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sábado, 26 de março de 2016

SENSACIONAL A NARRATIVA DA TRAGÉDIA DO 'DURO', PELA ÍMPAR

Por Sálvio Siqueira

SENSACIONAL A NARRATIVA DA TRAGÉDIA DO 'DURO', PELA ÍMPAR FORMA DE CONTAR OS FATOS DO ILUSTRE AMIGO Manoel Severo Barbosa, ONDE CHEGAMOS A "OUVIR", "SENTIR", E 'CAÍMOS', ADENTRAMOS, À PARTICIPAÇÃO EM NOSSA IMAGINAÇÃO, SUPER ATIVADA PELO GRANDE NARRADOR. MARAVILHA!! ARREBENTOU, COMO SEMPRE, ILUSTRE MESTRE.


Não bastou um só tiro para tirar a vida do coronel. Ao ser baleado o velho coronel Joaquim Wolney despencou do cavalo. Estava lúcido. Seus olhos brilhavam. Osmilitares assassinos não perderam tempo. Puxaram seus punhais e deram-lhe quatorze punhaladas. A voz do patriarca cala de repente. O coronel Joaquim Wolney estava morto. O saque é feito. Em um dos bolsos do gibão é encontrada a vultosa quantia de 30 contos de réis. A volante sanguinária retorna. Carregam numa rede os corpos dos dois cadáveres. E, segundo registros contidos no livro de Nertan Macedo, Abílio Wolney, pagina 45, prendem um irmão (Wolney Filho) e um sobrinho, ainda menor de idade (Oscar Wolney Leal), e ainda Voltaire Ayres Cavalcante.Todos os que fizeram parte daquela macabra missão foram assassinos. Porém, a história registra como verdadeiros matadores o cabo Justiniano Ferraz e o anspeçada Marcelino Néri que foram posteriormente assassinados. Uma tragédia acontecera. Outra estaria por chegar.

Abílio consegue fugir. É tenazmente perseguido. Homizia-se na Bahia. Ali têm muitos e influentes amigos. Solicita ajuda de dois poderosos chefes de jagunços, Roberto Dourado e Abílio Araújo. É formado, então, um exército de jagunços. Marcham sobre o Duro. É a hora da desforra e da vingança. A morte do velho Wolney não ficaria sem uma dura resposta. O juiz Calmon é esperto e treiteiro. Sabe o que lhe espera. Termina o processo e deixa a povoação. As informações que chegam ao Duro são estarrecedoras. Amedrontados, os policiais procuram meios para intimidar os agressores que já se encontram no Buracão. Os Abílio (Wolney e Araújo) e Roberto Dourado estão de bote armado. O Duro será inevitavelmente invadido e os militares trucidados. A desgraça ronda o lugarejo. Um rio de sangue irá correr.Os do governo, acovardados e impotentes, tomam uma estarrecedora e tenebrosa providência. Aprisionar e amarrar num tronco (antigo objeto de tortura usado pelos senhores das senzalas contra os escravos) o major João Batista Leal (Janjão), cunhado de Abílio Wolney; o capitão Benedito Pinto de Cerqueira Póvoa, seu filho João Pinto Póvoa (Joca); o capitão João Rodrigues de Santana e seu filho Salvador; ainda Wolney Filho, irmão de Abílio que estudava no Rio de Janeiro.

O tronco estava fincado no sobrado onde a polícia havia se aquartelado. Num quarto, no mesmo casarão, estavam presos Messias Camelo, sobrinho de Benedito Póvoa; Nilo Rodrigues de Santana e Nazário Bomfim, filho-agregado de João Rodrigues.Apenas sete pessoas podiam ficar aprisionadas no tronco, motivo pelo qual o capitão Benedito Póvoa foi substituído daquele instrumento de tortura por Messias Camelo Rocha.O terror dominara por completo aquele triste lugar. O desespero destroçava até os mais negros corações. Dona Ana Custódia, irmã de Abílio e de Wolnei, esposa do capitão João Batista e mãe do jovem Oscar; está em estado de choque. Enlouquecida de tanto sofrimento e agonia, monta num cavalo e corre, aflita, para o Buracão. Seu irmão terá que salvar os seus entes queridos da medonha morte que os espera. Dona Ana não tem êxito em seu aflitivo pedido. O irmão não pode decidir sozinho. Agora tudo terá que passar pelo crivo dos outros dois chefes. Abílio Araújo e Roberto Dourado se negam em mudar os planos de ataque. Agoniada, a mãe e esposa se revoltam com o irmão, e num gesto de supremo sofrimento, puxa um revolver que trazia escondido na saia e aponta-o para o corpo do mano. Rápidos, os jagunços agarram-na, impedindo-a do gesto extremo.

Chega o dia do ataque: 16 de janeiro de 1919. A jagunçada estar entusiasmada e sedenta, louca e faminta. O que mais deseja é matar, ver a terra empapada de sangue, saquear e roubar o que for encontrado pela frente. Roberto Dourado avança pela pracinha. Está indo para o sobrado. A sua intenção é libertar os prisioneiros e os que estão amarrados no tronco. Duas feras da polícia goiana vigiam os detentos, são eles o cabo José Lourenço d’Abadia e o soldado Pedro Francisco da Cruz que diante do ataque iminente dos jagunços se preparam para fuzilar os presos, no que é impedido pelo alferes Ulisses. E a jagunçada ataca ferozmente. Debocham da soldadesca. Chamam os do governo para a luta como se os mesmos fossem pintinhos. O que se escuta é o piu, piu, piu, atemorizante dos capangas, convidando os militares para o medonho e encarniçado corpo a corpo.

Família Wolney:

1. Wolney Filho (morreu em 1919 na chacina dos nove era um dos reféns);
2. Josefa (Nenzinha) esposa de Abílio Wolney;
3. Cel. Joaquim Ayres Cavalcante Wolney (morreu na véspera da chacina);
4. Maria Jovita (mariazinha) esposa do cel. Joaquim Ayres Cavalcante Wolney;
5. Ana Custódia Leal Wolney esposa de Janjão, irmã de Abílio e Wolney Filho;
6. Janjão (morreu no tronco em 1919 na chacina dos nove era um dos reféns);
7. Edmundo (filho de Janjão e Ana Custódia);
8. Oscarzinho (filho de Janjão e Ana Custódia, morreu no tronco );
9. Mireta esposa de João Correia de Mello;
10. Jaime (filho de Abílio Wolney)
11. Diana Póvoa;
12. Palmira;
13. Diana Wolney;
14. Josélia e
15. Wolney Neto (filho de Janjão e Ana Custódia).

O nunca imaginado acontece. São três horas da tarde. A tropa está perdida. A fúria dos jagunços é incontrolável. Então, o alferes Ulisses dá uma inacreditável e medonha ordem. Executar os que estão presos no tronco. Os sanguinários José Lourenço d’Abadia e Pedro Francisco da Cruz são os executores da macabra sentença. Entram no quarto onde está o objeto de suplício e o massacre é indescritível. Cada um dos prisioneiros recebe tiros na cabeça, no coração e na barriga. Ainda era pouco, são sangrados de faca e baioneta.

O filho de Dona Ana Custódia (Oscar Wolney) que estava preso em um dos quartos do sobrado foi executado pelo alferes Catulino. Consumada a grande tragédia os militares correram. A debandada foi geral. Alguns, na ânsia de salvar-se da sanha assassina dos invasores, se vestem de mulher e fogem mataria adentro. Correm. Correm. Pulam cercas e valados. Desaparecem nas brenhas. Na terra ensanguentada da pracinha do Duro ficaram os corpos mutilados e sem vida de João Rodrigues de Santana, Salvador Rodrigues de Santana, Nilo Rodrigues de Santana, Nazário Bomfim, Benedito Pinto de Cerqueira Póvoa, seu filho João Pinto Póvoa (Joca), Messias Camelo Rocha, João Batista Leal (Janjão) e Wolney Filho.A tragédia do Duro é uma das maiores do Brasil.

O sangue de seus mártires que ali pereceram serviram de adubo para a criação desta comovedora história. No local da chacina foi construída uma humilde casa de oração. O povo dos Gerais. Os moradores do Duro. Os familiares e os patrícios chamavam aquele sagrado lugar de “Capelinha dos nove”.A história sangrenta do Duro nasceu da força, poder e valentia dos coronéis. Do arbítrio, arrogância e brutalidade de militares sanguinolentos e de uma justiça capenga e mal intencionada. Também da barbárie de ferozes jagunços que não temiam os perigos e brincavam com a morte e do sangue e martírio de seres humanos que viviam a mercê de tantos desmandos e injustiças de um Brasil sem lei.
Alcino Alves Costa no blog do Cariri Cangaço !!!



http://blogdomendesemendes.blogspot.com

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