Por Jerdivan
Nóbrega de Araújo
Não sei bem a
data de nascimento e da sua morte, o que não impede que eu faça uma homenagem a
Maloura, o que vai ser completado, tantos pelos parentes como Socorrinha e João
Maria de Cabine, que eram seus sobrinhos, como pelos que a conheceram na rua de
baixo da Pombal da década de 1960.
Maloura era
enfermeira e parteira. Morava na Rua de Baixo e era nossa vizinha do lado
esquerdo. Defronte a casa de Maloura tinha um terreno baldio, onde se armavam
os circos e também jogávamos futebol. A trave do lado oeste ficava exata na
porta da sua casa. Era comum, e não havia como evitar, as boladas nas suas
paredes e portas. Mas, por incrível que possa parecer, isso nunca irritou
Maloura, já que pelo menos três dos jogadores eram seus sobrinhos (Zé Willame,
Boró e João Maria). Mas, o que a deixava irritada mesmo era mexer com as
plantas do seu jardim e, em particular, nos pés de pimentas. E nós crianças
sabíamos disso.
Como parteira
ela foi a responsável por trazer ao mundo todos os moleques da Rua de Baixo,
(lá em casa foram sete que vieram através da sua assistência). As parturientes
só chamavam Maloura quando faltavam poucos minutos para o bebê nascer. Isso por
conta da sua pouca paciência. Ela já chegava reclamando, tipo: “mais um moleque
pra passar fome nesse mundo...”, “... as mulheres da Rua de Baixo parecem às
jumentas de Godô pra dar cria...”, ”... Se pelo menos soubessem criar como
sabem fazer...”. ou “ espero dá tempo eu chegar em casa, antes de voltar para o
próximo”. Isso tudo era enquanto fazia o parto.
Maloura era
chamada carinhosamente pelos meninos da Rua de Baixo por “mãe Maloura”, e
muitos até lhes tomavam a benção.
Eu até fiz
isso uma vez:
- Bênção, mãe
Maloura!
- Nem sou sua
mãe e nem tampouco gosto dela. Foi a resposta.
De fato, mesmo
sendo a parteira oficial lá de casa, como já falei, as duas não se davam bem e
a culpa era nossa: nada era melhor do que “aperrear” Maloura, fosse mexendo nos
seus pés de pimentas, de Capim Santo ou batendo a sua porta, e sem seguida
correr para se esconder nas esquinas.
Não nos
julguem: éramos crianças nas ruas de Pombal da década de 1960, e por estas
presepadas éramos repreendidos por nossos pais.
Lembro-me da
vez, na minha inocência de seis ou sete anos de idade, mandaram que eu fizesse
uma brincadeira como Maloura. Bati a sua porta de lá e...
Eu:
- Maloura, na
rua tem tanto.
Ela:
- o que,
menino?
Eu:
- pinico sem
tampa.
Por isso não
fui perdoado em casa.
Fica assim a
minha lembrança à memória de “mãe” Maloura: enfermeira, parteira e benfeitora
da Rua de Baixo.
Enviado pelo professor, escritor, pesquisador do cangaço e gonzaguiano José Romero de Araújo Cardoso
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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