No artigo anterior refletimos sobre dois personagens que foram o Cel. Gurgel e o motorista Ratinho (Francisco Agripino). Vamos refletir agora sobre outra personalidade que é dita “Herói da Resistência” que foi Jaime Guedes. Vejamos primeiro o que diz Raul Fernandes em seu livro “A Marcha de Lampião”:
“Jaime Fernandes Guedes, participante dos aprestos da defesa da cidade, sentia-se intranqüilo com a responsabilidade de zelar pelo patrimônio da Agência do Banco do Brasil. A força policial não lhe oferecia segurança. O sogro apresado por Lampião. No dia 12, a noite, guardou os documentos do Banco na caixa forte. Era dos poucos que acreditavam na vinda dos cangaceiros. Temia que seus funcionários caíssem prisioneiros. Seria fortíssimo triunfo na jogada do facínora. Enquanto conjeturava, o Bando deslocava-se em direção a Mossoró.
Horas antes do ataque, o bancário abandonou a cidade. Transportou em sigilo, cerca de novecentos contos de réis à vizinha cidade de Areia Branca. Depositou-o no cofre, pertencente ao Banco da Agência da Cia. Nacional de Navegação Costeira. Voltou vinte e quatro horas depois. Surpreendeu-se ao encontrar o comércio paralisado. Não se falava em outra coisa senão no retorno dos bandidos. Mossoró armava-se febrilmente. Construíram trincheiras. Muitas famílias ainda se encontravam em Areia Branca. De quando em vez, a cidade era sacudida por toques de alarme.
Ante a obscura situação, Jaime Guedes resolveu transferir o dinheiro para Natal. Preocupado com ladrões de estrada, viajou novamente, às ocultas. Enviou logo relatório à Matriz no Rio de Janeiro, expondo as razões do seu proceder. Findos os dias tumultuados, regressou. Foi criticado. A cidade contava com a defesa do Banco e de sua residência.”
Bom, eis a história do Sr. Jaime Guedes. É necessário que se diga ainda que ele participou de uma reunião havida na casa do prefeito Rodolfo Fernandes, tendo sugerido, inclusive, “uma subscrição no comércio para adquirir armamento destinado ao mister da defesa, concorrendo as firmas segundo os seus recursos”, no que arrecadaram cerca de vinte e três contos de réis, dos quais o Banco do Brasil contribuiu com dois contos. Sem sombra de dúvida, Jaime Guedes participou do planejamento da defesa, mas não da defesa em si, haja vista que havia se retirado para o visinho município de Areia Branca. E se ele não se encontrava na cidade quando esta estava sendo atacada, como podemos considerá-lo Herói da Resistência? Ao contrário, quando da preparação das trincheiras da cidade, se contava com o pessoal do Banco do Brasil defendendo o prédio onde funcionava a sua sede e também a sua residência. Mas ele preferiu sair da cidade.
Num relatório enviado posteriormente a Diretoria do Banco do Brasil, no Rio de Janeiro, justificou a sua atitude alegando que o seu dever maior era com o “numerário existente no Banco que era de Rs. 912:064$081. Conclui o seu relatório solicitando a Matriz que usasse a sua influência para solicitar do Governo do Estado uma força fixa aqui em Mossoró de não menos que cem praças e que caso isso não ocorresse, melhor seria fechar a Agência aqui existente. Esse relatório é bastante conhecido pois foi reproduzido em quase todos os livros que falam da defesa de Mossoró contra os cangaceiros.
Eu, particularmente, acho que ele agiu com prudência em não expondo nem os seus familiares, nem a ele próprio, nem o numerário do Banco a sanha dos cangaceiros. Afinal, coragem para lutar numa batalha bélica não ficou pra todo mundo e muitos habitantes influentes agiram da mesma forma. Só acho estranho é que o mesmo tenha entrado para a História como Herói da Resistência. Continuo a dizer que dessa forma estamos desrespeitando a memória daqueles verdadeiros Heróis que expulsaram a malta de malfeitores.
Geraldo Maia do Nascimento
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