Material do acervo do pesquisador do cangaço
“Eles não
podem ser encarados como verdadeiros delinquentes uma vez que não havia entre
eles e a sociedade aquilo que se chama semelhança social, harmonia de
compreensão de deveres. Para eles, a figura de “Lampião” não era somente de
chefe, a quem obedeciam, mas, sobretudo representava um princípio de
autoridade, e, em torno de certas determinações, eles sentiam a última extensão
da influência do poder público.”
REGENERAM-SE
NO PRESÍDIO
OS
COMPANHEIROS DE “LAMPIÃO”
Dos dez que se
encontram detidos, em Alagoas, sete já aprenderam a ler e a escrever, e todos
se revelam obedientes e trabalhadores.
Os Remanescentes do Bando de “Lampião”
Lembramo-nos de que a penitenciária de Maceió haviam sido recolhidos os remanescentes do bando de “Lampião”.
- Que nos diz deles? – perguntamos ao nosso entrevistado.
- A sua pergunta vem a tempo. Agora mesmo encaminhei ao ministro da Justiça, por intermédio do interventor federal, uma exposição na qual estudo o aspecto jurídico e social da prisão, apresentando em linhas gerais o meu pensamento a respeito desses homens que se têm revelado no presídio trabalhadores obedientes e alguns até estudiosos.
São dez os remanescentes e sete aprenderam a ler e
escrever. Eu acho que o governo devia dar-lhes liberdade, localizando-os em
pontos diferentes do Brasil, pois eles não podem ser encarados como verdadeiros
delinquentes uma vez que não havia entre eles e a sociedade aquilo que se chama
semelhança social, harmonia de compreensão de deveres.
Para eles, a figura de
“Lampião” não era somente de chefe, a quem obedeciam, mas, sobretudo
representava um princípio de autoridade, e, em torno de certas determinações,
eles sentiam a última extensão da influência do poder público. Logo, penso que
podem regressar ao meio social os últimos homens do grupo de “Lampião”, embora
vigiados e sendo dado a cada um uma profissão certa. Vejamos, como um exemplo,
o motivo que levou essa gente para a estrada do crime.
O escritor Sérgio Dantas e o cangaceiro Vinte e Cinco
José Alves de Matos,
vulgo “Vinte e Cinco”, confessou que entrara no grupo fascinado pela roupa que
usavam os seus homens, que ele conhecia de longa data, mas suas passagens pelo
local onde morava, e onde nunca causaram males a pessoas, limitando-se a
satisfazer suas necessidades de alimentação. (Os outros foram mais ou menos
assim) “Vinte cinco é um rapaz de vinte e poucos anos, como todos os outros.
Ingressou, portanto, ainda quase criança, no bando.
(Trecho da entrevista concedida pelo senhor José Romão de Castro, diretor da Penitenciária de Maceió)
O GLOBO –
07/01/1943
Imagens: 1. Os
remanescentes do grupo de Lampião. Em duas fotografias ainda lembram, pela
indumentária, e armas que ostentam, os inquietos dias do cangaço nos sertões do
Nordeste. Os cabelos são longos, revoltos, falam de tumultos, e dão mais
acentuada nota romântica à existência errante dos bandoleiros, que hoje já não
possuem essas características “revolucionárias”, como se pode ver na terceira
fotografia. Estão na Penitenciária de Maceió, são pacíficos e trabalhadores, e
já aprenderam até a ler e escrever;
2. Senhor José Romão de Castro, diretor da Penitenciária de Maceió.
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