*Rangel Alves
da Costa
Muito triste e
doloroso perceber que para muitos tanto faz que Poço Redondo tenha história ou
não, que tanto faz que seja rico em tradições ou que seja um município
privilegiado em importantes aspectos. Lamentável que toda riqueza espalhada
pelos seus quadrantes, desde a ponta da serra à beirada do rio, seja
simplesmente negligenciada ou negada. Até o natural não conhece as
potencialidades de seu rincão sertanejo, não conhece suas raízes nem a
importância que sua terra possui no cenário nordestino e brasileiro.
Angustiante
perceber que sequer reconhecem o valor histórico da Gruta do Angico (chacina do
bando de Lampião em 38), da Fazenda Maranduba (uma das maiores batalhas
travadas entre cangaceiros e volantes), do Poço de Cima (a primeira povoação),
da Cachoeira do Bom Jardim, do Sítio Arqueológico do Charco, das cruzes da
estrada do Curralinho, do acervo histórico de toda a margem ribeirinha, da
Serra da Guia e sua comunidade quilombola, das povoações ribeirinhas e seus
costumes e tradições, do Alto de João Paulo e suas raízes cangaceiras, do
Território de Maria do Rosário, do Morro da Letra, do casarão de Bonsucesso e
os resquícios das pedras escravas, da lendária figura de Zé de Julião.
Saliente-se que Dona Zefa da Guia é um monumento vivo, mas muito mais
reconhecido pelo forasteiro.
Por que não
proporcionar a valorização merecida a um artista original como Antônio Neto?
Ora, o exímio aboiador possui fama assegurada noutras regiões nordestinas, mas
não em Poço Redondo. Por que não valorizar a obra literária de escritores como
Edézio, Manoel Belarmino e tantos outros de rascunhos escondidos por falta de
apoio? Até mesmo a obra de Alcino Alves Costa seria renegada ao esquecimento
local se não fosse o surgimento de um memorial contendo o seu acervo e também
muito da história sertaneja. Dizem muito da perda da identidade e de seus
costumes, mas não reconhecem que as tradições somente permanecem com os
fazeres, os usos, a continuidade.
Talvez sequer
saibam que Poço Redondo é o maior município de Sergipe, é o que possui o maior
número de assentamentos e assentados, é o detentor da maior bacia leiteira do
estado (Santa Rosa do Ermírio), no seu chão está localizado o ponto mais
elevado de Sergipe, na Serra Negra (Serra da Guia), com 742m, que de sua terra
brota a nascente do rio Sergipe, na Serra Negra. Foi cenário, em 1975 e 1976,
respectivamente, dos cine documentários para o Globo Repórter “O Último Dia de
Lampião” (de Maurice Capovilla) e “A Mulher no Cangaço” (de Hermano Penna) e do
premiado filme “Sargento Getúlio” (em 1985, de Hermano Penna). Mais
recentemente serviu de cenário para o filme “Aos ventos que virão”, de Hermano
Penna, baseado na história de Zé de Julião. E ainda sobre este famoso
ex-cangaceiro e político, o mesmo diretor fez este ano o lançamento do
documentário “Zé de Julião - muito além do cangaço”. Saliente-se ainda que Poço
Redondo foi o município nordestino que mais contribuiu com cangaceiros para o
bando de Lampião, num total de 34 poço-redondenses, sendo 27 homens e 07
mulheres.
Como
observado, Poço Redondo possui riquezas, grandiosidades, aspectos históricos,
geográficos e artísticos relevantes demais para serem simplesmente deslembrados
ou premeditadamente esquecidos. Mas quem vem administrando o município faz de
conta que nada disso existe. E como será com o futuro prefeito? Uma resposta
difícil demais para o momento. Mas eu saberia muito bem o que fazer já no
primeiro instante: mapear todos os atrativos turísticos do município e, a
partir de então, elaborar uma eficiente política de preservação e de atração
turística, com a formação de guias e proporcionando boas condições de acesso.
Uma política
para a cultura e o turismo não no talvez ou no deixar para depois, pois com a
urgência requerida para o desenvolvimento municipal através da exploração
responsável das potencialidades, de eventos turísticos e da demonstração ao
Brasil e ao mundo do que temos de melhor e mais convidativo. E trazer de volta
ao chão sertanejo, com a pujança merecida, a cavalhada, a renda de bilros e as
bordadeiras, o autêntico forró, as danças e as tradições ribeirinhas, o xaxado,
os pífanos e muito mais. Por que a arte do Mestre Tonho e de outros mestres da
terra é tão renegada? O centro da cidade carece de uma suntuosa edificação que
sirva tanto para produção como para comercialização artesanal.
Ora, se
municípios vizinhos e empresários ganham rios de dinheiro explorando e vendendo
destinos turísticos pertencentes a Poço Redondo, por que não o próprio
município? O Cariri Cangaço, por exemplo, um evento de âmbito nacional e que
todo ano reúne centenas de pesquisadores, só não é realizado em Poço Redondo
por que não há apoio da gestão municipal. Será preciso, pois, acabar com a
cegueira administrativa e passar a ter olhos admiravelmente abertos para as
potencialidades da terra de Alcino Alves Costa.
Escritor
(natural de Poço Redondo)
blograngel-sertao.blogspot.com
http://blogodmendesemendes.blogspot.com
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