Por Lima Barreto
Não há dúvida alguma que o Brasil é um país muito rico. Nós que nele vivemos; não nos apercebemos bem disso, e até, ao contrário, o supomos muito pobre, pois a toda hora e a todo instante, estamos vendo o governo lamentar-se que não faz isto ou não faz aquilo por falta de verba.
Nas ruas da cidade, nas mais centrais até, andam pequenos vadios, a cursar a perigosa universidade da calariça das sarjetas, aos quais o governo não dá destino, e os mete num asilo, num colégio profissional qualquer, porque não tem verba, não tem dinheiro. É o Brasil rico...
Surgem epidemias pasmosas, a matar e a enfermar milhares de pessoas, que vêm mostrar a falta de hospitais na cidade, a má localização dos existentes. Pede-se à construção de outros bem situados; e o governo responde que não pode fazer porque não tem verba, não tem dinheiro. E o Brasil é um país rico.
Anualmente cerca de duas mil mocinhas procuram uma escola anormal ou anormalizada, para aprender disciplinas úteis. Todos observam o caso e perguntam:
- Se há tantas moças que desejam estudar, por que o governo não aumenta o número de escolas a elas destinadas?
O governo responde:
- Não aumento porque não tenho verba, não tenho dinheiro.
E o Brasil é um país rico, muito rico...
As notícias que chegam das nossas guarnições fronteiriças são desoladoras. Não há quartéis; os regimentos de cavalaria não têm cavalos, etc., etc.
- Mas que faz o governo, raciocina Brás Bocó, que não constrói quartéis e não compra cavalhadas?
O doutor Xisto Beldroegas, funcionário respeitável do governo acode logo:
- Não há verba; o governo não tem dinheiro.
- E o Brasil é um país rico; e tão rico é ele, que apesar de não cuidar dessas coisas que vim enumerando, vai dar trezentos contos para alguns latagões irem ao estrangeiro divertir-se com os jogos de bola como se fossem crianças de calças curtas, a brincar nos recreios dos colégios.
O Brasil é um país rico...
* Marginália, 8-5-1920
A crônica que você leu foi escrita há 94 anos por Lima Barreto, um dos poucos escritores do final do século XIX e início do século XX que se preocuparam em denunciar, por meio da Literatura, o quadro social e político do país à época. Contudo, é interessante observar que a situação descrita, apesar de um século nos separar do texto de Lima Barreto, continua relativamente atual. Por sua relevância literária, o site Alunos online traz para você um pouco da vida e obra de Lima Barreto.
Afonso Henriques de Lima Barreto nasceu no Rio de Janeiro, no dia 13 de maio de 1881, sete anos antes da abolição da escravatura. Mulato, filho de família humilde, mas de bom nível cultural – a mãe era professora primária, o pai, tipógrafo –, Lima Barreto tinha como padrinho o Visconde de Ouro Preto e, graças a ele, conseguiu ingressar na faculdade de Engenharia, um verdadeiro feito, tendo em vista que a situação não era corriqueira para pessoas de seu nível social. Abandonou o curso, pois diante da doença do pai (a mãe falecera quando o escritor tinha apenas seis anos), viu-se obrigado a trabalhar para sustentar a família, madrasta e irmãos.
O fato de ser mulato e de ter sofrido com a discriminação racial marcou profundamente a obra do escritor, que diferentemente de outros escritores contemporâneos, não se calou diante das injustiças sociais às quais a população negra e pobre era submetida. Embora tenha sido um dos grandes literatos de nosso país, Lima Barreto foi negligenciado pela crítica literária e pelo grande público, que há pouco, em um movimento recente que popularizou os livros do escritor, reconheceu sua importância para a Literatura brasileira, sendo então aceito como um dos representantes do Pré-Modernismo. Lima Barreto construiu uma relação de amor e ódio com a Academia Brasileira de Letras, tendo candidatado-se por três vezes sem sucesso. Isso não significa que ele não merecesse vestir o fardão dos imortais da ABL, pois é certo que a candidatura malsucedida foi resultado do preconceito que sofria.
Seus problemas com o alcoolismo, associados a distúrbios psíquicos, levaram-no por duas vezes à internação na Ala Pinel do Hospício Nacional. Vítima de um colapso cardíaco, consequência de uma saúde debilitada, Lima Barreto faleceu no Rio de Janeiro no dia 1° de novembro de 1922, aos 41 anos. Sua obra é composta por romances, contos e crônicas, dentre os quais merece destaque o romance Triste fim de Policarpo Quaresma, que narra a trajetória daquele que ficaria conhecido como o “Dom Quixote brasileiro”, personificação exata do ufanismo nacional. A literatura brasileira possui uma dívida histórica com Lima Barreto, que merece ter sua obra revisitada e divulgada para que mais leitores apreciem seus textos.
Originalmente postado no site https://alunosonline.uol.com.br/portugues/lima-barreto.html
Pesquei na página do professor Adinalzir Pereira Lamego
Afonso Henriques de Lima Barreto nasceu no Rio de Janeiro, no dia 13 de maio de 1881, sete anos antes da abolição da escravatura. Mulato, filho de família humilde, mas de bom nível cultural – a mãe era professora primária, o pai, tipógrafo –, Lima Barreto tinha como padrinho o Visconde de Ouro Preto e, graças a ele, conseguiu ingressar na faculdade de Engenharia, um verdadeiro feito, tendo em vista que a situação não era corriqueira para pessoas de seu nível social. Abandonou o curso, pois diante da doença do pai (a mãe falecera quando o escritor tinha apenas seis anos), viu-se obrigado a trabalhar para sustentar a família, madrasta e irmãos.
O fato de ser mulato e de ter sofrido com a discriminação racial marcou profundamente a obra do escritor, que diferentemente de outros escritores contemporâneos, não se calou diante das injustiças sociais às quais a população negra e pobre era submetida. Embora tenha sido um dos grandes literatos de nosso país, Lima Barreto foi negligenciado pela crítica literária e pelo grande público, que há pouco, em um movimento recente que popularizou os livros do escritor, reconheceu sua importância para a Literatura brasileira, sendo então aceito como um dos representantes do Pré-Modernismo. Lima Barreto construiu uma relação de amor e ódio com a Academia Brasileira de Letras, tendo candidatado-se por três vezes sem sucesso. Isso não significa que ele não merecesse vestir o fardão dos imortais da ABL, pois é certo que a candidatura malsucedida foi resultado do preconceito que sofria.
Seus problemas com o alcoolismo, associados a distúrbios psíquicos, levaram-no por duas vezes à internação na Ala Pinel do Hospício Nacional. Vítima de um colapso cardíaco, consequência de uma saúde debilitada, Lima Barreto faleceu no Rio de Janeiro no dia 1° de novembro de 1922, aos 41 anos. Sua obra é composta por romances, contos e crônicas, dentre os quais merece destaque o romance Triste fim de Policarpo Quaresma, que narra a trajetória daquele que ficaria conhecido como o “Dom Quixote brasileiro”, personificação exata do ufanismo nacional. A literatura brasileira possui uma dívida histórica com Lima Barreto, que merece ter sua obra revisitada e divulgada para que mais leitores apreciem seus textos.
Originalmente postado no site https://alunosonline.uol.com.br/portugues/lima-barreto.html
Pesquei na página do professor Adinalzir Pereira Lamego
http://bogdomendesemendes.bogspot.com
Caro Mendes e Mendes
ResponderExcluirInfelizmente o povo brasileiro vive numa completa apatia mental quando se trata de eleger nossos políticos. E isso é um problema muito sério. Precisaríamos ainda ter muitos Policarpos.
Policarpo Quaresma deveria ser um modelo para os nossos políticos que vivem vendendo nosso país, nossas riquezas e enriquecendo cada vez mais. Loucos somos nós, que os elegemos.
Loucos ou não, Lima Barreto e Policarpo Quaresma deixaram para nós belíssimos exemplos de nacionalismo que deveriam ser seguidos por todos os brasileiros. Valeu amigo pela postagem!