Por: Ana
Shirley de Vasconcelos Oliveira Evangelista Amorim
4.
Considerações Finais
O gênero
notícia, especificamente a notícia veiculada no jornal impresso foi o foco de
nossa pesquisa. Optamos por esse gênero, dentre outros, por se constituir
sempre atual e circular diariamente em nossa sociedade, independente do suporte
(mídia virtual, mídia impressa, mídia televisiva). Outro fator preponderante
dessa escolha se deu em virtude do discurso jornalístico permanecer, não
somente na agenda das análises linguísticas, mas também, das análises sociológicas,
etnográficas e de estudiosos dos fenômenos midiáticos que têm procurado em
diferentes épocas, definir precisamente o que é notícia, e seu grau de
influência na sociedade.
Face ao
exposto, a nossa investigação sobre a produção discursiva dos jornais impressos,
foi norteada pelas seguintes questões de pesquisa: a questão central tinha como
preocupação saber como os discursos presentes nos jornais O Nordeste
(24/06/1927) e Correio do Povo (19/06/1927) produziam e articulavam sentidos
introduzindo pressupostos ideológicos no interlocutor, por meio de recursos
persuasivos e discursivos. Considerando-se o assunto estudado, e por
entendermos que todo discurso não é único, mas vem interpelado por discursos
pré-concebidos, os “já ditos”, nos interrogamos também: como a temática da
resistência apresenta-se no texto jornalístico, e quais os possíveis sentidos
decorrentes dessa construção? Quais as estratégias utilizadas nos jornais para
a construção da realidade discursiva sobre a resistência? E quais os posicionamentos
assumidos nas formações discursivas dos jornais?
Haja vista, a
utilização das estratégias argumentativas e do uso de modalizadores, em
especial, dos qualificadores positivos referentes à cidade, como adjetivos,
advérbios e pronomes conjugados em primeira pessoa, observamos a construção do
ethos da cidade e dos cangaceiros, demarcando o posicionamento assumido pelo
orador. Constatamos também, que o enquadramento da cobertura noticiosa dos
jornais seguia uma determinação político-ideológica, visto que o contexto
linguístico dos jornais caracterizou-se como um porta-voz do poder, assumindo
em primeira instância, uma expressão local.
De acordo com
a memória coletiva do episódio, observamos que ao nortear o leitor (auditório),
a partir de suas crenças e valores, a fim de conduzi-lo a persuasão, os
discursos presentes nessa atividade social demonstram e desenvolvem traços de
uma manipulação do sujeito. As estratégias aqui reveladas asseveram que o
discurso empreendido em 1927 foi construído sem nenhum espírito crítico para
manipular o leitor.
Portanto,
percebemos que a argumentação empreendida nos discursos passou do logos para o
pathos, pois os oradores dos jornais iniciaram um convencimento baseado em
fatos e valores com o intuito de fundamentar uma persuasão final. Isso
significa que os enunciadores do discurso passaram do convencimento do
auditório, no campo das ideias, do logos sobre as circunstâncias sociais para o
campo da persuasão, atuando na interpelação desse auditório, cuja preferência
por estratégias argumentativas para o convencimento do outro, ratificam suas
atitudes na construção de um discurso que pressupõe a “adesão dos espíritos”.
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FINAL
Enviado pelo pesquisador José Edilson de Albuquerque Guimarães Segundo
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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