Olhem que ainda não é 8 de Março, mas justamente neste 23 de fevereiro dedicamos dois artigos a duas senhoritas, personagens da saga de Lampião.
A primeira foi homenageada pela confrade Aninha e a seguir um artigo comemorativo pela razão de um achado daqueles indeléveis para história do cangaço!
Quebrando nosso ritmo atual, diria até um protocolo de uma no máximo duas postagens diárias não podia adiar para que vocês assim como eu tivessem a oportunidade de conhecer a figura de Enedina, na única fotografia existente.
Texto e foto: Cortesia do "vaqueiro da história", mestre Alcino Costa
Há muitos anos, dominado pela minha obsessão em pesquisar as coisas do sertão, em especial, as coisas do cangaço, eu vivo à procura de fatos quase que impossíveis de serem encontrados dos tempos de Lampião.
Carrego em meu sentimento uma vontade louca de encontrar fotos daquelas mocinhas que se bandearam para o cangaço. Será que fotografias não conhecidas poderiam ainda ser encontradas? – assim eu imaginava.
Eu tinha quase a convicção que não. Você, meu querido vaqueiro da história, você já imaginou encontrarmos uma foto de Lídia Pereira de Sousa, a famosa Lídia de Zé Baiano, nascida no Raso da Catarina, no lugarejo Salgadinho, o mesmo local do nascimento de Nenê de Luís Pedro e de Naninha de Gavião?
Como se sabe, dizem que Lídia era a mulher mais linda e mais atraente do cangaço. A sua história foi triste e medonha. Em 1934 foi assassinada. O assassino foi seu próprio companheiro, o desalmado “Carrasco de Chorrochó”, o antigo pedreiro Aleixo, celebrado no cangaço com o nome de Zé Baiano. Uma versão dá conta de que ela foi enterrada no Riacho do Quatarvo, nas terras da antiga fazenda Paus Pretos, do coronel Antônio Caixeiro, em terras do município de Poço Redondo.
Será que existem fotos da bela 'Maria de Juriti', nos tempos de sua juvenil mocidade ao lado deste famoso cangaceiro? Quem é de nossos confrades que conhece uma foto de Dinda, a mocinha filha de Poço Redondo que foi para a companhia de seu noivo, João Mulatinho, irmão de Adília de Canário, alcunhado no bando de Delicado?
Quem conhece uma foto de Rosinha, de Mariano e de Adelaide, de Criança, caboclinhas irmãs, filhas que eram de Lé Soares?
Quem antes dessa postagem conhecia uma foto de Enedina, a única mulher casada do bando de Lampião? Com certeza absoluta ninguém.
Pois bem! Meus amigos e companheiros no rastejar a história dos povos sertanejos, em especial a história do cangaço e de Lampião, neste mês de fevereiro de 2011, eu tive uma grandiosa surpresa. Surpresa que me deixou pleno de felicidade. Emocionado mesmo. Conversando com Antônio Neto, um grande artista de Poço Redondo, neto da falecida Maninha, que era irmã de Enedina, a Enedina de Zé de Julião, a Enedina que morreu em Angico ao lado de Lampião, ele me disse que sua mãe, dona Antonieta, tinha uma foto da esposa do cangaceiro Cajazeira de pouco antes dela ter ido para o cangaço. Ainda mais. Que aquela foto havia sido tirada no dia de seu casamento que aconteceu na igrejinha de Poço Redondo, em 15 de Agosto de 1937.
Fiquei atarantado com aquela inesperada novidade. Ter esta foto em minhas mãos era algo de um valor extraordinário. Tonho Neto se comprometeu em ir buscá-la na Pia do Boi, fazendinha do município onde a sua mãe reside.
A minha expectativa era enorme. Eis que no dia 20 deste mês, este meu querido amigo me entregou a foto, esta foto que tenho a felicidade de mostrá-la a todos os que pesquisam e estudam o cangaço.
Enedina, a esposa de Zé de Julião
Vejam meus companheiros o quanto Enedina era bela. Uma menina-moça que carregava em seu corpo e em seu espírito uma lindeza incomparável. E saber que uma jovem e linda mulher, como Enedina, no fulgor de sua mocidade, perdeu a vida, com a sua cabeça esbagaçada por uma infeliz bala, na subida de uma das serras de Angico, é um acontecimento que ainda hoje, após tantos anos, nos deixa tristes e desconsolados.
Olhem devagar e com muito carinho esta foto. O que é que vocês acharam? Que tal! Aí está a prova do quanto a mulher sertaneja era e é bela, linda, maravilhosa.
A beleza da mulher cangaceira era realmente invulgar. Além de Lídia, considerada a mais bela de todas, não podemos desconhecer a beleza de Maria Bonita, de Maria de Pancada, de Dulce, a segunda companheira de Criança; de Sila de Zé Sereno, o jeito trigueiro e belo de Dadá de Corisco e Inacinha de Gato e tantas outras que com sua beleza e seu fascínio alucinavam os jovens cangaceiros que tinham naquelas lindas flores campestres, flores em forma de gente, a essência do amor e do desejo se derramando aos dengos em seus másculos braços, alucinadas de desejos, dominadas por uma volúpia incontrolável, dando e recebendo quase que divinais momentos de felicidade e prazer, mesmo que em um ambiente quase que perene de sofrimento e gravíssimos perigos da própria vida.
A história tem sido injusta com a mulher cangaceira. Elas mudaram o viver do cangaço. Foram verdadeiras heroínas que amenizavam a brutalidade dos cangaceiros. Foram elas as sertanejas que ali estavam, naquele tão perigoso meio, unicamente para estarem ao lado do homem amado, dando e recebendo carinho, arriscando a vida em troca do prazer e da felicidade em acompanhar e estar ao lado do homem de sua vida.
Elas eram lindas. Enedina era uma prova do que estou afirmando. Admirem esta foto que é uma relíquia da história de Poço Redondo e da história do cangaço.
Alcino Alves Costa
O Caipira de Poço Redondo
Ói o homem aí! ói a cara dele
É como se eu estivesse presente vendo a satisfação do confrade em mais um importante achado.
Parabéns e obrigado, mestre
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