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sexta-feira, 26 de abril de 2024

SEU GALDINO SE APRESENTA NO GRAN CIRCUS EM MOSSORÓ, COMO DOMADOR DE ONÇAS.

Por José Mendes Pereira

 

Quando uma minúscula parte do Gran Circus Norte-americano esteve em Mossoró, e me parece que foi nos anos 70, seu Galdino já era caçador de onças de raças e cores variadas, e, famoso pelas suas astúcias e coragem de perseguir aqueles felinos nos tabuleiros, foi convidado pelo diretor da casa de espetáculo,  para enfrentar uma onça no seu picadeiro, e para sua surpresa, ela ainda não era tão domada entre os homens. Mas seu Galdino queria mostrar ao público pagante que na verdade, era um homem que não tinha medo de leão, muito menos de onça, mais parecida com um avantajado gato do mato.

https://www.facebook.com/CidadeMecanica/photos/gran-circo-norte-americano/655639517892800/

Montaram a grande jaula em meio ao público, evitando uma possível escapulida da onça, para tirar a tranquilidade da plateia pagante. Seu Galdino estava feliz. Primeiro, por ter sido convidado para mostrar a sua coragem de enfrentar uma onça quase não domada, e segundo, ter o prazer de entrar numa jaula onde ali, faz o animal ficar habituado ao convívio com o ser humano, isto é, tornar-se doméstico. 

Como de costume, tudo que se passava com ele, contava ao seu maior amigo e compadre Leodoro Gusmão.

Ambos sentados sob uma mangueira que viçosamente vivia frente à casa do caçador de onças, conversavam sobre isso ou sobre aquilo. E de repente, seu Galdino lembrou do seu passado, quando ainda era jovem:

Vamos ouvir o que eles conversam:

- Sempre fui um homem que não tem medo de nada, muito menos de onças. Quando eu vejo uma delas, lembro-me de apenas um avantajado gato que se desenvolveu nas matas fechadas...

- Eu sei disso, compadre, eu sei! – Reforçou seu Leodoro.

- Pois sim, o circo era uma minúscula parte do Gran circus que veio à Mossoró tentar angariar um dinheirinho em nossas terras, e tendo tomado conhecimento que eu sou caçador de onças, e luto corpo a corpo com elas, o gerente mandou me convidar para uma possível apresentação de como se pega onças. E lá, fiz um desafio, que beberia cachaça ao lado dela, e se ele duvidasse, ela também beberia num prato comigo na mesa, que ambos seriam colocados para este fim. E o gerente aceitou esta tentativa, isto é, da minha pessoa tomar a cachaça ao lado dela.

Seu Leodoro ouvia com muita dedicação às suas palavras.

- Quando o domador trouxe a onça pelo um corredorzinho, protegido por uma porção de grades de ferro, de repente ordenou que ela ficasse de cócoras sobre uma cadeira, a qual já fazia parte nos seus espetáculos rotineiros, e ao subir, olhando em minha direção, ela quis descer para caminhar onde eu estava. O domador deu sinal que não. Não passasse dali. Mas ela ficou de olhos grelados à minha pessoa. Todos que assistiam, já pensavam que ela queria me estrangular.

- E como se sentiu compadre, assim que ela ficou observando o senhor?

- Eu nem um tiquinho de medo, compadre! - Pois sim, continuando o meu raciocínio..., mesa, prato, cadeiras e uma garrafa de cachaça já estavam ali nos esperando. Sentei-me na cadeira, abri a garrafa, enchi o copo com o líquido para mim, depois pus uma boa quantia no prato, e em seguida, ordenei que o domador liberasse a onça, para que ela viesse e ficasse lambendo a cachaça com a língua.

- Meu Deus! Fez seu Leodoro! 

E em seguida, perguntou como foi que ele conseguiu esta façanha, de tomar cerveja com um animal tão feroz que é felino, principalmente, onça, que todas elas têm o instinto ruim. 

- Foi fácil, meu compadre, foi fácil! Naqueles idos, eu trabalhava na "FITEMA", de Enéas da Silva Negreiros, na Presidente Dutra em Mossoró. A minha jornada, começava das 6h00 da manhã, até às 12h00 do meio dia, só voltando às 2h00 da tarde para completar às 8h00 diárias.  E durante o tempo em que o circo permaneceu lá, ao sair do trabalho, todos os dias eu o visitava para ver as suas dependências, animais e tudo mais. Quando jovem, eu gostava de uma pinguinha que a carregava uma garrafa dentro da minha sacola tiracolo, e aqui acolá, tomava uma lapada...

- Eu também gostava. – Opinou seu Leodoro Gusmão.

- Pois sim - dizia seu Galdino – a primeira vez que me encostei à jaula de uma das onças, com a garrafa em uma das mãos, ela ficou como se estivesse me pedindo aquele líquido, e eu o que fiz?  Destampei a garrafa, espalmei a minha mão, pus um pouquinho de cachaça, e encostei-a na jaula, para que ela tentasse beber o líquido, pegando com a língua. Logo ela bebeu e ficou me pedindo mais. Eu não repeti a dose. No dia seguinte, repeti a mesma coisa, dando a ela cachaça, e a cada dia eu repetia a mesma coisa. Foi aí que ela ficou me conhecendo e não faria mal nenhum a mim.

- Meu compadre Galdino, nunca vi um homem tão corajoso como o senhor!

- E eu brinco, compadre Leodoro! Nasci no meio de homens corajosos, assim como foi o meu querido pai...

 http://blogdomendesemendes.blogspot.com

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