Acervo do pesquisador do cangaço José João Souza - Página facebook
Nos arquivos
do Memorial da Justiça de Pernambuco, consta o processo-crime instaurado pela
justiça pública contra os apenados Urbano Gomes da Silva, Vulgo
"Pilão", e Ângelo Emídio da Silva ou Manoel Soares de Caldas, vulgo
"Ventania", ocorrido na Casa de Detenção do Recife, aos trinta e um
dias do mês de agosto de 1931. Além dos presos relacionados acima, vários
outros cangaceiros que fizeram parte do grupo de Lampião se encontravam detidos
no citado presídio, naquela ocasião.
Conforme consta dos autos, as testemunhas arroladas no processo relataram com firmeza que um presidiário, o então barbeiro da Raia Leste, Manoel Roberto da Silva, por alcunha de "Neco Grande", havia propalado para os diversos detentos, inclusive entre os que fizeram parte do grupo de Lampião, que o sentenciado Urbano Gomes da Silva, vulgo Pilão, teria dito que Manoel Antônio de França, ou Manoel Filipe Francisco, vulgo Recruta, também pertencente ao bando de Lampião, era pederasta e que dele se havia servido, remunerando-o com a importância de vinte mil réis. Essa história se espalhou pelos recintos da prisão que nem fogo em pólvora. Em pouco tempo toda a população carcerária daquele presídio ficou sabendo do suposto comportamento do companheiro de prisão. Revoltados com a ofensa feita ao seu companheiro de grupo, os mais exaltados, José Serafim Ribeiro, Ângelo Emídio da Silva, vulgo " Ventania", Camilo Rodrigues de Farias, vulgo "Pirulito", Furtunato Domingos de Farias, vulgo "Guará" e o ofendido, conhecido por Recruta, mandaram chamar o detento Pilão no recinto da sapataria. Esse, ao chegar ao local, foi revistado e interpolado sobre o caso. Mesmo dizendo não saber de que se tratava, foi esbofeteado e ferido a faca pelo preso de alcunha Ventania. Pilão, escapando dos agressores, correu para a cozinha, onde se armou de uma faca-peixeira, com a qual matou o detento Camilo Rodrigues de Farias, vulgo Pirulito. Fugindo, em seguida, foi perseguido por seus algozes. Se não fosse a interferência de um guarda do rancho, armado de uma pistola, o mesmo teria sido eliminado, uma vez que já se encontrava sem forças devido ao ferimento causado pelo detento Ventania.
As testemunhas arroladas nos autos foram unânimes em dizer que os presos, ex-cabras de Lampião, eram unidos e que o barbeiro "Neco Grande" havia incitado a intriga e a discórdia dos componentes do grupo de cangaceiros, provocando o conflito, que resultou na morte do preso Pirulito e ferimento no apenado Pilão.
Por tudo quanto disseram as testemunhas, só nos resta acreditar que acusação de pederastia de um dos cangaceiros encarcerados ali não passou de boataria maliciosa por parte do tal barbeiro para desagregar aquele grupo de amigos. É muito bom lembrar que homossexualismo sofria naquela época, no Brasil, de grande preconceito. Era praticamente impossível um homossexual sobreviver no meio de um grupo de cabras machos do sertão, principalmente, quando formado por cangaceiros.
Tudo que foi escrito neste artigo consta dos autos que apuram a morte de Camilo Rodrigues Farias, o Pirulito, bem como os delitos dos demais envolvidos no episódio, na Casa de Detenção do Recife.
Quem desejar
saber mais a respeito desse caso deverá ler o referido processo, que se
encontra à disposição dos interessados no Memorial da Justiça de
Pernambuco.
Flores, 1932 - GR. Lesão Corporal - CX. 371.Ref. Cangaceiros do Bando de Lampião. Crime cometido na Prisão.
Do livro:
LAMPIÃO À LUZ DA LEI
De: Antônio Neto
De: Antônio Neto
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