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sexta-feira, 10 de março de 2017

LAMPIÃO & RICARDO III

Por Luiz Zanotti

SUMARIO:

O  presente  livro  tem  como  base  o  projeto  que foi  desenvolvido durante  o  período  do  meu  estágio pós-doutoral   na  Universidade Federal  de  Minas  Gerais (UFMG),  de  01.08.2013  a  31.07.2014,  sob a supervisão  da  Prof.  Dra.  Thaïs  Flores  Nogueira Diniz, pesquisadora com  reconhecimento  nacional  e internacional  no  campo  dos  estudos de  intermidalidade,  interculturalidade,  tradução  e  performance da obra de Shakespeare.


Lampião  e  Ricardo  III:  O  sertão  medieval, hipertextual  e intercultural,  busca,  através  dos artigos elaborados,  apresentar  a interessante  correlação existente entre  o  sertão  nordestino brasileiro e  o período  feudal  inglês,  no sentido  de  relatar  a  sua base medieval,  a carnavalização,  as influências  geográficas, o fenômeno  do  cangaço,  a  intermidialidade e  a interculturalidade. 

Neste sentido, o projeto que  inicialmente visava ampliar  o  âmbito  das pesquisas  sobre  traduções intersemióticas e  culturais, no que tange aos estudos da produção  cênica  brasileira  shakespeariana  no Brasil, através  da  peça  Sua  Incelença  Ricardo  III  (2010), dirigida por  Gabriel  Vilela,  em  seu  decorrer,  incluiu novas  obras  para análise,  tais  como,  a  adaptação  fílmica  Ricardo  III  (1992),  de Richard  Loncraine,  o espetáculo  teatral   Virgulino  e  Maria:  Auto  de Angicos (2008), de Amir Haddad, o romance gráfico Lampião e Lancelot (2008),  de  Fernando  Vilela,    Deus  e  o  di abo na terra do sol  (1964) de Glauber Rocha e  até mesmo o grande  romance  de  Guimarães  Rosa Grande  sertão veredas (1958).

Estas  inclusões  foram  fundamentais,  tanto  para o  estudo  da intermidialidade  ao  comparar  um espetácul o  teatral   com  uma produção  fílmica  e  os romances  tradici onal  e  gráfico,  como levantou  as possibilidades  de  exemplificar  o  cruzamento de culturas, mas  especificamente  entre  a  brasileira  e  a britânica,  bem  como ressaltar  os  aspectos  de medievalidade,  três  características apontadas  pelo projeto.

O  primeiro  artigo  “A  MULTIPLICIDADE INTERPRETATIVA  EM GRANDE SERTÃO: VEREDAS  ATRAVÉS  DE  UM  DIÁLOGO  ENTRE WOLFGANG ISER  E  GUIMARÃES  ROSA” apresenta  exatamente  a  possibilidade  de um  sertão multifacetado  a  partir  dos  conceitos  de vazio, negatividade  e  indeterminação  apresentados  pelo teórico alemão  Wolfgang  Iser  nas  suas  obras  O  ato  de leitura v.1. (1996) e O ato de leitura v.2. (1999).  

A  seguir,  trazemos  “Ricardo  III:  entre  o  sertão medieval  e  a Inglaterra  dos  anos  30”,  uma  análise  da tradução  intersemiótica  e cultural   da  obra  de  William Shakespeare  através  da  montagem brasileira  Sua Incelença  Ricardo  III  que  foi  di rigida  por Gabriel Vilela  (2010),  comparando  com  a  versão  fílmica  da mesma obra  dirigida  por  Richard  Loncraine  (1995),  e estrelado  por  Ian McKellen.  A  mesma  adaptação  fílmica  serve  para  analisar  a exacerbação  da  violência através  dos  arti gos  “A  exacerbação  da violência  em Ricardo  III:  de  Shakespeare  à  Mckellen”  e “Richard III,  Auto  de  Angicos  e  a  intermediação  da  violência”, que compara  a  violência  através  da  relação  intermidial entre o cinema e o teatro.

Finalmente,  “O  Lampião  de  Fernando  Vilela:  nem  herói ,  nem facínora...  demasiadamente  humano” elabora  uma  interessante comparação  cultural   entre  o sertão medieval  de  Lampião  e  a Inglaterra  medieval   de Sir  Lancelote  através  de  imagens  dos  anos 30, mostrando  o  caráter  ambivalente  das  personagens, e principalmente  de  Lampião,  que  geralmente  é caracterizado  ou como  um  herói   ou como  um  facínora, ou  seja,  enquanto  para alguns  autores,  o  cangaceiro  é apresentado  somente  através  de seu lado  positivo  de um  revolucionário  em  luta  contra  o  coronel ato, para outros,  o  seu  l ado  negativo  de  um  bandido  sanguinário é ressaltado.   Estas  duas  abordagens  fazem  como  que  a personagem perca  toda  possibilidade  de  uma  análise multi-interpretativa,  o  que a  aproxima  de  uma  visão  cartesiana,  onde  se  procura  encontrar  a verdade  atrás de uma certa aparência.

Enviado pelo autor Luiz Zanotti

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

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