Seguidores

quinta-feira, 16 de abril de 2020

"VIDA E MORTE DE ISAÍAS ARRUDA - SANGUE DOS PAULINOS, ABRIGO DE LAMPIÃO" LANÇADO EM NOITE DE FESTA EM FORTALEZA


O Restaurante Caravelle, em Fortaleza, acolheu o lançamento da mais nova obra do escritor e pesquisador; Conselheiro Cariri Cangaço; João Tavares Calixto Junior, "Vida e Morte de Isaías Arruda - Sangue dos Paulinos, abrigo de Lampião". O evento, uma promoção do Cariri Cangaço, aconteceu na noite do último sábado, dia 25 de janeiro de 2020 e reuniu grande público de apaixonados pela historia e memoria do sertão, notadamente do ciclo coronelístico e do cangaço dos anos 20.

O livro já havia sido lançado em vários municípios do cariri cearense e chega a Fortaleza, como um dos mais aguardados lançamentos sobre a temáticas cangaço e coronelismo. Após mais de seis anos de intensa e zelosa pesquisa o escritor João Tavares Calixto Junior, nos traz em seu mais novo livro,"Vida e Morte de Isaías Arruda - Sangue dos Paulinos, abrigo de Lampião", a saga desse que sem dúvidas é um dos personagens mais emblemáticos e marcantes do universo do coronelismo sertanejo. A partir de um trabalho espetacular; minucioso, dedicado e responsável; Calixto nos apresenta não só os acontecimentos da época, mas e principalmente o perfil, a personalidade, as relações perigosas e principais fatos que tornariam Isaias Arruda quase uma unanimidade: Um homem a frente de seu tempo. 

Calixto Júnior e família em noite de lançamento
Calixto Junior, João de Lemos, Linda Lemos, Manoel Severo e Fatima Lemos
Calixto Junior e Manoel Severo

"Isaías Arruda de Figueiredo nasceu aos 6 de julho de 1899 na Vila d'Aurora. Era filho de Manoel Antônio de Figueiredo de Arruda e Maria Josefa da Conceição (naturais de Aurora, casados aos 30 de junho de 1896). Convolou núpcias no primeiro dia de setembro de 1920 na Igreja Paroquial da Vila d’Aurora com Estelita Silva, natural de Fortaleza. Em perfeita consonância com a práxis vigente de sua época de existência, inseriu-se Isaías Arruda na prepotente atuação sociopolítica regional, marcada pela incursão do poder privado dos coronéis. Eram estes os senhores supremos dos feudos nordestinos, detentores do voto do cabresto e responsáveis pelas famosas eleições a bico de pena, onde até defuntos votavam... 


Trapaças e moléstias sociais que hoje ainda remanescem, apesar de diminuídas as proporções, são oriundas deste famigerado tempo da República dos Coronéis ou Coronelismo, a chamada República Velha. Bosquejando sobre as passagens deste notável personagem do cenário coronelístico nordestino, delegado de polícia em Aurora, assim como Prefeito municipal de Missão Velha, transcrevemos o que exara Joaryvar Macêdo em Império do Bacamarte (Fortaleza, 1990, p. 225): "Improvisado o coronel Isaías Arruda em poderoso chefe político de Missão Velha, se o juiz não se submetesse às suas ordens, ele o escorraçava, e ao oficial de polícia, intolerante com os desregramentos, mandava assassinar"...Calixto Junior.

 Manoel Severo e Paulo de Tarso
Cristina Couto e Calixto Junior
Arlindo Moreira, Manoel Severo e Ângelo Osmiro

O encontro promovido pelo Cariri Cangaço, contou ainda com o apoio do GECC-Grupo de Estudos do Cangaço do Ceará, à frente o presidente Ângelo Osmiro, da Academia Lavrense de Letras com a presidente Cristina Couto, além da Associação dos Amigos e Filhos de Aurora, da Academia de Letras Juvenal Galeno, com a presidente Linda Lemos e a Academia Maria Ester, tendo a frente Fátima Lemos, dentre outras instituições culturais e literárias.

 Manoel Severo, Vicente Ferrer e Aderbal Nogueira
Calixto Junior e Iderval Teixeira ; filho de "seu" Antonio da Piçarra
Linda Lemos, Manoel Severo e João de Lemos

"Desde que iniciei minhas andanças pelos carrascais da caatinga deste nosso maravilhoso sertão; notadamente de meu cariri cearense; que um personagem em particular me saltava aos olhos... Num cenário e ambientes explosivos como os do inicio do século XX, por esses lados do Brasil esquecido por Deus; onde a força do bacamarte decidia destinos e estabelecia quem devesse viver, ou morrer; na época dos coronéis de barranco e que o poder era disputado “a bala” nos feudos nordestinos, despontava da pequena Vila d'Aurora; no vale do Salgado; Isaias Arruda de Figueiredo. Sem dúvidas um homem incomum; inteligente, sagaz, destemido, determinado, de uma coragem incomparável e uma sina: Tornar-se o mais jovem e temido coronel das terras cearenses dos anos vinte. Isaias teve seu destino palmilhado à bala, tanto em suas conquistas como na definição de seu ato final, e fatal em agosto de 1928. Com uma personalidade arrebatadora, líder inconteste e acima de tudo um predestinado, Isaias Arruda escreveria sua saga no livro de historia do sertão... Às vezes fico pensando o que esse “Coronel Menino” assassinado aos 29 anos poderia ainda ter feito... Mas para responder essa pergunta nada melhor que adentrarmos no universo do “Vida e morte de Isaías Arruda- Sangue dos Paulinos, abrigo de Lampião”, capitaneado pelo brilhante pesquisador e escritor João Tavares Calixto Júnior; uma das mais gratas surpresas no campo da pesquisa do coronelismo sertanejo. 
Manoel Severo, curador do Cariri Cangaço em texto "Orelha" do Livro Vida e Morte de Isaias Arruda - Sangue dos Paulinos, Abrigo de Lampião, autoria de João Tavares Calixto Junior, Conselheiro Cariri Cangaço.

Manoel Severo apresenta a Obra de Calixto Junior


Em sua fala Manoel Severo ressaltou "Calixto Júnior ; também Conselheiro do Cariri Cangaço; a partir de um trabalho de fôlego, espetacular; minucioso, dedicado e extremamente responsável; de muitos anos, nos apresenta não só os acontecimentos da época, anos 20 do seculo passado em nosso cariri cearense, mas e principalmente o perfil, a personalidade, as relações perigosas e principais fatos que tornariam Isaias Arruda, o conhecido "coronel menino", quase uma unanimidade: Um homem a frente de seu tempo." 

Calixto Junior apresenta seu mais novo livro
Calixto Junior e as boas vindas ao convidados
Célia Figueiredo; neta de Isaias Arruda; fala em nome da família de Isaias Arruda

"Algo depois de funestos episódios que lhe marcaram a curta vida, polêmica e tumultuada, ocorreu-lhe o assassinato aos 4 de agosto de 1928, na pedra da Estação de Trem de Aurora, vindo a falecer 4 dias depois. No Livro de Registros de Óbitos da Paróquia de São José de Missão Velha (1926-1930, p.136), deparamo-nos com o assento referente ao seu falecimento:"Aos oito dias do mês de agosto de mil novecentos e vinte e oito, na sede da Freguesia de Aurora, foi assassinado Isaias Arruda com vinte e oito anos de idade, casado com Estelita Arruda. Seu corpo foi sepultado nesta Villa. Para constar mandei lavrar este assento que assino. O Vigário Horácio Teixeira".
Da calçada, onde caíra baleado, Isaías foi transportado para a residência de Augusto Jucá. No dia seguinte foi assistido pelos médicos Antenor Cavalcante e Sérgio Banhos, mas estes pouco puderam fazer no sentido de salvar a vida de Isaías, que terminou falecendo no dia 8 de agosto, pelas 6 horas da manhã"...

Francisca, Herton Cabral e Manoel Severo
Noite de Festa para o Cariri Cangaço no lançamento do livro de João Tavares Calixto Junior

"Salienta-se que no dia 12 de agosto do mesmo ano, regressava de Aurora a Fortaleza, o Delegado Virgílio Gomes, que havia sido incumbido de instaurar inquérito sobre o assassinato de Isaías. A respeito, foi provocado por vingança à morte de João Paulino, o chefe dos irmãos Paulinos, família de espírito de luta aguerrido, que, por anos consecutivos, fizeram do município de Aurora, assim como de suas cercanias, aterrorizado. Era estrondosa a rixa entre os seus integrantes e os "Arrudas", de Isaías Arruda de Figueiredo."

 Antônio Teixeira Leite Neto, Eusébio Rocha, Manoel Severo e Iderval Teixeira; 
Filho e netos de Antônio da Piçarra
  Manoel Severo e Aderbal Nogueira
 Calixto Junior e o lançamento em Fortaleza
 Francisco Brasil e Manoel Severo
Afranio Gomes, Manoel Severo e Malvinier Macedo
Forró de Pé Serra no lançamento da noite



Encontre ese livro com o professor Pereira através deste e-mail:  

franpelima@bol.com.br


http://blogdomendesemendes.blogspot.com

MULHERES DE BARRO

Clerisvaldo B. Chagas, 16 de abril de 2020
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.293
PANELAS NO ALTO DO TAMANDUÁ. (FOTO: B. CHAGAS/ARQUIVO).

Preso na quarentena, nunca mais passeei pela feira livre semanal. Mas soube que a feira das panelas desapareceu da rua  costumeira e talvez também tenha sido extinta. Era ali que se compravam panelas, potes, jarras, bois e éguas de barro. O artesanato era mantido pelas mulheres da Lagoa do Mijo ou Baixa do Tamanduá e do Povoado Alto do Tamanduá. A baixa do Tamanduá é sítio às margens da BR-316 na fronteira Santana/Poço das Trincheiras, enquanto o povoado é vizinho e pertence ao Poço, também na BR-316. Não faz muito tempo assim, os homens fabricavam balaios de cipó e as mulheres lidavam com a família das panelas. Local de barro vermelho, a matéria-prima tornou-se escassa para ambos os sexos e  os homens foram os primeiros a abandonarem a arte.
As duas comunidades são irmãs e originárias das pessoas pretas oriundas do também vizinho povoado Jorge. Ali frequentei muitas cantorias com os repentistas Rafael Paraibano (sogro) e José de Almeida, sempre com recepções calorosas dos humildes habitantes, gente boa. No final dos desafios, o samba de roda tomava conta da casa de taipa, acompanhado de peneira, pandeiro e versos de um ou dois cantores. Com o desmatamento na redondeza acabou o cipó, com o povoamento sobre o povoado acabou o barro. Homens e mulheres tiveram que procurar outras fontes de renda e abandonar os artesanatos centenários. As casas isoladas se tornaram um povoado alegre que tem de tudo, inclusive é cortado pelo asfalto da BR-316.
Levamos nossos alunos para uma aula de campo na Geografia, eu e o saudoso professor José Maria Amorim. Numa sexta-feira estávamos nas casas da mulheres do barro, apreciando o atribulado fabrico das panelas. Trabalho de pesquisa,  relatório, discussão posterior em sala de aula. Quando as peças de barro foram queimadas no finalzinho da tarde, retornamos a Santana depois de participarmos de uma roda de samba. No dia seguinte as panelas seriam vendidas na feira da Rainha do Sertão. Excelente oportunidade para irmos cumprimentar aquela gente boa na manhã do sábado, na feira das panelas.
Quanta saudade das MULHERES DE BARRO!.
·        Peneira: instrumento musical feito de palha rígida com pedrinhas no interior. Assegura o ritmo do samba.

TOCAIAS SERTÕES ADENTRO


*Rangel Alves da Costa


Um mundo de sangue e medo. Um mundo de fogo e grito. Um mundo de jararacas e cascavéis. Um mundo onde a vida valia menos que um tostão furado. Um mundo de covardias e de brutalidades. Um mundo de tocaias e emboscadas, de jagunços e bandidos. Um mundo que existiu tão assim.
Os livros de história ainda contam. Mas a mata ainda sente nas entranhas o chispado do fogo e os corpos tombando sem vida. Páginas tão dolorosas que certamente diminuem a grandeza de um sertão bravo e lutador. Mas tudo assim mesmo. Para o assento do homem na terra, muitos tiveram que tombar pela força do rifle e do mosquetão.
A mata fervilha. Em meio aos carrascais sertanejos, os bichos parecem conhecer aquelas botinas que lentamente cortam seu chão. Os bichos, talvez amedrontados, abrem passagem à outra fera: o matador.
Jagunço, assassino de paga, pistoleiro de mando, voraz matador, desalmado capanga, pistoleiro feroz, bandoleiro a sangue frio, a bestialidade em pessoa. Ou, para muitos, o pior dos cascavéis sertanejos: aquele que faz tocaia ou emboscada e faz do rifle sua arma de fim de tudo.
Os bichos tinham razão em temer a passagem do desalmado. Boa coisa ele não ia fazer. Caminhando assim por dentro do mato, como que rastejando sua presa, já de rifle à mão, certamente logo daria o bote certeiro. Mas contra quem daquela vez?
Qualquer um poderia ser vítima daquela sanha assassina. No mundo sertanejo, qualquer inimigo ou desafeto do patrão, do coronel ou do mandante, poderia ser derrubado pela cuspida certeira daquele desalmado cascavel.
Cascavel por que uma das peçonhentas mais temidas das caatingas, dos tufos de matos e das distâncias de mataria. Ao invés de balançar o chocalho do rabo antes do ataque feroz, aquele cascavel mirava sua vítima, ajeitava o cano da arma, firmava sua mão no gatilho, e lançava seu bote.
A cada bote dado um ser desvalido. A cada bote cuspido do rifle, da arma de língua de fogo, era como se não houvesse mais salvação para nada. Muitas vezes, bastava um tiro, um disparo apenas, e o baleado já caia estrebuchando. E em meio a uma poça de sangue, a espera somente das aves carnicentas.
Um mundo de cascavéis perigosos era aqueles sertões. Cascavéis empunhando armas tão poderosas quanto as iras lançadas pelos senhores do poder. Cascavéis a serviço do mal, da maldade, do cruel comprazimento em ceifar vidas pelas estradas, pelos escondidos, nas curvas dos caminhos, nas passagens costumeiras.
Cascáveis cuspindo fogo e abrasados até os dentes. Uma gente tão desumana que sequer queria saber a motivação daquele que iria morrer por meio de seu bote certeiro. Apenas tocaiar, apenas emboscar, apenas matar e pronto. O trabalho estava feito. A paga? Um vintém de nada.
Vintém de nada por que muitos dos jagunços, capangas e matadores, já viviam escravizados nas mãos de seus poderosos patrões ou coronéis sertanejos. Cometiam crimes, buscavam proteção nas varandas dos latifúndios, e então se tornavam como que objetos de mando. Bastava haver uma disputa ou desavença entre poderosos, ou mesmo entre um poderoso e um zé-ninguém, para que os cascavéis fossem chamados ao bote.
Na maioria das vezes, bater à porta do coronel e pedir abrigo e proteção era sentenciar seu destino. Dali não sairia mais de jeito nenhum. Passava a guardar segredos que jamais poderia revelar, e bastava pensar em sair para ser cuspido de fogo por outros cascavéis.
Uma escravização da morte, pois daí em diante serviriam apenas para apertar gatilhos, para cuspir fogo e cortar orelhas ou dedos como provas do serviço feito. Não havia outra sina: matar, matar e matar. Na tocaia, no escondido do mato, poderiam esperar horas ou dias, mas só retornavam depois da cuspida de fogo.
Jagunços, assassinos e cascavéis. Tudo numa só maldade. O homem bicho, o homem peçonhento, o homem sanguinário, o homem carregando consigo o veneno letal. Todo o veneno no rifle. Na ponta da arma aquele olhar traiçoeiro de cascavel, no cano da arma os dentes afiados da peçonhenta. E bastava o bote.
Assim a vida nos carrascais sertanejos, num chão manchado de sangue e envenenado por homens desalmados. Quando as peçonhentas furtivas se ajeitam entre os tufos à espera de vítima, ali a certeza de mais uma morte de tocaia que logo acontecerá. Ali o matador ajeitando a mira, o cascavel preparando o seu bote.

Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

CABACEIRAS NA ÉPOCA DO CANGAÇO - ENTRE PAIXÃO E ÓDIO



Borborema e Águida baseado nas histórias contadas por Apolônia Barros. Acontecida nos anos 1912.

Certo dia do ano 1912, o fazendeiro Severino de Barros Leira se preparava para uma festa no Paço Municipal de Cabaceiras. Logo mandou que dois dos seus vaqueiros arriassem alguns cavalos. Visto que algumas pessoas da família queriam ir à festa.

Uma jovem chamada Maria Águida, também estava na fazenda. Sendo ela sobrinha do dito fazendeiro e filha do Coronel Zé de Barros. A moça tinha ido passar uns dias na fazenda. Lá também se encontrava um primo da jovem. E os dois namoravam escondidos de seus pais. O jovem se chamava Borborema Barros. Que também visitava a fazenda do tio quando sabia que a sua namorada estava lá.

Nesse dia da festa, antes do pôr do sol, o fazendeiro Severino de Barros Leira saiu em seu cavalo acompanhado de algumas pessoas da sua família. Caminharam quilômetros pelos caminhos pedregosos da fazenda Corredor com destino a vila Cabaceiras. Onde lá no Paço Municipal aconteceria um baile dançante.

Na fazenda só havia ficado algumas pessoas que trabalhavam na lida do gado. Borborema Barros não se encontrava mais na Fazenda Corredor. Havia retornado para sua casa na fazenda Salambaia. Mas assim que soube que sua namorada Maria Águida tinha ido também para a festa na vila, não teve demora. Prontamente tratou de arriar seu cavalo e saiu a galope. Chegando à vila quase ao anoitecer. Vestido na mais alta elegância e acompanhado de mais dois rapazes.


O sol já havia se posto quando começou o baile no paço municipal da vila. E lá dentro a filha do Coronel Zé de Barros dançava aos cuidados de sua mãe. Que também estava acompanhada de outras damas. Enquanto Águida dançava no salão.

Mas em dado momento a jovem avistou Borborema Barros que entrava no Paço Municipal. No mesmo instante Águida interrompeu sua dança. E na ocasião aproximou-se do seu primo e chamou-o para dançar. Os dois saíram dançando no salão. Ela orgulhava-se ao dançar com o cavalheiro. E por alguns minutos encostava sua cabeça no ombro dele. Mas depois de alguns movimentos dançantes, os dois rapidamente saíram sem serem percebidos.

Do lado de fora do Paço Municipal de Cabaceiras, no clarear das luzes dos lampiões, o Coronel Zé de Barros conversava com pessoas amigas e influentes na política local. Nem sabia o que estava se passando naquela hora com a sua filha. Enquanto isso, sua esposa procurava a filha Águida pensativamente. Sem chamar atenção das outras pessoas.

Alguns minutos depois ficaram sabendo que Águida tinha fugido com o primo. Já era noite desse dia. Os dois se esconderam na casa de Jovino Modesto Cavalcante de Albuquerque, que morava por trás da igreja matriz. (Segundo dados em arquivo municipal, Jovino era cabaceirense, 2º Tenente do 13º Batalhão de Infantaria da Guarda Nacional da Comarca de Campina Grande, Estado da Paraíba). (* 1861 +1936).

Conta-se que nessa época, Águida tinha apenas dezesseis anos de idade. Havia poucas tentativas de namoro com o seu primo legitimo Borborema Barros, de vinte anos de idade. Ela Já falava em casamento. Pois era uma moça bonita, feliz e graciosa. E logo depois que os dois se ausentaram do Paço Municipal, uma mulher chamada Maria de Jesus tinha ido chamar o coronel Zé de Barros. Assustada falava: __ Coronel! Coronel Zé de Barros! Estão lhe chamando na casa do Tenente Jovino Albuquerque.

O Coronel Zé de Barros era homem de feição dura e ignorante ao extremo. Só falava com tom de brutalidade. E vendo o desespero da mulher que estava preocupada lhe chamando, queria que ela lhe contasse de imediato o que diabo estava acontecendo. A pobre mulher sem querer dizer o nome da moça, pausadamente, com a voz calma e tremula falava ao coronel que o seu sobrinho Borborema Barros tinha carregado uma moça.

Somente na frente da casa de Jovino Albuquerque, Tenente do Batalhão da Guarda Nacional, foi que o fazendeiro Severino de Barros Leira contou ao Coronel Zé de Barros que a tal moça que seu sobrinho havia escondido era sua filha Águida. E o coronel não teve demora. No mesmo instante sombreou o olhar descendo as sobrancelhas e sentiu que o problema era mais grave do que ele pensava. Sacou logo de uma arma na cintura, alongou seu olhar no sentido da porta da casa de Jovino Albuquerque e disparou três tiros. O coronel partiu bravo e furioso querendo matar o casal de namorados. As pessoas tentavam acalmá-lo para que ele não entrasse na casa.

Enquanto isso, na escuridão da noite. O negro chamado Damião Santos ajudou os namorados a fugirem pelos fundos da casa. Na madrugada do dia seguinte os namorados fujões chegaram à fazenda Corredor.

Assim que o sol da manhã raiou na fazenda Corredor os vaqueiros levaram o gado para pastar na serra. E nesse dia quando se aproximaram da furna de Anacleto foram surpreendidos pelos cangaceiros de Antonio Silvino. Os cangaceiros já eram acostumados andar nas caatingas da dita fazenda. Logo os vaqueiros ficaram proseando com os cangaceiros.

Nesse dia do ano 1912, na fazenda Corredor um dos vaqueiros que se chamava Negro Velho cantou alguns versos de aboios para os cangaceiros. Negro Velho era um poeta repentista que cantava seus versos descrevendo o cenário da vegetação. Onde se via os pés de angicos todo desfolhados e sem vidas. A terra estava coberta pelas folhagens secas. Os lajeados ajudavam na decoração do cenário, onde repousavam. Os cangaceiros ouvindo o vaqueiro cantador, também observava a paisagem verde amarelado com alguns pés de juazeiros, mandacarus, xiquexiques e macambiras.

Nesse dia o cangaceiro Antonio Silvino se revestiu de lembranças ao escutar os versos do vaqueiro. O poeta também falava da vida desgraçada que os vaqueiros levavam na lida do campo. Sua pele negra e queimada pelo sol admirava Antonio Silvino que lhe apelidou de: “Sabiá Cantador”.

Nesse dia, depois de uma caminhada rápida de ida e volta até os cangaceiros, Negro Velho quem noticiou ao seu patrão a chegada dos cangaceiros. Onde lá havia contado tudo que estava se passando. Ou seja, um pouco das histórias que lhe contara sobre Borborema Barros e Águida. Os dois namorados fujões, sobrinhos do fazendeiro Severino de Barros Leira.

Conta-se que depois o cangaceiro Antonio Silvino juntou o bando e rumou para a casa grande da fazenda Corredor. O bando fez caminhadas por entre os serrotes e as caatingas. Chegaram silenciosamente ao local desejado. Perto dali surpreenderam seis capangas do Coronel Zé de Barros a procura dos namorados fujões, que já se encontravam escondidos na fazenda. Os capangas foram desarmados e colocados deitados em cima de um carro de bois. Onde ficaram debaixo de uma quixabeira ao lado de um curral. Com os pés e as mãos amarradas. Dizem que um deles havia sofrido várias chicotadas por desagradar Antonio Silvino.

Segundo as histórias contadas, numa manhã quente de verão do ano 1912, que o cangaceiro Antonio Silvino havia chegado à fazenda Corredor. Lá o bando tinha sempre a permissão do fazendeiro para pousar na fazenda. E visto nesse dia o cangaceiro achou de encontrar um grande problema entre a família “Barros Leira”. Conta-se que essa família vez por outra entrava em questões. Até mesmo com os parentes. E o cangaceiro Antonio Silvino havia encontrado um grande problema. O mesmo se sentiu autorizado a resolver essa questão de Borborema Barros e Águida. Dessa vez não foi preciso derramamento de sangue entre as famílias envolvidas.

Sabe-se que o cangaceiro Antonio Silvino não era família da moça e muito menos do rapaz. Mas essa situação ficou agravante demais e sendo amigo do fazendeiro lhe obrigou interferir. Era caso de vida ou morte entre as famílias. E o cangaceiro entrou na questão como amigo da família para apaziguar a situação. Como de fato conseguiu sugerindo a família fazer o casamento dos namorados fujões, ou seja, do rapaz com a moça. Mas foi logo dizendo: _ Se não fossem filhos dos seus amigos, a moça ia levar uma surra. E o rapaz ser feito a capação, ou então a morte do cabra.

O Coronel Zé de Barros era homem muito conhecido no município de Cabaceiras. E por conta dos namorados fujões estava incontrolável. Ignorava qualquer opinião. A sua brutalidade lhe deixava cego de raiva. Nesse dia na fazenda Corredor ele fumava um charuto atrás do outro para se acalmar. Tragava e cuspia todo instante por uma janela da sala que ficava ao lado de um curral. Seu desejo era matar a sua filha e o seu sobrinho pela desonra que eles tinham feitos. Mas o fazendeiro Severino de Barros e o cangaceiro Antonio Silvino lhe acalmou. Depois de muitas pelejas, o coronel foi convencido que era bobagem reagir à situação. O rapaz era seu sobrinho legítimo e a moça sua filha.

Segundo as histórias contadas por Apolônia Barros, na manhã do dia seguinte quando a situação havia se acalmado na fazenda Corredor, logo mandaram buscar o Padre José Cabral para fazer o casamento de Borborema e Águida. Que até então se encontravam escondidos numa furna próxima da casa, vigiada por Justino e Felipe, dois dos vaqueiros da fazenda Corredor, temendo que o Coronel Zé de Barros pudesse matá-los.

No dia seguinte, depois de toda agonia passada na fazenda Corredor, quando as pessoas já haviam se acalmados, uma mulher que se chamava Inácia Barros, tia de Borborema e Águida, foi até ao esconderijo buscar o casal de namorados para casa do tio. Lá eles chegaram feridos pela vegetação. Momentos depois cuidaram em tomar banhos e trocarem as suas vestes. Mas antes de tudo foram submetidos a responderem algumas perguntas. E entre as pessoas a interrogá-las estava o cangaceiro Antonio Silvino, que depois de todas as falações aos namorados, conta-se que havia dito a Borborema Barros que se não fosse pela amizade que ele tinha ao seu tio Severino de Barros Leira, ele estaria morto.

O Padre José Cabral que já se encontrava na fazenda Corredor. E sem muita filosofia religiosa mandava a família apressar o casamento de Borborema Barros com Águida Barros. A pressa do padre era pegar a estrada de volta para a vila de Cabaceiras, antes do anoitecesse. Nesse dia o cangaceiro Antonio Silvino pediu para o padre não se preocupar porque ele mesmo mandava alguns cabras lhe acompanhar até a vila.

Mas o Padre José Cabral que não carecia de companhias. Além das que lhe acompanhava. Sem se contar que já tinha a de Deus. Nessa época do cangaço de 1912, o padre José Cabral ao improvisar o casamento de Borborema Barros e Águida aconselhava os cangaceiros a viverem numa vida cristã. Pois havia sido Deus quem tinha chamado ele ali. E que se ele não tivesse cruzado seus caminhos, os fujões poderiam ter sido mortos pelo pai da moça. Ou então castrado por Antonio Silvino como se fosse um capão no chiqueiro. Dizem que nesse dia depois do casório o padre recebeu algumas moedas do fazendeiro Severino de Barros Leira e do Coronel Zé de Barros e colocou num bolso que tinha em sua batina.

Conta-se que o Padre Zé Cabral dessa vez agradeceu os favores prestados pelo cangaceiro Antonio Silvino, mas também o aconselhou a deixar o cangaço. Nesse dia depois de acalmada a situação difícil entre a família “Barros Leira” o bando deixou a fazenda Corredor no final da tarde.

De acordo com as informações dos familiares de Borborema Barros e Águida é que, ano depois do casamento foram morar no Estado do Paraná, na Região Sul do Brasil. Onde nunca mais retornaram ao município de Cabaceiras.


http://blogdomendesemendes.blogspot.com

EMBOSCADA DE LAMPIÃO A VOLANTE DO TENENTE LUIZ MARIANO


http://blogdomendesemendes.blogspot.com

A ESPINGARDA VAI CANTAR PELA CANTIGA VELHA!


Acervo do José João Sousa

Em março de 1926, Lampião recebeu do Batalhão Patriótico de Juazeiro do Norte a patente de capitão. Também trocou os rifles 44 dos cangaceiros por fuzis-máuser tipo 1908, e ainda recebeu 400 balas para cada cangaceiro. Na passagem por Jardim - CE, Lampião mandou o ferreiro Mestre Zuza encurtar o cano dos fuzis da tropa, transformando assim em mosquetões. Quando Lampião soube que os Oficiais de Pernambuco não respeitaria sua patente, e que as volantes continuariam lhe perseguindo, exclamou: - É.... Então a espingarda vai cantar pela cantiga velha! E cantou mesmo..., segue abaixo, uma relação das ocorrências mais audaciosas praticadas pelo bando de Lampião no Estado de Pernambuco, no ano de 1926.

Em 23 de feveiro de 1926, antes de receber as armas de Juazeiro, matou o velho inimigo José Nogueira, na fazenda Serra Vermelha, município de Vila Bela, atual Serra Talhada.

Em 16 de abril, invade Algodões, dando-se espancamentos e estupros.

Em 7 de maio, invade Triunfo, estando o grupo sob o comando imediato de Sabino.

Em 01 de agosto, ataca novamente e incendeia a fazenda Serra Vermelha, matando duas pessoas, exterminando gado e apiário.

Em 14 de agosto, interrompe as comunicações telegráficas, cortando fios e incendiando postes em Vila Bela.

Em 19 de agosto, invade a cidade de Tacaratu com 90 homens, pondo cerco à casa Manuel Vítor da Silva, que resiste heroicamente a doze horas de combate, findando por fugir com um irmão gravemente ferido.

Em 26 de agosto, ataca a fazenda Tapera, Floresta, matando 13 pessoas de uma mesma família, os Gilos, à frente de 120 cabras.

Em 02 de setembro, invade Cabrobó à frente de 105 bandoleiros, sob toque de corneta e em perfeita formação militar, hospedando-se na casa do chefe municipal, em cuja companhia, após o almoço, passa em revista os alunos da escola local, formados em sua honra.

Em 06 de setembro, invade Leopoldina (atual Parnamirim), fuzilando quatro residentes, saqueando o comércio, a mesa de renda (coletoria), e destruindo o telégrafo.

Em 01 de outubro, à frente de 126 homens, põe em fuga a força pernambucana que se defronta com o grupo, próximo a Floresta.

Em 11 de novembro, combate com a força pernambucana na fazenda Favela, Floresta, resultando dez soldados mortos e sete feridos.

Em 24 de novembro, sequestra os viajantes das empresas Souza Cruz e Standard Oil Company (ESSO), exigindo dezesseis contos de réis de resgate, sob pena de morte.

Em 25 de novembro, mata José de Esperidião e bota fogo em sua residência na fazenda Varzinha, município de Vila Bela.

Em 26 de novembro, ocorre a famosa batalha na Serra Grande, a maior da história do cangaço. Lampião enfrenta uma tropa de aproximadamente 300 policiais, com apenas noventa cabras. A tropa, ao final perde um total de 20 soldados, a intensa troca de tiros estendeu-se das 8h30 às 17h45, quando a polícia abondonou o campo de batalha.

Em 12 de dezembro, na localidade Juá, destrói a tiros cento e vinte e sete bois do fazendeiro Joaquim Jardim, estabelecido em Floresta.

Fontes:

Lampião, seu tempo e seu reinado, de Frederico Bezerra Maciel
Guerreiros do Sol, de Frederico Pernambucano de Mello.


http://blogdomendesemendes.blogspot.com