Por André Costa, andre.costa@svm.com.br - 22 de Agosto de 2022.
Quem é o homem
por trás do Padre considerado santo pela comunidade católica? Padre Cícero
Romão Batista, o Padim, como carinhosamente é chamado pelos romeiros, tem sua
trajetória religiosa conhecida por muitos, mas, alguns episódios, não são tão
conhecidos, como sua relação com Lampião, o mais famoso cangaceiro da
história.
Historiadores
que se debruçaram sobre a trajetória de vida do Padim apontam que ele tinha
"cordial relacionamento" com Lampião, que, à época, amedrontava as
pequenas cidades do Nordeste com seu bando - dentre algumas exceções,
Crato, cidade natal de Padre Cícero.
Essa relação
teria tido seu nascedouro no final dos anos 1920 e início dos anos 30, quando o
governo Federal teria pedido para que Padre Cícero negociasse o apoio de
Lampião e seus homens para conter a 'Coluna Prestes', movimento
político-militar ao qual o cangaceiro e suas tropas estava inclinado a apoiar.
Mas, por qual
motivo Padre Cícero seria imbuído de tal negociação? As respostas não são
consenso entre os pesquisadores. O fato é que alguns livros abordam a
influência que o Padim detinha sobre as populações sertanejas nordestinas,
por seu carisma e a fama de "Santo" que já corria por entre
os sertões.
PhD em
Ciências Sociais pela Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), o
historiador pernambucano José Ferreira Júnior conta que Lampião, em que pese
seus incontáveis crimes praticados, considerava-se um cristão e, assim como
tantos outros milhares de sertanejos, reverenciava Padre Cícero. Por
conta desse prestígio, o religioso teria sido considerado o melhor nome para
"negociar" com o cangaço.
Sua retórica e
veia política o credenciavam ainda mais para a missão. Além de religioso, Padre
Cícero foi prefeito - e fundador - de Juazeiro do Norte, vice-governador do
Estado e deputado federal (estes dois últimos cargos não
exerceu). Ter Lampião sob controle, como forma de apaziguar os ânimos dos
coronéis, faria crescer ainda mais seu prestígio.
O especialista relata em sua tese de mestrado, “Religião no Cotidiano Cangaceiro; representações e práticas”, que Cícero aceita o pedido do governo e retransmite a proposta a Lampião, que prontamente teria aceito. José Ferreira Júnior conta, em um de seus textos sobre a vida do Padre Cícero que, em 1926, Lampião teria ido a Juazeiro do Norte receber a patente de capitão das forças patrióticas - o ato fazia parte do acordo com o governo.
"Também
foram dados ao cangaceiro, armas e munição novas, além de dinheiro",
rememora Ferreira. A missão era empreender combate à Coluna Prestes,
popularmente conhecida como Revoltosos. Com a patente não reconhecida pelos
militares de carreira, Lampião rompe com o acordo e os tempos de trégua pouco
duraram.
Os bandidos,
ajoelhados, teriam escutado o Padre tentar convencer seu líder de largar o
cangaço logo após voltasse da campanha contra Prestes. Mandou-se então chamar o
único funcionário federal disponível na cidade, o agrônomo Pedro de Albuquerque
Uchoa, para redigir um documento que, supostamente, garantiria salvo-conduto ao
bando pelos sertões.
LIRA NETO
Escritor
Mais armado e
com mais dinheiro, o cangaceiro seguiu atacando localidades, todas elas,
distantes de onde Padre Cícero exercia sua influência e prestígio. A saga
aterrorizadora de Lampião só chegaria ao fim em julho de 1938, quando ele
é assassinado, juntamente com sua esposa Maria Bonita, e outros nove
comandados. Padre Cícero morreu cinco anos antes.
PAULO HENRIQUE RODRIGUES (O PH)
A
força da fé dos romeiros rompeu o que havia de resistência para a beatificação
do Padre Cícero
A relação
entre o mais famoso cangaceiro e o mais notável religioso nordestino
foi mítica, assim como a trajetória desses dois personagens. O fato - ao que
contam historiadores e pesquisadores - é que Lampião e Padre Cícero teriam
ficado frente a frente apenas uma vez, em 1926.
Ali estavam,
frente a frente, pela primeira e única vez, os dois maiores mitos de toda a
história nordestina.
LIRA NETO
Escritor
Esse encontro,
no entanto, não "mancha" a trajetória sacerdotal do Padre Cícero. O
também sacerdote e professor universitário, padre Abimael Francisco do
Nascimento, reconhece a relação entre as duas figuras nordestinas, mas avalia
que esses episódios folclóricos fazem "recair sobre Padre Cícero más
interpretações".
https://diariodonordeste.verdesmares.com.br/ceara/padre-cicero-era-reverenciado-pelo-cangaceiro-lampiao-diz-pesquisador-1.3269838
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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