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sexta-feira, 24 de março de 2017

O QUE PEDRO TEM QUE TELMA NÃO TEM?

Por Aécio Cândido
Prof. Dr. Aécio Cândido e o filho João Marcelo

Há milhares de motivos para se votar em alguém. Há a mesma quantidade de razões para não se votar. De todos os motivos possíveis, um será determinante. Ou dois. Dificilmente três. E este tipo de comportamento, digamos, epistemológico, é democrático, comanda as decisões eleitorais de intelectuais e de analfabetos. 

Há gente que dá preferência a um candidato porque ele é simpático, outro porque é honesto, outro, ainda, porque o acha empreendedor. Ter “bom coração” angaria votos, assim como ser “corajoso”. Inteligente, bem relacionado, inovador, sensível ao ensino e à pesquisa, no caso de eleições universitárias, batalhador... tudo isto são qualidades que definem um voto. Ou porque o candidato as possui de fato ou porque o eleitor as atribui a ele fantasiosamente. É claro que numa democracia todas as razões apontadas para justificar um voto são legítimas. O que não quer dizer que sejam verdadeiras. 

Muita gente acha que voto é uma questão de gosto. E gosto não se discute, certo? Errado. Gosto se discute, sim. Pela simples razão de que eles se formam, ninguém nasce com eles. Na comunidade acadêmica, cada um tem seu ponto de vista formado a respeito das atribuições do reitor e das qualidades necessárias ao postulante para que o cargo case bem com a pessoa. Além do seu gosto pessoal, claro, de suas simpatias e antipatias, e de suas afinidades ideológicas. Nada disso, lógico, é garantia de boa escolha. É preciso questionar as atribuições idealizadas e as qualidades atribuídas. Há quem ache que uma atribuição fundamental do(a) reitor(a) é “brigar com o governo”. Acho estranha a concepção. Mas cabeça pensa o que quer: Trump acha que governar os Estados Unidos é brigar com o resto do mundo. 

Minha qualidade definidora do voto é aquilo que muita gente chama de “capacidade de aprender”. Esta foi sempre uma qualidade essencial ao ser humano, desde Sócrates, e mais ainda hoje, quando se diz que vivemos numa “sociedade líquida”. O possuidor dessa capacidade revela, ao possuí-la, outros atributos fundamentais a todo ser humano, sobretudo àqueles que fazem do trabalho com o intelecto uma profissão. Só está aberto ao aprendizado permanente quem humildemente reconhece suas limitações, valoriza a escuta e respeita o interlocutor. O aprendizado permanente requer inteligência, para compreender, e disposição para reelaborar conceitos e refazer compreensões. 

Isto eu acho que Pedro Fernandes tem de sobra. E acho que falta em Telma Gurgel, apesar de seus títulos acadêmicos. Porque a “capacidade de aprender” vai além da capacidade de absorver mensagens. Ela é mais sutil e se expressa na forma de tratar a mensagem, de lidar com ela. Quem aprende, de fato, quem se apropria do que aprende, é capaz de transformar o conhecimento em sabedoria. 

Alguns episódios na vida de Telma me autorizam esta conclusão negativa: falta-lhe capacidade de aprendizado. Alguns episódios na vida de Pedro me autorizam a conclusão inversa.

Um desses episódios: em meados dos anos 1990, Telma fez uma viagem a Europa, passando pela Holanda (acho que de retorno da China). De volta a Mossoró, deu uma longa entrevista à Rádio Rural, falando sobre a viagem. Acompanhei a entrevista pelo rádio e fiquei espantado. E o espanto dura até hoje: tudo que ela enxergou nas ruas holandesas foi a luta de classes, e somente a luta de classes. Nenhuma observação sobre o modo de vida do povo, nenhuma informação sobre a arquitetura e a organização espacial da cidade, sobre o funcionamento dos serviços públicos, enfim, sobre o jeito de ser da cidade (acho que Amsterdã), apenas a luta de classe, presente em cada esquina. As sociedades da Europa ocidental certamente têm seus conflitos e suas exclusões, mas eles não são tão escancarados a ponto de serem visíveis a qualquer olho estrangeiro. É difícil reconhecer um pobre na Europa. Ela reconheceu todos com quem cruzou. Pra mim, este é um exemplo típico de aprisionamento do raciocínio por um paradigma - ela viu o que desejou ardentemente ver: que em qualquer país capitalista a desigualdade social é uma só. Eu poderia ter apagado da memória esta lembrança negativa. Infelizmente, a ela se somaram outras. 

Diretora da FASSO, Telma estimulou as alunas, durante uma greve, a retirarem as carteiras das salas de aula e a colocá-las do lado de fora, sujeitas ao sol, à poeira e a possível chuva, como estratégia para forçar a adesão ao movimento. Nesse mesmo período, seguidamente fez campanha, junto às alunas, contra o ENADE, defendendo o boicote à avaliação. Considero esses gestos irresponsáveis. Por que? Porque, como diretora, ela estava obrigada, por força do Estatuto e do Regimento da UERN, a zelar pelo patrimônio de sua faculdade. Ou estes são documentos institucionais ilegítimos e ditatoriais, que só merecem o desprezo de uma santa desobediência civil? O caso do ENADE expressa uma ética confusa, pra não dizer cínica: como eu, já com a vida arrumada, com renda fixa e emprego estável, posso incentivar jovens a atentarem contra seu próprio futuro? O risco que as alunas corriam, de comprometerem o futuro, a professora Telma não corria. Não é moralmente defensável expor alguém a um perigo que não me atinge. 

Com Pedro é diferente. Diretor de Pesquisa na PROPEG, lembro-me do entusiasmo de Carlos Ruiz com o trabalho desenvolvido por ele. Carlos louvava sua disposição para o trabalho, sua capacidade de aprender e de ousar, sua habilidade em resolver conflitos, em aplainar diferenças e a grande reserva de paciência de que dispunha para percorrer com bom humor corredores e salas de espera em Natal e em Brasília. Mas eu próprio fui testemunha, em viagens com ele, dessas capacidades. Impressionou-me, num dos debates da campanha passada, sua agilidade mental e seu grau de conhecimento dos assuntos da UERN, seu manejo dos números do orçamento, sua compreensão clara e larga das diretrizes pedagógicas e organizacionais da Instituição. Não é sem razão que reitores de importantes universidades, do Ceará e do Rio Grande do Norte, têm lhe prestado apoio. Eles o conhecem de perto, dos contatos do trabalho conjunto, e estes são uma forma bem segura de conhecer alguém. 

Uma das desgraças que assolam hoje o país é o acirramento das visões sectárias, de todos os matizes ideológicos. Pedro está livre disso. Sua visão de mundo é ampla e, dono de uma personalidade agregadora, dialoga com facilidade com todos os setores que mantêm relações com a UERN, da comunidade interna ao governo do Estado e Federal.
Eu votaria em Pedro, se votasse. Com o mesmo prazer com que já votei.
Em tempo, pra quem acha que esta é uma informação importante: desde os 20 anos considero-me uma pessoa de esquerda. Continuo achando, como princípio geral, que o Estado deve cuidar dos socialmente mais fracos, que o mercado não pode ser visto como um ente soberano, acima da sociedade, etc. Por outro lado, tenho um enorme apreço pelos fatos, pelo aprendizado que eles proporcionam e pelas correções que podem imprimir à teoria. O que me leva a concordar com os liberais quando asseguram que não existe almoço grátis. 

Por fim: é muito triste, acho, a vida de quem não aprende nada com ela. Aprender com a vida é a única vantagem de envelhecer. E traz uma alegria imensa.

Aécio Cândido. Professor aposentado da UERN. Ex-Vice-Reitor. Um intelectual de primeira grandeza.

Enviado pelo professor, escritor, pesquisador do cangaço e gonzaguiano
José Romero de Araújo Cardoso

http://blogdomendesemendes.blogspot.com 

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