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sexta-feira, 27 de janeiro de 2023

AO ANOITECER, SEU LEODORO GUSMÃO FOI À CASA DO COMPADRE GALDINO, PARA JUNTOS, RELEMBRAREM VELHAS HISTÓRIAS SOBRE ONÇAS.

Por José Mendes Pereira

https://www.gettyimages.pt/ilustra%C3%A7%C3%B5es/dois-homens-conversando

Mesmo com dúvidas, se verdade ou não, seu Leodoro Gusmão era um apreciador das histórias sobre onças, todas contadas pelo seu compadre seu Galdino. Dúvidas, tinham muitas, mas não podia dizer a ele que, “aquelas suas histórias eram cabeludas”. Não senhor! Sabia muito bem que, nas viagens que sempre fez com ele, procurando os seus animais de curral, os dois juntos, nunca viram uma onça sequer. Mas seu Galdino garantia que aquela região era infestada de onças perigosas, e de várias cores.  E algumas delas, ele calculava um peso de 20 arroubas mais ou menos. O tamanho seria de 2,30 a 2,50. Para que desmentir o seu compadre e de longos anos? De forma alguma faria isso.

https://www.atlasvirtual.com.br/pantheraoncaaugusta.htm

Seu Leodoro trouxe do berço, uma educação para homem nenhum botar defeito. Nunca fora crítico, e não tinha coragem de decepcionar ninguém, muito menos um amigo e compadre de fé. Uma verdade ou uma mentira a mais que ele contava, não seria por isso que iria duvidar, somente para decepcionar o compadre. Sim senhor! Isto não estava no seu humilde e leigo dicionário matuto.

https://pt.m.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Catedral_de_Santa_Luzia.JPG

Foi numa quarta-feira de cinzas, em uma manhã nublada, que se tornaram compadres, lá na Catedral de Santa Luzia. O vigário que oficializou o batizado do filho do seu Leodoro, foi o famoso, querido e respeitado em Mossoró, o Padre Humberto Bruening, que durante a recepção, vez por outra, chamava a atenção dos padrinhos, que abençoassem de coração as famílias, conservassem as amizades, e dispensassem alguns problemas que surgissem entre eles, porque a vida é cheia de atropelos.

http://www.diocesedemossoro.com/2014/03/diocese-celebra-os-100-anos-de.html

Assim que o batizado terminou seu Galdino foi incumbido para cuidar da formação daquele filho do seu Leodoro, que havia apadrinhado. E de imediato, olhando para ele, disse-lhe:

- Aí, está teu filho, meu compadre Galdino! Cuida dele. Ser padrinho de uma criança é tomar todos os cuidados, e se responsabilizar por ela, principalmente da sua formação.

- Sim senhor! Fez seu Galdino cheio de timidez.

Seu Galdino ficou meio admirado com aquele chamar de atenção do seu Leodoro. O contador de histórias de onças, permaneceu como se estivesse hipnotizado. Nada falou, para não contrariar o seu Leodoro. E ali, permaneceu se perguntando: “Será que meu compadre sabe dos meus desejos pela Gertrudes, sua esposa?

Seu Galdino nunca havia feito o que muitos homens fazem, mudar de mulher. Tinha aquele desejo irresistível pela mulher do agora compadre, mas nunca tocara nela nem com uma flor de jasmim, porque, a dona Gertrudes não era qualquer uma que se entrega facilmente aos desejos de um homem. E jamais, ela teve pensamentos ridículos com ele, e nem com homem nenhum, somente estava para o seu marido e mais ninguém.

Quando ainda jovem, e nem conhecia seu Leodoro, seu Galdino tivera um namorico passageiro com a Gertrudes, mas sem nenhuma aproximação corporal, e   em um passeio na praia de Tibau, ali, pelas dunas, e numa delas, meio declinada, para saber se o Galdino teria interesse por ela de verdade, Gertrudes pediu ao seu Galdino que pegasse para ela uma flor, viçosamente, nascera entre as areias coloridas daquela duna. E seu Galdino partiu para apanhá-la. Mas, infelizmente, ao tentar segurá-la, ele caiu de barreira abaixo. Quando ela viu que o jovem paquerador iria se arrebentar ali mesmo, virou-se para o outro lado e gritou:

- Não precisa mais Galdino, eu já peguei uma aqui.

E logo, lá se vinha seu Galdino subindo a duna todo quebrado.

Mas nessa noite em reunião, depois de algumas histórias de onças contada por seu Galdino, seu Leodoro pretendeu criar uma historinha para ele ouvir. E de repente, surgiu com a sua  meio cabeluda.

- Eu sempre gosto de ouvir as suas histórias sobre onças compadre, porque tudo é possível. A que eu tenho para lhe contar não é sobre onças, mas muito interessante. A última vez que a Gertrudes, minha esposa, foi visitar os seus familiares lá nas Minhas Gerais, fez um passeio nas águas de uma lagoa sobre o lombo de uma cobra sucuri, com mais de 20 metros de comprimentos, e da espessura de um tonel. 

https://www.cobras.blog.br/sucuri

Ela ainda me adiantou que - continuava seu Leodoro - a sucuri já era treinada para este fim, servindo de prancha para os turistas que ali apareciam e queriam surfar sobre as águas da lagoa. O que ela me contou, fiquei de boca aberta, compadre! O início do passeio foi na beira da lagoa, a sucuri deu partida, isto com a Gertrudes em cima dela, em pé, de braços abertos, como se fosse uma sufista, ou a estátua do Cristo Redentor, e saiu rodeando a lagoa, isto com toda velocidade. E quando chegaram ao lugar de onde haviam saído, a sucuri deu um freio tão grande, mas foi tão grande que a jogou longe da lagoa, saindo feito uma roda, passando sobre pedras, matos rasteiros, rodando sobre o solo, embolada como se fosse um tatu bola.

- Meu Deus! – Fez seu Galdino.

E quando ela caiu na real, isto é que há tempo que tinha saído de cima do lombo da sucuri, já estava no terreiro dos seus familiares, porque havia esbarrado em um rio que passava em frente à casa da família. E ao cair nele, a água corrente a levou até lá".

- Minha nossa Senhora! Que coisa, hein! – admirou-se seu Galdino.

Já satisfeito com o troco que havia dado ao seu Galdino, sobre um história que ele contara ali mesmo, seu Leodoro disse:

- Eu já estou indo, compadre Galdino. Eu preciso ir ao campo. 

Despedindo-se, montou-se na égua e foi-se embora.

- Mas que compadrinho mentiroso! Que sucuri que nada! Nesses dias ela irá surfar em outra cobra, mas desta vez surfará é na minha anaconda. -Dizia seu Galdino balançando a cabeça e se desmanchando em risos, pela grande mentira que o Leodoro soltara naquele momento.

Minhas Simples Histórias são mais para eu publicar alguns sites através das fotos.

Se você não gostou da minha historinha não diga a ninguém, deixe-me pegar outro.

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SEU CARA DA PESTE

 Clerisvaldo B. Chagas, 26/27 de janeiro de 2023

Escritor Símbolo de Sertão Alagoano

Crônica: 2.832

O senhor Cirilo, foi o último tropeiro de Santana do Ipanema. Ele, com sua tropa de burros, levava mercadoria para a zona da Mata e de lá trazia produtos para o Sertão. Para a Mata ia o queijo, o feijão, a farinha, a carne de sol e mais. Da Mata chegava o mel de abelha, o mel de engenho, o açúcar, o tecido, a aguardente... A rapadura. Quando seu Cirilo – que morava na esquina de um beco que dava para o rio Ipanema, na Rua Prof. Enéas – chegava de viagem, desarreava a burrama e a soltava para pastar no leito seco do rio. Seu filho, vulgo Lelé, ainda rapazinho, acompanhava o pai naquelas idas e vindas inter-regionais. O senhor Cirilo faleceu e, Lelé, continuou solteiro, foi envelhecendo e passou a ajudar no bar do seu sobrinho Erasmo na Rua e Bairro São Pedro, em torno dos anos 60-70.

Já de cabelos brancos e ainda solteirão, Lelé gostava de uma cachacinha e, quando bebia tirava direto por alguns dias. Nunca perguntamos ao Lelé onde ele estudara, mas ainda era bom de memória na Geografia que naquele tempo era na base da decoreba. Quando o nosso querido amigo de todos bebia, gostava de chamar as pessoas de “cara da peste”. Era sempre testado, quando sóbrio, pelos clientes do bar, sobre pontos geográficos do Brasil e do mundo. Enquanto guardava o dinheiro do cliente num miolo de um rádio velho e que ainda funcionava, respondia o que lhe fora perguntado. Adaptara uma tampa de madeira nesse rádio que era seu orgulho e que pegava, segundo ele, a Rádio Nacional, a Rádio Sociedade da Bahia, a BBC de Londres e outras muitos distantes do País.

Pois bem, Certa feita, um sujeito encontrou Lelé na Rua Antônio Tavares, tão bêbado que estava se segurando às paredes  para não cair. “É agora que eu quero saber se Lelé entende mesmo de Geografia”, pensou o cidadão. Dirigiu-se até o antigo tropeiro e indagou incrédulo: “Lelé, qual é o maior lago do mundo?”. O filho de seu Cirilo ainda fez uns volteios para se manter de pé, foi lá, veio cá, tornou a se segurar às paredes, olhou para o rosto do inquiridor e respondeu cobrando o preço: “não é o lago “Baiká”, na Sibéria, com 636 km 2, SEU CARA DA PESTE!”.

Arre!

Imortalizamos o ex-tropeiro.

CRÉDITO: PROGRAMA ENTREVERO CULTURAL ´PEC

 


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CORISCO, ZÉ BAIANO E BALTAZAR | O CANGAÇO NA LITERATURA | #323

 Por O Cangaço na Literatura

https://www.youtube.com/watch?v=wdVHfuRI0nQ&ab_channel=OCanga%C3%A7onaLiteratura

Baltazar Contra Zé Sereno https://youtu.be/StDlvdrZZF4 Vejam o comentário fixado. Lance inicial: R$ 100,00.

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CANGACEIRO ZÉ SERENO

 Por Helton Araújo

https://www.youtube.com/watch?v=1Qb3RLMf4s8&ab_channel=Canga%C3%A7oEterno

Conhecem a história de vida do CANGACEIRO ZÉ SERENO ?

Ele foi chefe de subgrupo de Lampião e foi um dos que sobreviveu a emboscada do Angicos onde o cangaceiro mor tombou morto.

Para assistir nosso vídeo no YouTube basta clicar no link que está logo abaixo

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QUEM INVENTOU O VIOLÃO?!

. Por Carla Rodrigues

A História do Violão

Atualmente o violão é um instrumento que leva muita alegria e musicalidade por onde passa! Ele está presente nas rodas de amigos, nos churrascos de família, nas orquestras e em diversas bandas dos mais diversos ritmos! Afinal, quem inventou o violão? Esse instrumento tão versátil e interessante! Continue lendo para saber mais sobre a história do violão!

O violão é um dos instrumentos de corda mais populares da atualidade. Não é por menos, ele é leve, o que facilita o seu transporte, além de oferecer uma harmonia quase única no acompanhamento de vozes.

A boa notícia é que ele já existe há muito tempo, de acordo com estudos, e nos ajuda a levar música mundo a fora. A má notícia é que a história sobre sua origem é meio nebulosa. Há diversas teorias e é meio difícil comprovar cada uma dela

Quem Inventou o Violão – Teorias.

Quem inventou o violão?

De acordo com pesquisas e relatos, o violão pode ter se originado da harpa, do alaúde ou até mesmo da viola (ou vihuela, como era chamada na época). Registros históricos indicam que, muito provavelmente, ele já existia desde os anos 2000 a.C. Os pesquisadores encontraram pinturas dessa época, de corpos semi-nus tocando instrumentos similares ao violão.

Alguns pesquisadores defendem a ideia de que na verdade o violão surgiu junto com esses instrumentos, e não que foi originado deles. Mas, o primeiro instrumento que apresentou a estrutura do violão, com corpo oco e pequenos furinhos, no lugar do que é atualmente a roseta do violão, foi mesmo a vihuela.

Vihuela

A vihuela, já existia em sua estrutura de 4 cordas duplas e formato mais arredondado, desde o século XV e XVI. A partir dela, no final do século XVI, Vicente Espinel acrescentou a 5ª corda. No final do século XVIII, Miguel Garcia substituiu as cordas duplas e acrescentou a 6ª corda ao instrumento. E, por fim, no século XIX, o austríaco Johann Stauffer e o espanhol Antonio de Torres Jurado realizaram modificações estruturais e revolucionárias no violão, que o tornaram o que são hoje![fonte]

Ufa… rsrs
Foram necessárias muitas pessoas para que o violão se tornasse o nosso queridinho de hoje, de acordo com essas pesquisas! Gratidão infinita à essas pessoas, não é mesmo? 

Enfim, a partir daí, segundo pesquisas, os modelos criados especificamente por Antonio Torres Jurado, eram muito superiores aos modelos da época, o que fez com que este modelo fosse replicado até os tempos atuais.

Qem Inventou o Violão

Como O Violão Chegou no Brasil?

No Brasil o violão chegou só depois da viola. E na época havia muita confusão para saber qual era qual..rs. Houve um período ainda, por volta de 1920, que os violonistas brasileiros eram tidos como pessoas de má índole. Isso porque o instrumento era muito associado aos boêmios…rs

O importante é que isso tudo passou. E o violão teve um papel importante em dois fatos históricos nacionais. Primeiro no movimento Jovem Guarda, quando muitos jovens tiveram o sonho de ter uma banda de rock, inspirada em bandas como Beattles, por exemplo, nem todos conseguiam comprar uma guitarra, e o violão foi a opção mais adequada.

No segundo momento, na passeata contra a guitarra elétrica, por volta de 1967, quando os jovens da época questionaram o fato de não existir, até o momento, uma música jovem e nacional, que não fosse inspirada nos sons da guitarra elétrica, tão famosa internacionalmente.

O resto da história você deve saber. O Brasil ficou marcado por diversos violonistas que passaram pela história, encantando a todos com a Bossa Nova e MPB.

Violão e Brasil

Quem Inventou o Violão?

Quem inventou o violão ao certo ainda não conseguimos descobrir. Mas já agradecemos de antemão pelo presente que deixou para todos nós.

Fica também a nossa eterna gratidão ao austríaco Johann Stauffer e ao espanhol Antonio de Torres Jurado que deram os retoques finais nesse instrumento de cordas alvo do nosso amor

Você tem algum outro dado sobre como o violão foi feito? Deixa nos comentários, porque eu quero saber! Compartilhe com seus amigos amantes de violão!

veja aqui dicas de como comprar o seu primeiro violão, e como tocar violão sozinho!

 http://amorporviolao.com.br/quem-inventou-o-violao/

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A MORTE DO SARGENTO DELUZ - PARTE V

 Por José Mendes Pereira


Continuando a nossa história que ficamos na parte IV, sendo que a família dos Marinhos estava marcada, assim prometeu o famoso e arrogante sargento Deluz.

O José Maria Valadão que também era genro do fazendeiro João Marinho, tendo ele casado com uma das suas filhas de nome Mariinha, um rapaz descente, jovial e bom amigo. Mas era um homem que não tinha medo de nada e nem tão pouco covarde.

Aquela exigência do sargento Deluz, que queria que o Valadão desse uma surra na esposa, não encaixou bem na cuca do Valadão. A resposta veio o mais rápido possível, dizendo ele que o Deluz parecia ter enlouquecido, porque em toda sua vida de casado, jamais levantou o braço para sua esposa, imaginasse bem, surrá-la. E ele não ficasse pensando que iria bater na sua esposa só porque ele estava mandando. Dada a resposta, Valadão se mandou em busca de casa. Como não pode convencer para surrar a sua esposa, Deluz dizia por aonde chegava que iria matar todos lá do Brejo. Um, era o sogro João Marinho, o Jonas Marinho seu cunhado, a sogra Maria Gomes, e entre os marcados para morrer, também estava o Valadão.

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Aquele sujeito metido à valente iria saber quem era o sargento Deluz, dizia o delegado na bodega de um senhor chamado Mestre Cícero. O sargento Deluz e a esposa Dalva, morando na mesma casa, estavam separados sexualmente.

O inesperado aconteceu. Havia chegado de Pernambuco uma notícia ruim, que a mãe e um irmão do sargento Deluz haviam falecido em um acidente automobilístico. O Delegado enlouqueceu e fez promessa que iria encontrar o responsável pela morte dos seus entes queridos, e o mataria sem nenhuma compaixão. Os quatro lá do Brejo, os seus nomes já estavam registrados na caderneta do cérebro.

O sargento Deluz nem sabia que as suas palavras desaforadas, e além do mais, destorcidas, poderiam chegar aos ouvidos do sogro, cunhados e concunhado. O sogro João Marinho não mais suportava com tanta ameaça feita pelo sargento Deluz, e agora, a solução seria tomar uma decisão e acabar de uma vez por toda com aquele suplício. E só tinha uma solução: o sargento Deluz teria que morrer, caso contrário, quem seriam dizimados eram eles lá do Brejo.

E como ficariam Dalva sua esposa e as suas filhas? O patriarca João Marinho tinha certeza que elas três iriam sofrer muito, mas não pelas mãos daquele infeliz que de momento a momento tentava desrespeitar um deles. Nenhuma morreria por falta de alimento. Tinha muito para lhes dar, e Deus não deixaria faltar nada. O Deluz iria viajar para cumprir o que prometera. Matar o responsável pela morte da sua mãe e irmão.

Continuarei amanhã que será: A morte do sargento Deluz. Não deixa de ler.– Parte Final.

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A VERSÃO DO EX CANGACEIRO VOLTA SECA SOBRE A MORTE DO CANGACEIRO SABIÁ.

Por Jornal “O GLOBO” em 08 de novembro de 1958.


O depoimento (abaixo) foi prestado ao Jornal “O GLOBO” em 08 de novembro de 1958.

CAÇA AO SABIÁ

Além de religioso, Lampião tinha-se na conta de homem decente. Gostava de mostrar isso quando se tratava de mulheres violentadas. Ele podia admitir as crueldades de José Baiano, mas nunca admitiu que um “cabra” violasse uma mulher e continuasse vivo. O amor era livre, mas o amor correspondido, nunca o amor forçado, amor de violência...

Vou, aliás, encerrar este capítulo contando um fato desses, que se deu com o bando em Lagoa do Rancho, no interior da Bahia. O bando estava acampado nesse local, quando, após alguns dias, estourou um escândalo: o dono da fazenda onde estávamos queixou-se a Lampião de que um de seus “cabras” havia estuprado sua filha. Lampião, seguido pelo bando, foi ver a filha do fazendeiro, e o quadro a que assistimos era triste: a mocinha (pouco mais de treze anos), horrorizada, chorava e estava num estado lamentável. O autor do ato bárbaro fora Sabiá, um rapaz forte, com seus dezoito anos, mais ou menos, e novo no bando.

Praticado o atentado, Sabiá, provavelmente caindo em si, fugira para o mato a uns quinhentos metros da fazenda, quando muito. Lampião, depois de ver o estado em que ficou a filha do fazendeiro, falou secamente: 

- Volta-Seca e Gavião... Vão buscar Sabiá!.

- Eu e Gavião saímos à procura de Sabiá, e fomos encontrá-lo entrincheirado atrás de uma pedra grande. Não quis fugir para longe, e estava apavorado. Quando nos aproximamos, ele gritou:

- Não avancem mais um passo que abro a cabeça dos dois a bala!

Olhei para Gavião e certifiquei-me de que faria mesmo o que prometera, mas felei-lhe: 

- Sabiá... O capitão quer lhe falar, e nos mandou buscar você. 

A resposta não tardou:

- Pois eu não vou e vocês não se aproximem. Se o capitão quer falar comigo, que venha ele mesmo me buscar.

- Achei muita ousadia, mas não tentei capturá-lo. Seria loucura, pois estando num ponto ideal para defender-se, matar-nos-ia facilmente. Olhei para Gavião e retornamos à fazenda. Lampião, quando nos viu sozinhos, perguntou intrigado: 

- Cadê ele? Fugiu?

– Não, senhor, respondi. Sabiá está entrincheirado ali embaixo, atrás de uma pedra. 

– Por que não trouxeram ele? Retornou Lampião. 

– Porque ele nos mata. Nós dissemos pra ele se entregar porque o capitão queria falar com ele. Mas ele disse que o senhor vá buscar ele, se quiser.

Foi a conta! A testa de Lampião franziu-se, os lábios se comprimiram e, trilhando os dentes, falou: 

- Cachorro, pois vou buscar esse cão... 

E mandou que eu e Gavião o guiássemos até o local onde Sabiá se encontrava.

Sabiá estava ainda no mesmo lugar, como se nos esperasse. Quando já estávamos a uma boa distância, distância esta aconselhada pela prudência, eu e Gavião paramos, mas Lampião continuou andando no mesmo passo, sem se abalar e sem dar a menor importância a nós dois. 

Sabiá, ao vê-lo cada vez mais próximo, berrou: 

- Pare, capitão, que eu atiro... Pare! Pare! 

Lampião só parou a uns cinco metros da pedra. Segurava o fuzil com as duas mãos, na posição de soldado que se prepara para uma carga de baioneta. 

Eu e Gavião, à distância, estávamos admirados com o que víamos e, por mim, digo que julguei ter chegado o fim de Lampião, pois Sabiá era um rapaz valente.

VOCÊ NÃO ATIRA EM NINGUÉM

- Não avance nem mais um passo, capitão, que eu atiro! Ninguém vai me pegar!, dizia Sabiá.

Lampião olhou-o por um momento e, de repente, falou: 

- Você não atira em ninguém, menino. 

E avançou. Avançou resoluto, com Sabiá fazendo pontaria para ele. A todo instante eu esperava o estampido assassino do fuzil de Sabiá, mas o tiro não saiu. Frente a frente com Sabiá, Lampião gritou: 

- Atira, cachorro! Atira! 

E Sabiá não atirou... Pelo contrário, arriou o fuzil. Foi seu fim, pois Lampião, rápido, deu a coronha de seu fuzil na cara do rapaz, que rolou pelo chão, ensanguentado.

Eu e Gavião aproximamo-nos depressa do local e Lampião mandou que o levássemos a fazenda. Desarmei Sabiá e, eu de um lado e Gavião do outro, levamo-lo de volta, enquanto Lampião ia à frente, a passos rápidos. Sabiá estava tonto, com a boca arrebentada e todos os dentes da frente quebrados. Sangrava muito e vinha amparado por mim e Gavião.

Na fazenda, todos se acercaram de nós. Eu sabia que a coisa ia ter um trágico, pois Lampião estava furioso. Foi feito um círculo de gente e, no meio dele, Sabiá, ladeado por mim e Gavião, com Lampião na frente, que olhava sem afastar por um segundo sequer os olhos de Sabiá. Olhava-o com ódio, sem dizer nada, e o silêncio era completo, pois ninguém ousava falar. Sabiá mal se aguentava em pé. Estava vencido. Vencido e convencido.

Lampião, então, pôs-se a falar:

- Vais morrer porque não prestas, cão. É por causa dessas coisas que falam mal da gente por aí. Mas eu te dou um exemplo, pra todos saberem que o bando de Lampião tem vergonha.

FUZILADO

E, apontando para dois empregados da fazenda, ordenou: 

- Vocês dois aí, cavem um buraco para enterrar esse Cabra. 

Os homens obedeceram e, de enxada em punho, puseram-se a abrir a cova. Sabiá não falava, e tenho até a impressão de que não compreendia o que se passava.

Depois de alguns minutos, a cova pronta, isto é, dada como pronta por Lampião, apesar de não ter mais de dois palmos de profundidade, mandou ele, que os dois homens parassem e, apanhando uma “Berbere”, apontou para a cara de Sabiá, que nem moveu a cabeça. Quem estava atrás de Sabiá correu para se abrigar. Lampião fez a pontaria e gritou: 

- Vai-te pros infernos, cão! E deu no gatilho! 

Sabiá caiu morto, mas Lampião continuou a atirar. Houve quem contasse quinze tiros... Aquela expressão: 

- Vai-te pros infernos!” 

Era muito comum a Lampião, quando matava alguém naquelas condições. Saciada sua fúria assassina, Lampião ordenou aos dois empregados que abriram a cova:

- Joga este peste aí! Cachorro se enterra de qualquer jeito!

Mas a coisa não acabara ainda. Lampião virou-se para mim e Gavião e disse: 

- Vocês dois são os culpados, pois eu mandei vocês vigiarem Sabiá. Eu sabia que esse rapaz era malucão.

Enquanto falava, segurava ameaçadoramente sua “Berbere”, e eu senti que ele pretendia matar-nos. Mas eu não morreria como Sabiá, pus logo a mão no parabélum e respondi: 

- Nós estávamos tomando conta dele, mas ele fugiu. Que é que podíamos fazer? 

O fazendeiro, pai da moça, talvez horrorizado com o que assistiu, veio em nossa defesa dizendo que, de fato, ninguém deu pela coisa, pois Sabiá agira premeditadamente...

Todo mundo foi enganado, seu capitão... disse o fazendeiro.

Parecia que já tinha passado o ódio de Lampião, pois ele deu as coisas e afastou-se. Eu respirei aliviado. Sabia muito bem o que significava a sua frase: “Tanto faz matar um como mil”. Ele não parece ter ficado zangado comigo, pois no dia seguinte já me dava ordens. Aliás, a morte de Sabiá foi dramática, mas não foi a única motivada por estupro. Outros “cabras” encontraram o mesmo fim, uns nas mãos de Lampião diretamente, e outros nem essa chance tiveram, pois Virgulino mandou que outros os exterminassem.

Fonte: Jornal O GLOBO.

Geraldo Antônio de Souza Júnior (Administrador do Grupo).

 Fonte: facebook

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CANGACEIRO CASSIMIRO HONÓRIO X JOSÉ DE SOUSA - AÇÃO NOBRE DE UM RUDE.

Por Ângelo Osmiro Barreto

Conta o escritor Ângelo Osmiro Barreto que em 1910, durante o período da Semana Santa, o lendário Cassimiro Honório, um velho cangaceiro do alto sertão pernambucano, da afamada região do Navio, promoveu um formidável cerco a um dos seus inimigos José de Sousa.

Melânia era filha de Cassimiro Honório, havia sido roubada por José de Sousa. O pai da moça, inconformado com a atitude do jovem sertanejo, arregimentou um grande contingente de cangaceiros e retomou a filha do jovem apaixonado. O episódio criou grande rivalidade entre os dois sertanejos, homens valentes e acostumados às lutas, numa época em que as divergências eram resolvidas à bala. A justiça, pouco ou nada fazia para resolver essas pendengas.

Durante um grande cerco promovido por Cassimiro Honório à fazenda de José de Sousa que durou sete dias, um fato interessante chamou a atenção de todos.

Dentre muitos homens valentes de ambos os lados, um iria se destacar pela sua atitude nobre. José Rajado, sertanejo rude com sangue no olho como se diz até hoje naqueles sertões, brigava entrincheirado ao lado dos comandados de Cassimiro Honório.

Passados três dias de luta renhida, José Rajado escutou um choro de criança vindo de dentro da casa sitiada. O choro persistente chamou a atenção do cangaceiro.

Aquela criança aos prantos só poderia estar com fome, pensou o cangaceiro naquele momento da luta. Em ato repentino José Rajado levantou as mãos, e aos gritos, pediu para que o tiroteio fosse suspenso.

Surpresos com a atitude pouco comum do bravo sertanejo, os contendores pararam os tiros, e o silêncio tomou conta do lugar por alguns momentos. O cangaceiro José Rajado, propôs aos sitiados que se prometessem não o alvejar, iria ao curral, ordenharia umas cabras e levaria o leite para a criança que estava chorando com fome.

José de Sousa prometeu todas as garantias a José Rajado, que confiando na palavra empenhada do inimigo, foi ao curral, encheu um balde de leite e deixou-o em frente à porta da casa sitiada. Retornou ao seu local de combate, e após estar novamente seguro, o tiroteio recomeçou.

O cangaceiro José Rajado, apesar de toda sua rudeza, acabara por praticar um ato da mais alta nobreza.

Esta informação é do escritor e pesquisador do cangaço, Ângelo Osmiro Barreto, com a colaboração do confrade natalense Ivanildo Alves Silveira, colecionador e pesquisador do cangaço.

http://lampiaoaceso.blogspot.com/2009/08/cangaceiro-cassimiro-honorio-x-jose.html   

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A PATENTE DE CAPITÃO - PARTE I

Autor Nertan Macedo

 

“Chegamos ali, fomos recebidos em festas. Deixamos a roupa de cangaço e nos fardamos. Lampião recebeu a patente de capitão, Antonio Ferreira primeiro tenente, Sabino segundo, e Luiz Pedro primeiro-sargento e eu segundo. De volta da excursão contra Prestes, onde foi até a Bahia, Lampião, sentindo-se logrado, avisou: “Quem quiser debandar, pode ir. Eu volto ao cangaço”. Saímos do Juazeiro com vinte e dois homens e ao chegarmos a Pernambuco tínhamos mais de cem”

(DO DEPOIMENTO DO GATO BRAVO)
“Correio do Ceará, 9 de agosto de 1948)

NÃO É VERDADE que os sinos das igrejas do Juazeiro do Padre Cícero hajam repicado saudando a entrada de Virgulino Ferreira.

Na porta da cidade mística o bando estacou, permanecendo numa casinha de beira de estrada, nas imediações da fazenda do doutor Floro.
À noite, por volta das dez horas, Virgulino deslocou-se com sua gente para a entrada da rua, indo alojar-se no sobradinho do poeta João Mendes de Oliveira, rodeado da admiração e do pasmo dos “casacas” e povo.

Foi na casa do poeta que ele deu uma entrevista famosa ao doutor Otacílio Macedo, médico e jornalista de Crato.

Perguntou-lhe o doutor:

“Por que não larga essa vida, Capitão, o senhor que já tem tanto dinheiro? Por que não vai embora para Goiás ou Mato Grosso, deixando de vez essa existência perigosa?”

“Doutor, o senhor estando bem numa vida, o senhor larga ela? Assim sou eu!” – replicou Virgulino, sentado a uma mesinha, bebendo cerveja quente, rodeado pelo jornalista, Antonio e Sabino.

Na rua, populares chamavam por Lampião. O doutor testemunhou as quatro ou cinco vezes em que ele se levantou, no meio da conversa, encheu o chapéu de couro com moedas e, da janela da casa, jogou-as de esmola ao povo aglomerado na frente.

Em sua entrada de Lampião na Cidade do Padre Cícero, João Martins de Athayde conta essa entrevista:

“Num tamborete sentado
Lampião só respondia
As perguntas que o repórter
Com acento lhe fazia
Sempre de arma na mão
Prestando muita atenção
Ao movimento que havia.

Assim naquela atitude
Rosto firme, olhar insano
Quem o visse não dizia
Ser um ente desumano
Prestava atenção a tudo
Com um caráter sisudo
Parecia um soberano

O repórter perguntou
A Lampião sua idade
Tenho vinte e sete anos
Com toda serenidade
Sinto-me bastante forte
Não tenho medo da morte
Num fujo da autoridade”

O poeta narra depois, a visita que uma velhinha fez a Lampião, no sobradinho de João Mendes. Foi das mais generosas a recompensa de Virgulino ao gesto da anciã:

Disse a velha aqui eu trago
Remédio pra sua dor
Guarde consigo esta imagem
E tenho fé no criador,
Pelo poder do Messias
Inda brigando dez dias
Bala não fere o senhor.

Recebeu ele a imagem
Da forma que lhe convinha
Acreditando o milagre
Que a velha disse que tinha
Pegou um dos seus anéis
E mais um conto de réis
Botou na mão da velhinha.”

Quem não quis se conformar com a presença de Lampião ao Juazeiro foi o sargento José Antonio do Nascimento, do destacamento local. Primeiro, pretendeu evitar a entrada do grupo na cidade. O padre Cícero opor-se ao policial. Virgulino viera na boa fé dos tratados, atendendo a um chamado do doutor Floro, seu amigo, que retornara doente ao Rio de Janeiro – e qualquer ato contra o cangaceiro seria de traição e deslealdade, ferindo, além do mais, aquilo que o reverendo prezava: a hospitalidade sertaneja.

João Martins de Athayde dá-nos notícia dessa reação do padre:

“Todos olham pra ele
Com muito ódio e rancor
Eu sou o chefe da igreja
Dei prova de bom pastor
Não consinto violência
Tenham santa paciência
Não posso ser traidor”.

Lampião, informado dos planos do sargento, a este escreveu uma carta muito difundida; José Antonio comandava um destacamento reduzido, mas acreditava poder arregimentar uns cem homens no Juazeiro para prender Virgulino. Com esse plano não concordou também o então delegado de polícia da cidade, Manuel Timóteo, cujo suplemente não pôde assumir o lugar por ter “adoecido” subitamente.

Disfarçou-se o sargento José Antonio e foi visitar Lampião, que o reconheceu e até comentou:

- Não é esse o tal sargento que queria me prender?

Mestre Francisco Vicente da Silva Cavalcante, barbeiro no Juazeiro, passou quase todo um dia cortando o cabelo dos homens de Lampião. Este foi o primeiro a depilar-se. Depois, disse a mestre Chico:

- Mestre, não tenho dinheiro no momento. Posso pagar Depois?

Contou, anos mais tarde, a um jornal carioca, o fígaro sertanejo:

“O Capitão Virgulino Ferreira Lampião não penetrou na cidade sem aviso prévio ao meu padrinho. Só depois que meu padrinho providenciou aposentos para todos eles é que Lampião chegou, numa quinta-feira, permanecendo até domingo. Cangaceiros andaram livremente na cidade, fazendo compras, mas desarmados por ordem do chefe. Foram três dias de festa, sem que ocorresse qualquer incidente”.
Dias depois mestre Chico recebia o dinheiro dos cortes, dez mil réis, inclusive gorjeta, que o Capitão Virgulino lhe enviara através do mano João Ferreira.

Pedro Maia e Lauro Cabral, moradores no Crato e na Barbalha, foram especialmente a Juazeiro bater umas fotografias do Capitão.

Certa madrugada o padre Cícero chegou ao sobradinho de João Mendes. Ajoelhadas contritos, Lampião e o bando receberam a bênção e os conselhos do taumaturgo. Este, ao retirar-se, bateu no ombro de Virgulino, dizendo:

“Ô menino! Quando voltar da campanha há de deixar essa vida de desordens!”

O padre aludia à campanha contra a Coluna Prestes. Vigulino não respondeu sim nem não ao patriarca. Depois confidenciou a várias pessoas:

“Só posso largar o cangaço daqui há três anos!”

HAVIA ENTÃO no Juazeiro um funcionário público federal, o agrônomo Pedro de Albuquerque Uchoa, que ali exercia o cargo de Inspetor Agrícola do Ministério da Agricultura. Certa noite foi convocado à presença do Padre Cícero.

Em casa foram busca-lo, a mando do sacerdote, Antonio Ferreira e Sabino Gomes.

Ao chegar à presença do Padre Cícero, ouviu dele o seguinte:

“Uchoa, você vai preparar três patentes: uma de capitão para Lampião, de primeiro-tenente para Antonio Ferreira e outra de segundo-tenente para Sabino. Você é um funcionário federal e tem credenciais para expedir os documentos...”

Pedro Uchoa ficou perplexo. Anos mais tarde ele confessaria a Leonardo Mota que, em tal emergência, assinaria atém mesmo “a demissão do presidente Bernardes, quanto mais a patente de Lampião”

Quis objetar, todavia, mas Antonio Ferreira interveio, pondo-lhe a mão no ombro:

“Que nada, seu doutor, meu padrinho mandou o senhor escrever o documento e ele sabe muito bem o que ele está dizendo: fala logo as patentes e deixe o resto com a gente e com o meu padrinho...”

Passou então o padre ao funcionário uma folha de papel e ele mesmo ditou a promoção:

Em nome do governo dos Estados Unidos do Brasil, nomeio ao posto de Capitão e cidadão Virgulino Ferreira da Silva, a primeiro-tenente Antonio Ferreira da Silva e, a segundo-tenente, Sabino Gomes de Melo, que deverão entrar no exército de suas funções logo que deste documento se apossarem. Publique-se e cumpra-se. Dado e passado no Quartel-General das Forças Legais de Juazeiro” etc.

Concluído o decreto, o padre disse ao agrônomo:

“Agora ASSINE” O Floro que e deputado federal, não está aqui e eu não exerço nenhum cargo. Você, porém como inspetor agrícola, é uma autoridade federal...”

Uchoa assinou. De volta para casa, ainda em companhia dos tenentes Antonio Ferreira e Sabino, o agrônomo tomou coragem e ponderou:

Eu acho que aquelas patentes não valem, pois eu sou um simples funcionário subalterno...

Antonio Ferreira, ríspido, replicou:

- Não tem mais o que discutir. Meu padrinho mandou fazer e o que ele manda fazer, vale!

FARDADO E MUNICIADO com fuzis do Exército, o bando acrescido de novos soldados, lampião caiu, outra vez, na caatinga.

Informado de que os oficiais pernambucanos não reconheceriam a sua patente, deixou a Coluna Prestes movimentar-se livremente, preferindo os caminhos do Pajeú. De volta do Juazeiro, evitou Macapá, onde já se encontrava um destacamento, pronto para recebe-lo a bala.

Rumou para Jardim, onde chegou à noite. O bando marchara vanguardeado por Antonio Ferreira que, na entrada da cidade, havia estabelecido um complexo serviço de segurança para a mano Capitão.

Em Jardim, Lampião dirigiu-se à casa do prefeito José Caminha de Anchieta Gondim, o coronel Dudé, assegurando-lhe, pessoalmente, que os seus homens estavam sobre controle da mais severa disciplina.

Os patriotas de Virgulino puderam, assim, acantonar no edifício da cadeia pública e no prédio onde funcionava o colégio local, livres e desembaraçados.

Três dias ali ficaram.

O corneteiro do bando, Jurema, entendeu, todavia, de pular por cima das ordens de Lampião. Primeiro deu um “giro” pela ponta de rua, onde se aboletava o meretrício e onde demorou em fornicações e bebedeiras com mulheres-damas do Jardim. De volta ao quartel andou soltando a língua na rua, dirigindo gracejos a uma senhora.

Sabedor das aventuras galantes do corneteiro, o Capitão mandou dar-lhe uma surra de relho de couro cru, no meio da rua, por dois dos seus soldados. Jurema não saiu vivo de tamanho corretivo, morrendo, dias depois, em abandono, numa calçada.

Era a disciplina prometida ao coronel Dudé, na hora da chegada do batalhão.

Virgulino requisitou do comércio local todo o estoque de vinho Constantino para os seus patriotas, retirando-se, em seguida, para Engenho d’Água, a dois quilômetros de Jardim, face a um boato corrente de que a Coluna Prestes andava pelas imediações.

Dias depois, saía do Ceará.

Mestre Zuza, ferreiro de Jardim, a pedido do Capitão, cortara o cano do fuzil que ele trazia do Juazeiro. Da calçada da cadeia pública, Virgulino Ferreira espiou o céu em torno.  Divisou um urubu pousado no cume da torre da matriz, a mais de trezentos metros donde ele se achava, examinando a arma que mestre Zuza degolava.

Aí Lampião mirou a arma e fez fogo. O urubu despencou da torre e estatelou-se morto, no patamar da igreja.

Era assim a pontaria do Capitão.

UM ANO DEPOIS Lampião batia às portas de Mossoró, no Rio Grande do Norte.

Fonte: Capitão Virgulino Ferreira Lampião
Nertan Macêdo

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