Por José Bezerra Lima Irmão
A volante do
sargento Zé Rufino era sediada na Serra Negra, na divisa da Bahia com Sergipe.
Quando não estavam nos matos caçando cangaceiros, os soldados matavam o tempo
perambulando pelo povoado, jogando baralho e sinuca, fumando e bebendo.
Tenente Zé Rufino
No dia 25 de
outubro de 1936, Zé Rufino encontrava-se na Serra Negra quando foi informado de
que a cidade sergipana de Porto da Folha estava prestes a ser invadida por
cangaceiros de Lampião. Sem perda de tempo, o comandante pôs a tropa na
estrada. Não seguiu, contudo, o roteiro natural, que seria por Monte Alegre —
viajou no sentido de Carira, a fim de iludir a vigilância dos coiteiros, pois
se fosse por Monte Alegre com certeza alguém correria na frente a fim de avisar
aos bandidos.
A viagem foi
feita a pé. Na fazenda Venturosa, antes do povoado Cipó-de-Leite, os soldados
mudaram de rumo e entraram em Sergipe, rompendo pelas Aningas, Cumbuqueiro,
Serrinha e Baixa Limpa, e à noite, estropiados e famintos, chegaram à Boca da
Mata, como era conhecida a atual cidade de Nossa Senhora da Glória. Era um
domingo. A maioria dos moradores já estava dormindo. Quando se ouviu o rebuliço
da tropa, pensou-se que era Lampião. Começou a correria. Zé Rufino tranquilizou
todos: era uma força da Bahia, não tivessem receio.
A pretexto de
colher informações, Zé Rufino passou dois dias na Boca da Mata, sem, contudo,
dar pistas do seu destino. Na quarta-feira, dia 28, a volante pegou o caminho
de Feira Nova, mas, antes da fazenda Quixaba, dobrou à esquerda, pela estrada
de São Mateus, indo pernoitar na fazenda Malhadas, onde recebeu uma noticia
desalentadora: acabara de passar por ali a volante sergipana de Zé Luís. Para
Zé Rufmo isso significava o fim da surpresa por ele planejada, pois os
cangaceiros com certeza já estavam sabendo que havia polícia na área. Mas, por
outro lado, como os cangaceiros não tinham medo da polícia de Sergipe, era até
bom que eles pensassem que por ali só havia aquela força sergipana.
No dia 29, os
homens da volante passaram por um riacho seco, em cujo leito se encontravam a
intervalos pequenos poços de água, onde nadavam piabas e outros peixes
pequenos. João Doutor foi ver se pegava umas piabas. Zé Rufino caçoou
dele:
— Dexa de
bestera, Doutô, sordado foi feito foi pra pescá cangacero!
João Doutor e
Bentevi seguiam na frente e terminaram distanciando-se dos outros. Depois de
subirem uma ladeira, pararam à sombra de uma quixabeira, a fim de esperar pelos
companheiros, já que o sol começava a esquentar. Numa vereda que passava pela
quixabeira, notaram que havia rastros de pessoas. Quando o rastejador chegou,
mostraram a ele.
— Os rasto é
de hoje, desta madrugada — assegurou o experiente Gervásio.
Deixaram então
a estrada e seguiram pela vereda, Gervásio na frente. Logo adiante, chegaram a
um tanque e, misteriosamente, os rastros sumiram. Era como se as pessoas que
chegaram até ali simplesmente tivessem se encantado. O soldado Capão, não se
sabe se por brincadeira ou a sério, opinou:
— Eu acho qui
os cangacero tão é dento desse tanque...
Gervásio, João
Doutor e Capão destacaram-se do grupo e foram ver se no outro lado do tanque
havia rastros. Avistaram então um garoto de uns 12 anos de idade que carregava
alguma coisa enrolada num pano. Perguntaram o que é que ele ia levando, e o
garoto, meio nervoso, respondeu que era comida para uns trabalhadores na
roça.
Desconfiando,
Capão desembainhou o punhal e segurou o menino, ameaçando: — Oi aqui, seu
pestinha, eu vou lhe matá se você nun conta a verdade... O garoto manteve-se
filme, dizendo que a comida era para uns trabalhadores de seu pai. Gervásio,
sabendo que Capão era meio doido, puxou o garoto para si e falou:
— Nóis sabe
qui o seu pai é amigo dos bandido. Seu pai tá cum eles agora, nun tá? É pur
isso qui você nun qué falá?
— Eu já diche
qui nun sei nada de bandido, tô levano cumida é pra uns trabaiadô.
João Doutor
perdeu a paciência:
— Se qué falá,
fale, e seu pai nun morre, mais se nun qué fala, seu pai vai morrê junto cum os
bandido!
— Nun sei nada
de bandido — repetiu o garoto.
Nesse
instante, viram Bentevi e Alípio no paredão do tanque fazendo gestos para que
todos se reunissem. Pelo jeito, tinham descoberto alguma coisa. Gervásio levou
o garoto a Zé Rufino e expôs as suspeitas de que ele estava levando comida para
os cangaceiros. Zé Rufino não mostrou interesse imediato pelo menino, pois
Bentevi e Alípio tinham encontrado os rastros. Apenas perguntou ao menino como
era o nome daquele lugar.
— Cangalexo —
respondeu o garoto.
— Cangalexo?
Municipo de onde?
— Sei não
sinhô...
— E de quem é
esta fazenda?
— Do meu
pai.
— Eu proguntei
o nome! — agastou-se o comandante.
— Chamam ele
de João do Pão...
Zé Rufino
pensou um pouco e disse:
— Vamo vê os
rasto. Isso aqui ou é Gararu ou é Porto da Foia. E tragam esse muleque.
Os rastros
partiam de umas pedras atrás do paredão do tanque. As pegadas eram nítidas,
recentes, e encaminhavam-se para uma zona de vegetação densa, com muita
macambira e xiquexique. Os homens seguiam atentos. Zé Rufino tinha certeza de
que os rastros eram mesmo de bandidos, pois trabalhadores andam em caminhos que
levam a roças, só quem procura mata cerrada é bandido e caçador, mas caçador
não caminha tentando esconder os rastros.
O comandante
dividiu a volante em três grupos. Mandou que Valdemar, Jovino, Juazeiro, Capão
e Paulo de Tavinha seguissem pelo lado direito. Pelo outro lado foram Zé
Monteiro, Hercílio, João Venâncio e João Redondo. Pelo centro seguiu o restante
da volante, inclusive Zé Rufino, o rastejador e o cabo Miguel. Zé Rufino mandou
que Doutor, João Pereira, Zé Martins e Bentevi fossem na frente. Os homens
movimentavam-se em silêncio, pisando de leve na folhagem, cautelosamente,
certos de que estavam próximos do coito dos bandidos. E não se enganaram. Logo,
ouviram ruídos.
Os soldados
aproximaram-se, agachados por trás das macambiras, comunicando-se por gestos.
Adiante, sob uma árvore, avistaram quatro cangaceiros que estavam jogando
baralho, sentados num lajedo. Os soldados pararam um pouco, esperando Zé
Rufino, que tinha ficado para trás. O comandante é quem deveria ordenar o
ataque.(1589)
Mariano
escolhera aquele local com todo cuidado, pois sua mulher, Rosinha, estava em
avançado estado de gravidez. Naquele momento, ele e Rosinha estavam descansando
numa barraca à sombra de um umbuzeiro, enquanto ouviam, a certa distância, as
discussões e xingamentos dos companheiros com seus trapacentos jogos de cartas.
Instantes atrás, Zabelê exaltara-se, pois estava perdendo todas as partidas,
queria até rasgar o baralho, mas os outros não deixaram. Porém agora os cabras
estavam mais calmos.
Os que estavam
jogando eram Pai Véio, Lavandeira, Zabelê e o coiteiro João do Pão. O
cangaceiro Criança estava peruando o jogo, de pé, filmando. Depois chegou
Quixabeira, que estivera andando pelos matos. Reclamando do calor, Quixabeira
tirou o chapéu de couro e ficou abanando-se com ele. Criança jogou o toco do
cigarro fora e dirigiu-se à tenda de Mariano. Não sabiam eles que se
encontravam sob a mira dos fuzis de quatro soldados da volante do tenente Zé
Rufino, postados atrás de umas touceiras de macambira, tão próximos que podiam
ouvir as suas conversas.
O soldado
Bentevi encarregou-se de matar Criança e Quixabeira, os que estavam de pé,
enquanto que Doutor, João Pereira e Zé Martins se concentraram nos que estavam
jogando. Quando fizeram sinal para Zé Rufino, apontando para além das
macambiras, o comandante levantou o polegar, autorizando o ataque. Os soldados
atiraram a um só tempo, abatendo logo dois cabras, mas os outros, de forma
inexplicável, saltaram como se fossem impulsionados por molas e embrenharam-se
no mato, sem sequer esquecer as armas, pois no mesmo instante já estavam
respondendo aos tiros da volante, gritando, xingando, ameaçando.
Os outros
soldados, ao ouvirem os disparos, correram na direção dos tiros. Zé Rufino e
Miguel gritavam ordens, orientando-os para o cerco aos bandidos. Rosinha estava
grávida, não podia correr, e Mariano não a abandonaria naquela situação
extrema. Era um cabra incapaz de abandonar um amigo, quanto mais a sua
companheira. Que todos fugissem, menos ele. Mandou que ela se entocasse atrás
de uma touceira de macambiras, enquanto ele, protegido por um pé de imburana,
sustentava o fogo a fim de conter o avanço da volante.
Em instantes,
toda a área ao redor da imburana ficou ofuscada com a fumaça do seu fuzil.
Miguel e Artur rodearam pelo mato. orientando-se pela fumaça que envolvia o pé
de imburana, e foram postar-se do outro lado. Mariano percebeu a manobra e
compreendeu que ia ser cercado. Ainda dava para fugir. Não sabia se os
companheiros estavam mortos ou se tinham fugido.
Mas Rosinha
estava ali, não podia abandoná-la — um cabra do Pajeú é homem até à morte.
Prosseguiu atirando, ora na direção do grosso da volante, ora nos soldados que
se postaram à suas costas. Sem poder enxergar direito, devido ao fumaceiro,
Miguel e Artur atiravam na direção do tronco da imburana. Se havia alguém ali,
não tinha como escapar. Como estava muito próxima, Rosinha viu quando o corpo
de Mariano foi sacudido por um balaço que lhe espatifou a coxa esquerda.
Então ela,
desesperada, saiu correndo no meio da fumaça, gritando pelos companheiros, e
por sorte encontrou-os. — Pelo amô de Deus, socorram Mariano! Ele tá findo! Ele
tá atrais daquele pé de imburana! Os cangaceiros foram rastejando até o local
onde Mariano se encontrava, acharam o corpo, estava vivo, tossindo, sufocado
pela fumaça, mas consciente, mandando que fugissem: — Me larguem, fujam, levem
Rosinha, ela pricisa sarvá meu fio!...
Dois
cangaceiros agarraram o corpo e saíram correndo com ele pelo mato, enquanto os
outros davam cobertura. Porém os soldados perceberam o que estava acontecendo e
se puseram em seu encalço. Mariano ordenava aos companheiros:
— Me larga! Me
larga! Me largal... Fujam!... Levem Rosinha, ela pricisa sarvá meu fio!... Me
larga! Me largal...
Como os
companheiros não o obedeciam, ele puxou a pistola e ameaçou:
— Ou me larga,
ou eu mato voceis!
Os
companheiros fugiram, levando Rosinha, ora correndo, ora praticamente arrastada.
Sozinho, sem nenhuma esperança de salvação, mas sem perder a bravura, Mariano
aguardou a aproximação da volante atirando com a pistola até acabar a munição.
Os soldados, percebendo que o cangaceiro não tinha mais balas, cercaram-no e
esperaram a chegada de Zé Rufino. O comandante chegou ofegante, pisou no corpo
do cangaceiro e perguntou: — Cuma é o seu nome, cabra?
1589
Coordenadas do local do ataque, onde há uns lajedos, a 300 metros do tanque do
Carifi: 10° 01' 40.80" S, 37° 19' 31.10" W. João do Pão era um
fazendeiro de posses consideráveis — sal fazenda, na margem direita do Rio
Capivara, no município de Gararu, a uma légua do povoado São Mateus, tinha mais
de 2.000 tarefas. Entrevista do autor com José dos Santos (Zeck de Salu) no
Cangaleixo, no dia 3.1.2010.
Mariano não
respondeu. Apenas mordia os lábios, de dor ou de raiva. Zé Rufino deu um chute
nas costelas do cangaceiro, e insistiu:
— Eu tou
proguntano cuma é o seu nome, seu disgraçado!
Bentevi
considerou: — Eu acho que esse aí ou é Mariano ou é Anjo Roque...
Então Zé
Rufino se lembrou de que num combate em 1934 Mariano tinha recebido um
ferimento na perna. Mandou que rasgassem a calça do bandido. Quando rasgaram o
tecido, lá estava o ferimento, acima do joelho — ferimento recebido na fazenda
Nica, quando a polícia prendeu sua primeira mulher, Otília. A alegria de Zé
Rufino e seus comandados foi demais.
— E Mariano! —
exclamou Zé Rufino.
E ordenou: —
Paulo de Tavinha, mate o cabra! Mais tenha coidado cum a cabeça, qui eu priciso
dela!
Paulo de
Tavinha sacou o parabelo, aproximou-se do ferido e descarregou a arma: 8 tiros.
Mariano arfou, estrebuchou-se, mas continuava vivo. Paulo de Tavinha recarregou
o parabelo e despejou de novo no corpo do cabra todas as 8 balas... mas não
conseguia matar o homem, que fixava o algoz com olhar desafiador.
Bentevi perdeu
a paciência — desembainhou o facão, agarrou a cabeça do bandido pelos cabelos e
com dois golpes separou-a do corpo. Zé Rufino acocorou-se, a fim de recolher os
pertences do defunto. Primeiro pegou a pistola. Os bolsos e os bornais
continham dinheiro, peças de ouro, inclusive muitos anéis e alianças. Num dos
bolsos da calça, encontrou um relógio. O comandante olhou a hora.
Comentou:
— Curioso
isso... é 10 hora e 10 minuto, e nóis tamo im outubro, qui é o meis 10... O ano
é 1936. Dexe vê: 1 mais 9 é iguá a 10... 10, nove fora, 1; 1 mais 3 é iguá a 4;
e 4 mais 6 é iguá a 10... E tudo 10... Qui dia é hoje do meis?
— Hoje é 29 —
informou o cabo Miguel Bezerra.
— E 29, nove
fora, 2!
O comandante
reagiu:
— Cala essa
boca, seu burro! Qué atrapaiá mias conta?
Satisfeito com
a agudeza de sua inteligência, Zé Rufino enfiou o relógio na algibeira e
ordenou: — Vamo procurá os outo morto! Voltando ao ponto do início do combate,
onde os cangaceiros estavam jogando cartas, encontraram dois corpos. Saberiam
depois que um era o cangaceiro Pavão e o outro era o coiteiro João do Pão — o
pai do garoto que encontraram no caminho.
Zé Rufmo
aproximou-se e, ao notar que os bolsos dos mortos estavam revirados para fora,
berrou, furioso:
— Tem ladrão
aqui! Eu só quiria sabê quem foi o cachorro qui já feis a limpal... Peguem as
arma e as cartuchera do cabra!
Enquanto os
soldados vasculhavam a área à procura de outros mortos, ouviram-se uns tiros.
Todos correram para ver o que estava acontecendo, e avistaram Alípio e Miguel
deitados no chão, atirando em direção a uma moita, de onde também vinham tiros.
Os soldados cercaram o atirador solitário.
Encontraram um
cangaceiro já baleado, e então Alípio deu o tiro de misericórdia, acertando um
balaço em sua cabeça. Acabava de ser morto o cangaceiro Pai Véio. Zé Rufino fez
uma verificação superficial nos bolsos e bornais do morto, e foi condescendente:
— Pra nun dizê
qui eu sou fominha, desse aí podem pegá o qui quisere...
Os soldados
voaram em cima do morto, cada um arrancando para si o que interessava ou era
possível. Geralmente os cangaceiros levavam consigo tudo o que possuíam — dinheiro,
joias, relógios. O momento mais esperado pelos homens das volantes era aquele —
a hora do saque. Zé Rufino presenciava tudo, para evitar brigas, e também por
interesse, pois se fosse encontrado algo especial ele faria prevalecer a sua
autoridade, reivindicando-o para si. Na confusão, o garoto fugiu. (1590)
No início da
tarde, a volante de Zé Rufino entrou triunfante em Porto da Folha, exibindo as
cabeças dos cangaceiros. O comandante mandou reunir o povo na frente da Igreja
de Nossa Senhora da Conceição e ordenou que fizessem uma festa. As cabeças
ficaram expostas na prefeitura. O mais aliviado era o comerciante Zé Brechinha,
que tinha recebido um bilhete de Mariano solicitando cinco contos de
réis.
Zé Rufino
resolveu levar as cabeças para Jeremoabo. Ao passar por Pão de Açúcar, elas
foram fotografadas por João Damasceno Lisboa. Até então, aquele era o maior
feito de Zé Rufno. Mariano não era um cangaceiro qualquer. Ele acabava de pegar
um dos maiorais da história do cangaço.
1590 Os
autores não se entendem quanto à data da morte de Mariano. Frederico Bezerra
Maciel diz que teria sido em 27.10.1936: ob. cit., v. IV, p. 216. Felipe de
Castro, em Derrocada do Cangaço no Nordeste, indica duas datas: 29.10.1936 (p.
65, no município de "Caruaru") e 10.9.1936 (p. 221). Frederico
Pernambucano de Mello, cm Guerreiros do Sol, diz que teria sido no dia
10.10.1936 (p. 240-241), porém na legenda das fotos das cabeças ele registra
29.10.1936 (p. 3921393). Iaperi Araújo aponta o dia 25.10.1936: A Cabeça do Rei,
p. 201-202. Já segundo Hilário Lucetti e Magérbio de Lucena, teria sido no dia
26.10.1937 (um ano depois): ob. cit., p. 141/143. Alcino Alves Costa dá a
entender que teria sido em 10.10.1937: Lampião Além da Versão, p. 321/328. José
Anderson Nascimento situa o fato no início de outubro de 1937 (por volta do dia
2): ob. cit., p. 262/268. Também Antonio Amaury Corrêa de Araújo registrou a
morte de Mariano em 1937: Gente de Lampião — Sila e Zé Sereno, p. 140. Joaquim
Góis não cita a data: ob. cit., p. 1911200.A data correta é 29.10.1936,
conforme telegrama passado pelo sargento José Rufino para o capitão João Facó,
chefe de polícia da Bahia, transmitido de Porto da Folha, no dia 29, às 15
horas, no qual afirma: "... consegui hoje 10 horas tirotear com grupo de
bandidos de Mariano. Foram mortos os seguintes bandidos: Mariano, Pai Velho e
Zepelim." A íntegra do telegrama foi publicada nos jornais Diário de
Noticias (Salvador), de 31.10.1936, p. 1, e O Imparcial (Salvador), de
31.10.1936, p. 8. O jornal O Estado de Sergipe (Aracaju), de 30.10.1936, p. 1,
informa que as cabeças chegaram a Porto da Folha "às 10h de ontem".
Esse mesmo jornal, na edição do dia 1°.11.1936, p. 1, cita o dia 20, porém mais
adiante corrige: dia 29. O fato é mencionado ainda na edição do dia 10.11.1936,
p. 1. O fato foi noticiado também no Correio de Aracaju, de 27 e 30.10.1936.
Pensou-se inicialmente que os mortos seriam Mariano, Pai Véio e Zepelim, porém
depois se descobriu que em vez de Zepelim quem morreu foi Pavão (Zepelim viria
a morrer a 22.4.1937 na fazenda Arara, na região de Poço Redondo, então
município de Porto da Folha). Quanto a Pai Véio (Moitintia), cumpre não
confundi-lo com outros homônimos, a exemplo daquele também conhecido como Velho
Faustino (pai de Arvoredo), que já havia morrido — morreu na Casa de Detenção
de Salvador. Nertan Mgccdo afirma erroneamente que um dos mortos se chamava
Devoção: Lampião — Capitão Virgulino Ferreira da Silva, p. 199. O erro foi
repetido por Joaquim Góis (Lampião — o Ultimo Cangaceiro, p. 199) e Rodrigues
de Carvalho (Lampião e a Sociologia do Cangaço, p. 215).
Mariano
Laurindo Granja estava com Lampião havia 12 anos, desde fugira para a Bahia, em
1928. Descendia de família de certo destaque, mas poucos o chamavam assim, só
os íntimos, pois ele não gostava do apelido. Era um cangaceiro comunicativo,
sereno, bem-humorado, onde estava inesgotável de piadas. Tocava sanfona. E era
sobretudo leal aos amigos. (1591)
Viera com ele
de Pernambuco, quando o bando de Afogados da Ingazeira. Seu apelido era Cabeção.
Fazia todo mundo dar gargalhadas com o seu repertório inesgotável de piadas.
Tocava sanfona e era sobretudo leal aos amigos.
As cabeças de
Mariano, Pai Veio e Pavão (de início, Pavão foi identificado erroneamente como
Zepelim)
1591 Rodrigues
de Carvalho, ob. cit., p. 211-212. Hilário Lucetti e 1v1agérbio de Lucena, ob.
cit., p. 137/139. Frederico Pernambucano de Mello, Guerreiros do Sol, p.
240.:241.
FONTE: Livro LAMPIÃO: RAPOSA DAS CAATINGAS pag. 513 sob o tema A morte de Mariano nos ermos do Cangaleixo
1591 Rodrigues de Carvalho, ob. cit., p. 211-212. Hilário
Lucetti e 1v1agérbio de Lucena, ob. cit., p. 137/139. Frederico Pernambucano de
Mello, Guerreiros do Sol, p. 240.:241.
FONTE: Livro LAMPIÃO: RAPOSA DAS CAATINGAS pag. 513 sob o tema A morte de
Mariano nos ermos do Cangaleixo
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