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quarta-feira, 20 de junho de 2012

Cangaceiros S/A em discussão do Grupo de João Pessoa

Por: Narciso Dias
Grupo de Estudos do Cangaço da Paraíba reunidos no Sebo Cultural

Na mais recente reunião do Grupo de Estudos do Cangaço da Paraíba, capetaneado pelos confrades Narciso Dias, Jobeno e Jorge Remigio dentre outros, acontecida no Sebo Cultural, houve o debate e analise do recente artigo publicado na Revista Carta Capital, nº 696 , de autoria do jornalista Orlando Margarido, como abaixo em recorte da Matéria "Cangaceiros S/A da Carta Capital:

Estivessem em atividade hoje, os cangaceiros talvez fossem vistos no plenário de alguma casa legislativa do País,- anéis de ouro e prata em profusão e chapéus meia-lua a ostentar nas abas símbolos como a flor-de-lis e a Cruz de Malta. Vaidosos, esses populares bandoleiros, heróis e algozes conviveram com o governo oficial mais do que se esperaria, a exemplo de Lampião, tornado capitão pelo Exército e cooptado pelo Estado Novo no combate à Coluna Prestes. O cangaço barbarizava os que a ele se opunham, latifundiários ou sertanejos, e lançava trocados à comunidade para perpetuar a fama de benevolência.


Fama essa revista por estudos sérios ou publicações que se sustentam no fascínio do fenômeno. A imagem configurou-se em um dos principais instrumentos de legitimação do mito quando aventureiros amadores, como o mascate Benjamin Abrahão, registraram em fotografia estática e em movimento os foras da lei. O imigrante de origem sírio-libanesa foi o único a deixar rastros de sua convivência com o grupo de Lampião, se não o primeiro, por certo o mais longevo e último dos cangaceiros. É esse o material que nos traz o livro Iconografia do Cangaço, lançamento da Terceiro Nome com 144 fotos, a maioria de Abrahão, além de textos de Moacir Assunção e Rubens Fernandes Filho.

A predominância de registros do imigrante se explica pela filiação do organizador Ricardo Albuquerque. Seu avô, Adhemar Bezerra Albuquerque, funcionário de banco no Ceará e documentarista que fundou a Aba Film, emprestou o equipamento para a façanha de Abrahão. O espólio da produtora passou ao que é hoje o Instituto Chico Albuquerque e inclui as cenas filmadas pelo aventureiro com uma Zeiss Ikon Kinamo, agora apresentadas em um DVD de 15 minutos que integra a edição. Tanto nas fotos quanto nas filmagens entre 1935 e 1937 há imagens posadas, raras, do bando a cavalo e de Lampião a distribuir comprimidos aos parceiros perante um cartaz publicitário da Bayer. Incomodado com a propagação dessas imagens na imprensa e nos cinemas, Getúlio Vargas mandou apreendê-las e ordenou a maior ação até aquele momento contra os cangaceiros. As “volantes” dizimaram boa parte do grupo e o próprio Lampião em 28 de julho de 1938. *Leia matéria completa na Edição 696 de Carta Capital.


Com a palavra o Grupo de Estudos do Cangaço da Paraíba: "O presente artigo até tenta assumir uma postura revisionista do tema, primando como diz sobre a revista por estudos sérios ou publicações que se sustentam no fascínio do fenômeno. Cita posições de autores como Frederico Pernambucano de Mello e Luiz Bernardo Pericás, considerados críticos com visão sócio-antropológica do tema. Cita livros interessantes e recém publicados como: Iconografia do Cangaço, organizado por Ricardo Albuquerque e Bonita Maria do Capitão, organizado por Germana Gonçalves de Araújo e Vera Ferreira. Reporta-se a uma nova versão sobre a data de nascimento de Maria Bonita, porém, cometendo gafe de não citar o nome do pesquisador Voldi Ribeiro. 
 
O objetivo principal de analise era identificar coerências e incongruências no teor da matéria. Plagiando uma afirmação do autor, “Quando se trata de cangaço, é verdade, há pouco material unânime”. Inclusive, o texto Cangaceiros S/A. Vejamos algumas afirmações improcedentes, descabidas e inconseqüentes que se seguem: “Lampião, tornardo Capitão pelo exercito e cooptado pelo Estado Novo no combate à Coluna Prestes”. Disparate. Lampião foi ao Juazeiro atendendo o chamado de Floro Bartolomeu, que idealizou incorporar um bando ao Batalhão Patriótico, espécie de grupo paramilitar. Absurdo também dizer que este foi cooptado pelo Estado Novo. O ano era 1926, quem governava o país era Artur Bernardes e o Estado Novo instituiu-se após o golpe de Estado em 1937 no governo Getulio Vargas. Portanto, 11 anos depois. 
 
“Lançava trocados à comunidade pra perpetuar a fama de benevolência”. Desconhecemos essa pratica. Se tal fato ocorreu, foram casos tão raros que não cabe tal afirmação. 
 
“Incomodado com a propagação dessas imagens na imprensa e nos cinemas”. As imagens cinematográficas foram censuradas e confiscadas após primeira e única exibição no Cine Moderno em Fortaleza, para uma platéia restrita, inclusive presente vários membros do governo de exceção. Portanto não houve exibição em cinemas.

Narciso Dias
Membro do Grupo de Estudos do Cangaço da Paraíba
Conselheiro do Cariri Cangaço

Um comentário:

  1. Aleluia! Ando um pouco sumido... mas sempre de olho nas postagens do blog do José Mendes Pereira, o maior acervo virtual sobre cangaço do Brasil.

    Publiquei lá no Saiba História uma postagem sua e do Rostand Medeiros. É só conferir.

    Um grande abraço com Rio+20!

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