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sexta-feira, 6 de setembro de 2019

A MORTE DE NENÉM DE LUIZ PEDRO.




Sila juntou-se a Zé Sereno provavelmente no dia 07 de novembro de 1936. Ela conta que, na véspera, fez a “arrumação da trouxa” e para comemorar o fato Zé Sereno à noite deu uma festa que terminou tarde. Zé Sereno estava com seu grupo junto com o de Luiz Pedro. Naquela noite, Sila dormiu em sua casa pela última vez.

No dia seguinte – que ela chama de “data marcada” – ela e os irmãos foram ao encontro do bando, que se encontrava embaixo de uma quixabeira perto de casa. Deixando as terras de Poço Redondo, os cangaceiros partiram em direção a Paripiranga, na Bahia. Viajavam a pé.

Eram 12 pessoas. As únicas mulheres eram Sila e Neném de Luiz Pedro.

No terceiro dia, 9 de novembro de 1936, arrancharam-se na casa de um coiteiro na Fazenda Algodãozinho, perto do povoado Mocambo, na estrada de Carira para Itabaiana. Muita comida, muita cachaça. Ao anoitecer, o vigia deu o alarme: vinha chegando sorrateiramente a Volante do Sargento DELUZ. Iniciou-se o tiroteio. Neném, cangaceira experiente, pegou a novata pelo braço e correu com ela para o curral, ao lado da casa, enquanto os homens sustentavam o contra-ataque, a fim de dar tempo para que elas fugissem.

Aparentemente a fuga seria fácil, pois os cangaceiros contavam com a escuridão da noite. Quase todos já haviam transposto a cerca de arame farpado do curral, quando ouviram um baque surdo. Gumercindo, irmão de Sila, avisou:

- Luiz Pedro, Neném tá “ferida”!

Um cangaceiro que vinha atrás corrigiu:

- Tá não, tá morta “mermo”!

Luiz Pedro, desesperado, voltou para socorrer a companheira, porém um cangaceiro derrubou-o ao chão e arrastou-o para o mato. Luiz Pedro gritava:

- “Fios” da puta! Mato tudo, um por um, raça “disgraçada”!

Os cangaceiros meteram-se na caatinga. Foram dormir nas terras da Fazenda Lagoa Comprida, de Napoleão Emídio.

Enquanto isso, no curral da Fazenda dava-se um ato de selvageria:

Os soldados serviram-se (Sexualmente) de Neném, já morta. Por fim, estimularam um cachorro a fazer o mesmo.

Na fotografia acima estão: Luiz Pedro, Neném do Ouro (Neném de Luiz Pedro) e o cachorro "Ligeiro" que pertencia à Lampião.

Fonte: Livro "Lampião - A raposa das caatingas" de José Bezerra Lima Irmão.

Transcrição: Geraldo Antônio De Souza Júnior



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LAMPIÃO E O SINHÔ PEREIRA

Por Verluce Ferraz

Lampião ingressa no cangaço para o Grupo de Sinhô Pereira e seu primo Luiz Padre. Depois, com o seu chefe abandonando o mundo do crime, Lampião assume o comando de um dos grupos e passa a comandar os criminosos. Valendo-se do mesmo pretexto de Sinhô Pereira, que entrara para o cangaço para vingar o patriarca de sua família, Lampião simpatizou com a ideia e também vai seguir aquela falácia...


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LIVRO “O SERTÃO ANÁRQUICO DE LAMPIÃO”, DE LUIZ SERRA


Sobre o escritor

Licenciado em Letras e Literatura Brasileira pela Universidade de Brasília (UnB), pós-graduado em Linguagem Psicopedagógica na Educação pela Cândido Mendes do Rio de Janeiro, professor do Instituto de Português Aplicado do Distrito Federal e assessor de revisão de textos em órgão da Força Aérea Brasileira (Cenipa), do Ministério da Defesa, Luiz Serra é militar da reserva. Como colaborador, escreveu artigos para o jornal Correio Braziliense.

Serviço – “O Sertão Anárquico de Lampião” de Luiz Serra, Outubro Edições, 385 páginas, Brasil, 2016.

O livro está sendo comercializado em diversos pontos de Brasília, e na Paraíba, com professor Francisco Pereira Lima.

franpelima@bol.com.br

Já os envios para outros Estados, está sendo coordenado por Manoela e Janaína,pelo e-mail: 


Coordenação literária: Assessoria de imprensa: Leidiane Silveira – (61) 98212-9563 


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GRUPO CANGACEIRO - RESPEITO, GOSTO E LUTA


Do acervo do Pedro Melo

Da visita de Lampião e seus cangaceiros em Capela, Sergipe em novembro de 1929.

Perguntas foram feitas a cangaceiros pelo Dr. Odilon Machado, médico local.

De Arvoredo ao Dr. Odilon

- Eu só respeito vigaro, que é representante de meu padim padre Cícero. Não atiro em quem está dentro da igreja. Gosto de santo, mas não de cabra safado.

Perguntado a Mourão do que mais gostava, respondeu:

- Carne de bode, dança e rabo de saia.

Perguntei a Zé Baiano se, quando entrava em combate, não tinha nervoso e medo. A resposta veio logo:

- Seu majó, a gente gosta do forguedo. No começo corre um suorzinho até o fim da espinha; mas depois do fogo, sobe na cabeça da gente uma corage do inferno. É preferível morrê com o fuzi na mão do que na cama como um mulambo véio, de caganeira ou de tripa gaiteira entupida...

Fonte: MACEDO, N. -1975- Rio de Janeiro/RJ
Foto: Na mesma ordem da imagem. Zé Baiano à esquerda e Arvoredo sentados, Mourão de pé. 
Autor: Eronides de Carvalho, Fazenda Jaramataia, Gararu.


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MEMORIAL ALCINO ALVES COSTA, A LUTA

*Rangel Alves da Costa

Por falta de apoio/patrocínio/ajuda, eu deixei de promover dois eventos em memória de Alcino Alves Costa: em 17 de junho, data de seu nascimento, e em 1º de novembro, data de falecimento. Estava se tornando demasiadamente constrangedor ir atrás de uma colaboração que pouco ou nunca chegava. Mas eu almejava e queria muito mais.
Minha real intenção era que muitos eventos artísticos, culturais e históricos, fossem promovidos pelo Memorial. Ao menos uma vez por mês, ter uma sanfona tocando, os Pífanos dos Vito ecoando, os cantadores sertanejos soltando suas vozes em toadas, aboios e repentes. Seria muito bom se de vez em quando eu pudesse convidar o amigo Vem-Vem do Nordeste e outros repentistas. Convidar Antônio Neto, Babá, Paulo Nunes, Niltão e tantos outros.
Que tal chamar Raimundinho com sua sanfona? Que tal promover, saindo do Memorial e percorrendo as ruas da cidade - debaixo da lua grande -, memoráveis serestas como antigamente se fazia? Que tal ouvir Jayne Cláudia e Clésia Santos, Léo Lima e Leno, cantando somente músicas da terra? Convidar Val Santos para alegrar as noites matutas com sua voz maravilhosa e sua cantoria cheirando a sertão, que tal? Convidar grupos de xaxado, de quadrilhas e de teatro de rua, para apresentações defronte à Casa da História e da Cultura de Poço Redondo?
Eu queria demais, o Memorial gostaria demais que assim acontecesse, mas... Através de Antônio Neto, convidar forrozeiros amigos seus para um grande evento, aos moldes antigos, em cima da carroceria de caminhão, como Alcino fez na década de 70, ao trazer a Poço Redondo nada menos que doze renomados artistas nordestinos. Que bom seria se a dupla Júlio e Babá, que sempre acompanhou Alcino em suas composições, novamente soltasse sua voz em sua homenagem.


Raimundo Eliete certamente traria grandes exposições sobre a história sertaneja e nordestina. Bonsucesso e outras povoações locais estariam presentes com suas cavalhadas mirins, seus reisados, seus pastoris. Um sonho do Memorial sempre foi promover um grande evento com as diversas manifestações culturais da Família Vito: pífanos, samba-de-coco, aboios e toadas, e muito mais. Contudo, tudo isso demanda gasto, custo, despesas. Alguns se apresentariam graciosamente, mas outros não. E não adianta dizerem que promova que algum apoio chegará.
Eu fazia eventos em nome da memória de Alcino e mesmo alguns de seus filhos jamais chagaram pra perguntar se seu estava precisando de alguma coisa. Quando eu pedia, então relegavam ao esquecimento. Fica difícil assim, não é? Pegar uma cuia e ir catar alguma coisa no comércio, é algo que não faço mais de jeito nenhum. Apenas o mínimo de colaboração. Há um grande mal no comércio e no meio empresarial de Poço Redondo que é a omissão e o completo distanciamento da realidade local, com seus aspectos culturais e históricos.
Mas há um fato que me deixa ainda mais entristecido. Em quase todo cartaz de festa há um grande número de patrocinadores, entre políticos, empresários e até mesmo filhos de Alcino. Mas então me pergunto: por que nunca dão uma parcela mínima dessa ajuda ao Memorial? Somente eu sei quanto custa manter o Memorial, ir atrás de acervo e lutar para que tudo seja bem preservado. Somente eu sei quais são os verdadeiros amigos do Memorial, pessoas da comunidade que ajudam com o quanto podem. As pessoas ajudam, mas as empresas, os órgãos públicos e administração municipal não.
Por isso mesmo que o Memorial não faz mais, não promove aqueles eventos que tanto desejaria e nem tem uma presença mais ativa perante a comunidade. Gostaria de fazer mais e fazer tudo isso. Mas infelizmente não pode.

Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

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ENGRAÇADA ENTREVISTA COM LAMPIÃO

Por José Mendes Pereira

É apenas uma brincadeirinha com o capitão Lampião que eu escrevi em 2010, sem desrespeitar ou ferir a família Ferreira. Mas lembrando ao leitor que aqui existem palavras ditas por ele mesmo.

Como já faz mais de dois anos (eu escrevi em 2010) que eu venho estudando a literatura lampiônica, e que muito me tem dado bons conhecimentos, no que se refere a cangaço, e ao famoso e lendário cangaceiro do nordeste, o capitão Lampião como é conhecido mundialmente; e quando eu leio algo sobre este desastroso movimento social daqueles perigosos jovens, tenho a impressão de que estou caminhando com eles pelas caatingas do Nordeste, apesar de não as conhecer.                 
               
Mas em cada lugar que eles passaram eu tenho na mente como eram os cerrados, as caatingas, os rios, as invasões, o rio São Francisco, o Raso da Catarina, os coitos que eles faziam, os bailes perfumados, as negociações com os fazendeiros, as tocaias... É como se eu estivesse dentro do cangaço, vivendo todos os movimentos que eles faziam.     

Certo dia, eu tive um sonho, e nele, me tornei num repórter, aonde cheguei a fazer algumas perguntas ao famoso Lampião.  Apesar de ter sido um homem perverso, mas ele me recebeu muito bem, obrigado, respondendo as minhas perguntas, as quais eu passo para os meus leitores como aconteceu esta sonhadora entrevista.
                              
JMP – Por que entrou para o mundo do crime?                       
               
Lampião – Primero qui tudo têno qui mi indentificá quêim eu sô. Chamu-mi Virgulino Ferreira da Silva, e pertenço à humide famia Ferreira, do Riacho de São Dumingo, municipe de Vila Bela. Meu pai, pur ser cunstantimente pirsiguido pela famia Nogueira e em especiá, pur Zé Saturnino, um dos nosso vizinhos, arresoiveu ritiraçe para o municipe de Água Branca, no istado de Alagôa. Nêim pur isso ceçô a pisiguição.  Im Água Branca, mina mãe faliceu. A causa: caiu im dipreção, divido a pisiguição daquele dirgraçado, o Zé Saturnino. Tumbêim, lá foi açacinado o meu pai, José Ferreira da Silva, pelos Nogueira e Saturnino, no ano de 1920. Não cunfiando na ação da justiça púrbica, pur quê os açacino contava cum a iscandaloza potreção dus grande, risoivi fazê justiça pur mina conta pórpia, isto é, vingá a morte do meu prugenitor. Não pirdi tempo, e risolutamente arrumei-me e infrentei a luta. Não iscuí gente das famia inimiga para matá, e ifitivamente cunsigui dizimá-las cunsideravimente. Pur isso digo qui eu intrei pru mundo do crime, não pur mardade mina, maiz pur mardade dos outo.  (Nesta resposta muitas palavras ditas por ele mesmo ao Dr. Otacílio Macedo quando de visita a Juazeiro do Norte em 1926). 

JMP – E quais foram as maldades?   
              
Lampião – Veja se eu têio ou num razão. Em 1915, ocorreu uma das maió secas da rigião nordistina, de intencidade e duração até intão nunca vista. Us meus paiz, coitado, sofrendo cumo tanta ôtras famía, risoiverum viajá até Juazero do Norti, im visita a meu padim padi Cíço. Cumo era custume de muita famia nordistina irem à prucura de ajuda riligiosa, meu pai tumbém dicidiu prucurá os riligioso. E para qui a prupriedade num ficaçe abundonada, eu num viagei cum os meu paiz. Fiquei no sítio prá cuidá dos afazer rutineirus. Dias dispois, cumeçou a dizaparecê caprinus. Eu cumeçei a investigá, tentando discobrí o respunsávi e ricuperar os nosso animá. Insisti até principe do ano de 1916.                                  
               
JMP – E daí, capitão, o que aconteceu? – interrompi-o, mas ele  nem gostou. 
               
Lampião – Caima! Vosmicê mi parece vexado!... Certo dia, eu discubri quêim era o ladrão dos nosso animá. 

              
JMP – E quem era o ladrão, capitão?                                    
              
Lampião – Espera sugeto! Vosmicê é ingual aquele apresentadô da Grobo, um tá de Fastão. Num ispera que ninguém dê a resposta!...Poiz bêim! Ontonse intrei na casa de um moradô na fazenda Pedrera, de purpriedade do dito Zé Saturnino.  Cumo eu sempre fui um sugeito curioso (e com isso, eu cunsegui vivê mais de vinte ano no cangaço), vi város côro de cabra e bode, ainda trazendo nais zurêia, as marca dos noço animá. Daí, num tive durda, que aqueles côro erum dus nosso animá que havia dizaparicido. A partir disso, cumeçêi uma guerra cronta aquele safado ladrão, o Zé Saturnino.
              
JMP – E o que aconteceu depois que o senhor descobriu que haviam roubados os seus animais?  
              
Lampião - Se  vosmicê calá eça sua forragera, sugeitinho que num sabe intrevistá ninguêim, eu vô lhe respondê. Maiz se continuá se intrometendo nas mina rispostas, eu coito a sua língua cum o meu punhá. E acho mió agente incerrá  eça intrevista pur aqui...poiz chim! Ontonsse cumo eu ispaiei o açunto, afirmando a quêim eu incrontava, que Zé Saturnino istava robando as nossa cabra, ele virô-se contra a mina famia. Maiz me fartô a paciênça. Findêi matando um dos seus aduladô. E tive que me refugiá lá no istado de Alagôa, juntando-me a meu irmão Livino, que já istava lá. Nóiz ficamo sêim sabê o que fazê. Tumêi uma sulução. Ô tudo ô nada. Cumo o Sinhô Perera sempre foi meu amigo, e já era dono de um bando de cangacero, aliêi-me a ele, isperando que mi deçe apôio. 
                
JMP – Nessa época, quantos anos o senhor tinha? 
                
Lampião – Eu já tava cum 22 ano de idade. Eu ainda era uma criancina.
               
JMP – Sinhô Pereira foi uma influência na sua vida?
               
Lampião – Foi um grande ôme e muito importante na mina vida de bandulero. È tanto que se ele e eu vortássim a viver novamente, e ele fosse cangaceiro, eu iria sê um sordado dele.
               
JMP – A morte de sua mãe, qual foi a causa?                        
              
Lampião – Parece-me que vosmicê ainda num intendeu nada. Ora sebo! Se cum eça cunfuzão tôda, dus rôbo que Zé Saturnino feiz dos nosso animá, cumo eu num deixêi a mina boca calada, e dizia que êle era um verdadero ladrão, cumo êle ficô decipcionado, feiz cum que o meu pai e mina mãe saíçe das terra de Pernambucu pá morá lá im Alagôa. Mina mãizinha num suportando a pressão daquêle dizaforado, caiu im dipreção, vindo a falicê nu ano de 1920.

JMP – E o seu pai, como foi a sua morte?
               
Lampião – Eu nêim gosto de cumentá. – disse ele com os olhos cheios de lágrimas. Mas cumo vosmicê me preguntô, eu vou lhe explicá..., o disgraçadu munipulô o Zé... eu nêim gosto de falá o nome daquela peste. 
              
JMP  – E quem é o desgraçado, capitão Lampião?
               
Lampião – Vosmicê me pareçe que bebe? Num istá acumpãiando o meu raciocino, seu cabra?
              
JMP – Estou capitão, mas o senhor falou num dergraçado e não disse quem é... 
              
Lampião – O disgraçado é o Zé Saturnino! Pôiz bem. Ele num teve corage de me infrentá, cumo lá diz, foi pidir ajuda ao Zé Lucena, ôta poiquera que eu incontrêi no meu camino de bandolêro. Munipulado pur Zé Saturnino, o peste ruim foi lá onde o meu pai morava cum as minas irmã.
              
JMP – E a mãe? 

Lampião – A mãe de quêim? – interrogou ele com ignorância, e já com a mão no mosquetão. 
               
JMP – Capitão, eu estou lhe perguntando por que a sua mãe não estava com o seu pai no momento? 
                
Lampião – Vosmicê num istá prestando atenção a mina resposta, seu dizaforado? 
               
JMP – Estou capitão. Mas por que ela não estava com seu pai?
                
Lampião – Ela já havia falicidu, coisa bêsta!... cumo o Zé Lucena foi munipulado pelo Saturnino, foi lá e açacinô o meu véio pai, a quêim tanto devo.
               
JMP – Nesse período o senhor ainda se encontrava nas terras de Alagoas?
               
Lampião – Ainda. Maiz nesse dia eu istava bem póximo da fazenda que o meu pai morava. Quando eu arricibi a nutiça, para mim foi a maió dô que eu paçei na mina vida.       
              
JMP – O senhor foi para lá? 

Lampião – Fui não seu disaforado! Que pregunta idiota essa que vosmicê me feiz dinovo. Se o meu pai tina sido açacinado, pru quê eu num ir lá?... Ora! Qui sebo! Assim que eu cheguêi, que vi meu pai invoivido num linçó de sangue, eu pirdi o tino. Ah, se eu tiveçe me incrontado cum ele naquele dia! Eu tiria o pego e matado divagazim, cortando pur pedaço. Eu cumeçava pelos dedo, dispois os braço, im siguida, as perna, as zurêa para dexá-lo lambido cumo cabra. E dispoiz infiava o  meu punhá na cravica, só para vê-lo morrendo afogado im sangue... 
             
JMP – Capitão, dizem que o senhor conheceu Maria Bonita lá em Santa Brígida. Maria Bonita era bonita mesmo? 
              
Lampião – Óia lá, cabra! Veja o que istá me preguntando.

JMP – Mas isso faz parte da entrevista, capitão. 
             
Lampião – Cumo vosmicê me preguntô e rialmente faiz parte da intrevista, eu lhe rispondo. Maria era uma linda mulé. Tina umas perna bêim feitas, carinosa, e um cafuné de Maria, me fazia um cordero.
             
JMP – E Luiz Pedro, era um dos seus melhores amigos. O senhor nunca sentiu ciúmes com Maria Bonita.
             
Lampião – Vosmicê já istá indo muito lonje! istá querendo difamar a mina Maria, cabra? – Fez ele encostando o seu punhal na minha goela.
             
JMP – Não capitão, pelo amor de Deus!!!
              
Lampião – Vô lhe respondê. Mas não me fassa maiz uma pregunta desse tipo. Poiz se isso acuntecê, vosmicê vai prová do meu punhá..., não só Luiz Pedo, cumo tôda cangacerada era lôca pur Maria. Maiz quêim comia a caine era eu. Eles nunca tiverum direito nêim de ruê os oços. 
              
JMP – Por que o senhor não conseguiu sucesso na invasão de minha Mossoró? 
              
Lampião – Ora! Cidade portegida pur santo, meu amigo, nunca foi para bico de cangacero.
             
JMP – Onde foi que o senhor errou quando arquitetou o ataque à Mossoró no Rio Grande do Norte e saiu derrotado? 
              
Lampião – O meu grande êrro foi de tê mandado doiz biêtes para o prefeito. Se eu tivesse intrado sêim cumunicá-lo, cum ceiteza eu tinha levado todo diêro daquela cidade. Massilôn, Jararaca e Sabino num quiria que eu mandaçe. Maiz infilismente eu teimei e mandei. Tumbêim eu num tina muito intereçe de assaltá Moçoró, purqui eu sô divoto de Santa Luzia. E a paduêra de sua cidade é ela. 
             
JMP – O bando estava com quantos homens?

Lampião – Eu levava un 60 cabras. Mandêi dizê que erum 150 ômis, pá vê se açombrava aquelas pestes. Elis erum maiz de 300 na luta e ôutro bocado no apôio, iscondidus dentro da igreja de Sum Vicente..., e ainda ôje conde passo numa cidade e vejo Sum Vicente, eu dô vontade de atirá bem no mei da testa, só pá vê a cabeça do disgraçado cair os pedaçus. Naquêli dia, Moçoró istava cum a febre dus capetas e a gripe dos poico. E para me atrapaiá, vêi uma chuva dus diabos, caindo do céu e a chuva de bala cumendo pur baixo. 
             
JMP – O senhor já se encontrou com Benjamim?
             
Lampião – Não. Maiz tenho vontade de me incrontá cum ele. Foi ele quêim me feiz herói no Brasil e no mundo inteiro, atravéiz dais foto que ele feiz prá mim e meus cabra. Se num fôce ele hoje quase ninguêim me conecia.
            
JMP – Se o senhor voltasse a viver na terra quais os homens que o senhor os mataria?
              
Lampião - Era o Zé Saturnino. O segundo seria Zé Lucena. E o terceiro, o ômi que antecipô a mina ida lá prá onde eu tô morando. Síria o João Bezerra, o boi veaco.
              
JMP – E onde o senhor está morando?
              
Lampião – No inferno eu num tô não. Quem divia tá lá, é esse bando de pulítico que roba o Brasil, deixano as famía cum fome. Eu robava, maiz dava tumbém ao pobe.
              
JMP – Fale sobre a baronesa de Água Branca...

Lampião – Deixô-me rico, rico... Deixa prá lá...
             
JMP -   Se o senhor voltasse a viver novamente aqui na terra, com certeza seria um homem que fazia o bem? 
              
Lampião – Prá quê? Prá sê prezo? Nem morto! Sê onesto é que eu num quiria sê. Nesse seu Brasí, quem vai preso é o ôme onesto.  Passei quasi vinte ano robando, matando e nunca fui prezo. O mundo mió qui inziste nessa terra é sê ladrão. Se vai prezo, no ôto dia tá na rua. Agora veja quêim fica lá na cadêa inté mofar..., são os paiz de famia. Maiz ladrão tem o seu lugá garantido no Brasí. 


Observação: Não use este material na literatura lampiônica. É apenas uma brincadeirinha com o capitão Lampião que eu escrevi em 2010, sem desrespeitar ou ferir a família Ferreira. Mas lembrando ao leitor que aqui existem palavras ditas por ele mesmo.´

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A CIGANA DE PARICONHA E LAMPIÃO


Diz-se que Lampião, quando jovem, honesto e trabalhador, encontrou uma cigana bonita e sorridente, na feira de Pariconhas (Alagoas). Virgolino deu-lhe a mão para ser lida. A cigana começou a tremer lábios e pálpebras e fez terrível revelação: “Tenha cuidado com o número sete. Ele vai ser a sua perdição”. Até então, Virgolino trabalhava como almocreve do coronel Delmiro Gouveia, que, por coincidência, possuía nome e pré-nome com 7 letras...

Delmiro foi assassinado a tiros, no dia 10 de outubro de 1917. Lampião morreu nas mesmas circunstâncias, na grota de Angico, dedurado por um coiteiro de nome 

Pedro de Cândido, no dia 28 de julho de 1938. Angicos e Cândido são nomes de 7 letras. Vinte e oito, o dia da morte de Lampião, é múltiplo de 7. Julho é o 7º mês do ano. Mil novecentos e trinta e oito tem 4 algarismo que, somados, totalizam 21, múltiplo de 7. Também foi de 21 o número de anos de diferença entre as mortes de Delmiro e Lampião.

Mossoró (Rio Grande do Norte), uma cidade de 7 letras, foi invadida por Lampião às 17 horas da noite de 13 de junho de 1927. A cidade estava em festa, promovida pelo “Humaytá”, uma instituição desportiva que possuía 7 letras em sua denominação. Também tinha 7 letras o nome do coronel Rodolfo, prefeito de Mossoró, que organizou a resistência contra o cangaceiro. Lampião, neste cerco, perdeu os cangaceiros Colchete e Jararaca e ficou com 5 homens seriamente feridos. Teve 7 baixas.

Se, supersticioso como era, Lampião tivesse dado mais atenção às palavras da cigana de Pariconhas, notaria que, na realidade, o número 7 tinha muito a ver com a sua vida. Lampião, capitão, cangaço, são exemplos de nomes que possuem 7 letras. Ele conheceu Maria Bonita no interior da Bahia, em Santa Brígida. O nome da santa (Brígida) tem sete letras, já não seria um aviso do destino? 

A metralhadora que ceifou a vida do cangaceiro era da marca Hot-Kiss, outro nome de 7 letras funestas, ligado ao destino do cangaceiro.

Lampião entrou para o cangaço aos 24 anos. Cerrou fileiras no bando de Sinhô Pereira (será que Pereira não tem 7 letras?), que abandonou a vida de bandoleiro e retirou-se para Goiás.

Corisco, um dos cangaceiros de maior confiança de Lampião, morreu dois anos após o cerco de Angicos. Quantas letras têm o nome de Corisco? 

Abrahão era um libanês que vivia em Juazeiro, ajudando padre Cícero. Foi ele quem, pela primeira vez, conseguiu a permissão de Lampião para fotografar o bando, em 1936. Abrahão é o 7º patriarca da Bíblia. O nome do fotógrafo de Lampião também tinha 7 letras...

http://zarcofernandes.webnode.com.br/curiosidades-/


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AS MARGENS DO QUATARVO

Pias das panelas: de cemitério indígena a cemitério do cangaço 

Por Manoel Belarmino Belarmino. Com edição do Lampião Aceso

As Pias das Panelas ficam as margens do Riacho do Quatarvo, um afluente do Riacho Jacaré, em Poço Redondo, Sertão sergipano. Na época do Cangaço, aquelas terras pertenciam à Fazenda Paus Pretos de propriedade do coronel Antônio Caixeiro.

Nos tempos mais antigos, todo aquele mundão 'caatingueiro' era habitado pelos povos indígenas, que ocupavam esta região e, segundo relatos dos mais velhos, os índios enterravam os seus mortos ali, nas proximidades das Pias das Panelas.

 O autor Manoel Belarmino,
as margens do Riacho Quatarvo. 


E, ainda contavam, que antes das pastagens e das terras serem aradas para plantio, havia bastante indício de sepulturas indígenas por ali, no entorno das Pias e nas margens do Quartavo. Mas esse assunto do cemitério indígena, requer um pouco mais de investigação, e sem dúvida, num próximo texto trataremos exclusivamente sobre o mesmo.

Além dos indígenas que foram sepultados nas Pias da Panelas, estão enterrados em covas rasas e precárias, os corpos de três mulheres e dois homens, todos barbaramente assassinados no tempo do Cangaço.

1 - Rosinha Soares, a cangaceira Rosinha, companheira do cangaceiro Mariano, assassinada pelos cangaceiros, sob a ordem de Lampião. Depois da morte do companheiro, juntamente com Pai Veio, Zepelim e o coiteiro João do Pão, naquele combate do Cangaleixo, em 10 de outubro de 1937, Rosinha sentiu vontade de abandonar a vida cangaceira e voltar a morar com a sua família. Lampião achou a ideia arriscada demais. Luiz Pedro, determinou que os cangaceiros Pó corante, Juriti, Balão e Vila Nova levassem a moça pra casa a sentença. Matar Rosinha. E aí a sentença foi cumprida com um tiro de pistola mauser no ouvido da cangaceira as margens do Quartavo, nas Pias das Panelas. O corpo de Rosinha ficou ali estirado. E, dias depois, os seus parentes que moravam ali próximo, na Fazenda Santo Antônio, cuidaram de enterrar o corpo da inocente moça ali mesmo, numa sepultura. Até pouco tempo, avistava-se a Cruz de Rosinha ali perto das pedras das Pias das Panelas.

Rosinha Soares, companheira de Mariano 
Acervo Lampião Aceso

2 - Zé Vaqueiro, empregado da Fazenda Paus Pretos de Antonio Caixeiro. Quando o cangaceiro Novo Tempo, depois de escapar do Fogo da Crauá, combate que o deixou ferido gravemente, foi para na Fazenda Paus Pretos, num estado de quase morte, o Zé Vaqueiro avistou aquele moribundo, ferido, 'emulambado', mas com os embornais com bastante dinheiro. Resolveu matar o cangaceiro ali mesmo na margem do caminho, pertinho das Pias das Panelas. E assim o fez dando um tiro no cabeça do ouvido do cabra que já estava quase morto. Mas logo após o disparo tiro, ele ouve uma barulho. Eram os companheiros de Novo Tempo que estavam chegando ali à procura do cangaceiro desaparecido. Agoniado, Zé Vaqueiro nem consegue levar o dinheiro de Novo Tempo, vai embora. Novo Tempo é encontrado ainda com vida e socorrido pelos companheiros. Depois de recuperado o cangaceiro conta tudo o que aconteceu e a traição do vaqueiro dos Paus Pretos. Os cangaceiros não perdoam a traição do Zé Vaqueiro. Retornam à Fazenda Paus Pretos e levam o infeliz Zé Vaqueiro exatamente para as Pias das Panelas e matam o cabra. Seu corpo é jogado e fica ali estendido. Depois os vaqueiros da região encontram o corpo já em estado avançado de decomposição e o enterram-no ali mesmo nas proximidades das Pias das Panelas.

3 - Preta de Maria das Virgens, cruelmente assassinada pelo seu namorado, Zé Paulo. Preta era filha adotiva de Dona Maria das Virgens do Alto Bonito. Zé Paulo, depois de ter relações sexuais com a namorada várias vezes às escondidas, descobre que engravidara a moça. Todavia, para não se comprometer e ser obrigado a casar com a pobre sertaneja resolve a questão com uma pedra, esmagando a sua cabeça e deixando ali nas Pias das Panelas o seu corpo nu e estirado. Teve a frieza de avisar a seus familiares dias depois que poderia ter sido os cangaceiros que mataram-na. Espalha para os quatro cantos da região que um grupo de cangaceiros havia os encontrado e assassinou a namorada. Zé Baiano soube da boato de que o Zé Paulo e Dona Maria das Virgens do Alto Bonito estavam colocando na conta dos cangaceiros aquela morte da mocinha Preta. Ficou indignado e tomou as providencias. Foi até o Alto Bonito, e ferrou nos rosto Dona Maria das Virgens e os seus dois filhos, um rapaz e uma mocinha. Só não fez o mesmo com o verdadeiro assassino porque Zé Paulo não estava na casa naquele momento.

4 - Cangaceiro Coqueiro. Lídia, segundo cangaceiros e cangaceiras remanescentes, era a mais bela das cabrochas, e ironicamente a companheira de um dos cabras mais feios das hostes lampiôncas, o Zé Baiano. Mas acontece que a moça tinha uma paixão de infância que, tempos depois, ingressara no Cangaço. Era o cangaceiro Bem-te-vi. E Lídia não resistiu.
 Zé Baiano

Mesmo convivendo com Zé Baiano, ela se entregou ao risco dos encontros extraconjugais com o Bem-te-vi.

Outro cangaceiro que também tinha atração por Lídia era 'Coqueiro', mas sem nenhuma chance. A paixão mesmo de Lídia era o seu amor de infância, o Bem-te-vi.

Coqueiro, frustrado e sabendo daqueles encontros nas moitas, às escondidas, resolveu delatar tudo.

Zé Baiano estava viajando para a região de Alagadiço, Frei Paulo, SE há alguns dias, e quando retornou, para as Pias das Panelas, na boca da noite, todos estavam reunidos para a janta, Coqueiro inconformado com as recusas de Lídia relatou toda a traição. Conta a Zé Baiano tudo sobre a sua companheira e o caso com o Bem-te-vi. Todos silenciam.

Aquela conversa de Coqueiro é grave demais. Lampião levanta-se. Fica agoniado, mas não diz uma só palavra. Zé Baiano fica paralisado. Olha pra Lampião e pergunta o que fazer. E Lampião sentencia:
"Zé cuida de Lídia. Afiná, Lídia é dele. Os dois cabras, o entregador e o traidor, nós arresolve." 
E os cangaceiros matam Coqueiro, porém Bem-te-vi consegue fugir. O corpo de Coqueiro ficou ali estendido, sobre as pedras das Pias das Panelas. Dias depois, um coiteiro morador dos Paus Pretos resolveu enterrar o corpo do infeliz cangaceiro numa sepultura.

Zé Baiano amarrara Lídia e, na madrugada, antes de o dia clarear, mata a a golpes de cacete de pau-pereira a cangaceira mais linda do bando de Lampião. Cava uma sepultura e a enterra. E com o mesmo cacete que usara para tirar a vida de Lídia, improvisa uma cruz e finca sobre a  cova.

Finda o cangaço, anos depois dessas mortes, alguns caçadores da região evitavam passar pelas proximidades das Pias das Panelas à noite, principalmente nos locais onde estão as covas dos mortos. Alguns afirmavam ter ouvido coisas estranhas, como vozes, gemidos ou gritos macabros..


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VIRGÍNIO FORTUNATO DA sILVA


Por Moustafá Veras

Cangaceiro Virginio, tinha o vulgo de Moderno. Era cunhado de Lampião, após a morte da esposa Angelica com quem se casara em 1926 ele entra para o cangaço junto com Ezequiel Ferreira(Ponto Fino), o irmão mais novo de LAMPIÃO. 

De início eles entraram no bando de Manoel Marcelino (Bom de Veras), pois Virgulino não aceitava que eles entrassem na vida do crime. Após a morte de Manoel Marcelino, Lampião resolvi ir busca-los e a partir daí eles passam a fazer parte do Grupo do Capitão e a partir de 1929 torna-se chefe de subgrupo. 

Se une a Durvinha até a morte dele em outubro de 1936, pela volante pernambucana do cabo Pedro Alves, na Fazenda Enjeitado, região de Ibimirim (PE).


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