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terça-feira, 23 de agosto de 2016

REGENERAM-SE NO PRESÍDIO OS COMPANHEIROS DE “LAMPIÃO”

Material do acervo do pesquisador do cangaço 

“Eles não podem ser encarados como verdadeiros delinquentes uma vez que não havia entre eles e a sociedade aquilo que se chama semelhança social, harmonia de compreensão de deveres. Para eles, a figura de “Lampião” não era somente de chefe, a quem obedeciam, mas, sobretudo representava um princípio de autoridade, e, em torno de certas determinações, eles sentiam a última extensão da influência do poder público.”


REGENERAM-SE NO PRESÍDIO
OS COMPANHEIROS DE “LAMPIÃO”

Dos dez que se encontram detidos, em Alagoas, sete já aprenderam a ler e a escrever, e todos se revelam obedientes e trabalhadores.

Os Remanescentes do Bando de “Lampião”

Lembramo-nos de que a penitenciária de Maceió haviam sido recolhidos os remanescentes do bando de “Lampião”.

- Que nos diz deles? – perguntamos ao nosso entrevistado.

- A sua pergunta vem a tempo. Agora mesmo encaminhei ao ministro da Justiça, por intermédio do interventor federal, uma exposição na qual estudo o aspecto jurídico e social da prisão, apresentando em linhas gerais o meu pensamento a respeito desses homens que se têm revelado no presídio trabalhadores obedientes e alguns até estudiosos. 



São dez os remanescentes e sete aprenderam a ler e escrever. Eu acho que o governo devia dar-lhes liberdade, localizando-os em pontos diferentes do Brasil, pois eles não podem ser encarados como verdadeiros delinquentes uma vez que não havia entre eles e a sociedade aquilo que se chama semelhança social, harmonia de compreensão de deveres. 


Para eles, a figura de “Lampião” não era somente de chefe, a quem obedeciam, mas, sobretudo representava um princípio de autoridade, e, em torno de certas determinações, eles sentiam a última extensão da influência do poder público. Logo, penso que podem regressar ao meio social os últimos homens do grupo de “Lampião”, embora vigiados e sendo dado a cada um uma profissão certa. Vejamos, como um exemplo, o motivo que levou essa gente para a estrada do crime. 

O escritor Sérgio Dantas e o cangaceiro Vinte e Cinco

José Alves de Matos, vulgo “Vinte e Cinco”, confessou que entrara no grupo fascinado pela roupa que usavam os seus homens, que ele conhecia de longa data, mas suas passagens pelo local onde morava, e onde nunca causaram males a pessoas, limitando-se a satisfazer suas necessidades de alimentação. (Os outros foram mais ou menos assim) “Vinte cinco é um rapaz de vinte e poucos anos, como todos os outros. Ingressou, portanto, ainda quase criança, no bando.

(Trecho da entrevista concedida pelo senhor José Romão de Castro, diretor da Penitenciária de Maceió)
O GLOBO – 07/01/1943

Imagens: 1. Os remanescentes do grupo de Lampião. Em duas fotografias ainda lembram, pela indumentária, e armas que ostentam, os inquietos dias do cangaço nos sertões do Nordeste. Os cabelos são longos, revoltos, falam de tumultos, e dão mais acentuada nota romântica à existência errante dos bandoleiros, que hoje já não possuem essas características “revolucionárias”, como se pode ver na terceira fotografia. Estão na Penitenciária de Maceió, são pacíficos e trabalhadores, e já aprenderam até a ler e escrever; 

2. Senhor José Romão de Castro, diretor da Penitenciária de Maceió.

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