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sexta-feira, 2 de outubro de 2020

A VIDA POR UM CAVALO

Do acervo da Hermanda Cecília

Serrote, 1929, o jovem João de Clemente amanheceu escovando a longa crina do seu cavalo, uma bela espécime, de porte e caraterísticas dos grandes animais de pura raça. Todas as atenções dos vaqueiros da região eram voltadas para a João de Clemente gostava de desfilar com seu animal nas vaquejadas, feiras, e festas que eram realizadas nos povoados circunvizinhos, onde o cavalo era o centro das atenções e motivo de orgulho para seu dono.

O cavaleiro espalhava por onde passava, que

so a morte poderia separar ele da sua montaria, O povoado Serrote era constantemente visitado por cangaceiros e policiais. Naquela manhã, embaixo do velho pé de baraúna, João polia com esmero os estribos e as esporas, limpava parcialmente a cela e os arreios que formavam o conjunto que proporcionava mais conforto nas suas longas cavalgadas Dentro de casa o velho Clemente observava o capricho e a satisfação com que o filho cuidava da sua montaria. O cavalo relinchou, dando o alarme de que pessoas estranhas estavam se aproximando da casa. João teve sua atenção voltada para os homens que silenciosamente ganhava a entrada de acesso à residência dos Clemente. Não foi possível distinguir se eram cangaceiros ou policiais. O medo não deu tranquilidade suficiente para que João Clemente enfrentasse o momento com sabedoria. O grupo que chegava era exatamente o bando de Lampião. João preparou-se para correr e ouviu uma voz que o alertou:

-Num corra sinão morre!

João não deu atenção e açoitou o cavalo.

A voz novamente alertou João:

-Pare, sinão morre!

O cavalo atendendo aos comandos do dono saiu em disparada.

Lampião ajoelhou-se, apontou a arma, fez mira na direção de João e atirou. O jovem caiu e o cavalo parou.

O velho Clemente quando viu o filho estendido no chão, sacou um velho facão e investiu contra Lampião que se defendeu dos contantes golpes que cruzavam a poucos centimetros do seu corpo, cortando o ar, tentando ferir-lhe. Fuzis foram manobrados e apontados para Clemente, ao mesmo tempo em que Luis Pedro pulou ao encontro do velho e segurou o braço que empunhava o facão, tomando arma e jogando-a cima de uma latada que existia a na frente da residência. Os cangaceiros dominaram Clemente e quando se preparavam para mata-lo Lampião interviu, dizendo que ele estava na sua razão e direito de réu. O velho foi solto e correu aos prantos em direção ao corpo imóvel do filho.

Lampião seguiu em direção à casa de Silvestre Cadete Torres, o mesmo homem que enterrou junto com os filhos o cangaceiro Sabiá. Virgulino deixou a ordem para que Silvestre fosse enterrar o corpo do jovem.

O cangaceiro Luis Pedro pegou o cavalo, montou e seguiu caminho. Misteriosamente o cavalo reapareceu alguns minutos depois parando ao lado do corpo sem vida do seu dono. Não se sabe se o cavalo foi solto propositalmente ou se o mesmo jogou ao chão o desconhecido que lhe montara.

Lampião confidenciou alguns dias depois, aos amigos Quincas e Aristéia, no povoado Várzea, que se pudesse voltar no tempo não atiraria naquele jovem, mesmo achando que o rapaz estaria fugindo para denunciar a polícia da chegada dos cangaceiros

Era o arrependimento de um crime sem as justificativas impostas pela luta do cangaço.

Até hoje se encontra uma cruz pendida sobre o local da morte de João e, todos os anos, os moradores do Povoado Serrote realizam uma corrente de oração em tributo da vítima inesquecível

LIVRO: LAMPIÃO EM PAULO AFONSO, João de Sousa Lima

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