Por José Ozildo dos Santos
O desbravamento e a ocupação do território parelhense é um capítulo especial na história do Seridó norteriograndense. Logo na primeira metade do século XVII, o Seridó começou a ser explorado. Existem registros históricos que atestam a presença portuguesa na região antes do domínio holandês no nordeste. Tais registros referem-se ao aldeamento de índios da nação tapuia, em território que posteriormente constituiu-se no município de Acari. Na demarcação do referido sítio dos tapuias, encontramos as primeiras referências sobre o Boqueirão de Parelhas, à época, conhecido como ‘Boqueirão do Acauã’.
Durante o período de domínio holandês, o território parelhense foi visitado por exploradores flamengos, que adentraram o interior da Capitania em busca do apoio do elemento silvícola. Conhecedores dos atos de bravuras e de coragem da nação tapuia, os holandeses sabiamente souberam conquistar a confiança daqueles selvagens, utilizando-os como armas contra os luso-brasileiros.
Anos mais tarde, após a expulsão dos holandeses, os tapuias, inimigos irreconciliáveis dos portugueses, levantaram-se em armas contra o elemento colonizador, gerando a chamada ‘Guerra dos Bárbaros’, que teve como epicentro o Seridó Oriental.
Ainda no final do século XVII, pelo ‘Boqueirão de Parelhas’, passaram os terços paulistas, sob o comando de Domingos Jorge Velho com a missão de combater os tapuias em guerra. Em território parelhense ocorreram as mais sangrentas batalhas daquela guerra anticolonalista, que, no final, foi objeto do primeiro tratado de paz assinado por um rei europeu e um chefe de uma nação indígena, na América Latina.
Se o século XVIII entrou para a história parelhense como a centúria de sua ocupação territorial, o seguinte, consolidou sua formação histórica. Cronologicamente, o primeiro fato de importância histórica registrado no século XIX foi a passagem de Frei Caneca (juntamente com o que sobrou do exército confederado) pelo território parelhense, em finais de outubro de 1824. O mártir da Confederação do Equador deixou escrito em seu diário a impressão viva que teve da Serra da Borborema e da boa hospedagem recebida na ‘Fazenda Alma’, em solo parelhense, quando de sua macha em fuga para o Ceará.
O desespero da população indefesa levou os senhores Sebastião Gomes de Oliveira e Cosme Luís a fazerem uma prece. Se a região ficasse livre daquela mortal epidemia eles construíram uma capela consagrada a São Sebastião. Assim, alcançada a graça, uma pequena capela foi construída. E, ao seu redor, surgiram as primeiras casas.
O aglomerado humano, aos poucos foi adquirindo delineamento urbano. Numa visível demonstração de fé, foi fincada uma cruz de madeira no local que antes funcionou como o cemitério para os coléricos. Era o marco inicial da evolução histórica da futura cidade de Parelhas, cujo povoado somente aparece nos documentos oficiais - com essa denominação - a partir de 1870.
Em novembro daquele mesmo ano de 1870, a pequena povoação tornou-se distrito de paz, subordinado ao município de Jardim do Seridó, do qual era parte integrante. A localização privilegiada estimulou seu crescimento. Ainda naquele ano, ali surgiu a primeira escola de instrução primária, fundada e regida pelo talentoso professor José Gomes, que, por seus relevantes serviços, foi agraciado pelo Imperador Dom Pedro II com a Comenda da Ordem de Cristo. A referida escola foi a primeira no interior da Província do Rio Grande do Norte a funcionar em prédio próprio, construído à custa de seu professor.
Aos poucos, a pacata povoação foi adquirindo importância econômica. Em 1888, o padre Bento Maria Pereira Barros instalou-se em Parelhas, após ser designado para ocupar o cargo de capelão local. Sacerdote culto e revestido de elevados predicados, realizou a primeira feira na localidade, e, de forma consciente, estimulou o plantio do algodão, cultura que ainda no final do século XIX, tornou-se o primeiro suporte econômico da região.
No início do século XX, Parelhas recebeu várias missões científicas, financiadas pelo governo central, através da antiga Inspetoria Federal de Obras Contra as Secas – IFOCS. Todos os cientistas que por ali passaram, unanimemente, atestaram as possibilidades econômicas da próspera povoação. No entanto, apesar de seu grande potencial econômico, Parelhas permaneceu durante muito tempo reduzida à condição de simples povoação, embora ostentasse um aspecto superior a muitas cidades do interior do Estado, superando, inclusive, Jardim do Seridó, de cujo município era parte integrante.
Somente após uma grande mobilização popular, coordenada por Antão Elisário e outros filhos da terra, a florescente povoação foi elevada à categoria de vila, através da Lei Estadual nº 778, de 26 de novembro de 1920. Anos mais tarde, pela Lei nº 630, de 8 de novembro de 1926, tornou-se município autônomo, ocorrendo sua instalação no dia 1º de janeiro do ano seguinte, oportunidade em que aconteceu a posse de seu primeiro prefeito, o senhor Laurentino Bezerra Neto, que, historicamente, foi também o primeiro cidadão eleito para o referido cargo, no Rio Grande do Norte. Posteriormente, a Lei Estadual nº 656, de 22 de outubro de 1927, elevou a próspera vila à condição de cidade.
Nenhum comentário:
Postar um comentário