Seguidores

sábado, 1 de fevereiro de 2020

LAMPIÃO A RAPOSA DAS CAATINGAS


Depois de onze anos de pesquisas e mais de trinta viagens por sete Estados do Nordeste, entrego afinal aos meus amigos e estudiosos do fenômeno do cangaço o resultado desta árdua porém prazerosa tarefa: Lampião – a Raposa das Caatingas.

Lamento que meu dileto amigo Alcino Costa não se encontre mais entre nós para ver e avaliar este livro, ele que foi meu maior incentivador, meu companheiro de inesquecíveis e aventurosas andanças pelas caatingas de Poço Redondo e Canindé.

O autor José Bezerra Lima Irmão

Este livro – 740 páginas – tem como fio condutor a vida do cangaceiro Lampião, o maior guerrilheiro das Américas.

Analisa as causas históricas, políticas, sociais e econômicas do cangaceirismo no Nordeste brasileiro, numa época em que cangaceiro era a profissão da moda.

Os fatos são narrados na sequência natural do tempo, muitas vezes dia a dia, semana a semana, mês a mês.

Destaca os principais precursores de Lampião.
Conta a infância e juventude de um típico garoto do sertão chamado Virgulino, filho de almocreve, que as circunstâncias do tempo e do meio empurraram para o cangaço.

Lampião iniciou sua vida de cangaceiro por motivos de vingança, mas com o tempo se tornou um cangaceiro profissional – raposa matreira que durante quase vinte anos, por méritos próprios ou por incompetência dos governos, percorreu as veredas poeirentas das caatingas do Nordeste, ludibriando caçadores de sete Estados.
O autor aceita e agradece suas críticas, correções, comentários e sugestões:

(71)9240-6736 - 9938-7760 - 8603-6799 

Pedidos via internet:
franpelima@bol.com.br
Mastrângelo (Mazinho), baseado em Aracaju:
Tel.:  (79)9878-5445 - (79)8814-8345
FRANPELIMA@BOL.COM.BR
Clique no link abaixo para você acompanhar tantas outras informações sobre o livro.
http://araposadascaatingas.blogspot.com.br

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

ERALDO TAVARES



Estamos iniciando essa ESPECIALIZAÇÃO em HISTORIOGRAFIA DO CANGAÇO agora no mês de fevereiro de 2020.

Qualquer dúvida é só enviar uma mensagem pelo Whatsapp para (81) 9.8707.0102 ERALDO TAVARES.


http://blogdomendesemendes.blogspot.com

A FÉ QUE ALIMENTA O SERTÃO

*Rangel Alves da Costa

O sertão é um oratório a céu aberto. E um oratório de céu com feição tão sertaneja que santos são criados pelo desejo do próprio povo.
Quem haverá de dizer que Padim Ciço Romão Batista não é santo? Quem haverá de dizer que Frei Damião não conduz a milagres?
A fé que anima e move o seu povo é tamanha que tudo na vida passa a depender dos desejos sagrados. E nada se faz sem as bençãos divinas.
Na concepção da religiosidade sertaneja, nenhum tempo ruim permanecerá se o olhar divino e salvador logo vai abrir a porta e entrar.
Daí as dores e os sofrimentos, as angústias e as aflições, serem suportados pela fé que logo tudo cessará. A seca braba esturrica e castiga, faz padecer e chorar, mas Deus logo mandará chuva boa. É assim que se diz.
O pecado do homem e a falta de obediência aos ensinamentos trazem a tristeza e o sofrimento. É assim que se diz.
E há uma certeza tamanha na reversão das angústias, que é como se tudo fosse apenas uma privação ou provação passageira. É assim que, na concepção sertaneja, se concebe o amanhã.
Mas para que o amanhã realmente traga um tempo bom, necessário que os rosários de contas caminhem pelas mãos, os joelhos se dobrem frente aos altares e oratórios, as velas sejam acesas, as bocas murmurejem preces, orações, ave-marias.
E assim também acontece diuturnamente. A fé, a devoção e a religiosidade estão em tudo e por todo lugar. Há que se benzer desde o acordar ao deitar.
Os santos são companhias milagrosas ao olhar, o coração se fortalece ante a visão de uma imagem sagrada pendurada na parede, os terços e rosários são como inafastáveis relíquias, as fitas de Juazeiro só saem dos braços pelo desejo do tempo.


Logo à entrada da moradia uma escrita anuncia que a família é abençoada por Deus. As flores de plástico são como jardins empoeirados ao lado dos santos. As novenas vão levando de porta em porta o alimenta da fé.
Na banquinha com toalha rendada e enfeitada de flores, a imagem devotada alimentando a fé de um povo.
Os olhares lacrimejam, os lábios se movem em canções, as mãos se cruzam rente ao peito, então um escudo sagrado vai envolvendo o viver perante as dificuldades da vida.
Pelas estradas nuas, secas, esturricadas, debaixo dos sóis, seguem os passos da fé em procissão. Uma caminhada sem santa, um percurso na sequidão que se assemelha a paraíso.
Encontrar dez, quinze ou vinte pessoas, levando sua fé pelas estradas, pode até causar estranheza ao de hoje. Quem não conhece os costumes religiosos, certamente irá estranhar os meios e modos de devoção.
Porém, basta a proximidade para saber e sentir o que move o passo daquele povo. Há um estandarte e um santo, ou mesmo uma imagem sendo levada e passada de mão em mão, mas há algo muito maior: a certeza que, pela fé e devoção, o milagre acontecerá.
E qual milagre? A cura, a chuva, a benção ao lar, a proteção sagrada, a demonstração que se vive da fé e pela fé. E que, por isso mesmo, pela força da fé, Deus, os santos e anjos, cuidarão de tornar suas esperanças em conquistas.
A chuva, a terra molhada, a planta vingando, o alimento surgindo, e tudo o mais que se deseje. E assim, pelas estradas, vai seguindo a procissão.
Lá no alto, a vela do sol a tudo ilumina. E iluminados, os corações encontram seus contentamentos e suas forças para seguir adiante. Pela vida inteira.

Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

FIM DE CARREIRA CANGACEIROS APRISIONADOS


Alguns cangaceiros, ainda no auge do Cangaço, escaparam da quase certa morte nas mãos de policiais, jagunços e mesmo de populares. 

Acima, fotografia obtida na Casa de Correção, em Salvador, Bahia, em 1933.

São três cangaceiros aprisionados: Bananeira, Alecrim e Relâmpago.

Coisa de Rubens Antonio e seu Cangaço na Bahia


http://blogdomendesemendes.blogspot.com

"O IMPARCIAL" - BA, EM 22 DE MAIO DE 1935

Liberdade para Alecrim e Bananeira
Transcrito por: Urano Andrade
Matéria de capa
É o que menos se poderia acreditar, mas aconteceu. Quatro ex-cangaceiros que assolavam o sertão, espalhando o terror por toda parte foram soltos e enviados para Ilhéus e Itabuna, para trabalharem (honestamente, já se vê) nos campos do Sul...

Manoel Raymundo Correia, Sebastião Valentim dos Reis, Pedro Vieira da Silva (Alecrim), e Horácio Teixeira Junior (Bananeira)  chegaram já a Ilhéus. Os dois primeiros eram bandoleiros de um Virgilino, bandido de Ituassu, e os dois últimos do celebérrimo
Virgolino Ferreira, o Lampião, condenado a morrer de velho...

Dois desses bandoleiros foram enviados a Itabuna, ficando os outros em Ilhéus sob a vigilância da polícia...

Ora, essa “bôa gente” estava aqui na Penitenciária há cerca de um anno, tendo agora essa liberdade “devido ao bol procedimento que tiveram naquele presidio, e atendendo a outras circinstancias que militam em seu favor...”

Quaes serão estas circunstancias favoráveis aos presos, e como teria sido essa rápida regeneração que durou só um anno, depois de ninguém sabe quantos crimes?
Pedro Vieira da Silva o "Alecrim"

Um criminoso comum pode, por um só crime, levar 30 annos na Penitenciaria; uns bandoleiros que foram o terror do sertão, de cujos crimes, ninguém sabe o numero certo se arrependem assim depressa, no espaço de um anno, e são postos em liberdade, embora vigiada!

Bandoleiros habituados a correr no matto denso trabalhando “vigiados” nas mattas do Sul!...

É curioso, mas parece também perigoso... E ninguém é capaz de atinar com a razão dessa concessão aos bandoleiros.

http://lampiaoaceso.blogspot.com

http://blogdomendesemendes.blogspot.com


BATISMO DE LAMPIÃO

Lampião foi batizado nessa Capela de Bom Jesus do Aflitos, no povoado de São Francisco; distrito de Vila Bela; hoje, Serra Talhada-PE, em setembro de 1898, mesmo ano em que nasceu, foi batizado pelo Padre Antônio de Siqueira Torres, filho da baronesa de Água Branca, dona Joana Siqueira Torres, que no futuro Virgulino Ferreira viria a realizar seu primeiro assalto "cinematográfico" a própria Baronesa.
 
Seus padrinhos de batismo foram seus tios maternos, Manoel lopes e Maria Jose da Soledade. Hoje o povoado de Sao Francisco esta submerso pelas águas da barragem de Serrinha.

Paulo Lampião
Belém do São Francisco, PE


http://blogdomendesemendes.blogspot.com

AS AUDÁCIAS DE UM CELERADO PARTE 1


 Por Manoel Neto

Humberto de Campos

Ao leitor que passe os olhos em “As Audácias De Um Celerado”, última das três crônicas produzidas por Humberto de Campos, nos primórdios dos anos 30 do século passado, tendo como assunto o cangaço e publicadas em “Notas de um Diarista”, volume 09, das “Obras Escolhidas” do autor, será fácil constatar que a planejada expedição de Carlos Chevalier, oficial do Exército, o qual pretendia com armas e equipamentos sofisticados, inclusive aviões, invadir os sertões nordestinos em busca de Lampião, causara forte impressão no articulista. Se em linhas anteriores Campos conjecturara sobre as possibilidades de sucesso do empreendimento, agora é o malogro da empreitada que ocupa sua pena. Curiosamente, apesar de conservado inédito e somente publicado post mortem do escritor, no ano de 1954, em dois tomos, o “Diário Secreto” de Humberto que muita celeuma provocou quando veio a público traz uma referência, por sinal, desabonadora sobre o então tenente Chevalier, destacando que o comentário foi registrado no dia 07 de novembro de 1930, por conseguinte, pelo menos um ano antes do mesmo imaginar sua incursão militar na persiga de Virgolino e seu bando. Vejamos:


Outro julgamento da Revolução: foi preso a bordo de um navio estrangeiro, no momento em que este atracava, e levado para a Casa de Detenção, o ilustre homem de ciência, professor Carlos Chagas, Diretor do Instituto de Manguinhos, que acaba de realizar conferências na Alemanha, na França e na Itália, a convite do governo desses países. Dado o alarma pela imprensa, o delegado que fez a captura, o Tenente Chevalier (grifo nosso), declarou, ingenuamente: – Eu não sabia. Eu supus que Carlos Chagas era o ex- delegado Francisco Chagas, acusado de homicídio na pessoa do negociante Niemeyer... (CAMPOS, Diário Secreto, 1954, p. 103).


Carlos Chagas e o "eu não sabia..."

Adversário político da Revolução de 1930, cujo advento significou a cassação do seu mandato de Deputado Federal, o ex-parlamentar aproveita para tirar sua “casquinha” no novo regime, por conta da gafe protagonizada pelo Delegado revolucionário, detendo por inaceitável desinformação o ilustre brasileiro Carlos Chagas. Personagem de inegável notoriedade naquele ato da cena brasileira, o agora Capitão Chevalier ao imiscuir-se em assunto momentoso, colocou-se novamente na mira do cronista ao pretender capturar cangaceiros utilizando-se de métodos e meios convencionais como se fora a um combate clássico, em terreno familiar. Se já punha em dúvida o sucesso da missão quando ela ainda se afigurava como viável, apesar dos exageros, agora certo do seu fracasso, o cronista comenta: 

“Quando há meses o Capitão Carlos Chevalier iniciou uma série de entrevistas à imprensa noticiando a sua partida para o Nordeste a fim de capturar o celebrado celebérrimo bandido Lampião, eu tive ocasião de escrever aqui mesmo uma crônica duvidando do êxito da expedição. Acreditava que o jovem oficial partisse; acreditava que marchasse para o sertão com os seus canhões, com os seus aviões, com os seus tanques e as suas metralhadoras. Mas duvidava que conseguisse o seu objetivo aprisionando o desabusado bandoleiro. Passam-se os dias, as semanas, os meses. E nem Lampião foi capturado; nem as metralhadoras repinicaram nas caatingas; nem os aviões estrondaram no céu virgem; nem a coluna se pôs em movimento; nem, sequer, o Capitão Chevalier partiu do Rio de Janeiro” (CAMPOS, Notas De Um Diarista, 1983:37)

Lampião que me aguarde...
Aponta a causa fundamental do fracasso ainda no nascedouro do pretensioso plano, desta vez, porém, isentando de responsabilidade o seu idealizador: “Eu estou certo, entretanto, que tudo isso independeu do simpático oficial revolucionário. Não lhe faltavam, evidentemente, para tal empresa, nem disposição, nem temeridade. Mas faltou ao governo dinheiro para organizar e pôr em movimento um aparelho tão dispendioso. Feito os cálculos no Ministério da Guerra, verificou-se, ao que parece, que para mobilizar uma coluna militar com tamanho aparato teria o Tesouro de despender quantia igual mais ou menos à que consumiu na guerra contra o Paraguai” (CAMPOS, ob. cit., p. 38).

Para o professor Jorge Mattar Vilela não teria sido tão somente a escassez de recursos do Governo Federal, o que não se constituía e nem se constitui exatamente em novidade, o motivo da desmontagem ainda no embrião do pretensioso arranjo militar do Capitão Chevalier, conforme indica: “[...] No entanto, a missão foi sendo sucessivamente adiada e, provavelmente por falta de verbas e bom senso de alguns (como o major Juarez Távora), decidiu-se que os Estados combateriam Lampião com seus próprios recursos” (Cf. VILELLA. Operação anti-cangaço: As táticas e estratégias de combate ao banditismo de Virgulino Ferreira, Lampião. In Revista de Ciências Humanas, Florianópolis, 1999, n. 28, p. 112)

Não podemos desconsiderar outros fatores, os quais, certamente, terão influenciado esta e outras decisões do Governo Federal, particularmente no Nordeste, reduto histórico das oligarquias rurais. Vejamos o que observa o jornal “O Globo”, edição de 24 de abril de 1931, portanto, pós-advento da Revolução de 1930: “[...] Todos aquelles que estudaram o problema concluem que os cangaceiros do nordeste vivem sob o patrocínio dos grandes proprietários que, por intermédio deles, servem a política. O caso de Lampião é typico. Até o governo federal no tempo de Bernardes precisou dos seus serviços”


Getúlio...


Ignorar os interesses que associavam poderosos chefes políticos ao cangaço seria tapar o sol com a peneira. A complexa rede de apoio logístico estruturada por Virgolino Ferreira e copiada em menor escala por seus subgrupos não prescindia e não poderia mesmo prescindir da cooperação das classes dominantes do sertão nordestino, assim como, utilizando-se da coação e do terror incluiu em sua malha pequenos e médios proprietários, agregados e muitos outros grupos e indivíduos.Sobejamente divulgado é o fato de o bandoleiro Zé Baiano emprestar dinheiro a juros para comerciantes em Aracaju. Como explicar igualmente que armas originárias das forças policiais e das forças armadas tenham sido encontradas em poder de cangaceiros? Armados e fardados em 1926, no Juazeiro do Ceará, Lampião e seus acompanhantes foram momentaneamente reconhecidos como representantes do Estado, vindo desta época o uso de fardamentos entre os bandos e a patente de “capitão” do chefe maior do cangaço. Esses são fatos que evidenciam o entrelaçamento e a troca de “favores” que permeavam a subsistência e a sobrevida do cangaceirismo.

Se o Governo Bernardes vigorou no seu quatriênio sob a égide do Estado de Sítio, pressionado por sucessivas convulsões militares, na Presidência subsequente exercida pelo paulista Washington Luís deu-se o agravamento da crise econômica, principalmente em decorrência da Crack da Bolsa de Nova York, a que se seguiu uma quebradeira universal, com funestas repercussões para a economia do Brasil e levando de roldão a lavoura cafeeira em face da queda dramática das exportações do produto.


Arthur Bernardes

Arguto observador e atento à inquietação social vigente no período, o então Presidente da Câmara dos Deputados, Antonio Carlos Andrada, temeroso de uma radicalização do movimento popular em efervescência, já alertava as elites políticas quando lhes ensinou: "Façamos a revolução pelo voto antes que o povo a faça pelas armas". Ou seja, vão-se os dedos e fiquem os anéis. A reorganização político-administrativa da região, na qual despontava como principal condutor o Sr. Juarez Távora, alcunhado Vice-Rei do Norte, passava pela destituição de antigas lideranças, nomeação de Interventores estaduais e outras medidas que objetivavam fazer cumprir o programa do novo governo, programa este de caráter nitidamente reformista, porquanto, não se propunha a tocar em problemas estruturais da sociedade brasileira.

É nesta conjuntura delicada que o cangaço se profissionaliza e ganha espaço, situação em que à força das armas, Lampião e seus múltiplos acompanhantes, habilmente subdivididos, bem informados e municiados, transgridem a Lei e enfrentam a repressão com astúcia e inegável retaguarda política.

Percebendo que o momento se apresenta favorável aos cangaceiros, por conta do conjunto de fatores acima apresentados, Humberto de Campos repassa informação colhida em jornais: “O insucesso do plano anunciado no Rio, foi, porém, acender o olho que resta ao famigerado salteador nordestino, acirrando-lhe a índole sanguinária. Esporeando seus cavalos árdegos e os seus instintos selvagens, desenvolveu ele a própria atividade, matando, roubando, incendiando, estuprando. A desistência silenciosa do Capitão Chevalier foi, no seu entendimento de primitivo, estrondosa vitória sua. E quando chega a uma Estação Telegráfica dos altos sertões da Bahia, de Pernambuco ou de Alagoas, o seu primeiro cuidado consiste na transmissão deste telegrama irônico para a sede dos distritos, nas capitais: Lampião continua esperando o Capitão Chevalier” (CAMPOS, ibid. pp.38,39).



Por certo que o aborto da Expedição Chevalier seivou a vaidade e intrepidez do Capitão Virgolino. Sentiu-se lisonjeado, mormente, porque despertara a atenção de um colega do Exército, sediado na longínqua Capital da República, o que significava na sua avaliação de homem inteligente e não primitivo, como quer Humberto de Campos, uma vitória, E o era de fato. Mais um entre dezenas de planejamentos oficiais e particulares, fadara-se ao fracasso. Assim como no caso da seca, muito se elocubrava e pouco se produzia de efetivo e eficiente para enfrentar as estiagens periódicas e o banditismo intermitente.

Quanto ao uso dos meios de comunicação disponíveis tanto para debochar de autoridades, como para extorquir benefícios e fazer ameaças, é fato exaustivamente narrado nos registros documentais e na bibliografia sobre o cangaço esse comportamento principalmente de Lampião, a que se que seguiam ações como o aprisionamento e, em alguns casos, o assassinato de funcionários, nunca deixando de executar como medida acautelatória o corte das linhas de transmissão, evitando dessa maneira a troca de informações entre os prepostos policiais e os gestores civis dos municípios. Visavam igualmente às obras ferroviárias e rodoviárias. Dois registros ilustram nossa afirmação. O primeiro diz respeito à iniciativa de funcionários dos Correios, documentando uma ocorrência transcorrida em suas jurisdições: “[...] No processo de número 3.350, de março de 1927, o agente dos Correios de Jatobá alertava à polícia, via telégrafo, para o pânico causado por Lampião "que ameaçava cometer depredação a esta cidade". Em outro caso, ao comentar o roubo de 346$500, o administrador da localidade de Villa Bella, Benvindo Loreto, assegurava que a região estava infestada por aquele bando sinistro no caso, o de Lampião “


Professor Manoel Neto

Maria Christina da Matta Machado nos descreve outro momento que explicita o posicionamento adotado pelo sempre que possível por Lampião, diante do que se lhe encantava por representar o moderno, entretanto, comprometedor para segurança dos grupos:.“[...] tomando conhecimento da construção de uma rodagem, que estava sendo protegida pela polícia, resolve juntar-se ao grupo de Antônio de Engrácia e planeja o assalto. Nas obras estavam todos trabalhando tranquilamente, sem receio algum, porque eles sabiam que Lampião não atacava, onde existissem garantias. Um certo dia, entretanto, quando ninguém esperava, eis que surge Lampião e seus caibras, aos gritos. [...] Poucos segundos depois, ouviam-se tiros por todos os lados. Trabalhadores e soldados misturados  correram espavoridos se precipitando na mais desordenada fuga. Lampião assaltou a rodagem, pegou todo material  que estava sendo usado, além dos fuzis e as munições. O que não pode levar consigo, colocou num caminhão e tocou fogo” (MATTA MACHADO, pp. 147-148).

Continua...

Manoel Neto
Centro de Estudos Euclydes da Cunha – CEEC
UNEB - Bahia


http://bblogdomendesemendes.blogspot.com

TUNAI



José Antônio de Freitas Mucci (Ponte Nova13 de novembro de 1950 – Rio de Janeiro26 de janeiro de 2020), mais conhecido como Tunai, foi um cantor e compositor brasileiro.[1][2]

Biografia e carreira[editar | editar código-fonte]

Iniciou o seu curso de Engenharia Civil na cidade de Ouro Preto, onde também estudou seu irmão e compositor João Bosco. Depois de se transferir para Belo Horizonte, onde concluiu seu curso, trabalhou durante um tempo como engenheiro e depois deixou a engenharia civil para se dedicar à carreira de músico, estreando em 1978, quando Fafá de Belém interpretou "Se eu disser". Trabalhou com o letrista Sergio Natureza, com quem compôs músicas para vários artistas como Elis ReginaSimoneGal CostaNana CaymmiMilton NascimentoBeto GuedesRoupa NovaFafá de BelémElba Ramalho e Sérgio Mendes, sempre com sucesso.

Na carreira-solo, tornou-se famoso com o hit Frisson, do disco Em Cartaz (1984) e que foi tema da novela "Suave Veneno", da TV Globo. Escrevendo para o Yahoo!Regis Tadeu publicou uma crítica positiva para o cantor em 2012: "Este talentoso e veterano cantor mineiro nunca recebeu os devidos créditos por conta de seu trabalho bem acima da média dos compositores advindos dos anos 70, mesmo que várias de suas canções tenham sido gravadas por Elis ReginaFafá de Belém e Gal Costa. (...)"[3]

“A Elis Regina foi o principal vestibular que passei na minha vida” ele disse em entrevista a mídia. Foi Elis, quem lançou e projetou Tunai como compositor em 1979, um ano após o artista ter decidido abandonar a faculdade de engenharia para se dedicar à música. As composições de Tunai fizeram sucesso na voz de Elis Regina. Entre elas, “As aparências enganam”, do disco ‘Essa Mulher’ (1979); “Lembre-se”, gravado no show de lançamento do disco; e “Agora tá”, de ‘Saudade do Brasil’ (1980).[4] “Ser gravado por ela abriu completamente as portas para mim. Foi uma coisa tão boa que eu nunca deixei de homenagear a Elis que deixou um legado incrível. Morreu cedo, mas viveu mais de 100 anos”, disse Tunai, certa vez.[4]


Tunai morreu na madrugada do dia 26 de janeiro de 2020 em sua casa, no Rio de Janeiro, vítima de uma parada cardíaca.[1][2]


http://blogdomendesemendes.blogspot.com

A SEDUÇÃO DOS BANDIDOS. DE LAMPIÃO A LEONARDO PAREJA, O QUE AFINAL NOS ATRAI NESSES FORAS DA LEI?



Um homem armado invade uma casa em busca de comida. A dona, humilde viúva da zona rural, não tem o que oferecer. Tomado por um ataque de fúria, o invasor dá uma surra na mulher e depois se volta para o jovem filho da viúva, que presencia tudo. Põe então em prática seu gosto por rituais de sadismo gratuito: enfia o órgão genital do menino numa gaveta e a tranca com chave. Depois, ateia fogo à casa. Desesperado, o rapaz é obrigado a cortar o próprio pênis para salvar a vida.

O facínora responsável por esse crime hediondo é hoje um mito nacional: Virgulino Ferreira, vulgo Lampião. Sua ficha criminal não caberia em todas as páginas desta edição. Durantes 22 anos, liderou um bando de cangaceiros em ataques sangrentos num vasto perímetro de sete estados do Nordeste. Arrasavam vilas e propriedades rurais. Estupravam mulheres. Castravam rapazes. Enterravam gente viva. Cortavam cabeças. Sangravam inocentes como animais em praça pública. Marcavam com ferro em brasa o rosto de moças que se vestiam de modo “inadequado”.

Os poderosos da época anunciavam publicamente sua indignação com os atentados em série e suplicavam verbas do governo federal para caçar os cangaceiros. Mas, nos bastidores, faziam acordos com os chefes da gangue, vendiam-lhe armas e contratavam seus valiosos serviços de jagunço para se livrarem de desafetos e se apossarem de terras abandonadas. O terror promovido pelo cangaço contribuiu para a migração em massa do Nordeste para o Sudeste nas primeiras décadas do século XX. Os cordéis da época lamentavam o sofrimento do sertanejo nas mãos dos bandidos

É um tormento horroroso
essa tal situação,
da gente não poder mais
viajar pelo sertão
para encontrar pelo caminho
indo cair direitinho
nas unhas de Lampião.

Como explicar que, hoje, esse bandido quase só receba loas, como símbolo de cabra-macho, vingador do sertão? Como explicar Lampião, o Mito?

É o que se perguntava desde criança a antropóloga Luitgarde Cavalcanti. Sua mãe caíra nas garras do cangaceiro quando jovem. No município de Santana de Ipanema (AL), Lampião trancou as moças da família em uma casa e ordenou que ninguém de seu bando encostasse nelas. Não foi um súbito acesso de bondade. Luitgarde atribui a decisão ao racismo do “rei do cangaço”. Descendentes de holandeses, com pele clara, olhos azuis, bem vestidas, aquelas mulheres impressionaram Lampião pelo fino trato e pela boa aparência. Eram, enfim, de uma “raça refinada”.

Por mais de 20 anos, Luitgarde se dedicou a investigar o cangaço, o que resultou no livro A derradeira gesta: Lampião e Nazarenos guerreando no sertão (2000). Para ela, a mitificação de Lampião é um absurdo histórico a ser corrigido. “Ele só conseguiu permanecer 22 anos praticando os seus crimes porque servia à classe dominante”. O êxodo provocado por Lampião refez o latifúndio no sertão nordestino. Enquanto foi vivo, ele não era mitificado pelo povo. “Até o início de 1960, nenhum cordel dizia que Lampião teria ido para o céu; ele sempre aparecia no inferno”, diz ela. Tanto que o coronel Lucena Maranhão, o homem que matou o pai do cangaceiro e mais tarde liderou a caçada que resultou na morte do próprio Lampião (1938), entrou para a história como benfeitor público.

Então, quando, e por obra de quem, surgiu o Lampião fictício, guerreiro de Brasil miserável? A pesquisadora aponta origens distintas para essa deturpação. Em primeiro lugar estão os que participaram ou que se beneficiaram do cangaço. Os irmãos Melchiades e Ezequias da Rocha, por exemplo, descendiam dos “coiteiros” de Lampião – gente que ajudava os cangaceiros a se esconder e os apoiava com serviços variados. Aos Rocha soava bem melhor ter ancestrais ligados a um “justiceiro” do que serem conhecidos como protetores de bandidos. Eis porque, a partir dos anos 1940, o jornalista Melchiades, repórter de A Noite, passou a defender um novo olhar sobre o cangaço, enquanto o senador e médico Ezequias compunha cordéis sob o pseudônimo de Zabelê. Trazem sua assinatura os primeiros versos conhecidos em que Lampião tem seus atos legitimados pela corrupção reinante, como estes:

Para havê paz no Sertão,
E as moça pudê prosá
E os rapaz pudê se ri
E os menino diverti
É preciso inleição
Pra fazê de Lampião
Gunvenadô do Brasil.


A versão de que Lampião simbolizava um certo ideal de justiça social atendia a vários interesses, até mesmo para os potentados regionais da política e da Justiça. No outro extremo dos embates políticos, o novo Lampião caía como uma luva para a propaganda comunista no Brasil, como exemplo de “herói camponês” – a Internacional Comunista chegou a pensar em recrutá-lo como guerrilheiro. Nos anos de 1960, quando sobreveio a ditadura e a esquerda se aferrou a símbolos de libertação popular, não havia mais dúvida sobre quem teriam sido os vilões e os heróis nos combates entre cangaceiros e a polícia corrupta dos coronéis. Some-se a tudo isso a liberdade poética dos cordelistas e cantadores, tendo à mão o apelo dramático de personagens altamente simbólicos e já distantes no tempo. Receita pronta e infalível para o nascimento do bom bandido.

Aliás, fora de seu contexto, o bordão “Bandido bom é bandido morto”, popularizado pelo ex-deputado fluminense Sivuca, tem a precisão de uma máxima sociológica. Pois é justamente o que afirma o historiador best-seller britânico Eric Hobsbawm em Bandidos, obra de referência para os estudos sobre o conceito de “banditismo social”: “Sem dúvida, é mais fácil converter bandidos mortos, ou até mesmo remotos, em Robin Hoods, qualquer que tenha sido seu comportamento real”. Se bandido bom é bandido morto, melhor ainda é bandido inexistente. Como comprova o mesmo Hobsbawm ao apontar a lenda de Robin Hood como ideal universal do bom ladrão. Sem os pecados e as contradições dos criminosos de carne e osso, ele se beneficiou da imaterialidade para perenizar-se no imaginário do honrosa e eterna odisseia humana em sua luta contra autoridades ilegítimas ou injustas.

Em Bandidos, lançado no Brasil em 1975, Hobsbawm faz uma viagem panorâmica por diversos exemplos de “bandidos sociais” ao redor do mundo, procurando embasar esse novo conceito em critérios socioculturais aproximativos. O livro virou referência, para o bem ou para o mal: criticado por muitos, mas obrigatoriamente citado desde então. O contexto de atuação dos bandidos sociais de Hobsbawm se relaciona com a era moderna – a partir da formação dos estados nacionais e do controle dos territórios por poderes centrais – e se dá sempre na área rural. A maior causa das críticas à obra é sua análise genérica de que esse tipo de banditismo teria um significado pré-político, demarcando um início de reação das populações excluídas contra a opressão dos poderes locais. Para Hobsbawm, Lampião entra no rol dos “bandidos sociais”, embora com a ressalva de que ra um personagem ambíguo, meio “nobre”, meio “monstro”.

ÁREA DE ATUAÇÃO DO BANDO DE LAMPIÃO.


Ainda que percam precisão quando generalizados, alguns modelos de Hobsbawn são úteis para uma verificação da presença, ou não, do bandido social em casos específicos de crimes. Um deles é o fator vingança. Em diversos tempos e culturas, a vingança é encarada como motivo aceitável para se pegar em armas a fim de fazer justiça com as próprias mãos. Foi o que levou outro cangaceiro notório, Antônio Silvino (1875-1944), a conquistar sua vaga no Paraíso dos cordéis: ele começou sua vida bandida para vingar o pai assassinado. O mesmo argumento por vezes é usado para defender Lampião. Mais uma vez a caçadora do mito Luitgarde Cavalcanti se insurge contra a tese: “Isso é outra mentira. Lampião entrou ara o cangaço com o pai muito vivo, em 1916. O pai dele só morreu cinco anos depois”. Quando muito, teria caído na marginalidade por conta de violentas rixas familiares anteriores. Em seu livro, Luitgarde chama de “escudo ético” o pretexto da vingança paterna utilizada por Lampião para justificar suas ações. Antônio Silvino, em oposição, ganha crédito da pesquisadora por ter mantido um “resto de honra”, obedecendo a certos limites – não estuprava e não castrava, por exemplo.

Fonte: Revista de História da Biblioteca Nacional. Ano 6, n° 68, maio de 2011. P 17 a 21.
Zé Costa 


http://blogdomendesemendes.blogspot.com

MISTÉRIO DA GROTA DE ANGICO


Por Osvaldo Abreu

Tanto Mistério em Angico,
Almas humanas sob gritos.
Âs margens do Velho Chico,
Morte do Capitão Lampião
E valentes cangaçeiros.
Manhã de cerração,
Pedro de Cândido, senhor traição,
Fez a indicação.

Cortadas foram as cabeças,
Quem tem de Angico certeza?
São tantas e tantas versões,
Dúvida, por acaso, incerteza..
Jogos e jogos de opiniões.
Da vida, a grande certeza,
A última despedida, a morte.
Dela ninguém tem a boa sorte.

Quem matou Lampião?
Quem matou Maria Bonita?
Herói não se tem não.
Muita fumaça, cerração.
Tanto mistério em Angico,
Correm as águas do Velho Chico,
Encanto da natureza!
Grota de Angico sempre será incerteza

Osvaldo Abreu
Aracaju, 30 de janeiro de 2020


http://blogdomendesemendes.blogspot.com