Por Luiz Zanotti
SUMARIO:
O
presente livro tem como base o
projeto que foi
desenvolvido durante o período do meu
estágio pós-doutoral
na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG),
de 01.08.2013 a 31.07.2014, sob a supervisão
da Prof. Dra. Thaïs Flores Nogueira Diniz, pesquisadora com reconhecimento nacional e internacional
no campo dos estudos de intermidalidade,
interculturalidade, tradução e performance da obra de
Shakespeare.
Lampião
e Ricardo III: O sertão medieval, hipertextual
e intercultural, busca, através dos
artigos elaborados, apresentar a interessante
correlação existente entre o sertão nordestino brasileiro e o período feudal inglês,
no sentido de relatar a sua base medieval, a carnavalização, as influências
geográficas, o fenômeno do cangaço, a
intermidialidade e a interculturalidade.
Neste sentido, o projeto que inicialmente visava ampliar
o âmbito das pesquisas sobre traduções intersemióticas e culturais, no que tange aos estudos da produção
cênica brasileira shakespeariana no Brasil, através
da peça Sua Incelença Ricardo III
(2010), dirigida por Gabriel Vilela, em seu decorrer,
incluiu novas
obras para análise, tais como, a
adaptação fílmica
Ricardo III (1992), de Richard Loncraine,
o espetáculo
teatral Virgulino e Maria: Auto de Angicos (2008), de
Amir Haddad, o romance gráfico Lampião e Lancelot (2008), de Fernando Vilela, Deus e
o di abo na terra do
sol (1964) de Glauber Rocha e até mesmo o grande
romance de Guimarães Rosa Grande
sertão veredas
(1958).
Estas
inclusões foram fundamentais, tanto para o estudo
da intermidialidade ao comparar um espetácul o
teatral com uma produção fílmica e
os romances
tradici onal e gráfico, como levantou as possibilidades
de exemplificar o cruzamento de culturas, mas especificamente entre a brasileira e
a britânica,
bem como ressaltar os aspectos de medievalidade,
três características apontadas pelo projeto.
O
primeiro artigo “A MULTIPLICIDADE INTERPRETATIVA
EM GRANDE SERTÃO: VEREDAS
ATRAVÉS DE UM DIÁLOGO ENTRE WOLFGANG ISER E GUIMARÃES ROSA” apresenta
exatamente a possibilidade de um
sertão multifacetado a partir dos conceitos de vazio, negatividade
e indeterminação apresentados pelo teórico alemão Wolfgang Iser nas suas obras
O ato de leitura v.1.
(1996) e O ato de leitura v.2. (1999).
A seguir, trazemos “Ricardo III: entre o sertão medieval e a Inglaterra dos anos 30”, uma análise da tradução intersemiótica e cultural da obra de William Shakespeare através da montagem brasileira Sua Incelença Ricardo III que foi di rigida por Gabriel Vilela (2010), comparando com a versão fílmica da mesma obra dirigida por Richard Loncraine (1995), e estrelado por Ian McKellen. A mesma adaptação fílmica serve para analisar a exacerbação da violência através dos arti gos “A exacerbação da violência em Ricardo III: de Shakespeare à Mckellen” e “Richard III, Auto de Angicos e a intermediação da violência”, que compara a violência através da relação intermidial entre o cinema e o teatro.
Finalmente, “O Lampião de Fernando Vilela: nem herói , nem facínora... demasiadamente humano” elabora uma interessante comparação cultural entre o sertão medieval de Lampião e a Inglaterra medieval de Sir Lancelote através de imagens dos anos 30, mostrando o caráter ambivalente das personagens, e principalmente de Lampião, que geralmente é caracterizado ou como um herói ou como um facínora, ou seja, enquanto para alguns autores, o cangaceiro é apresentado somente através de seu lado positivo de um revolucionário em luta contra o coronel ato, para outros, o seu l ado negativo de um bandido sanguinário é ressaltado. Estas duas abordagens fazem como que a personagem perca toda possibilidade de uma análise multi-interpretativa, o que a aproxima de uma visão cartesiana, onde se procura encontrar a verdade atrás de uma certa aparência.
Enviado pelo autor Luiz Zanotti
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário