Por Clerisvaldo B. Chagas-18.6.2008
Olho d’Água das Flores é uma cidade do semi-árido alagoano. Pela fertilidade de suas terras, era grande produtora de feijão, milho, mamona, algodão e mandioca. Pertencente a Santana do Ipanema nos tempos de vila e possuindo pequeno comércio regular, aquela urbe atraía a atenção de atravessadores e caixeiros-viajantes. Situada ao pé da serra do Gavião, o lugar sempre foi “bom chovedor” e de lençol freático à flor da terra.
Virgulino Ferreira da Silva, nas suas andanças incansáveis pelos sertões nordestinos, sempre pensava em Alagoas como alvo das suas estripulias. Esta afirmação é proveniente do fato de que a “Terra dos Marechais” era, no período 1920-40, o estado mais rico do Nordeste. Assim como Matinha de Água Branca e Mata Grande tinham sido alvos de bandos de cangaceiros, Olho d’Água das Flores também não iria ficar fora da sanha destruidora de Virgulino. Na era de 20, após a frustração que teve em Juazeiro do Norte com o caso da pseuda patente de capitão, o chefe do bando desceu com sua fúria para o território alagoano. Após observar de longe a Coluna Prestes, desistir de persegui-la e recolher-se a sua ira, o chefe ensandecido atropelou o estado das Alagoas, cujo governador era o também famoso Costa Rego. Foi assim que Lampião invadiu a vila de Olho d’Água cometendo atos severos e repugnantes. Mas antes Lampião não conhecia “Vinte e Cinco”.
“Vinte e Cinco” era um doido que havia na vila de Olho d’Água das Flores, segundo informações de um comerciante de bar daquele município. Lenda ou Verdade ficou registrado o caso folclórico e pitoresco colhido pelo pesquisador nos primeiros anos do século XXI naquele próspero núcleo urbano. “Vinte e Cinco”, o maluco, perambulava livremente pelas ruas da vila de Olho d’Água num dia de feriado. População recolhida em casa ou nos sítios na periferia, não tinha conhecimento de que a vila corria perigo. Virgulino estava nas imediações pronto para dar o bote. Amoitado, ansioso, arisco, o cabeça queria informações.
Lá longe, na curva da estrada, surgiu uma figura masculina que se aproximava do bando. Faquinha de cabo preto deslizando na palha do cigarro, andar cambaio, aió a tiracolo, o sujeito levou um susto desgraçado quando surgiram àqueles homens de dentro do mato, armados até os dentes.
— Bom dia, vem da vila dos Ói d’Água?
A intuição do homem não falhou ao reconhecer o tal Lampião. Gaguejou mas respondeu:
— Bom dia, venho sim senhor.
— Tem muitos macacos (soldados) na Rua?
E o pobre homem, tremendo de medo e sem malícia, falou timidamente:
— Não senhor, na rua só tem “Vinte e Cinco”.
Lampião que só contava no momento com doze homens olhou para os companheiros, pensou e disse:
— Vamo simbora, pessoá! Outro dia nós invade os Ói d’Água das Fulô.
Um tiro sequer foi disparado. E foi assim que um doido chamado “Vinte e Cinco” salvou a vila de Olho d’Água das Flores. Um doido não, um herói. Pelo menos medalha de lata no peito merecia.
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