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sábado, 9 de agosto de 2025

101 ANOS DEPOIS - PROCESSO DE 1922, revela tocaia de Lampião para matar delator de seu pai

 Por Carlos Madeiro Portal UOL

Por Carlos Madeiro Portal UOL


Eram por volta das 19h do dia 14 de agosto de 1922, quando Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, dois irmãos e mais um grupo de cangaceiros foram até Água Branca, no sertão alagoano, fazer uma tocaia e cumprir uma missão que juraram a si mesmos.

Eles esperavam a passagem de um homem: Manoel Cipriano de Souza, que foi morto com três tiros, um dado por cada um dos irmãos Ferreira.

Revelação importante

    
Segundo Lampião, foi ele quem delatou o local onde estava seu pai, José Ferreira dos Santos, no dia 18 de maio de 1921. Nessa data, ele foi morto pelo tenente José Lucena de Albuquerque Maranhão, em Mata Grande, sertão de Alagoas.

A morte do pai de Lampião é um episódio marcante para o cangaço. A história conta que os irmãos Ferreira resolveram entrar na vida do crime para vingar os ataques que o pai sofria de um vizinho — que virou inimigo — chamado Zé Saturnino. A morte do pai foi o estopim para eles entrarem no cangaço.
Justiça acha processo

O processo judicial que denunciou Lampião e mais quatro cangaceiros pelo crime estava guardado no Fórum de Maceió. Ele traz detalhes que eram desconhecidos do crime.

O documento foi encontrado recentemente, junto com outros processos, pelo juiz e historiador Claudemiro Avelino. Todas são denúncias que acusam Lampião ou cangaceiros do seu bando por crimes de mortes, roubos e estupros.

No assassinato do suposto delator Cipriano foram denunciadas cinco pessoas

 - Lampião
- Livino Ferreira, irmão de Lampião
- Antônio Ferreira, conhecido como Esperança e também irmão de Lampião
- Antônio Rozendo, conhecido como Antônio Gelo
- Antônio Bagaço (abaixo)


Antônio Augusto (Feitosa ou Correia), Antonio Bagaço

Em depoimento à polícia, a testemunha Manoel Pedro de Alcântara narrou tudo que houve naquela noite. Diz que ele e Manoel Cipriano estavam cruzando a cancela do Mané, vindos da feira de Água Branca, quando homens armados com rifles o abordaram.

Lampião mandou eles descerem dos cavalos e perguntou o nome deles. Cipriano, o primeiro a responder, recebeu logo uma resposta do chefe: "É esse mesmo que estamos esperando."

Ao reconhecer seu alvo, ele mandou que a testemunha se afastasse e não saísse até ele dar uma "ordem expressa."

Cipriano foi então arrastado para um local ao lado do cavalo em que estava, quando Lampião perguntou sobre o dinheiro que ele levava. Ele tinha apenas 10 mil contos de reis, pouco para a época.

Tortura e morte

Outra testemunha do crime, Silvino Antônio dos Santos afirmou à polícia que Cipriano ainda perguntou o que Lampião queria, e disse que "ele daria para salvar a vida."

A frase dita por Cipriano, segundo testemunhas que depuseram, foi:

"Lampião, não me mate. Deixe eu criar minha família", clamou Manoel Cipriano.

Não adiantou. Lampião ainda "judiou" de Cipriano (não há detalhes de como) e o sentenciou em seguida.

"Agora você conhece Lampião. Foi você quem indicou onde meu pai estava para o matarem. Agora você é quem vai pagar.


Lampião então se afasta para trás e dá o primeiro tiro. Os dois irmãos de Lampião que o acompanhavam deram mais dois em seguida.

Foram três tiros; no segundo tiro ele caiu por terra.
Manoel Pedro de Alcântara, testemunha.

 

Processo está guardado no Fórum de Maceió.

Após os tiros, e vendo a vítima no chão, um do cangaceiros disse: "Basta, vamos embora." Foi quando outros integrantes do bando saíram do meio do mato, onde estavam na espreita para dar segurança aos irmãos Ferreira. Na fuga, um dos cangaceiros montou e levou o cavalo da vítima.

A morte não foi a única vingança dos irmãos. Após matarem, eles foram até a casa onde morava Cipriano. Ao chegarem, um filho da vítima perguntou aos cangaceiros o que eles queriam e o que tinham sido os tiros na cancela. Lampião então respondeu: "Vá lá examinar."

As testemunhas narram que eles em seguida empurraram o filho e entraram na casa, onde quebraram portas, baús, celas, móveis e roubaram "tudo que puderam". Logo depois, fugiram em cavalos.

Lampião e mais quatro denunciados

A promotoria pública de Alagoas, após os depoimentos, denunciou Lampião e outros quatro cangaceiros identificados pelas testemunhas no dia 9 de outubro de 1922. Cinco dias depois, o juiz da comarca de Água Branca acolheu e pronunciou (mandou a julgamento) os réus.

 

Parte dos autos em que a promotoria denuncia Lampião

Só que o processo nunca andou, e ninguém foi julgado.

Foram dadas várias ordens de intimação dos réus, mas sempre falavam que não os achavam, ou creio que não iam atrás para notificar. Naturalmente, todos tinham medo de Lampião
Claudemiro Avelino, historiador e juiz

Nenhum dos cangaceiros foi levado a julgamento em nenhuma das denúncias encontradas até aqui em Alagoas.

Em 1939, um ano após Lampião ser morto na grota do Angico, em Sergipe, um dos processos foi declarado extinto. "Nós demais processos não achamos isso essa extinção, mas talvez tenha havido uma ordem para que todos fossem arquivados, mas não encontramos", diz.

Esse e os outros processos achados fazem parte da pesquisa de Claudemiro, que vai render um livro sobre o cangaço. A obra está em fase final de seleção de imagens para publicação…

Todos também serão digitalizados aos poucos e colocados para acesso público.

Esses documentos são essenciais, porque sobre o cangaço há muita fantasia e folclore. O processo é um documento primário, original. Ele serve para espantar todas as dúvidas.


Juiz Claudemiro no acervo histórico do TJ de Alagoas.

Historiador, ele fez um curso de restauração de documentos antigos e passou a analisar cada um deles. O conhecimento sobre o tema o levou a ser chamado para ajudar na montagem do Museu do STF.

Também foi ele responsável pelo museu no TJ (Tribunal de Justiça) de Alagoas.Em Alagoas, diz, será montado um laboratório de restauração de documentos históricos.

Fonte: Portal UOL

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O CANGACEIRO VULCÃO.

  Por José Mendes Pereira


Vulcão era um cangaceiro diferente dos outros. Estava sempre sozinho, vivendo o seu “eu” da maneira que ele bem pensava. Não gostava de conversa e sempre procurava não se entrosar com ninguém. Levava a sua vida isolada e pensativa, e até mesmo, a sua aparência física não se assemelhava com ninguém. Diz Alcino Alves em seu “Lampião Além da Versão - Mentiras e Mistérios de Angico” que Vulcão tinha uma cor morena, de corpo meio atlético, alto, corpulento e não era obeso, de cabelos lisos...

Como bom estrategista e observador o rei Lampião estava de olho nele, e fazia tudo para o Vulcão não perceber que ele estava prestando a atenção no seu comportamento. O rei precisava conversar com alguém sobre o comportamento daquele seu novo comandado. 

E chamando o compadre Luiz Pedro, participou sobre o que vinha tentando descobrir com urgência, o porquê do cangaceiro Vulcão estava tão quieto, num lugar sem querer conversar com ninguém: E olhando para o Luiz Pedro diz:

- Compadre Luiz Pedro, eu não sei o que Vulcão está imaginando. Ele não fala com ninguém, não se entrosa com os outros, está sempre sozinho e pensativo...

- Eu vou ficar sempre de olho nele, compadre Lampião. E logo direi o porquê do Vulcão não querer se relacionar com os outros.

- Certo! Não desgruda o olho. Quero uma confirmação sem muita demora! – disse o compadre Lampião ao Luiz Pedro.

Neném do Ouro e Luiz Pedro

Assim que saiu da Central Administrativa (barraca) do capitão, Luiz Pedro foi tentar vê-lo, mas foi inútil. O cangaceiro não estava ali por perto. Saiu procurando-o por todos os aglomerados de cangaceiros que se divertiam jogando cartas, palestrando, brincando, mas infelizmente, o cangaceiro Vulcão não se encontra no meio de ninguém. Depois de percorrer todos os grupos, Luiz Pedro foi até a barraca do cangaceiro Pancada, e perguntou se por acaso, tinha visto o Vulcão. A resposta foi negativa. Luiz Pedro  voltou à barraca do rei e diz que o cangaceiro Vulcão havia desaparecido do coito. Por último, o que o rei deveria fazer, era ordenar que alguns cangaceiros fossem à procura do fugitivo. Rapidamente,  Lampião ordenou que Luiz Pedro e outros fossem atrás do Vulcão humano.

O motivo do desaparecimento do cangaceiro Vulcão foi porque ele imaginava outra maneira de viver no cangaço, e de repente viu que não tão bom quanto ele imaginava. Estava enganado. Uma situação terrível de viver, sempre fugindo da polícia, matando, roubando, e isto não era para ele. Ia deixar aquela vida e voltar para a companhia dos seus pais, irmãos, parentes e amigos. Só tinha que enfrentar a suçuarana humana, quando ele dissesse que não mais iria participar do cangaço.

E vendo que o Vulcão não estava mais ali, o certo seria o capitão mandar cangaceiros à sua procura. De repente, Luiz Pedro, Zé Sereno e outros facínoras partiram em busca do desconfiado com ordem do capitão. Luiz Pedro tinha plena certeza para onde ele fora, e depois de andarem bastante, chegaram à casa de um conhecido, e lá, perguntam se ele viu o cangaceiro Vulcão. Mas a resposta foi negativa, que ninguém passou por ali antes deles. E logo adiante, ao encontrarem um viajante, esse afirmou ter passado por um indivíduo assim, assim, assado, muito diferente, e que ia entrando em Canindé Velho de Cima. Sem se demorarem, os cangaceiros partiram rumo ao local indicado pelo homem desconhecido. A viagem tinha que ser rápida, porque caso eles se demorassem o Vulcão iria pegar transporte (balsa ou canoa), e não mais eles o alcançaria.

Vulcão continuava fugindo ao destino que ele havia escolhido, e depois de muito andar, finalmente chegou a Canindé Velho de China, e foi para o porto. Lá, aguardava uma embarcação. Mas por sua infelicidade, o barco não apareceu, e ele passou a sentir medo, coisa que fazia tempo que não tinha medo de nada. O Vulcão sabia muito bem, do seu destino, e se por acaso ele caísse nas mãos dos perversos de Lampião, que não são mais seus amigos, e sim inimigos, estava lascado.

A noite chegou e o Vulcão não estava bem. Sentiu medo  e põe-se a pensar o que seria dele se os seus ex-comparsas o encontrassem por ali. Sabia muito bem que o seu final seria devastador. Estava impaciente, com receio  de um possível encontro com os facínoras. Nenhum barco aparece para fugir o mais rápido possível dali. O seu destino negou-lhe a presença da sorte ali por perto.

Uma voz conhecida disse com autoridade que ele estava preso. O Vulcão tentou reagir de todas as maneiras, mas não conseguiu, porque eram cangaceiros de sobra que o seguravam. Em seguida, o Vulcão humano foi amarrado. A ponta de uma corda os cangaceiros amarraram o fugitivo, e a outra ponta foi amarrada em um dos seus cavalos. Vulcão não tinha mais chance de se livrar daquela desgraça. A viagem até a presença do capitão Lampião foi sofredora, porque os cangaceiros não tiveram um tico de dó do ex-companheiro.

Como o Vulcão já estava cansado, caiu. Mesmo assim, o cavalo foi ordenado que seguisse. É a partir dalí que o sofrimento do Vulcão começou. O corpo do miserável já estava todo rasgado, sangue vivo saía pelas aberturas do corpo. Na caminhada foi ficando pedaços de pele do infeliz nos bicos das pedras, paus...

Lá mais adiante, os malfeitores chegaram a uma casa, a mesma que tinha passado antes e receberam respostas negativas. Lá estava havendo um forró, e os facínoras beberam e dançaram. O infeliz Vulcão já quase morto foi amarrado pelos cangaceiros com os braços para cima, porque eles temiam uma possível fugida, e em seguida, voltaram ao forró. Vez por outra, alguns saíam do forró e com a ponta do punhal furavam o quase falecido. Vulcão não tem mais resistência nem para pedir que não o maltratassem mais. Estava com cheiro de velório. 

A noite para o Vulcão foi terrível. Mas ele não iria ser morto ali. O capitão Lampião precisava do cabra em sua frente. Pela manhã, já todos cheios de pingas, chegaram ao coito com o miserável ainda vivo. Lampião estava ali, aguardando a sua chegada. Mas ele ordenou que o matassem sem nem fazer uma revista no miserável. 

Vulcão amarrado a uma corda ao cavalo, os facínoras chicotearam o animal que saiu sem rumo, arrastando aquele infeliz pelas terras do sertão sofrido. O estado que o Vulcão ficou, era triste se ver, porque o sangue saía por todas as partes do corpo. O cangaceiro Luiz Pedro observava, e quando percebeu que o animal havia parado, mandou uma criança, "Hercílio Feitosa", que estava com eles, ir buscar o animal.

Mesmo Vulcão tendo resistido todo este sofrimento, só morreu, porque o Luiz Pedro o matou com um tiro de pistola. 

Hercílio Feitosa a criança que foi buscar o cavalo que arrastava "Vulcão", por ordem de Luiz Pedro, muitos anos depois, é quem narra esse triste e cruel fato ao pesquisador Alcino Alves Costa.

Fontes de pesquisa:

 “LAMPIÃO ALÉM DA VERSÃO – Mentiras e Mistérios de Angico” – COSTA, Alcino Alves. 3ª Edição. 2011

Sálvio Siqueira - http://blogdomendesemendes.blogspot.com/2017/01/a-morte-de-um-desertor.html

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𝑻𝑶𝑵𝑯𝑶 𝑪𝑨𝑵𝑬𝑳𝑨 𝑬 𝑴𝑨𝑵𝑬́ 𝑴𝑶𝑹𝑬𝑵𝑶

 

Antônio Canela, ou Tonho Canela, era um caboclo conhecido nas regiões alagoanas e sergipanas pelos seus trabalhos de vaqueiro. Nasceu numa localidade chamada Bonito/AL, porém, veio a se fixar em Curralinho/SE para salvar a sua vida.

Contam que, nos anos de 1937, quando ainda vivia em Alagoas, Tonho teria participado de um grupo paisana para dar combate ao bando de Lampião, ainda dizendo que iria dar cabo do Chefe Maior, assim que este chegasse a Entremontes/AL. Pegaram em armas, preparam estratégias e tocaia pronta... Mas para a sorte de Canela e cia, o temido Rei do Cangaço acabou não passando naquelas redondezas. Certamente, para se safar do ferro quente e frio do bandoleiro, acaba migrando para Curralinho/SE, conseguindo por lá a sua vida de volta, trabalhando como vaqueiro.

Nos meses de junho do mesmo ano, a fazenda Camarões - situada nos Altos do Curralinho, pertencente a Poço Redondo/SE -, de Juvêncio Rodrigues, se encontrava em festa: uma vaquejada para assim dizer. Neste momento se via alguns vaqueiros, sendo eles Chiquinho de Aninha, Flávio, Seu Alves, Libéu, Angelino e João Cirilo. Todos estavam desde a madrugada na pega de boi no mato pertencente a Camarões; iriam juntar a boiada de Juvêncio para levarem até a fazenda Pedrata.

Era de manhã quando uma chuva forte e pesada cobria a região em que a vaqueirama estava. Todos se abrigaram na casa sede de Juvêncio, bebendo cachaça, comendo carne de bode e aboiando. Lá distante, via-se alguém chegando... Era Antônio Canela, procurando um jumento nos arredores. Soube da animação que estava Camarões e seguiu destino pra lá, com objetivo de se alegrar, comer e beber, além de se proteger das chuvas. E curtia que só aquele momento; momento de risos, descontrações, relembrando histórias, improvisando versos... Mal sabia ele que seria sua derradeira farra.

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-BRIÓ E ANTÔNIO CANELA: QUANDO AS PALAVRAS E AS AMEAÇAS SÃO SENTENÇAS DE MORTE

  *Rangel Alves da Costa

Muitos foram os acontecidos no solo sertanejo de Poço Redondo, no sertão sergipano, naqueles idos cangaceiros, principalmente a partir dos anos 30. Fato curioso é que a saga cangaceira na região não envolveu somente a ferrenha luta entre cangaceiros e volantes, mas também personagens que mesmo estando à margem das vinditas, ainda assim foram alcançados pela cruel sangria.

Mais curioso ainda é o fato de que dois destes importantes acontecidos, de consequências verdadeiramente trágicas, tiveram por motivação as palavras ditas e as ameaças impensadas. Ou mesmo de forma pensada, mas sem se imaginar no fatal desfecho depois de proferidas. Depois da análise do relatado abaixo, logo será fácil compreender que perante o cangaço - incluindo o mundo das volantes - a palavra e o gesto possuíam tamanha força, tamanha consequência, que exsurgiam até como sentença de morte para aquele que erroneamente se expressasse.

Assim aconteceu, por exemplo, com Brió e Antônio Canela. Este de trágico fim nas proximidades da Estrada de Curralinho (Estrada Histórica Antônio Conselheiro) e aquele ladeando a Estrada da Maranduba (região das Queimadas, nas beiradas do Riacho do Braz), bem próximo ao local onde, em 1937, Zé Joaquim (José Machado Feitosa), um rapaz de Poço Redondo foi torturado e morto pelo grupo de Juriti e Zé Sereno, sob a falsa acusação de ter dito a Zé Rufino que o bando de Lampião estava emboscado à sua espera na Lagoa da Cruz.

Como dito, Antônio Canela, um modesto vaqueiro vivente entre as beiradas alagoanas de Bonito e sergipanas de Curralinho, falou demais e, além disso, ameaçou demais, e acabou trucidado pelas próprias ações do passado. Segundo consta, nos idos de 1937, o vaqueiro se juntou com outros sertanejos e prometeu dar cabo a Lampião assim que este chegasse a Entremontes, nas barrancas das Alagoas. Pegou em armas, preparou a tocaia, mas nada de o bando aparecer. Contudo, a história ganhou o vento e foi parar aos ouvidos da cangaceirama.

Certamente que amedrontado com a irrealizada promessa e as juras de dar fim ao rei cangaceiro, Antônio Canela resolveu se bandear para o outro lado do rio, região sergipana do Curralinho. Oficiando como vaqueiro, um dia foi atrás de um jumento pelos arredores da fazenda Camarões e mais adiante avistou, na sede da propriedade, uma festança. Vai até lá e se junta à beberança. Não sabia, contudo, que logo a cangaceirama chegaria para cobrá-lo na dor e no sofrimento aquela emboscada feita pra Lampião.

E a cangaceirama que chega é a comandada por Mané Moreno. O líder do subgrupo já havia sido informado que o vaqueiro “metido a valente” poderia estar por ali. Tanto estava que logo o reconheceu. Identificou e logo deu início à cruel vingança. Sem dar o mínimo de atenção aos rogos dos sertanejos ali presentes, o cangaceiro logo sentencia o vaqueiro de morte. E de forma mais bestial ainda ante a confissão feita de que só não matou Lampião por que este não apareceu. Uma coragem que equivalia a pedir pra morrer.

A morte de Canela foi de indescritível perversidade. Picotado pelo canivete de Alecrim, tombado ante o açoite do mosquetão de Cravo Roxo, e depois disso amarrado a um animal e levado à morte certa. Foi Mané Moreno quem deu o tiro fatal. Mais um. E já morto é sangrado. E, segundo Alcino Alves Costa em seu Lampião Além da Versão (p. 196), o cangaceiro Cravo Roxo se acerca do corpo e bebe do sangue que borbulhava em seu pescoço.

Antes disso, nos idos de fevereiro de 1935, o sertanejo Brió (Benjamin, irmão do cangaceiro Demudado), um moço de Poço Redondo, igualmente falou demais e pagou no além da conta pela sua ousadia. Num meio onde a mera suspeita de ser alcoviteiro de volante já era correr perigo, que se imagine um cabra dizer - mesmo mentirosamente - que iria se juntar ao comando de Zé Rufino para perseguir aqueles que fossem amigos, coiteiros ou protetores de cangaceiros.

Num forró na fazenda de Julião do Nascimento, pai do mesmo Zé de Julião que mais tarde se tornaria no cangaceiro Cajazeira, Brió se desentendeu com a família dos Lameu e, raivoso, disse que todos pagariam bem pago assim que entrasse na força de Zé Rufino, o que já estava prestes a acontecer. Mentiu, contudo. E sua mentira teve uma trágica consequência. Sua verdadeira intenção era se juntar ao grupo de cangaceiros que estavam acoitados naquelas proximidades, nas Capoeiras. Iria servir ao subgrupo do perverso Mané Moreno, contando ainda com Zé Sereno e Juriti.

Sem saber que Brió se juntaria ao grupo, então Zé de Julião apareceu no coito para contar a novidade: Brió havia prometido ser cabra de Zé Rufino. Foi o fim de uma mentira. Não demorou muito, eis que Brió se apresenta àquele que seria o seu futuro grupo cangaceiro. Só não sabia o que lhe esperava. A sentença foi rápida: morte certa ao traidor. Tentou desfazer a todo custo o mal-entendido, mas não teve jeito. Os cangaceiros levam-no até o Riacho do Braz e o enforcam.

Indaga-se: por que enforcamento e não de outra forma? Apenas por que Brió, ante a certeza da morte, rogou para não ser nem enforcado nem afogado. Assim a vida cangaceira e daqueles que estavam ao seu redor, suas sagas e seus desatinos, seus tortuosos caminhos.

Escritor

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O CANGACEIRO BALÃO E OS MORTOS DO ANGICO | CNL | 1427.

 Por O Cangaço na Literatura - Robério Santos.


https://www.youtube.com/watch?v=7Y4tp0PC24U&ab_channel=OCanga%C3%A7onaLiteratura

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A MORTE DE MANÉ MORENO, ÁUREA E CRAVO ROXO NO COMBATE DO POÇO DA VOLTA.

Por José Mendes Pereira

O primeiro livro que li sobre cangaço foi "Lampião Além da Versão Mentiras e Mistérios de Angico", do famoso Alcino Alves Costa, e este, me foi indicado e emprestado pelo bancário e pesquisador do cangaço Chagas Nascimento, natural de Porto do Mangue, no Rio Grande do Norte, mas radicado por muitos anos em Mossoró. E o primeiro blog sobre este tema foi o Cariri Cangaço, do pesquisador Manoel Severo, e logo o Lampião Aceso do Kiko Monteiro, ambos indicados pelo Chagas Nascimento. Mas depois vieram outros, como o Tok de História do historiógrafo Rostand Medeiros, seguido do blog do escritor João de Sousa Lima, e o aparecimento do pesquisador Kydelmir Dantas e outros, e assim, tomei gosto ao tema, não tendo muito domínio, mas já tenho boas informações sobre ele registradas nas minhas páginas sociais e gravadas na minha mente.

O escritor Alcino Alves Costa diz no seu famoso livro que após ter assassinado o vaqueiro Antonio Canela nos Camarões, o cangaceiro Mané Moreno com o seu poderoso bando de marginais, tomaram rumo a Porto da folha. Com o grupo estava um jovem chamado Chiquinho de Aninha, sendo que este serviu para trazer os animais de volta que os cangaceiros levaram consigo.

O bando fez parada em Jaramataia para descansar, e naquela localidade, trabalhava um senhor conhecido por Pedro Miguel, sendo este pai do futuro cangaceiro Elétrico. A presença do grupo de cangaceiros ali, deixou Pedro Miguel chateado, e resolve procurar o proprietário da "Empresa de Cangaceiros Lampiônica Cia", o afamado e perverso capitão Lampião, e fez sua queixa contra aqueles malfeitores, e dele receber apoio, prometendo-lhe que os cangaceiros não iriam mais atanazá-lo.

Mas mesmo assim, o cangaceiro apareceu com os seus comandados, talvez ainda não havia sido encontrado pelo capitão para proibir a sua visita naquela região. E lá, permaneceu com os seus homens por alguns dias, e depois foram para Porto da Volta, na intenção de passarem o São João por lá.

Policial Odilon Flor

O comandante de volante policial Odilon Flor estava na região à procura de cangaceiros, e conversou com Pedro Miguel sobre paradeiros de malfeitores, e ele o informou que os cangaceiros estavam no Poço da Volta.

Nessa região, um riacho passa entre Poço da Volta e Palestina. É na fazenda Palestina, que estava havendo um baile, e lá, os bandidos estavam na maior farra, bebendo e dançando. Mané Moreno rodopiava no salão com a sua amada Áurea; os outros aconchegaram às mulheres, que não faltavam no momento. A bebida era franca entre os festeiros.

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Na calada da noite e escura, Odilon Flor foi chegando ao forró. De longe, ele ouviu os gritos dos festeiros, o fole roncava e demais instrumentos fazem a algazarra, divertindo os dançarinos. A festa era na base do candeeiro, que a luz avermelhada, fazia com que a volante descobrisse o local do forró. A noite está mais para volante do que para cangaceiro. Os malfeitores brincavam despreocupados, e a morte estava por ali.  A volante observava e imaginava qual seria a melhor maneira de ataque.

https://www.shutterstock.com/pt/search/dan%C3%A7ando-forro

E sem muita dificuldade, a volante se aproximou, e de imediatamente, colocou-se em posição de extermínio ao grupo. Escolhido o primeiro alvo, o casal de cangaceiros Mané Moreno e sua querida caíram já sem vida. Os festeiros gritaram em pânico, e correram sem direção. Todos queriam sair o mais rápido possível daquele inferno.

Gorgulho é o último da direita.

O cangaceiro Gorgulho, mesmo com a perna quebrada, consegue furar o cerco dos policiais, e se salva, e aos poucos, se arrastando, desaparece na escuridão da noite, sem nenhuma perseguição policial contra a ele.

Segundo o escritor Alcino Alves Costa, os escritos afirmam que Gorgulho foi morto neste combate, mas na verdade, quem foi assassinado foi o cangaceiro Cravo Roxo. Gorgulho foi se tratar nos altos do Cajueiro, onde recebeu a ajuda de Lisboa, um dos irmãos Félix. Quando se recuperou, deixou o cangaço e foi embora para a sua terra Salgado do Melão

A vitória do policial Odilon Flor e seus comandados foi muito valiosa, agora era só tomar para si os pertences dos cangaceiros Mané Moreno, Cravo Roxo e Áurea.

O facínora Mané Moreno era primo legítimo dos cangaceiros Zé Baiano e Zé Sereno. Zé Sereno era primo carnal de Zé Baiano.

Algumas fotos no texto, são apenas para ilustrar o meu simples trabalho.

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