Por Sálvio Siqueira
As paixões
ardentes nas plagas do Nordeste têm o calor do sol calcinando os corações
sertanejos. Notamos que apesar de uma vida de fugas, brigas, tiros e mortes,
havia um tempinho para que os corpos se entrelaçassem numa volúpia alucinada de
desejos na época do cangaço.
Sem terem uma maneira de evitarem, sucessivos frutos foram vingados nas densas e solitárias extensões da mata. Frutos esses, que tiveram as folhas secas das árvores como o seu primeiro colchão. Por diversas ocasiões foram iluminados pela “princesa da noite” sertaneja.
Sem terem uma maneira de evitarem, sucessivos frutos foram vingados nas densas e solitárias extensões da mata. Frutos esses, que tiveram as folhas secas das árvores como o seu primeiro colchão. Por diversas ocasiões foram iluminados pela “princesa da noite” sertaneja.
Durvalina - A foto colorizada digitalmente com Durvalina é uma arte do amigo, professor e pesquisador do cangaço Rubens Antonio.
Durvinha e Moderno viveram uma paixão enorme. Notaram que eram um, para o outro, seu complemento, seu côncavo, sua alma gêmea... Então vivenciaram com todo seu corpo e alma, aqueles pequenos grandes momentos de felicidade. No entanto, quis o destino que houvesse uma separação brusca, sofrida, dolorosa, sangrenta entre os dois. Moderno é abatido, causando um desespero e amargura no coração da jovem sertaneja que, acredito, foi junto com ela quando transpôs os portões da morte.
Virgínio ex-esposo de Durvalina
Sabemos hoje, como sabiam os Guerreiros do Sol na época, que uma jovem, de maneira alguma, poderia seguir sem ter ao seu lado um companheiro na triste senda cangaceira. Era “Lei” e, se descumprida, a sentença era a morte. Então Durvinha fica, a partir da morte de Moderno, sendo companheira do cangaceiro Moreno.
O subgrupo de Moderno, após sua morte, desfaleça-se quase que completo. Moreno assume a chefia, porém, por um determinado espaço de tempo só fazem parte do mesmo, ele e a jovem Durvalina.
Durvinha e Virgínio
“(...) Depois da morte de Virgínio(Moderno), vários cangaceiros fugiram
deixando o cangaço. Tendo Moreno que amargar uma grande baixa em seu
contingente, por tempos, vagando só, na companhia de Durvalina(...)” (“Sangue,
amor e fuga no cangaço” – LIMA, João De Sousa. 1ª
edição. 2007)
Particularmente, tenho minha opinião sobre esse acasalamento, inesperado por Durvinha, mas, não sei se tão inesperado pelo cangaceiro. Segundo alguns autores o novo casal passa a viver uma fogosa paixão.
“(...) Na solidão dos momentos, o amor inevitável adunava dois corpos sedentos, entregues a uma paixão nascida nos carrascais do sertão (...).” (Ob. Ct.)
Durvalina engravida. Novamente, tem seu metabolismo alterado pelo ser que começa a forma-se em seu ventre. Dois motivos a perturbam constantemente, um pelo fato de naquelas condições de que empregar uma fuga sem fim, e, a segunda, mais dolorosa, é ter a certeza de que não poderia criar o filho que daria a luz. Vendo-o crescer, dar seus primeiros passos, chama-la de mãe.
No ocaso do ano de 1937, os cangaceiros locomoviam-se com bastante cuidado devido ao estado avançado da gravidez de Durvinha. A aurora de 1938 traz para o casal uma preocupação maior. Em seu primeiro dia, a jovem relata para o companheiro que se sente um tanto desconfortável. Dois dias depois começam as contrações no corpo da cangaceira.
Inacinho filho de Moreno e Durvalina
Em terras da fazenda Riachão, no dia 3 de janeiro de 1938, tendo a sombra de
uma frondosa árvore, uma Quixabeira, como sala de parto, o chão e as folhas
como colchão, e como parteiro o cangaceiro Moreno, seu companheiro, Durvinha da
à luz a uma bela e saudável criança do sexo masculino. Uma irmã de do
cangaceiro Moreno, Maria José, presenteia o sobrinha com o enxoval. Durvinha
amamenta seu filho com o valoroso líquido colostro, e, consequentemente, com o
leite que brota de seus seios, abundantemente.
Durvinha e Moreno
Porém, são cangaceiros, e uma coisa que não podiam fazer era permanecerem mais do que o tempo necessário em um só lugar. Achando já terem passado tempo demais nas terras da fazenda Riachão, Moreno chama Durvinha, que com seu filho nos braços, arribam em busca de um novo local para acamparem. Perambulam pela caatinga, sempre com o cuidado de apagarem seus rastros e com os sentidos, todos eles, em alerta total para não caírem em alguma ‘arapuca’ preparada pelas volantes que rondavam por perto.
Sabedor dos locais onde se encontrava o líquido precioso para a vida de todos os seres, Moreno leva sua companheira e seu filho para um ‘tanque’, forjado pelo tempo na rocha, o qual é chamado por muitos de ‘caldeirão’, onde encontra-se uma ao reserva. Após saciarem a sede, enchem seus reservatórios com água e, aproveitando a ocasião, Durvinha começa a lavar a roupa da criança, ficando seu companheiro dando cobertura, observando todos os acessos que levavam ao ‘caldeirão’. Em determinado instante, os olhos aguçados do arisco cangaceiro notam uma coluna avançando por entre a vegetação da caatinga, na direção do depósito natural da água da chuva. Rapidamente, chega perto de sua companheira e a manda seguir por uma trilha, que depois a seguiria. Com o coração palpitante mais dessa vez, do que das anteriores, a jovem cata algumas peças que estavam ‘quarando’, outras secando, na laje, coloca seu filho nos braços e sai o mais rápido que pode na direção indicada pelo companheiro.
Inacinho filho de Moreno e Durvalina
“(...) Durvalina pegou alguns panos molhados que estavam a seu alcance, pegou o
filho e rapidamente começou a fugir (...).” (Ob. Ct.)
Moreno sabia que teria que retardar o máximo possível o avanço da volante, para que sua companheira com seu filho, tivessem tempo de colocarem alguma distância de dianteira. Em determinado momento, abre fogo na direção dos soldados. Esses escutaram o estampido e, é quase certo, também ouviram o zunido da bala passando sobre suas cabeças. Involuntariamente todos se lançam ao chão. As experiências das várias emboscadas fazem com que sejam ágeis, o mais que poderem, para não serem abatidos pelos tiros dos emboscadores. Sem terem a certeza de onde partira o tiro, e quantos inimigos teriam que enfrentar, os soldados procuram abrigo.
Moreno sabia que teria que retardar o máximo possível o avanço da volante, para que sua companheira com seu filho, tivessem tempo de colocarem alguma distância de dianteira. Em determinado momento, abre fogo na direção dos soldados. Esses escutaram o estampido e, é quase certo, também ouviram o zunido da bala passando sobre suas cabeças. Involuntariamente todos se lançam ao chão. As experiências das várias emboscadas fazem com que sejam ágeis, o mais que poderem, para não serem abatidos pelos tiros dos emboscadores. Sem terem a certeza de onde partira o tiro, e quantos inimigos teriam que enfrentar, os soldados procuram abrigo.
Inacinho filho de Moreno e Durvalina
Durvinha sempre à frente e Moreno dando cobertura a sua fuga, assim prosseguiram por um bom pedaço de terra, diminuíram o passo, a criança, alarmada pelos solavancos dos braços e corpo da máe, estava a estatelar-se de chorar... De repente, os dois escutam um forte ruído sonoro as suas costas. Durvinha não esperou para ver do que se tratava e, pernas pra que te quero, saiu em toda carreira com seu filho nos braços. Moreno apressa-se, mas, com o cuidado de sempre deixar sua companheira ir bem à frente. Aquele “tropel” aumentava, e vendo que não dava mais para continuar fugindo, Moreno prepara-se para brigar. Nesse instante, um longo apito vem dizer do que se tratava que nada mais era do que um trem. A Maria Fumaça, que avisava estar chegando à estação de Quixaba... O pequenino Inacinho é entregue a pessoas que cuidam dele. A dureza da vida no cangaço, fazendo, mais uma, uma mãe separar-se de seu filho. Muito tempo depois, há o reencontro dos pais com aquele filho, mas, isso é uma outra história que contaremos em outra oportunidade... Nas quebradas do Sertão.
Fonte Ob. Ct.
Foto (“Sangue, amor e fuga no cangaço” – LIMA, João De Sousa. 1ª edição. 2007
Benjamin Abrahão
Encontro300 × 410
Foto (“Sangue, amor e fuga no cangaço” – LIMA, João De Sousa. 1ª edição. 2007
Benjamin Abrahão
Encontro300 × 410
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