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quinta-feira, 27 de setembro de 2018

LAMPIÃO VIVIA ADOTANDO SIMULAÇÕES DE ATOS RELIGIOSOS...

Por Verluce Ferraz

Esse assunto é muito mesclado e tentar simplificar é inevitável encontrar quem propicie um duelo. Dentro do possível pode-se simplificar um pouco, mas é um exercício difícil pra não insultar a inteligência do leitor. Dentro da medida do possível vou tentar contar com a certeza que alcançará o seu verdadeiro objetivo. Assegurando que não há aqui o intuito de converter idéias de quem quer que seja, nem contestar os pensares daqueles que possam ser contrários ao que escrevo. Quero aqui mostrar alguns motivos que levava Lampião a um tipo de comportamento antesocial. Lampião era muito precavido por necessidade e pela sua própria segurança. Nascido no final do século XIX, no meio rural da caatinga do Sertão, onde as pessoas, na sua maioria, eram carentes da água ao alimento. Época em que se rezava pedindo para cair uma gota d’água no esturricado chão. Imaginemos que a busca por mudanças sociais eram freqüentes, inclusive aumentava-se a crença em santos e milagres. Os pobres faziam romarias até o Juazeiro, em busca de auxílio do Padre Cícero Romão Batista. Muitos até se penitenciavam e assim foram criados grupos de romeiros, com pessoas que faziam voto de castidade, que não exerciam quaisquer profissões; vivem da caridade, compareciam em velórios para enterrar os mortos e ensinar orações. Eram fanáticos e mulheres carpideiras que choravam a morte de pessoas que sequer conheciam. E se destacavam pelas suas vestes; alguns usam roupas a maneira de um frade, com cordão de São Francisco nas cinturas, carregando uma cruz nas costas, saquinhos com orações e tudo que possa parecer religiosidade. Quem muito explorou tal situação dessa população foi o sírio/libanês, Benjamim Abrahão Botto, que veio aqui para o Brasil (1915) a fim de fugir à convocação obrigatória pelo Império Otomano de lutar durante a Primeira Guerra Mundial. Benjamim de mascate passou a secretário do Padre Cícero Romão Batista e conheceu o Virgulino Ferreira da Silva no ano de 1926. 


Lampião andava em lombo de cavalos e bestas. Carregava preso às roupas, alguns objetos necessários por que vivia mudando de lugar para outro. Além de uma canequinha, cantina para água, prato, colher, carregava um baú e máquina de costura. Tinha também o costura e costumava ter objetos que funcionavam como talismãs.

Era muito supersticioso. Por tal motivo devemos estudar de modo científico, oferecendo características de espécie de padrão do comportamento humano do tipo transtorno compulsivo obsessivo. No período das secas era comum romeiros irem ao Juazeiro, fazerem preces e orações. Lampião também foi no Juazeiro, com muitos outros cangaceiros. Gostaria de aqui enfatizar que não justificaria a ida do cangaceiro ao lugar em busca de fé religiosa, já que seu fito não era converter-se ao cristianismo e nem pedir perdão pelos crimes cometidos. Lampião não fazia parte daqueles que buscavam alívio para as suas necessidades espirituais e necessidades básicas à sobrevivência. Pois ele não vivia esmolando, pelo contrário, era muito bem abastecido por seus roubos e assaltos. Usufruía do bom, sua vida era de regalias.

 Floro Bartolomeu e Padre Cícero

Duas pessoas sábias captaram qual a intenção real do cangaceiro Lampião. Floro Bartolomeu, deputado e pelo próprio Artur Bernardes; o segundo foi Benjamim Abrahão Boto, o mascate. O primeiro viu a oportunidade de oferecer uma patente de Capitão ao cangaceiro, em troca de benefícios políticos, que era combater a Coluna Prestes. Deu-lhe farda e uma patente falsas, para que o cangaceiro enfrentasse os soldados da Coluna Prestes, que estava a caminho do Juazeiro. 



O segundo foi Benjamim Abrahão Botto, que percebeu o quanto o cangaceiro era narcisista, pela maneira que se vestia e objetos que usava: vários anéis nos dedos, trancelins no pescoço, chapéu com estrelas de latão ou outros metais, bebia Conhaque, etc. Benjamim pede permissão ao cangaceiro Lampião para fotografá-lo. O cangaceiro aceitou. Acertam que farão um filme mostrando a vida cangaceira. Lampião já se vestia com roupas coloridas e carregava sobre si além de objetos necessários, muitos penduricalhos não necessários, apenas como enfeites. Ele próprio costurava suas roupas, seus casacos, lenços para o pescoço, embornais para carregar comida e balas. A princípio quase tudo era feito de couro curtido; usa também tecidos de cores fortes, enfeites de galões. Ao receber a farda do Floro Bartolomeu com a tal patente diz que quer que todos de seus grupos recebam e usem as fardas igualmente; tal qual os Militares, Exército e Marinha, que vestem-se de forma padronizada. Naturalmente a ida de Lampião ao Juazeiro do Norte era de entrar na cidade com o objetivo de buscar bênçãos como faziam os outros romeiros; Lampião vivia fugindo sempre de Estado para outro, com o fito de livrar-se das polícias e abastecer seus bolsos. Sabe-se que a presença dos cangaceiros no Juazeiro causou grande comoção na população. A patente que o cangaceiro adquiriu foi mais um ganho para ele, apesar de falsa. Lampião era muito precavido por suas necessidades e para garantir a própria segurança. Sempre assim, vivia adotando simulações de atos religiosos, ao amanhecer do dia ajoelhava-se, fingia rezar o Ofício católico. Assim e iludia a todos, ia formando grupos de criminosos que o protegiam. Para unir seus grupos utilizava as roupas iguais como tática de iludir, mas o intuito era o disfarce “ - ou me oculto, ou corro”. Camuflados nas indumentárias, muitas vezes os soldados não sabiam com quem estavam brigando, por que os grupos lampiônicos eram vários, somente homens, e o próprio Lampião era apenas mais um cangaceiro entre dezenas. Havia também o costume de trocar os nomes legítimos das pessoas por alcunhas. Fala-se que cada um tinha o apelido de acordo com suas aparências e habilidades. Sempre usavam nomes de animais peçonhentos, aves, sinais da natureza, e assim por diante. Lampião não admitia uma traição, nem tinha temor ou medos invisíveis; antes se preocupava com o visível. O visível para ele era ameaçador, daí eliminava a todos que lhe impusessem temor. Se algum dos seus cabras adoecesse e não tivesse como os acompanhar dava ordem era o matar temendo que esse o denunciasse. Aquele que demonstrasse desejos de abandonar o bando, ele eliminava incontinente. No ano de 1930, aproveitando a entrada da mulher no cangaço, Lampião vai acrescentar galões, entremeios e bordados nas roupas. Criando assim um estilo UNIGÊNERO.


Mais detalhes no livro: Dos Mitologemas da imortalidade do passado lampiônico...

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