Por Geziel Moura
Provavelmente, o cangaceiro José
Aleixo Ribeiro da Silva, o Zé Baiano ficou marcado na historiografia do
cangaço, principalmente por dois movimentos: O primeiro por ter assassinado a
própria companheira (Lídia), por motivos passionais, e segundo, por andar com
ferrete, estigmatizando rostos e genitálias de mulheres, a torto e a direito,
com as iniciais "JB".
No que tangencia, o caso de Lídia,
parece-me que a condição dela, ser declarada por diversas pessoas que a
conheceu, como a mulher mais bonita, dentre as cangaceiras, o fato de não
existirem imagens desta, além da forma covarde em que foi abatida, possibilitou
certo ufanismo por ela, que transcende a o episódio brutal em que foi envolvida
e posteriormente morta por Zé Baiano.
Quanto ao uso do ferrete, com as
iniciais "JB" há de se ter cautelas, para não tornar aquilo que é
exceção ou pontual como regra, o que pode produzir equívocos históricos.
Nessa direção, o escritor e
pesquisador sergipano, Alcino Alves da Costa, denuncia que Zé Baiano marcou,
com o famoso ferrete as seguintes mulheres: Maria Marques, Anízia do Forno e
Isaura de Birrinho, todas de Canindé (SE), e ferradas no mesmo dia, de janeiro
de 1932. Outra ocasião, em que o demente cangaceiro, se utiliza do instrumento
de marcação, tem como vítimas D. Virgem e seus dois filhos.
Diante, desses acontecimentos
ocorridos entre 1932 e 1934, no sertão sergipano, três questões são produzidas:
Haveria outras vítimas de Zé Baiano e seu ferrete, além das seis apontada por
Alcino? Ele criou esta forma de punição? Mandou produzir seus ferretes, com
suas iniciais?
O Escritor Gustavo Barroso,
publicou na revista o Cruzeiro de 30.04.49, interessante matéria, que se
intitulava, "Os Ferros da Escravidão" cuja narrativa, era sobre os
instrumentos utilizados em negros, durante o período da escravidão, no mundo e
no Brasil, segundo ele, as marcações eram realizadas para punir os fujões e para
efeito de propriedade, como nos animais. Aliás, os ferretes que serviam para
marcar animais, tinham os cabos maiores, para que o operador se protegesse dos
coices, e os que marcavam pessoas, cabos curtos, isto é, não eram iguais.
Ainda, sobre o texto de Barroso,
que nada trata-se de Zé Baiano, aparece um ferrete com as iniciais
"JB", que ele aponta como oriundo do tempo da servidão escravagista
em nosso país. Portanto, minha hipótese é que o "Pantera Negra dos
Sertões", atualizou o uso, dos ferretes, no cangaço, pois marcava
mulheres, por outros motivos, não claros, e em partes especificas e diferentes
das utilizadas nos escravos, mas que não tenha criado, tal uso, ele também foi
subjetivado, pelo discurso do império escravocrata.
O aspecto biográfico de Zé
Baiano, aponta, que ele nasceu em Chorrochó (BA) e que atuava, como cangaceiro,
junto com seus tios Antônio e Cirilo de Engrácia, aliás, sua parentela forjou
diversos chefes de subgrupos, como Zé Sereno e Manoel Moreno.
Quando Lampião dividiu o sertão
em áreas, e cedeu cada quadrante aos seus comandados, a região de Frei Paulo
(SE), Pinhão (SE), Paripiranga (BA) e o povoado de Alagadiço (SE) se tornou seu
reino, de pavor e mazelas.A propósito, foi neste povoado, que ele chegou ao fim
da linha, por meio, de trama promovido por seu coiteiro de confiança, o Antônio
de Chiquinha, que aliado a seus companheiros, Pedro Guedes, Pedro de Nica, Dedé
de Lola e Birindim, acabaram com a vida de Zé Baiano e três cabras que o
acompanhava: Chico Peste, Acelino e Demudado.
O trágico fim dos quatro
cangaceiros ocorreu em junho de 1936, na Fazenda Lagoa Nova, na região de
Alagadiço (SE), após farta comilança de buchada e miúdos de carneiro, regado a
conhaque em grande quantidade, para deixar os cabras em estado de embriagues, o
que facilitaria o "serviço". Assim, no momento combinado, o grupo de
Antônio de Chiquinha dominou seus adversários, o que ofereceu mais resistência,
foi justamente o chefe Zé Baiano, porém, tal resistência, não perdura por muito
tempo, é preso e amarrado, tenta ainda implorar pela sua vida, inclusive
oferecendo dinheiro, o que leva o ex-coiteiro a pensar em libertá-lo, porém é
dissuadido pelos companheiros, tendo como seu algoz, o coiteiro Pedro de Nica,
que ao derrubá-lo no chão, aplica diversas punhaladas no cabra.
Os outros acompanhantes de Zé
Baiano, também foram executados, antes dele, sempre à base do facão, encerrando
a carreira criminosa daquele que foi pedreiro, na Bahia, antes de transitar no
mundo do cangaço.
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