Por José Mendes Pereira
Quando uma minúscula parte do Gran Circus Norte-americano esteve
em Mossoró, e me parece que foi nos anos 70, seu Galdino já era caçador de
onças de raças e cores variadas, e, famoso pelas suas astúcias e coragem de
perseguir aqueles felinos nos tabuleiros, foi convidado pelo diretor da casa de
espetáculo, para enfrentar uma onça no seu
picadeiro, e para sua surpresa, ela ainda não era tão domada entre os homens. Mas
seu Galdino queria mostrar ao público pagante que na verdade, era um homem que
não tinha medo de leão, muito menos de onça, mais parecida com um avantajado gato
do mato.
Montaram a grande jaula em meio ao público, evitando uma
possível escapulida da onça, para tirar a tranquilidade da plateia pagante. Seu
Galdino estava feliz. Primeiro, por ter sido convidado para mostrar a sua
coragem de enfrentar uma onça quase não domada, e segundo, ter o prazer de
entrar numa jaula onde ali, faz o animal ficar habituado ao convívio com o ser
humano, isto é, tornar-se doméstico.
Como de costume, tudo que se passava com ele, contava ao seu
maior amigo e compadre Leodoro Gusmão.
Ambos sentados sob uma mangueira que viçosamente vivia frente
à casa do caçador de onças, conversavam sobre isso ou sobre aquilo. E de
repente, seu Galdino lembrou do seu passado, quando ainda era jovem:
Vamos ouvir o que eles conversam:
- Sempre fui um homem que não tem medo de nada, muito menos
de onças. Quando eu vejo uma delas, lembro-me de apenas um avantajado gato que
se desenvolveu nas matas fechadas...
- Eu sei disso, compadre, eu sei! – Reforçou seu Leodoro.
- Pois sim, o circo era uma minúscula parte do Gran circus que
veio à Mossoró tentar angariar um dinheirinho em nossas terras, e tendo tomado
conhecimento que eu sou caçador de onças, e luto corpo a corpo com elas, o
gerente mandou me convidar para uma possível apresentação de como se pega
onças. E lá, fiz um desafio, que beberia cachaça ao lado dela, e se ele
duvidasse, ela também beberia num prato comigo na mesa, que ambos seriam colocados
para este fim. E o gerente aceitou esta tentativa, isto é, da minha pessoa
tomar a cachaça ao lado dela.
Seu Leodoro ouvia com muita dedicação às suas palavras.
- Quando o domador trouxe a onça pelo um corredorzinho, protegido
por uma porção de grades de ferro, de repente ordenou que ela ficasse de
cócoras sobre uma cadeira, a qual já fazia parte nos seus espetáculos rotineiros,
e ao subir, olhando em minha direção, ela quis descer para caminhar onde eu
estava. O domador deu sinal que não. Não passasse dali. Mas ela ficou de olhos
grelados à minha pessoa. Todos que assistiam, já pensavam que ela queria me
estrangular.
- E como se sentiu compadre, assim que ela ficou observando o
senhor?
- Eu nem um tiquinho de medo, compadre! - Pois sim,
continuando o meu raciocínio..., mesa, prato, cadeiras e uma garrafa de cachaça
já estavam ali nos esperando. Sentei-me na cadeira, abri a garrafa, enchi o
copo com o líquido para mim, depois pus uma boa quantia no prato, e em seguida,
ordenei que o domador liberasse a onça, para que ela viesse e ficasse lambendo
a cachaça com a língua.
- Meu Deus! Fez seu Leodoro!
E em seguida, perguntou como foi
que ele conseguiu esta façanha, de tomar cerveja com um animal tão feroz que é
felino, principalmente, onça, que todas elas têm o instinto ruim.
- Foi fácil, meu compadre, foi fácil! Naqueles idos, eu
trabalhava na "FITEMA", de Enéas da Silva Negreiros, na Presidente Dutra em
Mossoró. A minha jornada, começava das 6h00 da manhã, até às 12h00 do meio dia,
só voltando às 2h00 da tarde para completar às 8h00 diárias. E durante o tempo em que o circo permaneceu
lá, ao sair do trabalho, todos os dias eu o visitava para ver as suas
dependências, animais e tudo mais. Quando jovem, eu gostava de uma pinguinha
que a carregava uma garrafa dentro da minha sacola tiracolo, e aqui acolá,
tomava uma lapada...
- Eu também gostava. – Opinou seu Leodoro Gusmão.
- Pois sim - dizia seu Galdino – a primeira vez que me
encostei à jaula de uma das onças, com a garrafa em uma das mãos, ela ficou
como se estivesse me pedindo aquele líquido, e eu o que fiz? Destampei a garrafa, espalmei a minha mão,
pus um pouquinho de cachaça, e encostei-a na jaula, para que ela tentasse beber
o líquido, pegando com a língua. Logo ela bebeu e ficou me pedindo mais. Eu não
repeti a dose. No dia seguinte, repeti a mesma coisa, dando a ela cachaça, e a
cada dia eu repetia a mesma coisa. Foi aí que ela ficou me conhecendo e não
faria mal nenhum a mim.
- Meu compadre Galdino, nunca vi um homem tão corajoso como o
senhor!
- E eu brinco, compadre Leodoro! Nasci no meio de homens
corajosos, assim como foi o meu querido pai...
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