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domingo, 21 de janeiro de 2018

UMA PASTORAL DE PADRE CÍCERO ( O Pacto dos Coronéis )..


04 de outubro de 1911, data de posse de Padre Cicero Romão Batista para intendência municipal de Juazeiro do Norte, e, também, a assembléia entre os líderes políticos da região do Cariri, cuja culminância foi a assinatura de um acordo mútuo, prezando os artigos do PACTO DE HARMONIA POLÍTICA. Em se tratando de homens poderosos, latifundiários, chefes de hordas de capangas, e, ou até coiteiros de cangaceiros os referidos se enquadravam na alcunha de coronéis. De 1889 a 1930 prevaleceu a política dos senhores latifundiários que dominavam a sociedade através dos currais eleitorais, da brutalidade para o domínio do voto, da opressão, do medo, da ameaça... por via, a denominação de período do CORONELISMO.

Esta modalidade política irá se enfraquecer a partir de Juazeiro com a citada assembleia entre os coronéis, e, por muitos intitulado PACTO DOS CORONÉIS. O ponto polêmico concerne a todos os signatários se rendessem em total apoio ao governador Antônio Pinto Nogueira Accioly. Por esta monta, padre Cicero, como presidente da reunião, quebra as forças dos coronéis da região quando os mesmos se comprometem com a harmonia entre si, e o não apoio a cangaceiros. Houve reincidência, mas estava posto a fragilidade dos mandatários do poder local.

Para o escritor Rui Facó, na sua famosa obra Cangaceiros e fanáticos, “o pacto era na verdade um sinal de debilidade, um prenúncio de decadência do coronel tradicional, do potentado do interior, outrora senhor absoluto de seu feudo e em disputa constante com os feudos vizinhos. Sua maneira de pensar fora sempre esta: todos lhe deviam render vassalagem!”.

Não se pode atribuir ao Padre Cicero a alcunha de coronel, ou o pejorativo "titulo" de coronel de batina. Terras e imóveis não lhes serviam de patrimônio e sim aos que chegavam ao Juazeiro sedentos por abrigo e trabalho, ao fim da vida, tudo foi dado, previamente, em testamento aos Salesianos. Aqui vem a difícil compreensão de que tudo se tratou de uma pastoral do reverendo. Padre Cicero rendeu os "donos" do Cariri, pois reunir inimigos políticos num mesmo ambiente, cujas especulações eram de que a referida assembléia terminaria em tiroteio, mas, saíram abrandados de seus ódios e refletivos se sua atitudes.

Contudo, o "pacto dos coronéis" pode ser sim entendido como uma pastoral do levita, e não uma associação de poderosos, ali estava, em continua obediência ao sonho com o Coração de Jesus - "Cicero, tome conta Deles", se referindo aos pobres, vítima do coronelismo que entravam na sala esfarrapados e famintos de tudo.

Sobre isso vejamos o depoimento do historiador Marcelo Camurça, como está no seu livro Marretas, molambudos e rabelistas: “No meu modo de ver o Padre Cícero se relacionou com as oligarquias, transitou na sociedade política, se compôs com os setores dominantes, tanto pela sua condição de sacerdote letrado, um intelectual tradicional, e esta condição o estimulava qual outros padres no Império e na República a ter uma projeção social, quanto pela vontade de ajudar o seu povo, de levar adiante o seu projeto de manter de pé a comunidade do Juazeiro, pela via da conciliação tão marcante na sua visão de mundo. Porém, o Padre Cícero nunca abriu mão de sua identidade sacra, do seu papel de guia religioso, de líder espiritual, para se tornar um político profissional, tampouco abriu mão da mística do "milagre" e de sua visão messiânica, simbólica do catolicismo popular, daquele primeiro sonho que teve quando Cristo encarregou-o de cuidar do Juazeiro e de seu povo. Este sem dúvida não é o perfil de um "Coronel" latifundiário ou de um político das classes dominantes. Um "Coronel" apesar da camaradagem e da articulação do compadrio com seus agregados nunca teve com seu povo um relacionamento tão intenso e profundo; no campo ideológico: como os vínculos do catolicismo popular, da "Santidade"; no campo político e social: como os conselhos dados pelo Padre nos seus "sermões" onde forjou uma ética sertaneja do bem viver; no campo econômico: onde regulou e organizou a produção e o emprego”.

Colô do Arneiroz 

Foto: internet. (QUADRO CONFECCIONADO POR D. ASSUNÇÃO GONÇALVES)
Bibliografia: Marretas, molambudos e rabelistas. 
Cangaceiros e fanáticos.

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