Por Luís Bento
Para a polícia do Ceará um passeio, para nós uma verdadeira luta de guerrilha, onde não existia o fator político-ideológico, mas uma disputa entre feras que se desafiavam mutuamente na arte das artimanhas, sobretudo. Um mês e tanto ficamos confinados em nosso esconderijo até que surgiu a primeira e verdadeira indicação do local onde se encontravam escondidos Lampião e seu bando: a fazenda Piçarra, bem próximo do Cansanção.
Seu proprietário , Antônio Teixeira Leite, é conhecido até hoje pôr "seu Tonho da Piçarra", antigo amigo da família Ferreira e do próprio Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, pôr quem sempre era procurado nas horas de aperto. Acossado que vinha sendo pela própria marcha da vida que, independente de nossa vontade faz mutações, Lampião resolvera mais uma vez procurar a seu Tonho e pedir-lhe que fosse ao Juazeiro de "meu Padim Ciço", em busca de arranjar com ele, munição. Pedido que Lampião nunca tenha lhe feito antes. Seu Tonho ameaçado de morte pelas volantes, não teve como escapar de denunciar ao Tenente Arlindo Rocha a presença de Lampião em sua fazenda.
Todo um plano elaborado e posta em prática visando êxito total na estratégia tática imaginada: prender ou matar a Lampião, ou, pelo menos, alguns de seus cabras. Seu Tonho se prontificou a ir ao Juazeiro, enquanto Lampião aguardava sua volta homiziado na fazenda, tendo o seu serviço um velho morador de seu Tonho, que servia para levar-lhes comida e tudo mais que precisassem, inclusive sobre o retorno de Seu Tonho da hipotética viagem ao Juazeiro. Tudo combinado na maior surdina e segredo.
Naquele tempo, uma viagem da Piçarra ao Juazeiro, em lombo de burro ou cavalo, em estrada carroçal para ir e voltar, levava de 3 a 4 dias e Lampião sabia disso; daí ser normal, durante esses dias, o tempo de espera. Passando disso, dava para despertar suspeita e foi o que aconteceu depois de quase 8 dias de ausência do “viageiro". Começou então, o que não se imaginara, principalmente em se tratando de um homem sagaz e astuto como Lampião e seu grupo, que passaram a cobrar do velho morador alguma notícia de seu Tonho. Isto foi num crescendo, que já começava a nos preocupar e obrigava o tenente a um grande esforço de imaginação para armar o morador de argumentos e evasivas com vistas a ir engabelando os cangaceiros e seu chefe. Temia - se que Lampião , desconfiado da armadilha resolvesse tomar represálias violentas ou, simplesmente , arribar da Piçarra.
Dentro do estabelecido com Lampião, ficaram acertado que a munição vinda do Juazeiro para a casa grande , dali seria imediatamente transportada para a casa do velho morador dentro da fazenda, próximo de onde Lampião e seu grupo estavam acampados. Isto a fim de evitar qualquer imprevisto desagradável na casa grande. No combinado, a munição ia para a casa do morador e Lampião mandaria um ou dois cabras apanhá - la , após o aviso da chegada de seu Tonho, mas na sua impaciência, antes da chegada de seu Tonho, Lampião mandara os dois cabras apanhar a munição e como era óbvio, não a encontraram. No plano do tenente Arlindo, estava previsto mandar dois ou três robustos soldados que se esconderiam na casa do morador e pegariam à unha os cabras de Lampião. Diante disso, e pôr sugestão do Tenente , a primeira providência a ser tomada foi mandar dizer à Lampião que seu Tonho havia chegado e que podia mandar apanhar a munição na casa do velho. A resposta de Lampião foi rápida e contundente: " Cabra meu só vai a um lugar uma vez".
Desfeita a possibilidade de agarrar os cabras à unha, restava o esgrimir de ardis para se conseguir o objetivo principalmente em mira: cercar Lampião e seu grupo debaixo do pequeno pé de arueira nas proximidades do açude da fazenda em que se encontravam localizados.
Apenas sabíamos que o plano de atacar o grupo ao o arriar do dia tinha ido para o " bebeleu",' graças aos relâmpagos e a perspicácia dos Cangaceiros. Quase ao amanhecer cessaram os tiros e o silêncio voltou às plagas, com a notícia de que havia escapado. O fato é que mais uma vez resplandeça a " estrela " de Lampião desafiando até mesmo o impossível em matéria de escapar de situações as maís adversas.
Fonte: Antônio Euzébio Teixeira Rocha
Saga de Antônio da Piçarra - De Padre Cícero a Lampião. Pág 119 - 120 - 121 - 123.
Legado histórico desse jatiense arretado; conhecido pôr Clóvis de Marinheiro:
Soldado Volante do tenente Arlindo Rocha, participou do importantíssimo " Fogo da Piçarra " no ano de 1928.
Amigo íntimo de Luís Carlos Prestes, O Cavaleiro da Esperança. Tem uma filha de nome Olga, homenagem a Olga Benare esposa de Prestes.
Eleito Deputado Estadual pelo partido P C do B, ocupando a cadeira 11 da Assembleia Constituinte de São Paulo.
Preso em 1937, pelo o " Evento do Estado Novo ". Onde perdeu seu mandato parlamentar.
JATI 04/05/21/.
LUÍS BENTO.
FOTOS:
Antônio da Piçarra e Clóvis de Oliveira.
http://blogodmendesemendes.blogspot.com
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