Por: Lidiana Justo
Ao longo da história, vemos surgir grandes vultos femininos que deixaram seu
legado de luta, de ruptura, de desafios à moral machista e burguesa. Seja na
luta pelo voto feminino, num corte de cabelo, no uso de uma mini-saia ou por
recusar-se a não se casar, ter filhos, enfim, atitudes aparentemente simples,
mas que repercutiram no tempo delas.
Anayde Beiriz nasceu na Parahyba, no dia 18 de fevereiro de 1905. Terminou seus
estudos na Escola Normal, e participou em 1925 de um concurso de beleza
patrocinado pelo Correio da Manhã. Lecionou em Cabedelo numa aldeia de
pescadores.
Anayde Beiriz
Foi uma mulher que quebrou tabus na provinciana cidade parahybana, professora, poetisa, uma mente brilhante e inquieta. Usava cabelos curtos a La garçonne, pintava suas madeixas,usava batom fumava, numa época em que as mulheres de recato não podiam sair às ruas, ela ousava e saia sozinha, sem acompanhantes e para completar, usava roupas provocantes e decotadas. Uma moça muito atraente e inteligente, recebeu o apelido de “olhos de pantera dormente”, de seus amigos íntimos.
Possuía idéias progressistas para época, estava sempre envolvida em saraus literários, além disso, defendia o voto feminino
Não se prendia a convenções. No que tange aos relacionamentos amorosos, teve um caso de amor nada convencional em 1928, com João Dantas, advogado e jornalista, que criticava a atuação de João Pessoa, então governador da Parahyba em seus escritos, e que era simpático ao coronel José Pereira de Princesa Isabel.
Veja o que ela escreveu sobre o matrimônio, em pleno anos 20 ela utilizou-se de sua arguta criatividade,para criticar a “escravidão” no lar:
““Nasci
Nasceu
Cresceu
Namorou
Noivou
Casou
Noite nupcial
As telhas viram tudo
Se as moças fossem telhas não se casariam...”
Anayde teve
sua vida marcada tragicamente, por uma desavença política de seu amante, com o
então governador da Parahyba. A polícia do estado invadiu a casa de João Dantas
em busca de armas ou algo que o incriminasse, queimaram arquivos pessoais,
destruíram móveis e arrombaram um cofre, onde era guardada correspondências
entre ele e Anayde Beiriz.
Em mãos desse “achado”, o jornal do estado, A UNIÃO, publicou nas páginas
principais as cartas íntimas do casal, um golpe baixo que manchou a reputação
já questionada de Anayde Beiriz, sua vida foi atingida em cheio por esse ato.
Fora isso, o Jornal que pertencia ao estado, vinha fazendo por seu turno, uma
campanha para denegrir a imagem de João Dantas.
Durante dias ficaram expostas as cartas que envolviam amigos, clientes, parentes e fotografias íntimas do casal, aberto ao público para visitações.
Inconformado, João Dantas com seu orgulho ferido aproveitou-se da presença de seu inimigo, João Pessoa, em Recife (ao que tudo indica, o mesmo foi encontrar-se com sua amante, a cantora lírica Cristina Maristany, pois esteve na joalheria Krause, de acordo com historiadores como Horácio de Almeida e Amarylio de Albuquerque) no dia 26 de julho (até hoje comemoramos essa data, “a morte de João pessoa”), para o acerto de contas.
João Pessoa encontrava-se na "Confeitaria Glória", na companhia de 3 amigos, João Dantas armado, aproximou-se se apresentando: “Eu sou João Dantas”, e em seguida, disparou 3 tiros. Esse acontecimento repercutiu a nível nacional, pois o governador compunha a chapa da AL, a vice presidência, sua morte foi utilizada como álibi pela AL, para fazer a “revolução ”, que na verdade não foi revolução, e sim, um rearranjo de oligarquias, episódica Revolução de 1930!!
A morte do governador acirrou os ânimos na capital, comoção geral, luto, bandeiras vermelha e preta nas janelas das casas.
João Dantas foi preso, e posteriormente morto, sua morte até hoje é um mistério, foi encontrado degolado em sua cela, mas paira uma dúvida no ar: Terá sido realmente suicídio? Pois existe uma distância muito grande entre o real e o oficial.
Em meio a tudo isso, a nossa heroína teve sua vida abalada em todos os
sentidos. Profissionalmente, pois qual família deixaria seus filhos em mãos de
uma “indecente”? Seu nome durante muito tempo sequer podia ser
pronunciado.
Ela escapou de um apedrejamento, e acabou refugiando-se no Asilo Bom Pastor, em Recife. Sua morte foi no dia 22 de outubro, aos 25 anos de idade. Ela suicidou-se e foi sepultada no mesmo dia, como indigente.
Mas aqui está a escrita da história, dando-lhe a merecida homenagem ainda que morta, mas está em nossa memória, como ícone de mulher guerreira e amante do amor.
Uma vida efêmera, com muitos significados, viveu uma grande paixão, amou sem convenções, sem regras, um amor livre, autônomo e intenso. Simplesmente e atrevidamente, Anayde Beiriz!!!
Numa época em que o sonho de toda moça recatada, era ser uma esposa-mãe-dona-de
casa, Anayde não se enquadrou nesse segmento, era limitá-la demais.
Portanto, ela sim, uma revolucionária!!
Referências bibliográficas:
Ribeiro, Flávio Eduardo Maroja. PARAHYBA 1930: A verdade omitida. João Pessoa: Sal da terra, 2008.
Enviado pelo professor, escritor, pesquisador do cangaço e gonzaguiano José Romero de Araújo Cardoso.
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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