Por: José Mendes Pereira
Na década de 40, para quem não dispunha de recursos, as dificuldades eram assustadoras, onde a maioria dos moradores de sítios, vivia trabalhando com exclusividade para o seu patrão, no intuito de adquirir o pão de cada dia, como diz o sertanejo.
Meu pai faleceu no dia 10 de maio de 2011 aos 89 anos e 25 dias.
No ano de 1941, do século passado, o meu pai Pedro Néo Pereira ainda vivia sobre as regras do meu avô, e logo que se casou, foi morar nas terras de
Francisco Duarte, conhecido por Chico Duarte, o legítimo pai de
Manoel Duarte, o homem que no dia 13 de junho de 1927, conseguiu balear em Mossoró, o afamado e perigoso cangaceiro Jararaca, no momento da tentativa de invasão à cidade, comandada por Lampião.
Posteriormente Chico Duarte faleceu, e a sua enorme propriedade foi dividida com os herdeiros, sendo que o meu pai passou a ser morador de Manoel Duarte, mas permanecendo na mesma casa em que morava.
Os tempos foram se passando e com as suas economias, meu pai comprou uma parte da herança de Luiz Duarte, vulgarmente chamado Lili Duarte, irmão do matador do cangaceiro.
Nesta propriedade, o meu pai dedicou-se por completo à agricultura, e uma criação de bodes, ovelhas, mais meia dúzia de gado.
Manoel Louredo um senhor que morava às margens do rio Mossoró, sentindo-se sem condições de dar de comer à sua numerosa família, pediu ao meu pai que o deixasse tirar lenha na sua propriedade, pois no momento as necessidades em sua casa eram de lástimas, e que tirando lenha, venderia pelas ruas de Mossoró, para comprar o necessário para sua família.
Meu pai, piedoso, e ciente do que havia passado em terras alheias, concedeu-lhe o pedido, mas lhe dizendo que cortasse só as árvores mortas, e as que estavam vivas não as derrubasse.
Pedidos feitos, pedidos cumpridos de ambas as partes.
Duas vezes por semana, mais ou menos, às seis horas da manhã, Manoel Louredo passava na residência do meu pai; tomava uma xícara de café, e se mandava para o mato. À tardinha ele estava de volta, com a carroça lotada de madeira seca.
Tomava mais um cafezinho e tangia o animal em busca de Mossoró. Essa atividade de Manoel Louredo durou mais de três meses, até que certa tarde ele foi flagrado levando cabras entre a lenha.
O que ele fazia?
A criação costumava ruminar nas imediações onde ele tirava a lenha. Ali, ele deu início a viciá-la com milho e pedaços de pão seco de padaria. Pegava um animal, o anestesiava, colocava sob a lenha, protegido por toros travessados, como se fosse um banco, para não prensar o animal. Na frente e na parte trazeira da carroça enchia com pequenos pedaços de lenha, para dar impressão que os toros eram diretos, isto é, de uma ponta a outra.
Certo dia, pegara uma cabra acompanhada de um cabrito. Anestesiou-a, e o pouco que sobrara na seringa, injetou no cabrito. Arrumou-os bem direitinho sobre o lastro da carroça, cuidadosamente colocou os toros por cima dos animais, e deu partida para ir embora.
Como do costume, passou na casa do meu pai; tomou um cafezinho, e quando se preparava para partir em direção a sua casa, o cabrito acordou do sono e tome berro entre a lenha.
- Mas o que significa isso, seu Manoel Louredo? – perguntou-lhe meu pai.
- Não sei! Não sei! – respondeu ele timidamente e já com as pernas tremendo.
Logo o meu pai esvaziou a carroça, e lá estava o roubo do seu Louredo. A cabra gozava de um enorme sono, e o cabrito estava se recuperando da anestesia. Apenas cambaleava entre a lenha.
- Interessante, seu Louredo! Eu tentando lhe ajudar. O senhor está roubando as minhas cabrinhas..., o senhor retire a lenha de cima da carroça e a arrume aí,... os viventes o senhor os leve para sua casa.
- Mas não são meus, seu Pedro! - disse ele em tom de exclamação.
-E de quem são seu Louredo? – perguntou-lhe meu pai.
- São do senhor, seu Pedro!
- Eram meus, realmente..., mas a partir da hora em que o senhor os colocou sobre sua carroça, que eu não os havia lhe dado, já passaram a ser roubo. E aqui eu não costumo esconder roubo de ninguém. Nem meu se eu roubasse. O senhor vá embora e nunca mais ponha os seus pés na minha propriedade. Mas tem que levar o seu roubo.
Seu Louredo foi obrigado a levá-los, já que o meu pai não os queria mais em suas terras.
Alguns vizinhos presentes queriam que o meu pai o levasse até a delegacia, em Mossoró. Mas ele os convenceu que cadeia não resolveria mal costume de ninguém. Quem tinha força para acabar de uma vez por toda esse ridículo costume, era o larápio, que criasse vergonha e não mexesse mais em nada de ninguém.
Seu Louredo morreu de velho quando morava nas imediações da Ilha de Santa Luzia, bem próximo ao centro da cidade de Mossoró. Nunca mais ninguém ouviu falar de outros furtos praticados pelo velho Louredo.
Minhas simples histórias