Curral
dos Bois foi uma das primeiras povoações a acolher Lampião depois que ele
atravessou de Pernambuco pra Bahia.
O Chefe
Político de Glória, o coronel Petronilio de Alcântara Reis, acabou tendo seu
nome ligado com o cangaço e Lampião em várias histórias, foi coiteiro famoso e
também inimigo depois que traiu Lampião, traição que Lampião pagou incendiando
várias fazendas do coronel dentro do Raso da Catarina.
Uma das mais
importantes famílias de Glória, família de sobrenome Juremeira, que vivia no
povoado Olho D’água dos Coelhos, sofreu grande perseguição de Lampião e
Corisco.
Para entender
um pouco da história dessa família e a ligação com o cangaço devemos tomar
conhecimento que Pedro Juremeira foi delegado na fazenda Caibos (Caibros) e por
isso ficou marcado pelo cangaço. Era também quem fazia a segurança do coronel
Petro e era proprietário de um barco que fazia a travessia do Rio São Francisco
entre Bahia e Pernambuco, entre Rodelas e Petrolândia. A fazenda Caibos hoje
esta inundada e as pessoas estão residindo nas agrovilas II e III.
Lampião mandou
um recado para Pedro para que em um dia marcado ele fizesse a travessia dos
cangaceiros do lado pernambucano para o lado baiano e Pedro não atendendo a
solicitação, convocou alguns policiais e quando da aproximação dos cangaceiros
acabaram trocando tiros com o grupo de Lampião, começando ai uma grande “Rixa”
entre os dois.
Em uma das
perseguições dos cangaceiros a Pedro Juremeira, Corisco, a mando de Lampião,
pegou um primo de Pedro, chamado Leonídio (Lió), no povoado Olho D’água dos
Coelhos, pra ele informar onde poderia encontrar Manuel Juremeira, pois não
conseguiam encontrar Pedro e quem iria pagar a vingança dos cangaceiros era
Mané Juremeira. Lió levou os cangaceiros até a roça “Pé da Serra” e chegando lá
prenderam Manuel na roça e o trouxeram para sua residência, onde estava a
esposa Hermenegilda “Miné” com os quatro filhos: Otacílio, Ananias, Lídia e
Joana.
Na casa de
Leonídio ficaram três cangaceiros vasculhando baús e armários em busca de jóias
e dinheiro enquanto Corisco seguia com mais dois cangaceiros e o refém para a
roça.
Chegando
próximo de Mané Juremeira Corisco sentenciou o aflito rapaz de morte dizendo:
- Sabe com
quem ta falando?
- não!
- Corisco!
Você vai morrer no lugar de seu irmão!
- Eu sou
contra meu irmão! Morrerei inocente e sem culpa, mais maior que Deus, ninguém!
- Nada de
Deus! Deus hoje aqui é a gente!
Os
cangaceiros manobraram os fuzis e apontaram para os peitos e costelas de
Manuel. Nesse momento dona Miné saiu de dentro da casa e correu e se
abraçou com o marido:
- Aqui você
não mata não! Meu marido é inocente!
- Saia da
frente que vim matar foi homem e não mulher!
Nesse momento
foi chegando Filigeno Furtuoso, amigo de Manuel que era tropeiro e residia na
Tapera da Boa Esperança, em Penedo, Alagoas. O amigo sempre que passava na
região dormia na casa de Manuel pra no outro dia viajar até Jeremoabo, onde
comprava uma carga de fumo para sair revendendo, em sua junta de cinco burros.
Diante dos
olhares dos cangaceiros e da situação em que encontrou o amigo Manuel, o
tropeiro falou:
- Taí esses
cinco burros arreados e eu lhe dou em troca da vida desse homem!
- Negativo! O
senhor tem dinheiro?
- Não tenho! O
que eu tinha era 800 contos de réis mais os outros cangaceiros que estão na casa
de Leonídio já pegaram.
- E daqui a 30
dias?
Nesse momento
o próprio Manuel respondeu:
- Ai eu tenho!
- Então
vou liberar você e se não pagar eu volto e mato todo mundo.
Manuel escapou
nessa hora.
O
sargento Zé Izídio ficou sabendo do acontecido e intimou Manuel a ir a
delegacia. Quando Manuel chegou o sargento o acusou:
- É você que é
Mané Juremeira protetor de bandido?
- Sou Mané
Juremeira, mais protetor de bandido não! Eu prometi pagar uma quantia para não
morrer!
- Então agora
você vai ter que vir morar em Glória!
Manuel foi
obrigado a vir residir em Glória e nunca pagou a quantia estipulada por
Corisco. Tempos depois os cangaceiros acabaram encontrando o tão procurado
Pedro Juremeira em uma fazenda chamada Papagaio, em Pernambuco. Pedro estava
dentro de uma casa e os cangaceiros o cercaram, prenderam o rapaz, amarraram em
um mourão, perfuraram o corpo do rapaz todo com pontas de punhais e foram
almoçar na residência. Depois do almoço os cangaceiros retornaram onde estava o
corpo e descarregaram as pistolas na cabeça do já falecido jovem.
Depois de três
dias da morte de Pedro, o pai de do rapaz, Teodório Juremeira, mandou um recado
para uns amigos descerem o corpo de Pedro em uma canoa até Santo Antônio da
Glória onde foi enterrado. Quando a família encontrou o corpo já estava
apodrecido e tiveram que derramar uma lata de creolina.
Trinta dias
depois do sepultamento os cangaceiros mandaram o portador Martim Gabriel, primo
de Manuel Juremeira, que residia nas Caraíbas, Brejo do Burgo, com uma carta,
cobrando o dinheiro que Manuel prometeu.
- Diga a eles
que não mando não! Eu já moro na cidade e se eles quiserem vim aqui incendiar
minha casa pode vir!
Depois de três
anos o governo armou toda a população de Santo Antônio da Glória. Mané.
Otacílio e Ananias pegaram em armas para fazer essa defesa do local.
Quando mataram Lampião a família Juremeira retornou para suas roças no Olho D’água dos Coelhos, porém, na época de Lampião e Corisco, quando eles eram os senhores das caatingas do Raso da Catarina, “Os Juremeiras” sofreram perseguições e mortes.
Paulo Afonso,
16 de outubro de 2017.
João de Sousa
Lima
Historiador e
Escritor
Membro e
Vice-Presidente da Academia de Letras de Paulo Afonso.
Membro da SBEC
– Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço.
Enviado por e-mail.
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