde homiziou, sob a proteção de Jose Cardoso que nesse mesmo dia conduziu um bocado de munição e a entregou a Lampeão, que a distribuiu com o pessoal do grupo; que no dia seguinte Jose Cardoso foi novamente á Serra do Diamante e ali convidou Lampeão para com o grupo vir para o sitio Ipueiras de sua propriedade, convite este que foi acceito, vindo o grupo logo em companhia do mesmo; que o grupo ao chegar em Ipueiras demorou dois dias, acampado numa manga proximo a um açude; que no primeiro dia Jose Cardoso forneceu almoço e jantar; que no segundo dia quando chegou o almoço, mandado tambem por Jose Cardoso, ao provarem-no alguns acharam amargoso, sendo que três delles enguliram alguns bocados, sentido logo após convulsões; que Lampeão e os do grupo desconfiaram que aquella comida estivesse envenenada e por isto Lampeão resolveu abandonar o ponto em que estava o grupo; que quando se preparavam para levantar acampamento verificaram que o pasto da manga estava incendiando e por isto ainda mais apressaram a fuga, saltando algumas cercas; que nessa fuga, morreram, logo adeante, os três cangaceiros que sentiram convulsões, depois da comida alludida, cujos nomes são: Mergulhão, Gavião e Fortaleza os quaes foram enterrados num riacho, pelo grupo; que o grupo tomou a direção da Serra de São Pedro, e, antes de ali chegar, mudou de rumo na direção de Ingazeiras, e distante duas leguas deixou o respondente o grupo, com o conhecimento de Lampeão, a quem vendeu o seu fuzil por duzentos mil reis, cuja arma tinha comprado a um rapaz de Lampeão; que deixando o grupo, seguiu o respondente até Joazeiro, sendo acompanhado por Coqueiro e de Joazeiro seguiu o respondente para Araripe, onde rerside o seu pae; que Coqueiro tomou a direção do Piauhi, não sabendo mais noticias delle; que elle respondente sabe mais que, no dia da chegada em Ipueira, Izaias Arruda mandou pedir mais a Lampeão por Jose Cardoso a quantia de quatorze contos, e que Lampeão combinou com Sabino Gomes dando cada um uma parte e enviaram a quantia pedida e que o respondente assistiu á entrega do dinheiro referido; que elle respondente não tomou parte no roubo de Apodi, nem tambem o grupo de Lampeão e que este saque foi dirigido por Antonio Leite, vulgo Massilon, o qual possuindo somente um cangaceiro, lhe foi fornecido trinta homens por Izaias Arruda, combinados para dividirem o roubo, tendo este novo grupo atacado Apodi, Gavião e Boa Esperança, no Rio Grande do Norte, resultando o roubo em quarenta contos de reis, em dinheiro, afora objetos de ouro e prata, relogio, etc.; que elle respondente, estando na Serra do Diamante, com o grupo de Lampeão, ali chegou Izaias Arruda e contou a mesma historia que lhe contara Antonio Leite, vulgo Massilon, sobre o facto narrado acima, acrescentando mais que, se com os trinta homens que havia dado a Massilon, que é tolo, tinha adquirido quarenta contos, quanto mais Lampeão - que arranjaria muito mais dinheiro, por possuir maior numero de cangaceiros e ser mais experiente; que durante o tempo em que o respondente esteve no grupo de Lampeão notara que alguns cangaceiros ficavam atras, para nas estradas forçarem algumas moças como tambem mulher casada; que sabe que alguns destes eram mais audaciosos, neste sentido, entre os quaes Moreno, Jararaca e Nevoeiro; que Lampeão conduz o dinheiro em bolsa, que tras a tiracollo, sendo que uma parte elle tem guardado nas mãos do Cel. Angelo da Gia de quem Lampeão tudo confia; que no incendio da manga, no sitio Ipueiras o grupo fugiu sem travar tiroteio; que Antonio dos Santos, cangaceiro que tambem foi com o grupo roubar no Rio Grande do Norte e rerside no logar Antas, do municipio de Aurora, quando o grupo chegou em Ipueiras se offereceu para tratar de Moreno que havia sido ferido na Serra Vermelha, como já referiu atras, tendo ficado tambem com este mais os cangaceiros Português e Ricardo, não sabendo em que lugar os mesmos se occultaram; que o respondente, estando em Araripe, no logar Baixio do Ramos, onde reside o seu pae, resolveu fazer um samba em regozijo pela sua chegada, delle respondente; que alta noite, difulgou ?? na casa da festa algumas pessoas da rua, um pouco alcoolizadas e que armadas de faca, começaram a produzir desordens; que o respondente procurou acalma-los e como não o conseguisse saccou de um revolver afim de amedrontá-los; que sendo agarrado por diversos , afim de o desarmarem, succedeu que o revolver disparou por duas vezes, produzindo um ferimento num seu tio pelo lado materno; que este ferimento produziu a morte, poucas horas depois, do seu tio alludido; que por isto foi preso e descoberto ter servido como cangaceiro no grupo de Lampeão. 
E, como nada mais disse e lhe foi perguntado, deu o delegado por encerrado o presente interrogatorio, mandando lavrar o presente auto, que, sendo lido e achado conforme, vae assignado pelo mesmo delegado e a rodgo do respondente pelo cidadão Francisco Carvalho. Eu, Jose Carvalho, escrivão que escrevi, do que tudo dou fé. (aa) Raimundo Moraes Britto - Francisco Carvalho.

*Texto componente do acervo de Sérgio Dantas

DIÁRIO DO CORONEL

Por: Cezar Alves
Coronel Antônio Gurgel tendo ao lado o filho e a esposa (Foto reproduzida do livro Nas Garras de Lampião).

Refém, Antônio Gurgel conquistou o respeito do bando

O coronel Antônio Gurgel, sabendo da aproximação do bando de Lampião a Mossoró, se dirigiu a localidade Brejo, no município de Apodi, aonde atualmente é o município de Felipe Guerra. Perto de São Sebastião, hoje Governador Dix Sept Rosado, foi capturado pelos cangaceiros junto com seus dois irmãos.

Para o bando entrar em Mossoró, o coronel foi a frente dos cangaceiros, servindo de escudo humano. “Quando atravessamos o rio, disse Sabino para mim: ‘Você é o nosso ministro da guerra. Vai na frente, porque assim ninguém atirará’”, escreveu Antônio Gurgel, em seu diário publicado no livro nas Garras de Lampião.

Exatamente o mais violento do bando, Sabino, se mostrou mais companheiro e até amigo de Antônio Gurgel. O que havia lhe capturado, identificado por Coqueiro, também passou a confiar nele, chegando ao ponto de lhe devolver o cinturão e a pistola (sem balas) quando passava por Limoeiro do Norte.

Depois de dois combates violentos com policiais cearenses e paraibanos, na região que hoje é Nova Jaguaribara, no Ceará, Sabino e o próprio Lampião, decidiram liberta-lo sem o pagar o resgate juntamente com a senhora Maria José Lopes, que havia sido a primeira refém do bando em terras potiguares.

Antes, o outro refém Joaquim Moreira da Silveira, havia sofrido muito nas mãos dos cangaceiros. Joaquim foi liberado perto de Limoeiro mediante pagamento 30 contos de réis.

Com Antônio Gurgel e Maria José, Sabino agia diferente. Quando foi para liberta-los, o cangaceiro os levou até um local seguro, aonde os dois poderiam conseguir socorro com segurança e facilidade. Na despedida, o cangaceiro ainda lhe deu um pedaço de queixo e 100 mil réis. Dona Maria José recebeu do bandido 60 mil réis e um pedaço de queixo. Os últimos dias como refém de Lampião, foram de fome, cede e presenciando intensas trocas de tiros.

Do dia 12 ao dia 25, na companhia de Lampião, Antônio Gurgel conta que dormiu no chão sem agasalho, não tomou banho, nem trocou de roupa. Apenas recebeu um par de meias de um dos cangaceiros. Até serem encontrados por Manuel Herculano da Cunha, da cidade de Letrado; e Agapito Fernandes Maia, da cidade de Boqueirão; os dois passaram fome e cede. Agapito e Herculano levaram os dois para Letrado, de lá seguiram viagem para Mossoró. Antônio Gurgel virou notícia nacional.

Fonte:

O GUERREIRO ALCINO VENCE GRANDE BATALHA

Alcino Alves Costa, diante de todas as adversidades,  vence batalha e retorna para os amigos.
é momento de comemorar, é tempo de colher as glórias e de saborear os encantos da vida de um dos mais sublimes guerreiros da pesquisa histórica do cangaço.
Alcino é dessas pessoas que marcam nossas vidas e sua ausência deixa grande lacuna.
sua recuperação é motivo de alegria e é assim que estou me sentindo desde que recebi a notícia de sua plena recuperação.
desejo ao grande amigo, decano de Poço Redondo, felicidades e muita saúde.
grande abraço amado amigo e que Jesus Cristo lhe abençoe cada dia mais.


A perversidade praticada com o cangaceiro Jararaca


Segundo o historiador Raimundo Soares de Brito (Raibrito), no seu livro "Nas Garras de Lampião", página 104, publicado no ano de 2006.

Raimundo Soares de Brito, Aldivan Honorato e Vingt-un Rosado - 1980

Depoimento cedido por Pedro Sílvio de Morais

"De todas as ocorrências daquela noite (em junho de 1927), a que mais o comoveu foi quando os seus coveiros quebraram, com picaretas e coices de armas, as pernas do infeliz bandoleiro, pois a cova que fora cavado antes era muito pequena". Pelo exposto, chegou-se à conclusão de que houve realmente requintes de perversidade na morte de Jararaca. 

Fonte:
"Nas Garras de Lampião"
Autor:
Raimundo Soares de Brito
Ano de publicação:
2006

Visita do projovem de quatros comunidades de Serrinha

Por: Guilherme Machado
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Visita do projovem de quatros comunidades de Serrinha: Alto de Fora, Urbis, Novo Horizonte e Vila de Fátima, sobre a coordenação do professor Neilton Miranda e da coordenadora Patricia. Apoio da Secretaria de Ação Social do municipio. A visita ao Portal do Cangaço de Serrinha, foi na última sexta feira, dia 05 de maio de 2012.

 
Alunos do projeto Projovem Adolecente, de várias comunidades urbanas de Serrinha, ficaram maravilhados com a saga de Lampião e Maria Bonita.

 
Coordenadora do Projovem explicando aos alunos do Projovem: Detalhes do Portal do Cangaço de Serrinha -  Bahia.

 
Alunos atentos ao Portal do Cangaço, impressionados com peças e apetrechos dos cangaceiros.

 
Guilherme Machado mostra a saga da História de Canudos, e seu lider maior: Antonio Conselheiro e sua gente conselheristas.

 
Alunos ficaram horrorizados com a História do Cangaciro Ferrador:  Zé Baiano e suas vitmas,  ferradas.

 
Pro jovens atentos na vitrine com peças do Cangaço. Perguntam e fotografam sem pararem.

 
Alunos apostos, a ouvirem do curador Guilherme Machado. Toda uma História do Nordeste e seus personagens.

 
Guilherme Machado exibe aos alunos o luxuoso livro: Bonita Maria  do Capitão, da escritora Vera Ferreira, Neta de Lampião.

 
Bonita Maria do Capitão, livro de Vera Ferrira e Germana Goçalves de Araújo -  bom de se ver e Ler.

 
Foto oficial de despedida do Projovem Adolecente de Serrinha, ao Portal do Cangaço de Serrinha Bahia.

 
Guilherme Machado, professores, coordenadores e alunos do Projovem Adolecentes, na entrada do Portal do Cangaço de Serrinha -  Bahia.

Extraído do blog: Portal do Cangaço de Serrinha - Bahia, do pesquisador Guilherme Machado

A Fé que Move o Sertão da Mata...... Vem aí: Sedição de Juazeiro...

TENENTE JOAQUIM DE MOURA, ASSASSINO DE CHICO PEREIRA

Chico Pereira, constituinte de Café Filho, assassinado pelo então Tenente Joaquim Teixeira de Moura, no governo de Juvenal Lamartine de Faria

Do mediocridade-plural.blogspot.com.br
Por Laélio Ferreira

Sobre JOAQUIM DE MOURA, Oficial da Força Pública do RN, matador de CHICO PEREIRA, In "Othoniel Menezes - Obra Reunida", "Sertão de Espinho e de Flor - Canto 11 ("taquigrafado numa feira")", com Nota de Laélio Ferreira (Honório de Medeiros):

"- Mermo prus perré [1] ,agora,
Café Fio é a lui da oróra,
Papai Noé do Brasí...

- Ante dele sê tão grande,
cafeísta era no frande [2]
na virola e no fuzí...

- Coração de mé de abêia,
o Café, ocês me creia,
imbora impate robá,
vai dá ciloura [3] e camisa
inté a Joaquim Marfisa [4],
se de tanto percisá...

- Cum tanto do “amigo novo”,
vai mái é ficá pru povo
deferente - é de amaigá!

Num adianta, esse luxo
de teimá sê péla-bucho [5]...
- camalião, vai pra lá! [6] "

[1] Nota de OM.

[2] Idem, idem.

[3] Ceroula, cueca.

[4] Joaquim Teixeira de Moura - Referência velada, ferina, ao Coronel da Polícia Militar do RN. Durante o relativamente curto período do governo (1928-1930) de Juvenal Lamartine de Faria (1874-1956), esse oficial notabilizou-se pela violenta repressão aos correligionários – e à própria família - do futuro Presidente Café Filho, inimigo político do Governador. Ficou célebre, quando tenente, em 1928, pelo frio assassinato de um certo Chico Pereira, acusado de roubo no interior do Estado e constituinte de João Café – que era advogado provisionado. Itamar de Souza, in "A República Velha no Rio Grande do Norte", conta, com detalhes, a terrível façanha do militar. Outro escritor, Ivanaldo Lopes – por sinal, filho de um outro coronel -, no livro Oficiais da PM (1980), retrata Joaquim de Moura como “quase perverso por obrigação do ofício”, revelando que “... às vezes, quando o sacrifício era próximo a núcleos residenciais, sepultava o bandido em cova rasa, ainda vivo, mas inerte, mantendo apenas a respiração ofegante de moribundo. Tanto assim era, que, em muitos casos testemunhados por transeuntes, as reações da vida faziam surgir do túmulo um braço ou uma perna, denunciador de alguém ali sepultado.”

[ 5] Ver nota de OM, adiante.

[6] OM, nesta e na sextilha anterior, critica João Café Filho – que praticamente nada fez pelos amigos da primeira hora, esquecendo-os quando assumiu o poder. Othoniel foi um dos que se desiludiram das promessas do político."

Extraído do blog do professor e pesquisador do cangaço:
Honório de Medeiros