“Zé de Julião,
muito além do cangaço” do Cineasta Hermano Penna é exibido em Sergipe.
O Coletivo de
Cultura do MST e Grupo de Teatro Raízes Nordestinas promoveram a exibição do
documentário “Zé de Julião, muito além do cangaço” dirigido pelo cineasta
Hermano Penna. A exibição foi realizada no último dia 09 no Teatro Raízes em
Poço Redondo.
Na exibição do
documentário estiveram presentes os filhos de Zé de Julião, figuras da
expressão cultural sergipana e o escritor Rangel Alves, filho de Alcino Costa
que relatou a saga de Zé de Julião.
No dia 27 de
Julho também será exibido em praça pública na abertura da semana do cangaço em
Poço Redondo. A ideia proposta pelos organizadores do evento é circular a
exibição desse importante documentário por todos estado sergipano.
ZÉ DE JULIÃO,
MUITO ALÉM DO CANGAÇO.
Por Hermano
Penna
Em 1977 estava
em Sergipe para realizar o Globo Repórter “A Mulher no Cangaço”; adentrei os
sertões e cheguei em Poço Redondo. Na época uma pequena cidade, se não me
engano ainda com luz de um pequeno gerador. Chegava ali por razões meramente
estéticas, buscava caatingas ralas e baixas para locar as cenas de
reconstituição do documentário. Mas, a vida também é feita de gratas surpresas.
A pequenez da cidade contrastava com a riqueza cultural e a hospitalidade dos
seus moradores. A alegria do encontro com sua gente guardava outras surpresas.
Poço Redondo é o epicentro simbólico da história do cangaço. Do Poço partiram
para suas hostes grande número de seus filhos e filhas. Disputa com Xorochó
quem deu mais filhos para a grande gesta sertaneja, e com certeza filhas não
existem dúvidas. Se em Serra Talhada nasceu Lampião, foi em Poço que o cangaço
viveu o seu grande drama final, a tragédia da Gruta de Angico; mesmo que se
considere como ato final as andanças posteriores de Dadá e Corisco. Aqui, como
instituição o cangaço desapareceu. Em Poço morreram Lampião e Maria Bonita e
muitos outros, entre eles filhos e filhas de Poço Redondo, como Enedina, a
primeira esposa do nosso personagem. Tem mais, em Poço conheci Adília,
ex-cangaceira do bando de Zé Sereno que viria a se tornar uma das estrela do
filme junto a Sérgia Ribeiro, Dadá, que antes tinha entrevistado longamente em
sua casa de Salvador. E mais, ai conheci o escritor e historiador de sua gente,
meu saudoso amigo Alcino Alves Costa. E, foi dele que ouvi oralmente a história
de Zé de Julião. Nesse momento, o cangaço deixou de ser um coletivo para mim e
passei a ver nele a dimensão dos seus integrantes como pessoas reais em suas
individualidades. grandezas e misérias. Foi ai também que nos prometemos, eu e
Alcino, a realizarmos um filme sobre a extraordinária vida desse homem, que de
alguma forma une os dois grandes símbolos que animam a alma brasileira, o
cangaço e Brasília. O cangaço, símbolo maior da insubmissão à opressão, e
Brasília, esse marco da grande utopia de uma nação democrática, justa para
todos, e pela qual penosamente continuamos a lutar. Aconteceu; e não foi só um
filme, são dois. Em 2012, realizei o ficção “Aos ventos que virão”. Hoje
entrego ao povo sergipano o “Zé de Julião, muito além do cangaço”, documentário
que busca contar a vida desse homem que os caminhos marcaram com tantas
alegrias, tragédias e símbolos. Lamento que o grande amigo Alcino não tenha
visto nenhum dos dois prontos. Mas, sua memória impregna cada momento desses
dois filmes. Agradeço muito ao povo de Poço Redondo, que abriu suas casas para
receber esse misto de cineasta e cronista das coisas brasileiras. Agradeço
especialmente a Inácio Nascimento e a família Nascimento e ao saudoso amigo Zé
Delino. Aos amigos Fernando Sá, Conselheiro Calos Pina, Valdilécia Santos, Beto
Patriota, Antônio Leite, Antônio Amaury Corrêa, José Gilson dos Santos, meu
muito obrigado.
https://expressaosergipana.com.br/2016/07/12/ze-de-juliao-muito-alem-do-cangaco-do-cinesta-hermano-penna-e-exibido-em-sergipe/
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