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terça-feira, 6 de agosto de 2024

O HOMEM NA LUA – UM GRANDE SALTO PARA HUMANIDADE

 

”Aqui, homens do Planeta Terra pisaram na Lua pela primeira vez. Viemos em paz, em nome de toda a Humanidade.”

Biólogo e engenheiro, o francês Júlio Verne combinou seus conhecimentos científicos com uma alta dose de imaginação; e com esses, instrumentos escreveu contos proféticos, antecipando a seus incrédulos leitores do século XIX muitas das espetaculares conquistas a que o homem chegaria por meio da ciência.

Em 1870, após publicar o conto Da Terra à Lua, afirmou que não se passaria um século antes que homens de carne e osso repetissem a formidável façanha conseguida por seus personagens: a conquista da Lua. Passaram-se 99 anos.

Em 20 de julho de 1969, cerca de um bilhão de pessoas, em todos os cantos da Terra, reuniam-se em torno de televisores. E assistiam às mais estranhas imagens já transmitidas pela TV. Era uma cena histórica.

Neil Armstrong, comandante da primeira expedição terrestre à Lua, desce lentamente pela escada do Módulo Lunar; envolto no traje de proteção, sua figura toda branca destacando-se contra um fundo de céu negro. Agora, já sobre uma das “patas” do veículo, ergue o pé esquerdo, para em seguida baixá-lo cuidadosamente, imprimindo naquele empoeirado solo a marca de sua bota. É o primeiro a pisar na Lua.

É um pequeno passo para o Homem, um gigantesco salto para a Humanidade.

A frase do pioneiro astronauta soou nítida, em todos os pontos da Terra. O gigantesco salto fora dado, sob os bons auspícios até do nome do lugar escolhido para o pouso: o mar da Tranquilidade.

“Viemos em paz, em nome de toda a Humanidade”, dizia a mensagem deixada no solo conquistado. Muito além da imaginação de Júlio Verne, a Humanidade pudera testemunhar o gigantesco salto.

Dois Cientistas, O Mesmo Sonho

Konstantin Tsiolkowski.

Durante quarenta anos pesquisei os princípios da propulsão a foguete, sempre acreditando firmemente em que o voo interplanetário seria possível em futuro não muito distante. As ideias persistem, só os tempos mudam. Hoje estou convencido de que muitos de vocês serão testemunhas de um voo interplanetário”.

Quem falava assim confiante à multidão que lotava a Praça Vermelha, em Moscou, a 1 de maio de 1933, não chegaria a assistir à confirmação de suas palavras. Konstantin Tsiolkowski, autor de importantes teorias sobre os voos cósmicos, morreria dois anos depois. Entre outras coisas, Tsiolkowski fora o primeiro a sustentar a necessidade do uso de foguetes a reação no voo cósmico; até então, ninguém aceitava que um jato emitido no vácuo pudesse empurrar um foguete para a frente.

Do outro lado do mundo, um contemporâneo do sábio russo tinha preocupações idênticas. Só que o americano Robert Goddard usava um sistema diferente. Professor de física experimental, procurava transformar suas ideias em coisas práticas. Construiu diversos foguetes e, depois de muitos insucessos, marcou um tento importante: em 1935 um de seus foguetes voou a 2.100 metros de altura.

Robert Goddard e o primeiro voo de foguete propelido a combustível líquido (gasolina e oxigênio), lançado em 16 de março de 1926, em Auburn, Massachusetts, Estados Unidos.

Goddard, ao contrário de Tsiolkowski, morreu esquecido. Ambos terminaram seus dias sonhando com os foguetes que no futuro libertariam o homem da estreiteza dos horizontes terrestres. Mas, em breve, os foguetes que conceberam seriam utilizados para a destruição.

1945. Hitler fracassara em seu ambicioso plano de dominar o mundo. Os aliados estão senhores das ações de guerra e marcham vitoriosos sobre a Alemanha.

Wernher von Braun e oficiais nazistas em Peenemünde, na primavera de 1941.

Nem americanos nem russos pretendem julgar o cientista Wernher von Braun e sua equipe como criminosos de guerra. Sabem que foram eles os criadores dos foguetes V-2, que, durante sete meses de 1944, caíram sobre Londres, semeando destruição e morte com seus terríveis misseis, mas, com capacidade de viajar centenas de quilômetros a uma velocidade de 5.000 km/h e acertar seus alvos com impressionante precisão. Americanos e soviéticos reservam para esses cientistas lugar especial entre seus próprios homens de ciência.

Foguete alemão V-2, capturado pelos americanos e em exibição.

Em outubro de 1945, von Braun e sua equipe já estão instalados em Fort Bliss, no Texas, trabalhando para os Estados Unidos.

Von Braun ou Colombo?

Com os cientistas alemães, foram também os mais extraordinários conhecimentos sobre a técnica de construir foguetes. Poupados anos de pesquisa, os foguetes americanos em pouco tempo começaram a subir, cada vez mais aperfeiçoados.

Von Braun, a direita e de óculos, trabalhando na NASA.

Von Braun sempre quis ser o Colombo do espaço. Pensava em viagens espaciais, não em armas, quando vendeu a ideia da V-2 a Hitler (…) E está tentando vender aos Estados Uni- dos um projeto de viagens espaciais, disfarçado em método para dominação do mundo.” A crítica, feita por um oficial americano em 1952, sintetizava uma opinião quase generalizada nos meios militares. Queriam que von Braun fizesse armas e não veículos espaciais e estavam particularmente incomodados com a afirmação do cientista, divulgada dois anos antes – “Nos próximos dez ou quinze anos, a Terra terá um novo companheiro nos céus, um satélite construído por mãos humanas”.

Von Braun não se abalava. Continuou trabalhando intensamente, cercado dos melhores cientistas alemães e americanos. Pediam-lhe que projetasse mísseis de longo alcance, capazes de levar ogivas nucleares. Em 1954, ele apresentava o Redstone, foguete com alcance de 800 quilômetros. Mas tinha planos pacíficos para o míssil; queria verbas para poder adaptá-lo a uma aventura espacial: colocar em órbita um satélite artificial de 2,5 quilos. O projeto, que ficou conhecido como Orbiter, foi autorizado. Mas durou pouco.

Comitê do Projeto Orbiter em 17 de março de 1954.

Em 1955, pouco depois do Presidente Dwight Eisenhower ter anunciado oficialmente o início de um programa de lançamento de satélites, começaram a chegar da União Soviética notícias de êxito no lançamento de mísseis balísticos intercontinentais. Imediatamente o Projeto Orbiter foi liquidado. Von Braun trabalhava para o Exército e o Presidente Eisenhower queria deixar ao Exército a tarefa exclusiva de construir mísseis bélicos que competissem com os soviéticos. O programa espacial – Projeto Vanguard – seria entregue à Marinha.

As Luas de Metal

Na União Soviética, as pesquisas sobre mísseis estavam bem adiantadas. Vinham sendo conduzidas por Sergei Korolyev, discípulo de Tsiolkowski. Sergei liderava, desde 1930, uma equipe de competentes engenheiros, num grupo semelhante ao de von Braun. Já em 1947, também eles começaram a lançar poderosos foguetes, utilizando muito da técnica aprendida com Helmut Grottrup, o único cientista do grupo de von Braun que não seguira para os Estados Unidos. Entre 1949 e 1952, poderosos foguetes levaram cães russos, em cabinas pressurizadas, até os limites superiores da atmosfera. Daí em diante, o esforço foi cada vez mais concentrado.

Selo comemorativo ao lançamento do Sputnik I e uma réplica existente no Museu de Tecnologia Espacial e de Mísseis, em São Petersburgo, Rússia.

Na manhã de 4 de outubro de 1957, um foguete ergueu-se violentamente da plataforma de lançamentos da Base Espacial de Baikonur, furando o céu em busca do espaço. Essa base atualmente fica em território do Cazaquistão, mas que na época era parte da extinta União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, ou URSS.

Esse foguete era igual a muitos outros que dali haviam sido disparados. Mas tinha uma missão específica. Em seu bojo, levava uma esfera de 83 quilos, com 58 centímetros de diâmetro, provida de antenas flexíveis. Sua missão: colocar essa esfera metálica – o Sputnik I – em órbita ao redor da Terra. Horas depois, os primeiros telegramas das agências internacionais participavam aos veículos de comunicação do mundo inteiro: a Terra ganhou um satélite artificial, construído e posto em órbita pelos soviéticos.

A cadela Laika que entrou em órbita (e morreu) à bordo da Sputnik II.

O mundo inteiro ainda aplaudia o feito quando, a 1 de novembro, a URSS, realizava mais uma espetacular façanha, colocando em órbita o segundo satélite – este com 560 quilos – e levando a bordo uma cadela de raça esquimó chamada Laika.

As duas seguidas mostras da superioridade do programa espacial soviético deixam frustrados milhões de americanos. Mais que nunca, eles agora depositaram suas esperanças de reabilitação no minúsculo Vanguard, satélite de 10 quilos que a Marinha só poria em condições de lançamento no dia 6 de dezembro. Novo golpe: o foguete explodiu na rampa, destruindo o satélite e as esperanças do país de entrar na competição espacial.

William Hayward Pickering, James Van Allen e Wernher von Braun exibem um modelo em escala real do satélite artificial Explorer 1 em uma coletiva de imprensa em Washington, após a confirmação de que o artefato estava em órbita. Apesar de todo exibicionismo, nessa época a União Soviética estava muito à frente dos Estados Unidos na corrtida espacial.

Diante dos insucessos da Marinha, o Exército foi chamado. Von Braun entraria em cena, para resolver o assunto. Já a 31 de janeiro, ele colocava em órbita o Explorer I, um cilindro de 2 metros de comprimento, com 13 quilos de peso. Os Estados Unidos, finalmente, entravam na grande corrida espacial, cujo primeiro lugar ainda era da União Soviética.

A partir de então, a técnica foi sendo progressivamente aperfeiçoada, de lado a lado. Ao primeiro Sputnik, que percorria os céus emitindo seus característicos sinais de rádio (os famosos bip-bip), juntaram-se dezenas de outros objetos metálicos, das mais variadas formas e com as mais diversas funções: tanto podiam estar realizando trabalhos aerofotogramétricos ou meteorológicos, quanto tarefas de espionagem sobre os países inimigos, ou servindo de polo para cadeias internacionais de telecomunicações. Fora isso, estavam permanentemente enviando, através de seus sensíveis instrumentos, informações sobre os segredos do espaço, que o homem queria conhecer para conquistar.

Eu Vejo a Terra. Ela é Azul!

Girando em órbita a 28.800 km/h, a nave espacial do major soviético Yuri Gagarin inaugurava a 12 de abril de 1961 um novo capítulo na história da astronáutica: as viagens do homem ao cosmo.

Yuri Gagarin, o primeiro ser humano a orbitar a Terra.

Depois de completarem uma volta ao redor do globo em 108 minutos, a Vostok voltava tranquilamente à Terra. Gagarin trazia mais informações, além da poética descrição que lá de cima fizera sobre a cor da Terra. Ele foi o primeiro a experimentar a sensação de ausência absoluta de peso e suas consequências físicas para o organismo humano. Agora, a medicina espacial teria dados mais concretos para prosseguir em suas pesquisas, visando à proteção absoluta aos astronautas.

“Eu vejo a Terra. Ela é Azul!

Começava com Gagarin uma longa série de voos espaciais, cada vez mais ousados. Saída de astronautas para “passeios” em pleno espaço, encontro de naves em órbita, manobras de engate e desengate: americanos e soviéticos alternavam-se no primeiro lugar da corrida pela conquista do espaço, alcançando, a cada lançamento, êxitos surpreendentes. Nos Estados Unidos, o Presidente John Kennedy anunciava o grande objetivo nacional: até o fim da década, levar homens à Lua e trazê-los de volta em segurança.

Edwin “Buzz” Aldrin, segundo homem a pôr os pés no solo lunar, em 1966, quando realizou seu primeiro voo espacial a bordo da nave Gemini XII, durante a qual passou mais de cinco horas executando atividades extraveiculares.

Quando a Lua parecia estar bem perto dos terrestres, a tragédia deixou sua marca e seu sinal de advertência: a 26 de janeiro de 1967, os americanos Grissom, White e Chaffee embarcaram na Apollo 6, para o último teste antes da decolagem; um curto-circuito provocou um incêndio e a cápsula explodiu, matando os três astronautas. Três meses depois, o soviético Wladimir Komarov morria no espaço, depois que a explosão de um retrofoguete provocou a destruição do paraquedas que servia de freio na descida de sua nave. Passou-se então mais de um ano, antes que soviéticos e americanos retomassem suas experimentações. O trabalho foi só em terra, onde os técnicos desdobravam- se para redesenhar naves e foguetes, de forma que os veículos espaciais se tornassem praticamente perfeitos.

Selo da antiga União Soviética de 1969, mostrando a espaçonave Zond 5.

Em fins de 1968, a Lua já não tinha quase segredos para o homem. Ele nunca fora vê-la de perto, mas mandara seus “olhos” eletrônicos as sondas lunares – que cumpriram excepcionalmente bem sua tarefa. As dezenas de sondas enviadas a partir de 1958 remeteram milhares de fotos do satélite e importantes in- formações científicas captadas por seus instrumentos.

A Lua cada vez mais perto.

Os soviéticos haviam conseguido dois êxitos que pareciam indicar sua intenção de mandar homens para ver o satélite de perto: em setembro de 1968, sua Zond 5, levando moscas e sementes, fizera, com perfeição, a viagem Terra-Lua-Terra; em novembro, a Zond 6 repetira a proeza, com tartarugas a bordo.

Mas os americanos ganharam essa decisiva fase da corrida. Em dezembro de 1968, os astronautas Borman, Lovell e Anders chegaram bem perto da Lua, num voo preciso.

Os tripulantes da Apolo X (da esquerda para direita) Eugene Cernan, John Young e Thomas Stafford, tendo ao fundo o foguete Saturno V. Essa tripulação abriu caminho para o pouso seguro dos tripulantes da Apolo XI na Lua. No retorno à Terra, em 26 de maio de 1969, a nave quebrou o recorde de velocidade no espaço por uma nave tripulada, mantido até hoje, ao atingir incríveis 39 897 km/h. A missão da Apolo X também conseguiu outro feito, ao ser a primeira a ser transmitida para o mundo todo o procedimento do voo ao vivo e a cores.

Seu retorno foi acolhido por uma explosão de entusiasmo do mundo inteiro. Os cientistas americanos, a partir daí, tiveram a certeza final: já poderiam ultimar os preparativos para a primeira expedição lunar; não havia mais nenhum obstáculo, a não ser construir e testar um eficiente veículo capaz de desgarrar-se da nave, pousar no solo da Lua e depois voltar ao espaço, reengatando novamente à nave mãe, para a viagem de volta à Terra.

Foguete Saturno V na plataforma de lançamento.

Em pouco tempo, esse veículo o Módulo Lunar foi construído e testado, em órbita terrestre. Depois, em espetacular façanha, foi experimentado em órbita lunar. Perfeito.

O Gigantesco Salto

O veículo espacial Apollo XI, colocado no foguete Saturno V, decola com os astronautas Neil A. Armstrong, Michael Collins e Edwin E. Aldrin Jr. às 9h32 de 16 de julho de 1969, do Complexo de Lançamento 39A do Centro Espacial Kennedy.

Finalmente, o homem estava pronto para realizar a maior aventura de todos os tempos. Depois de um voo de quase quatro dias, Neil Armstrong e Edwin Aldrin, com a Apollo XI já girando em órbita lunar, despediram-se de seu companheiro Michael Collins e, através do estreito túnel de comunicação, passaram para o corpo do Módulo Lunar (a Águia). Sozinho na nave mãe Apolo XI (a Columbia), Michael Collins acionou os dispositivos que libertaram os mecanismos de engate das duas naves, e continuou na orbita lunar. A Águia desprendeu-se, iniciando a viagem até a Lua.

Dezenove minutos depois, o Módulo descia suavemente no mar da Tranquilidade. Um bilhão de pessoas na Terra respiraram alivia- das. Era o dia 20 de julho de 1969; havia seres humanos na Lua a 384.000 km de distância. Depois de um tempo de repouso Armstrong, primeiro, e Aldrin, a seguir, saíram da nave e iniciaram sua missão de exploração lunar.

Durante pouco mais de duas horas, com seus trajes espaciais protegendo-os da baixíssima temperatura e da ausência de atmosfera, comunicando-se permanentemente através de rádio, os dois pioneiros deslocaram-se com facilidade naquele mundo de gravidade seis vezes menor que a da Terra e trabalharam muito.

Colocaram no solo da Lua uma bandeira de seu país, diversos instrumentos científicos e uma câmara de TV, e recolheram cerca de 27 quilos de amostras do solo.

Depois, reembarcaram na Águia, pressurizaram novamente a cabina e empreenderam o voo de volta, ao encontro da Columbia, onde Collins, em seu solitário voo, os aguardava. Em seguida, regressaram à Terra. Como heróis.

A Lua estava conquistada. O homem realizou seu grande sonho, reunindo e articulando forças que, engenhosamente controladas, arrancaram-no da Terra para levá-lo até outro astro. Agora, ele estudaria as amostras do solo lunar, para descobrir segredos que o informariam sobre a origem da Terra e do próprio universo.

Os proveitos da aventura já estavam sendo colhidos até mesmo antes que ela se completas- se, pois, muita pesquisa foi necessária para torná-la possível. Para controlar lançamentos de satélites, sondas e naves, eram essenciais computadores altamente aperfeiçoados.

Da esquerda para direira Neil Alden Armstrong, Michael Collins e Edwin “Buzz” Aldrin Jr., tripulação da Apolo XI.

Esses materiais passariam a ter milhares de aplicações diferentes, na própria Terra. As comunicações deram um grande salto; o mundo ficou menor depois que satélites espaciais serviram de elevadas antenas retransmissoras de canais de rádio, televisão e telex. Do extraordinário esforço desenvolvido por físicos, químicos, matemáticos, engenheiros, médicos, biólogos, astrônomos, técnicos em comunicação, todos os campos se beneficiaram. As ciências avançaram séculos, em apenas alguns anos. Novos e amplíssimos horizontes se abriram.

Fonte – Enciclopédia Conhecer, Abril S.A, Cultural e Industrial, São Paulo-SP, 1974 – Volume VII – páginas 1777 e 1779.

Extraído do blog Tok de História do escritor/historiador Rostand Medeiros - https://tokdehistoria.com.br/2024/01/15/o-homem-na-lua-um-grande-salto-para-humanidade/

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

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