Por João Suassuna
Meus Prezados,
Segue relato
da lenta e preocupante recuperação da represa de Sobradinho. As chuvas
continuam caindo abaixo da média em todo Alto e médio São Francisco. Os
bombeamentos da transposição continuam ocorrendo, com a água fluindo em
território paraibano.
A Bacia
Hidrográfica do Rio São Francisco encontra-se em pleno período das águas,
embora com as chuvas caindo bem abaixo da média histórica, principalmente nas
regiões do Alto e Médio São Francisco. Com os baixos volumes precipitados, as
vazões do Velho Chico se mantiveram praticamente estáveis. Embora com ligeiro
aumento de volumes nos postos de observação de São Romão e São Francisco, o rio
continua não tendo forças suficientes para a mudança do cenário hidrológico, de
baixas vazões, em toda bacia. Além do mais, o projeto da transposição tem
influído nesse processo, com as retiradas volumétricas para o atendimento das
demandas hídricas da região Setentrional. Para se ter ideia dessas questões, a
represa de Itaparica (ponto de retirada de água do projeto), que na semana
passada estava com um percentual de acumulação de 19,75%, na atual semana esse
percentual caiu para 18,82%. Nesse sentido, permanece o alerta para a
necessidade da caída de mais chuvas na bacia do rio, para a pronta recuperação,
tanto da represa de Três Marias, como de Sobradinho. As chuvas abaixo da média
ocorridas na semana resultaram, no rio, no seguinte cenário hidrológico:
ligeiro aumento de vazão nos postos de observação de Morpará e São Francisco,
que na semana anterior estavam com 514 m³/s e 517 m³/s, e passaram a ter, nessa
semana, 744 m³/s e 821 m³/s, respectivamente. Nos demais postos houve
queda de vazões. O posto de Bom Jesus da Lapa, que na semana anterior estava
com 706 m³/s, caiu para 616 m³/s e o de Morpará, que apresentava 925 m³/s,
nessa semana caiu para 698 m³/s. A afluência volumétrica na represa de
Sobradinho despencou de vez, passando de 880 m³/s, da semana anterior, para os
atuais 662 m³/s. Essa baixa afluência, em Sobradinho, contraria uma
determinação da ANA, da garantia de afluências na represa, de no mínimo 700
m³/s, conforme amplamente divulgada pela mídia. Opercentual volumétrico de
Sobradinho ficou praticamente estável. Na semana anterior estava em 14,88% de
seu volume útil. Na atual está com 15,22%. A barragem continua com o seu
percentual volumétrico menos da metade, do que aquele verificado em igual
período do ano anterior (atualmente 15,22% - ano anterior 32,60%).
Na semana
(24/03), devido à instabilidade na caída das chuvas, somada à retirada
volumétrica do projeto da transposição, é muito provável, no mês de novembro,
que a represa de Sobradinho se aproxime do volume morto! Para correção dessa
triste possibilidade, as autoridades reduziram a defluência da represa, a
volumes insignificantes para o atendimento das demandas hídricas da região (660 m³/s,
apenas). Esse quadro de penúria hídrica já vem trazendo reflexos negativos ao
projeto da transposição, conforme denunciou, nessa semana, o ex secretário de
Recursos Hídricos da Paraíba, Francisco Sarmento, em relatório de visita técnica que fez aos canais do
projeto. As incertezas da chegada da água nas torneiras dos municípios
atendidos pelo projeto motivou a população de Monteiro, na Paraíba, a
protestar, exigindo providências, junto ao governo estadual, para as soluções
cabíveis. É importante observar, também, que a continuidade das baixas
defluências de Sobradinho (662 m³/s) vem agravando o quadro da progressão da
cunha salina na foz do rio. Existem relatos de pescadores que estão capturando peixes de hábito marinho na região do Baixo São
Francisco. A cunha salina tem trazido, também, certos transtornos
no abastecimento do município alagoano de Piaçabuçu, que tem servido à população uma água de péssima
qualidade, com elevados teores de sais (água salobra). Em igual situação vivem 70% da população de Aracaju,
que são abastecidos com as águas do Rio São Francisco, por intermédio de uma
adutora, em Propriá, município sergipano localizado em sua margem direita, a
cerca de 60 km da foz.
Apesar de
faltar muito pouco para o encerramento da quadra chuvosa da região, a esperança
de todos é que ainda ocorra alguma chuva em toda bacia hidrográfica do Velho
Chico, que garanta à normalidade da situação. Além do mais, continuaremos
atentos para a questão das defluências de Sobradinho (662 m³/s) e, agora, de
Três Marias (191 m³/s), pois houve determinação das autoridades do setor, para
que essas defluências ficassem estabelecidas em patamares da ordem de 700 m³/s
e 160 m³/s, respectivamente, conforme divulgadas na mídia e atualmente praticadas.
Abraço.
Enviado pelo professor, escritor, pesquisador do cangaço e gonzaguiano José Romero de Araújo Cardoso
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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