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quinta-feira, 14 de julho de 2016

DOMINGO Á TARDE EM POMBAL

Por Jerdivan Nóbrega de Araújo

“O que você vai fazer domingo à tarde?

A Difusora do Lord Amplificador anunciava o novo LP de Antônio Marcos. As seis faixas seriam rodadas sem intervalos para em seguida abrir espaço para os ouvintes oferecer músicas aos corações apaixonados que perambulavam pelas imediações da Praça do Centenário.

“Preciso saber o que você vai fazer domingo à tarde.”

O vazio que me tráz os domingos de hoje, com a televisão ás altura para abafar o meu soluço e amenizar a minha solidão, me faz lembrar as tardes de domingo daquele Pombal. O planejamento começava na sexta feira: iríamos tomar banho no rio pela manhã ou catar Cajá no Araçá? Será que os trapiás e as pinhas que colocamos dentro do pote lá na Casa de Farinha já estão maduros?

- Hoje, faço outras indagações:

Será que ainda existe o trapiá ou Casa de Farinha lá na “Outra Banda”?
Será que mestre Álvaro ainda faz telhas para aqueles lados?

- Será que eu ainda existo?

E essa música de Antônio Marcos que voltou do nada aos meus ouvidos? Será apenas o meu fantasma me puxando pelas mãos para passear nas ruas de Pombal, em um domingo à tarde de 1973?


Os domingos à tarde em Pombal eram únicos. Não me refiro aos domingos pela manhã e sim os domingos à tarde. Não me lembro se era frio ou se fazia calor insuportável. Naquele tempo, não tínhamos esta preocupação. As mãos marginais que fugiam, por entre as grades da velha Cadeia ainda me assustavam, mas, não tínhamos a preocupação de fechar as portas de casa ao sair para nos divertir nas praças ou no rio.

Tínhamos o futebol na calçada da Igreja do Rosário. O São Cristóvão enfrentaria o Selecionado da Rua dos Pereiros, e a procissão de cachaceiros voltava da beira do rio fazendo algazarra.


Aos domingos não tínhamos o vendedor de carvão, que era substituído pelo de Quebra – Queixo. A Banda tocou uns dobrados no coreto, e os componentes já estão embriagados, contando farofa.

As crianças mais privilegiadas eram vistas aprendendo andar de Bicicleta Monareta em volta da Praça do Centenário. Por que eu não tinha inveja deles? Hoje, eu sempre quero um carro melhor do que o do meu vizinho. Dona Eliane me encontrava vadiando na praça central e me alertava para o “dever de casa” que até àquelas horas eu ainda não havia feito: como ela sabia? A professora sabia da minha vida!


Uma matinê no Cine Lux estava na programação. O badalar do Sino da Velha Matriz me convoca, mas para ele eu nunca dei ouvidos.

- Assumirei esta dívida...

“Por que chora, à tarde seu pranto entristece o caminho
Por que chora, se tem a beleza do sol e da flor
Por que chora, à tarde sabendo que existe outro dia
E a alegria depois da tormenta, é dia de Sol”

Antônio Marcos continua a inebriar os corações com suas belas melodias e voz entorpecente. Era outra música que pulava de dentro de mim como se quisesse me arrastar aos domingos à tarde de Pombal. Por que veio a minha mente duas músicas que falam de tardes memorosas? O que há dentro de mim que não me deixa em paz, trazendo de volta algo que preciso esquecer?

“Por que chora, à tarde no rio salpicando o seu leito
Por que chora, gritando ao vento angústias e dor
É que à tarde já sabe que alguém carregou meu carinho
“Eu compreendo que também a tarde, soluça de amor.”


Não posso querer de volta o Cine Lux, o Circo Continental ou as partidas de futebol do São Cristóvão. Não me é de direito exigir que o tempo não passe para mim, se não é possível parar também para os outros. Se o fantasma que habita a minha lembrança trouxe de volta as tardes de domingo de Pombal, fazendo ressurgir em minha mente as fisionomias jovens dos meus amigos; amigos que hoje carregam o peso do mundo em suas costas, não é justo que eu tenha isto só para mim.

“A tarde está chorando por você
Por que assiste a solidão no meu caminho
A tarde entristeceu junto comigo
E eu preciso desta tarde como abrigo”

Eu choro pelos amigos e pelas paisagens da minha cidade. Choro pelos escombros do Cine Lux e dos velhos sobrados. Choro pelos amigos aquietados nos cemitérios de Pombal. Eu choro pelos pais e mães que em uma tarde de domingo carregaram os seus filhos até o último endereço.

“A tarde está chorando por você
Ela sabe que o amor partiu para sempre
Seus passos vão sumindo pela estrada
E esta chuva faz a tarde tão molhada”

Que não me venham à mente, nunca mais, as lembranças das tardes de domingo de Pombal. Eu não preciso deste sofrer gratuito. Eu prefiro esquecer e enterrar junto ao meu corpo frágil e debilitado pela solidão e saudade as lembranças que tanto quero de volta.

O que vamos fazer domingo à tarde?

Enviado pelo professor, escritor, pesquisador do cangaço e gonzaguiano José Romero de Araújo Cardoso

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

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