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sexta-feira, 2 de outubro de 2020

OS ETERNOS MISTÉRIOS DE ANGICO PARTE II

 Por Alfredo Bonessi e Juliana Pereira

Cariri Cangaço traz a segunda parte da Entrevista de Alfredo Bonessi a Juliana Ischiara, Angico! Parte II

6. Levando-se em condição ao que já leu, Lampião morreu conforme a literatura oficial contou e conta?

Ninguém sabe ao certo como Lampião morreu. Um repórter do Rio de Janeiro chegou a falar com os soldados que atiraram no rumo de Lampião, mas esse repórter não aprofundou o assunto, mesmo porque o momento era de festa, de alegria e a segurança era necessária, ou mesmo talvez como precaução, cautela com receio de uma vingança posterior por algum grupo de cangaceiros. Naquela ocasião ninguém poderia supor que o cangaço terminaria pois outros grupos ainda operavam como o grupo de Zé Sereno, Corisco, Labareda e Pancada. Em minha opinião a ocasião mais propicia de se saber a verdade era aquela em que os homens estavam eufóricos, comemorando e não tinham tempo de enfeitar a história, aumenta-la, diminuí-la, ou fantasia-la. Por isso que eu fico com as declarações do Comandante da volante proferidas três dias depois do ocorrido em Santana de Ipanema – sede da volante- quando ainda ferido deu declarações a esse repórter do Rio de Janeiro, em uma página de 25 linhas, como tudo aconteceu, em Angico - depois o Tenente baixou ao hospital para ser tratado.

pesquisador Alfredo Bonessi

7. Terá havido envenenamento ou alguma substancia capaz de deixar o bando sonolento ou mesmo sem reflexo?

Muita bebida alcoólica ingerida e a despreocupação que tudo estava bem. Essa idéia do envenenamento, creio eu, foi proferida por alguém do grupo para diminuir o feito da polícia e com a certeza de que mais tarde seria essa a verdade definitiva que deveria perdurar, a de que os cangaceiros foram mortos por uma procedimento vil por parte da policia, que não teve coragem de enfrentar os cangaceiros em uma combate leal - mas não foi nada disso - foi bobeira mesmo, e bala, muita bala para cima do pessoal dorminhoco e descuidado.

8. Porque escapou tantos cangaceiros, se estavam em total desatenção quando atacados? Porque só um policial foi atingido, posto que os cangaceiros já houvessem sido surpreendidos em ataques anteriores e mesmo assim saíram ilesos ou mesmo deixaram uma baixa maior na volante?

Porque o alvo do ataque era Lampião e a volante cercou a gruta. Quem estava espalhado pelas encostas dos morros e mesmo nos cimos, de lá mesmo escapou, alguns passando por cima da própria polícia. Não houve retaguarda porque a desorganização foi geral e não houve um líder de coragem para voltar e atacar os policiais que faziam festa no fundo do buraco. Mesmo porque muitos estavam desequipados, desarmados, a maioria feridos, arranhados pelos espinhos, desmuniciados, chocados ao saberem que Lampião, Maria Bonita e Luiz Pedro haviam havia morrido - noticias levadas por Zé Sereno que assistiu a morte do pessoal que estava na gruta ao redor de Lampião.

Zé Sereno à esquerda

Quanto ao soldado que morreu até hoje não se sabe como. Foi fogo amigo ? – foi fogo de algum inimigo dentro da polícia ? foi fogo de algum cangaceiro ? – dizem que foi Elétrico que baleou aquele soldado, sendo em seguida metralhado por João Bezerra – Elétrico não morreu de tiro, foi esfaqueado por um soldado da volante, procedimento esse que muito contrariou o Chefe que determinara a morte do cangaceiro a tiros e não a faca.

"Não houve um líder de coragem para voltar  e atacar os policiais que faziam festa no fundo do buraco"

Há uma versão que foi o soldado Mané Véio que viu o soldado sofrendo por ter levado um tiro no quadril e aí aliviou as dores do mesmo matando-o com um tiro. Note que o soldado foi imediatamente sepultado naquela mesma tarde, sem autópsia – ninguém deu importância ao fato – entretanto levaram para exame a cabeça dos cangaceiros. Isso por si só demonstra que alguém queria que a morte do soldado passasse despercebida pelas autoridades. Morto em combate o corpo do soldado deveria ser examinado por um legista. Mas mesmo assim, nesse caso se o mesmo tivesse levado tiros pela frente ou por detrás, se por acaso fossem encontrados em seu corpo os projéteis como se iria descobrir o autor ou autores dos disparos ? As únicas armas de calibres diferentes que atiraram foram as metralhadoras de João Bezerra e do Aspirante Ferreira de Melo, em calibres 7,63 ou de 9 mm. Teriam que ser examinados os projéteis encontrados no corpo do soldado pela balística – trabalho esse que naquele tempo ainda não tinha chegado ao interior do sertão.

O cangaceiro Balão assumiu publicamente a morte do soldado em declarações ao Dr Amaury, (Assim Morreu Lampião) afirmando que o soldado tinha acabado de matar o cangaceiro Mergulhão e estava dando coronhadas na cabeça do mesmo, e em ato subsequente encostaram o cano das armas e que disparam ao mesmo tempo, sendo que nele, Balão, não acontecera nada e que o soldado caíra morto. Com relação a escapar de ataques, vai depender muito como estava o dispositivo do grupo no terreno e a forma de como foram atacados. Em se tratando da Gruta de Angico quem estava lá embaixo não tinha como escapar – a policia estava perto demais – para uma bala de fuzil, em tão pouca distância, não há mandinga que sustente o corpo fechado.

9. Por que Lampião não usou a sua estratégia, já bastante conhecida e testada quando ouviu o primeiro tiro, se é que ouviu?

Não a usou porque ali naquele momento não deu tempo para nada, foi tudo muito rápido, além do mais depois que se aperta o gatilho de uma arma daquela e ela estiver apontada para alguém, não há tempo para mais nada. Quem leva tiro um tiro de fuzil, não escuta o som do tiro que o mata.

10.Qual seu parecer sobre o episódio Angico?

Angico é um mistério – o combate de Angicos é o resultado de um belíssimo trabalho policial – Angicos serve para reflexão para quem vive da lida das armas, que mais hoje, mais amanhã a lei baterá as portas de quem vive as margens da lei, quem quiser ser vitorioso sempre permaneça ao lado da lei, porque o crime de uma forma ou de outra não compensa - é uma ação incerta e a lei, vitoriosa contra o crime - é sempre certa.

Alfredo Bonessi  &  Juliana Pereira

http://cariricangaco.blogspot.com/2010/11/os-eternos-misterios-de-angico-parte-ii.html

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