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domingo, 12 de novembro de 2017

HOSPITAL DE EMERGÊNCIA SÃO SEBASTIÃO

Por Geraldo Maia do Nascimento

No período de 8 de outubro de 1918 a janeiro de 1919 o Município de Mossoró foi assolado pela Gripe Espanhola, uma pandemia do vírus influenza que se espalhou por quase toda parte do mundo. Foi causada por uma virulência incomum e frequentemente mortal de uma estirpe do vírus Influenza “A” do subtipo H1N1. O Município era administrado, nesse período, pelo farmacêutico Jerônimo Rosado, tendo como vice o médico Antônio Soares Júnior. 

Jerônimo Rosado - https://tokdehistoria.com.br/2013/01/01/jeronimo-rosado-o-paraibano-que-mudou-mossoro/

Diante da tragédia, mobilizou todos os recursos de assistência disponíveis, quer improvisando isolamento de doentes, quer pessoalmente dirigindo socorros médicos em remédios e alimentos aos pobres abandonados. Graças a esses esforços, a doença ceifou aqui poucas vidas. Sobre esse assunto, transcrevemos uma declaração de Jerônimo Rosado: “Auxiliado pelo meu colega de Intendência (Prefeitura), Dr. Antônio Soares Júnior, a cargo de quem ficou o serviço clínico, apoiado por todos os outros Edis (vereadores) e a população de Mossoró, empreguei todos os esforços de que pode dispor um sertanejo aos 59 anos de idade, vendo, felizmente, coroados os meus esforços e o de todos os auxiliares. Em 6.000 gripados, contamos 60 óbitos. Para se conseguir tão baixo coeficiente de mortalidade, em uma cidade sem água potável, sem esgoto e sem um serviço regular de limpeza pública, foi preciso um grande esforço de todos os habitantes de nítida compreensão. Os óbitos pela pandemia não ultrapassaram 1% dos doentes em Mossoró”. O jornal “O Mossoroense”, em sua edição de 30 de outubro de 1918, dizia: “Disse-nos o Dr. Soares Júnior que atualmente avalia em quase 600 casos verificados nessa cidade, predominando eles nas Ruas Jaburu, Mulambo e Estrada de Automóveis, do lado Norte da cidade, aproximação da Rua dos Libertos, ao Sul e bairro Alto da Conceição, ao Oeste, onde mais intensamente se tem desenvolvido.  Quanto ao centro da cidade há alguns focos que, felizmente até agora não tem muito se alastrado”. Esse número de 600 casos citados pelo Dr. Soares Júnior, foi do período de 8 a 30 de outubro de 1918, ou seja, de apenas um mês após o aparecimento da doença que registrou no final mais de 6.000 casos, dos quais tivemos 60 óbitos. Mas para se atingir um número tão baixo de mortalidade (a taxa média de mortalidade no mundo foi de 6 a 8% no mesmo período), além das ações já descritas, foi instalado um hospital de emergência para isolamento dos doentes. A ideia desse hospital foi do vigário Ulisses Maranhão que oferecia, para tanto, a ajuda das Irmãs Franciscanas que cuidariam dos doentes. O local proposto foi no Alto da Conceição, por concentrar o maior número de infectados.   Aceita a ideia, quarenta e oito horas depois era inaugurado o Hospital São Sebastião (ou Hospital da Espanhola), em um prédio alugado pela municipalidade e para lá foram transportados todos os doentes que eram carinhosamente tratados pelas Irmãs Franciscanas do Colégio Sagrado Coração de Maria: Maria Leocádia Lisboa, Maria Sarmeiro, Infância de Maria e Umbelina da Conceição.  O Dr. Antônio Soares era o médico responsável e na sua ausência, o próprio farmacêutico Jerônimo Rosado, Intendente, cuidava dos pacientes. O Hospital de Emergência foi abastecido com medicamentos e comida. Dos trinta e oito hospitalizados, apenas um óbito, Raimundo Fernandes, solteiro, de 23 anos, justamente o primeiro que procurou o hospital. Apesar do esforço da municipalidade para salvar o maior número possível de vítimas com a instalação do hospital no Alto da Conceição, foi feito um manifesto, por parte dos moradores daquela localidade, contra a permanência do hospital. Quarenta e oito moradores assinaram o manifesto, pedindo o fechamento do hospital. Mas o pedido não foi aceito. O Hospital São Sebastião, no entanto, teve vida curta. Passado o surto da epidemia, pouco mais de um ano após a sua inauguração, foi desativado. O jornal “O Nordeste” em sua edição de 9 de dezembro de 1919, informava que o hospital provisório fora extinto em virtude de terem diminuído os casos de gripados e mesmo por falta de verba, notícia essa que foi contestada pela prefeitura, que afirmava que o motivo da desativação do hospital era tão somente a diminuição dos casos de gripe, não por falta de verba, pois a municipalidade, pela Lei nº 53, de 20 de novembro de 2019, autorizou ao Presidente da Intendência um crédito de 20 contos de réis para as obras de saneamento da cidade e socorro aos pobres e atacados da gripe. O cento é que o imóvel onde tinha funcionado o hospital foi totalmente higienizado e devolvido, em condição de ser novamente utilizado como moradia. Tinha cumprido o seu papel. Mossoró estava livre do terrível mal que tinha assustado o mundo.

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