Por Monteiro
Lobato
Esta foto
abaixo foi tirada em 1899, 11 anos após a abolição. Em 1920, Monteiro Lobato
publica o conto Negrinha, 32 anos após a abolição. O conto narra a estória de
Negrinha, uma menina órfã. Sua mãe era escrava de D. Inácia, a senhora que o
narrador ironicamente apresenta como "boa senhora católica". Como a
mãe de Negrinha era escrava, a criança nasce na senzala. O narrador descreve a
criança como "mulatinha escura, olhos assustados e cabelos ruços". Em
13 de maio de 1888 ocorre a abolição. Mas, como a mãe de Negrinha não tinha pra
onde ir, não havia outra saída a não ser ficar na fazenda da sinhá trabalhando
por um prato de comida. A criança se escondia da D. Inácia nos cantos sujos da
cozinha. A mãe de Negrinha falece e D. Inácia passa a cuidar da menina. Como a
senhora é viúva, nunca tolerou choro de criança. Em pleno 1920, D. Inácia ainda
não se conformava com a abolição, e permanecia com a menina apenas para
"matar a saudade dos velhos tempos", espancando a menina. A garota
tinha pelo corpo vergões, cicatrizes e sinais de maus tratos. Certa vez, uma
empregada de D. Inácia roubou a carne do prato de Negrinha. A criança, com
raiva, esbravejou todos os nomes com que era tratada: DIABA, LIXO, SUJEIRA,
CACHORRA... Após saber do ocorrido, a "boa senhora católica cidadã de
bem" para castigar a menina, obriga a criança engolir um ovo cozido,
pelando, tampando a boca da menina para que o padre, que a visitava, não
ouvesse os gritos. Ao chegar Dezembro e as festas de fim de ano, chega de
férias as sobrinhas de D. Inácia. Negrinha é convidada a se juntar para
participar das brincadeiras. Negrinha estava encantada com tantos brinquedos:
boneca loira que fala mamã, cavalo de pau... Mas, para o terror de Negrinha, D.
Inácia aparece. Surpreendentemente a "boa senhora católica" sorrir e
deixa a criança em paz. Nesse momento, Negrinha identifica um mundo diferente
onde é possível sorrir, brincar, sonhar. Por um momento, a criança passou a não
se preocupar com ovo pelando na boca, cascudos e beliscões. Mas as férias acabam,
passa-se o natal e o ano novo, e chega novamente as aulas. As sobrinhas de D.
Inácia vão embora. Negrinha cai em depressão. Depois de conhecer um mundo de
alegria, a criança percebe que aquele mundo de sonhos, não é pra ela. A menina
adoece e morre, sozinha na esteira, sonhando com bonecas loiras e anjos. Apenas
duas lembranças ficaram da menina: a recordação das sobrinhas que lembravam da
"menina boba que nunca viu uma boneca", e a saudade da velha senhora
que perdeu seu brinquedo para saciar seu sadismo.
Análise:
Através deste conto, podemos ver que a lei 3.353 de 13 de maio de 1888 que
tornou ilegal a escravidão não surtiu muito efeito. A abolição da escravatura
não veio acompanhada de políticas públicas para inserir essas pessoas na
sociedade. Aliás, a sociedade não queria integrar essas pessoas. E muito menos
o Estado que fortaleceu a desigualdade racial. É preciso esclarecer que o foco
principal da crítica de Monteiro Lobato neste conto, não é ao racismo, até
porque o escritor era racista. Monteiro Lobato estava criticando uma sociedade
que mesmo 32 anos após (1920) ainda não aceitava o fim da escravidão. Monteiro
Lobato criticava uma elite retrógrada, presa ao passado, e esta elite que é
contra o progresso é representada na pessoa da D. Inácia. 130 anos após a
abolição, o Brasil ainda possui a elite do atraso, uma elite que ainda tem
saudade da escravidão. Eu conheci senhoras que foram as ruas protestar contra o
governo por causa da PEC das Empregadas Domésticas. Ainda temos uma elite do
atraso, uma elite retrógrada que é contra o progresso, e ainda quer manter a
velha estrutura que é um entulho da escravidão: Sinhá X Escrava.
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