Por
Rangel Alves da Costa
No meio do mato, sempre acompanhado por um cachorro, nas entranhas da Fazenda
Coruripe em Poço Redondo, sertão sergipano, apontando o local onde foi
enterrado o cangaceiro Canário em 38, morto à traição pelo também cangaceiro
Penedinho.
Do livro
"Lampião entre a espada e a Lei",
de
Sérgio Augusto de Souza Dantas.
Enterrado sem a cabeça, vez que a mesma fora levada como troféu macabro por Zé Rufino, terrível e temido caçador de cangaceiros. É por isso que Totonho Catingueira dizia:
“Vosmicê num
pisa no chão de Poço Redondo pra num pisar num rastro de cangaceiro ou de
volante. Tomem num anda num lugar pra não sentir um vurto de cabra estirado. A
mata aina zune. Aina hoje, eu mermo só entro no mato com medo daquelas
aparição, daqueles homens de sangue nos óio e venta sortano fogo. Poço Redondo
num era nem pra se chamar Poço redondo, mai Poço do Cangaço. O cangaço inté
parece que foi todim aqui.
Ali foi um
fogo, acolá foi uma emboscada, mais adiante um acaba-mundo da gota serena. É
cuma aina a sombra de Lampião tivesse aqui, tomem de Corisco, de Zé Sereno, de
Corisco, de Mané Moreno e tudo mais. É cuma aina a gente ouvisse a bala zunindo
e o grito de dor. Menino, foi um escorrimento de sangue de num acabar mais. Eu
mermo aina sinto o cheiro suarento do cangaço e o fedor da volante.
Pro todo lugar
existe cangaço, e aina como se o medo deixasse o cabelo em pé. Conheci a Véia
Gerusa que mermo adespois da morte de Lampião ainda continuava com saco
arrumado pra correr a quarqué hora. O maluquim Oreba continua dizeno que toda
noite sonha com a cangaceirama e que Lampião virou rei com coroa e tudo, e que
seu reinado é pelas banda da Maranduba, debaixo de um daquele sete umbuzeiro.
Sei não, viu. Sei não... Eita Poço Redondo das história cangaceira. Mai vou
dizê uma coisa, sem medo de errar: se as morte do cangaço fosse todinha marcada
em cruz, entonce Poço Redondo todim era um cemitero. Pro todo lugar haveria de
ter uma cruz, aqui debaixo dos meus pé, ainda debaixo do seu...”.
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