Por André Nogueira
João Bezerra -
Arquivo Pessoal
O policial
militar pernambucano foi nacionalmente reconhecido por comandar a operação que
degolou o Rei do Cangaço.
Uma das
imagens mais marcantes da história policial no Brasil são as cabeças
do bando de Lampião na escadaria da prefeitura em Piranhas, Alagoas.
Nela, há o retrato da perseguição violenta contra os criminosos e uma vingança
contra seus corpos, diante da notória prática de degolamento. O responsável
pela foto foi o oficial João Bezerra da Silva.
Ele foi um
Policial Militar de Alagoas, que se tornou famoso no país todo depois do
Massacre de Angicos. Nativo de Afogados de Ingazeira, Pernambuco, aprendeu a
atirar com o primo, Antônio Silvino, se tornaria cangaceiro. Alvo de uma
infância conturbada, decidiu fugir de casa ainda jovem.
Com a
namorada, se mudou para Recife,
onde passou a trabalhar numa ferroviária, que cuidava da restauração das linhas
e outros bicos que o auxiliaram a ter uma renda básica. Passou a viver na
estrada, na região da capital pernambucana, até que decidiu retornar a sua
cidade natal. Lá, abriu uma pequena bodega com armazém, se sustentando com as
vendas.
No entanto, a
passagem durou pouco tempo, pois, quando Bezerra começou a ganhar dinheiro, um
fazendeiro local passou a persegui-lo, com medo de concorrência. Então, abusou
de sua sobrinha e enviou um recado para que não passasse dos “limites”. João,
indignado, foi à fazenda do homem e o matou, o que o obrigou a fugir da cidade
para evitar vinganças.
Foto antiga da
volante de Bezerra em 1936 / Crédito: Divulgação/YouTube
Passou a viver
em Princesa Isabel, onde conheceu o coronel José Pereira, e aprendeu a atirar,
assim conhecendo os crimes dos cangaceiros. O militar era inimigo íntimo de
Lampião. Trabalhando nas possessões do oficial, tornou-se lenda local por matar
uma onça a tempos procurada, pois estava matando diversas criações na região.
João Bezerra
decidiu entrar no exército, migrando para Maceió em 1919, passando a fazer
parte definitiva do corpo da Polícia Militar em 1922. Com valentia, cresceu
rapidamente na carreira, realizando diversas operações com eficácia e recebendo
promoções e indicações por bravura. O principal local onde viveu era a cidade
de Piranhas.
Nas operações
que esteve envolvido, lutou ao menos onze vezes diretamente com cangaceiros,
tendo, em uma das ocasiões, sofrido um ataque em que perdeu quatro centímetros
de perna e, assim, se tornou manco. Por esse motivo, Lampião o apelidava de Cão
Coxo, em referência à mobilidade reduzida. Em retribuição ao apelido desonroso,
Bezerra passou a chamar o Rei
do Cangaço de O Cego.
Em 1935,
casou-se com Cyra Gomes de Britto, com quem construiu uma família enquanto
trabalhava no comando de volantes no estado de Alagoas. Nessa posição, ficou
responsável pela operação que identificou, perseguiu e assassinou o bando de
Lampião durante reunião numa gruta localizada na fazenda dos Angicos, município
de Poço Redondo.
Em uma
operação bem organizada, eles localizaram o acampamento dos cangaceiros e
entraram no local a noite, atirando com metralhadoras. Depois de mortos,
Lampião e Maria Bonita tiveram suas cabeças arrancadas. Sua atuação na operação
o fez nacionalmente famoso, e recebeu diversas honrarias.
Ele foi
recebido pelo presidente Vargas no Palácio do Catete, sendo homenageado. Com o
tempo, chegou à posição de comando da PM de Alagoas. Em 1940, lançou o livro
Como Dei Cabo a Lampião, com descrições da operação mais famosa de sua
carreira. Em 1955, entrou na reserva e passou a trabalhar numa fazenda,
plantando.
João viveu ate
é 1970, quando sofreu um AVC em Garanhuns. Foi enterrado como herói no Parque
das Flores, em Recife,
onde descansa até hoje.
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