Por Geraldo Maia do Nascimento
No período de
8 de outubro de 1918 a janeiro de 1919 o Município de Mossoró foi assolado pela
Gripe Espanhola, uma pandemia do vírus influenza que se espalhou por quase toda
parte do mundo. Foi causada por uma virulência incomum e frequentemente mortal
de uma estirpe do vírus Influenza “A” do subtipo H1N1. O Município era administrado, nesse período, pelo farmacêutico Jerônimo Rosado, tendo como vice o médico Antônio Soares Júnior.
Jerônimo Rosado - https://tokdehistoria.com.br/2013/01/01/jeronimo-rosado-o-paraibano-que-mudou-mossoro/
Diante da tragédia, mobilizou todos os recursos
de assistência disponíveis, quer improvisando isolamento de doentes, quer
pessoalmente dirigindo socorros médicos em remédios e alimentos aos pobres
abandonados. Graças a esses esforços, a doença ceifou aqui poucas vidas. Sobre
esse assunto, transcrevemos uma declaração de Jerônimo Rosado: “Auxiliado pelo
meu colega de Intendência (Prefeitura), Dr. Antônio Soares Júnior, a cargo de
quem ficou o serviço clínico, apoiado por todos os outros Edis (vereadores) e a
população de Mossoró, empreguei todos os esforços de que pode dispor um sertanejo
aos 59 anos de idade, vendo, felizmente, coroados os meus esforços e o de todos
os auxiliares. Em 6.000 gripados, contamos 60 óbitos. Para se conseguir tão
baixo coeficiente de mortalidade, em uma cidade sem água potável, sem esgoto e
sem um serviço regular de limpeza pública, foi preciso um grande esforço de
todos os habitantes de nítida compreensão. Os óbitos pela pandemia não
ultrapassaram 1% dos doentes em Mossoró”. O jornal “O Mossoroense”, em sua
edição de 30 de outubro de 1918, dizia: “Disse-nos o Dr. Soares Júnior que
atualmente avalia em quase 600 casos verificados nessa cidade, predominando
eles nas Ruas Jaburu, Mulambo e Estrada de Automóveis, do lado Norte da cidade,
aproximação da Rua dos Libertos, ao Sul e bairro Alto da Conceição, ao Oeste,
onde mais intensamente se tem desenvolvido. Quanto ao centro da cidade há
alguns focos que, felizmente até agora não tem muito se alastrado”. Esse número
de 600 casos citados pelo Dr. Soares Júnior, foi do período de 8 a 30 de
outubro de 1918, ou seja, de apenas um mês após o aparecimento da doença que
registrou no final mais de 6.000 casos, dos quais tivemos 60 óbitos. Mas para
se atingir um número tão baixo de mortalidade (a taxa média de mortalidade no
mundo foi de 6 a 8% no mesmo período), além das ações já descritas, foi
instalado um hospital de emergência para isolamento dos doentes. A ideia desse
hospital foi do vigário Ulisses Maranhão que oferecia, para tanto, a ajuda das
Irmãs Franciscanas que cuidariam dos doentes. O local proposto foi no Alto da
Conceição, por concentrar o maior número de infectados. Aceita a ideia,
quarenta e oito horas depois era inaugurado o Hospital São Sebastião (ou
Hospital da Espanhola), em um prédio alugado pela municipalidade e para lá
foram transportados todos os doentes que eram carinhosamente tratados pelas
Irmãs Franciscanas do Colégio Sagrado Coração de Maria: Maria Leocádia Lisboa,
Maria Sarmeiro, Infância de Maria e Umbelina da Conceição. O Dr. Antônio
Soares era o médico responsável e na sua ausência, o próprio farmacêutico
Jerônimo Rosado, Intendente, cuidava dos pacientes. O Hospital de Emergência
foi abastecido com medicamentos e comida. Dos trinta e oito hospitalizados,
apenas um óbito, Raimundo Fernandes, solteiro, de 23 anos, justamente o
primeiro que procurou o hospital. Apesar do esforço da municipalidade para
salvar o maior número possível de vítimas com a instalação do hospital no Alto
da Conceição, foi feito um manifesto, por parte dos moradores daquela
localidade, contra a permanência do hospital. Quarenta e oito moradores
assinaram o manifesto, pedindo o fechamento do hospital. Mas o pedido não foi
aceito. O Hospital São Sebastião, no entanto, teve vida curta. Passado o surto
da epidemia, pouco mais de um ano após a sua inauguração, foi desativado. O
jornal “O Nordeste” em sua edição de 9 de dezembro de 1919, informava que o
hospital provisório fora extinto em virtude de terem diminuído os casos de
gripados e mesmo por falta de verba, notícia essa que foi contestada pela
prefeitura, que afirmava que o motivo da desativação do hospital era tão
somente a diminuição dos casos de gripe, não por falta de verba, pois a
municipalidade, pela Lei nº 53, de 20 de novembro de 2019, autorizou ao
Presidente da Intendência um crédito de 20 contos de réis para as obras de
saneamento da cidade e socorro aos pobres e atacados da gripe. O cento é que o
imóvel onde tinha funcionado o hospital foi totalmente higienizado e devolvido,
em condição de ser novamente utilizado como moradia. Tinha cumprido o seu
papel. Mossoró estava livre do terrível mal que tinha assustado o mundo.
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