Por Sálvio Siqueira
SENSACIONAL A
NARRATIVA DA TRAGÉDIA DO 'DURO', PELA ÍMPAR FORMA DE CONTAR OS FATOS DO ILUSTRE
AMIGO Manoel Severo
Barbosa, ONDE CHEGAMOS A "OUVIR", "SENTIR", E 'CAÍMOS',
ADENTRAMOS, À PARTICIPAÇÃO EM NOSSA IMAGINAÇÃO, SUPER ATIVADA PELO GRANDE
NARRADOR. MARAVILHA!! ARREBENTOU, COMO SEMPRE, ILUSTRE MESTRE.
Não bastou um
só tiro para tirar a vida do coronel. Ao ser baleado o velho coronel Joaquim
Wolney despencou do cavalo. Estava lúcido. Seus olhos brilhavam. Osmilitares
assassinos não perderam tempo. Puxaram seus punhais e deram-lhe quatorze
punhaladas. A voz do patriarca cala de repente. O coronel Joaquim Wolney estava
morto. O saque é feito. Em um dos bolsos do gibão é encontrada a vultosa
quantia de 30 contos de réis. A volante sanguinária retorna. Carregam numa rede
os corpos dos dois cadáveres. E, segundo registros contidos no livro de Nertan
Macedo, Abílio Wolney, pagina 45, prendem um irmão (Wolney Filho) e um
sobrinho, ainda menor de idade (Oscar Wolney Leal), e ainda Voltaire Ayres
Cavalcante.Todos os que fizeram parte daquela macabra missão foram assassinos.
Porém, a história registra como verdadeiros matadores o cabo Justiniano Ferraz
e o anspeçada Marcelino Néri que foram posteriormente assassinados. Uma
tragédia acontecera. Outra estaria por chegar.
Abílio
consegue fugir. É tenazmente perseguido. Homizia-se na Bahia. Ali têm muitos e
influentes amigos. Solicita ajuda de dois poderosos chefes de jagunços, Roberto
Dourado e Abílio Araújo. É formado, então, um exército de jagunços. Marcham
sobre o Duro. É a hora da desforra e da vingança. A morte do velho Wolney não
ficaria sem uma dura resposta. O juiz Calmon é esperto e treiteiro. Sabe o que
lhe espera. Termina o processo e deixa a povoação. As informações que chegam ao
Duro são estarrecedoras. Amedrontados, os policiais procuram meios para intimidar
os agressores que já se encontram no Buracão. Os Abílio (Wolney e Araújo) e
Roberto Dourado estão de bote armado. O Duro será inevitavelmente invadido e os
militares trucidados. A desgraça ronda o lugarejo. Um rio de sangue irá
correr.Os do governo, acovardados e impotentes, tomam uma estarrecedora e
tenebrosa providência. Aprisionar e amarrar num tronco (antigo objeto de
tortura usado pelos senhores das senzalas contra os escravos) o major João
Batista Leal (Janjão), cunhado de Abílio Wolney; o capitão Benedito Pinto de
Cerqueira Póvoa, seu filho João Pinto Póvoa (Joca); o capitão João Rodrigues de
Santana e seu filho Salvador; ainda Wolney Filho, irmão de Abílio que estudava
no Rio de Janeiro.
O tronco
estava fincado no sobrado onde a polícia havia se aquartelado. Num quarto, no
mesmo casarão, estavam presos Messias Camelo, sobrinho de Benedito Póvoa; Nilo
Rodrigues de Santana e Nazário Bomfim, filho-agregado de João Rodrigues.Apenas
sete pessoas podiam ficar aprisionadas no tronco, motivo pelo qual o capitão
Benedito Póvoa foi substituído daquele instrumento de tortura por Messias
Camelo Rocha.O terror dominara por completo aquele triste lugar. O desespero
destroçava até os mais negros corações. Dona Ana Custódia, irmã de Abílio e de
Wolnei, esposa do capitão João Batista e mãe do jovem Oscar; está em estado de
choque. Enlouquecida de tanto sofrimento e agonia, monta num cavalo e corre,
aflita, para o Buracão. Seu irmão terá que salvar os seus entes queridos da
medonha morte que os espera. Dona Ana não tem êxito em seu aflitivo pedido. O
irmão não pode decidir sozinho. Agora tudo terá que passar pelo crivo dos
outros dois chefes. Abílio Araújo e Roberto Dourado se negam em mudar os planos
de ataque. Agoniada, a mãe e esposa se revoltam com o irmão, e num gesto de
supremo sofrimento, puxa um revolver que trazia escondido na saia e aponta-o
para o corpo do mano. Rápidos, os jagunços agarram-na, impedindo-a do gesto
extremo.
Chega o dia do
ataque: 16 de janeiro de 1919. A jagunçada estar entusiasmada e sedenta, louca
e faminta. O que mais deseja é matar, ver a terra empapada de sangue, saquear e
roubar o que for encontrado pela frente. Roberto Dourado avança pela pracinha.
Está indo para o sobrado. A sua intenção é libertar os prisioneiros e os que
estão amarrados no tronco. Duas feras da polícia goiana vigiam os detentos, são
eles o cabo José Lourenço d’Abadia e o soldado Pedro Francisco da Cruz que
diante do ataque iminente dos jagunços se preparam para fuzilar os presos, no
que é impedido pelo alferes Ulisses. E a jagunçada ataca ferozmente. Debocham
da soldadesca. Chamam os do governo para a luta como se os mesmos fossem
pintinhos. O que se escuta é o piu, piu, piu, atemorizante dos capangas,
convidando os militares para o medonho e encarniçado corpo a corpo.
Família
Wolney:
1. Wolney
Filho (morreu em 1919 na chacina dos nove era um dos reféns);
2. Josefa (Nenzinha) esposa de Abílio Wolney;
3. Cel. Joaquim Ayres Cavalcante Wolney (morreu na véspera da chacina);
4. Maria Jovita (mariazinha) esposa do cel. Joaquim Ayres Cavalcante Wolney;
5. Ana Custódia Leal Wolney esposa de Janjão, irmã de Abílio e Wolney Filho;
6. Janjão (morreu no tronco em 1919 na chacina dos nove era um dos reféns);
7. Edmundo (filho de Janjão e Ana Custódia);
8. Oscarzinho (filho de Janjão e Ana Custódia, morreu no tronco );
9. Mireta esposa de João Correia de Mello;
10. Jaime (filho de Abílio Wolney)
11. Diana Póvoa;
12. Palmira;
13. Diana Wolney;
14. Josélia e
15. Wolney Neto (filho de Janjão e Ana Custódia).
2. Josefa (Nenzinha) esposa de Abílio Wolney;
3. Cel. Joaquim Ayres Cavalcante Wolney (morreu na véspera da chacina);
4. Maria Jovita (mariazinha) esposa do cel. Joaquim Ayres Cavalcante Wolney;
5. Ana Custódia Leal Wolney esposa de Janjão, irmã de Abílio e Wolney Filho;
6. Janjão (morreu no tronco em 1919 na chacina dos nove era um dos reféns);
7. Edmundo (filho de Janjão e Ana Custódia);
8. Oscarzinho (filho de Janjão e Ana Custódia, morreu no tronco );
9. Mireta esposa de João Correia de Mello;
10. Jaime (filho de Abílio Wolney)
11. Diana Póvoa;
12. Palmira;
13. Diana Wolney;
14. Josélia e
15. Wolney Neto (filho de Janjão e Ana Custódia).
O nunca
imaginado acontece. São três horas da tarde. A tropa está perdida. A fúria dos
jagunços é incontrolável. Então, o alferes Ulisses dá uma inacreditável e
medonha ordem. Executar os que estão presos no tronco. Os sanguinários José
Lourenço d’Abadia e Pedro Francisco da Cruz são os executores da macabra
sentença. Entram no quarto onde está o objeto de suplício e o massacre é
indescritível. Cada um dos prisioneiros recebe tiros na cabeça, no coração e na
barriga. Ainda era pouco, são sangrados de faca e baioneta.
O filho de
Dona Ana Custódia (Oscar Wolney) que estava preso em um dos quartos do sobrado
foi executado pelo alferes Catulino. Consumada a grande tragédia os militares
correram. A debandada foi geral. Alguns, na ânsia de salvar-se da sanha
assassina dos invasores, se vestem de mulher e fogem mataria adentro. Correm.
Correm. Pulam cercas e valados. Desaparecem nas brenhas. Na terra ensanguentada da pracinha do Duro ficaram os corpos mutilados e sem vida de João Rodrigues de
Santana, Salvador Rodrigues de Santana, Nilo Rodrigues de Santana, Nazário
Bomfim, Benedito Pinto de Cerqueira Póvoa, seu filho João Pinto Póvoa (Joca),
Messias Camelo Rocha, João Batista Leal (Janjão) e Wolney Filho.A tragédia do
Duro é uma das maiores do Brasil.
O sangue de
seus mártires que ali pereceram serviram de adubo para a criação desta
comovedora história. No local da chacina foi construída uma humilde casa de
oração. O povo dos Gerais. Os moradores do Duro. Os familiares e os patrícios
chamavam aquele sagrado lugar de “Capelinha dos nove”.A história sangrenta do
Duro nasceu da força, poder e valentia dos coronéis. Do arbítrio, arrogância e
brutalidade de militares sanguinolentos e de uma justiça capenga e mal
intencionada. Também da barbárie de ferozes jagunços que não temiam os perigos
e brincavam com a morte e do sangue e martírio de seres humanos que viviam a
mercê de tantos desmandos e injustiças de um Brasil sem lei.
Alcino Alves
Costa no blog do Cariri Cangaço !!!
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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