Por José Mendes Pereira
Quando da vez
que o saudoso Edson Olegário, então prefeito de MV decidiu ser candidato a
deputado estadual, a notícia logo se espalhou por toda cidade, na época pequena
e provinciana.
De tal maneira que, desde então, ali não se falava noutra coisa, da urbe a zona rural. A boca pequena se comentava, da igreja às bodegas, dos cafés da rua do comércio às esquinas, às calçadas das casas. Das praças e as barbearias ao cabaré de Cesário e a pedra da estação.
Seu Edson, o prefeito agora seria eleito fácil deputado. Todos diziam numa só
voz.
Porém, quando a tal notícia chegou enfim, aos ouvidos do doido Juvêncio, que por sinal não gostava muito de política. Ele sempre dizia, que política era uma brincadeira inventada pelo cão. A arte do Demo, segundo ele, com a qual os homens maus, sempre enganavam os bons e os abestados da nação.
- Vou pedir para seu Edson não ir não! Mas, caso ele insistir há de ter uma condição, disse Juvêncio a plenos pulmões bem no portão do antigo mercado.
E assim rumou um tanto apressado para a residência do candidato.
Ao chegar à porta foi logo exclamando:
- Seu Edson, seu Edson! O sr. bem sabe que sou parente e um lascado devoto do Padim Ciço Romão. E que falei com ele na madrugadinha de hoje e tb aos sábado lá debaixo do pontilhão da linha e às vezes na capelinha dos Três Desterrados.
Emendou Juvêncio: - Portanto, vi lhe trazer um bom recado do homi santo do Juazeiro. Ele mandou dizer que, se o sr. quiser mesmo ser eleito deputado, terá que fazer sem demora um pequeno sacrifício. O sr. tem que vender logo todo o seu gado, as terras de cana, de milho e algodão. Os engenhos, os cabritos... Ficar pobre de Jó, feio, magro e malamaiado, igual a eu, São Sebastião e São Francisco. Se o sr. não fizer desse jeito vai perder a eleição até para um burrico.
Explicou ainda: - Mas tenha calma seu Edson. Porque Padim Ciço Romão também
disse que o sr. se assim desejar e for do seu agrado pode me deixar no seu
lugar de prefeito. Quanto a isso não tenha tanta cerimônia assim comigo... Pra
lhe ajudar eu aceito o cargo. De bom grado.
E disse mais: - Eu mesmo vou colaborar com o sr. quando for distribuir todo o seu dinheiro pra nossa população. Num vamos dar nada aos ricos, porque assim seria um grande desperdício... Os ricos daqui seu Edson, num valem um penico furado, nem um vintém nem um tostão. Cuidado, seu Edson, num vá perder seu dinheiro e tb a eleição por causa dessas mazelas desses Judas dos seicentos diabos.
Continuou: - Do patamar da matriz, de cima da ponte do trem, na frente do chafariz, na pedra da estação e dentro do mercado foi onde já escolhi pra gente jogar o seu dinheiro, que aliás, sei que não é pouco.
E com o dinheiro que o Sr. vai me agraciar eu vou é lhe comprar esta casa, a praça do Cristo-rei, a prefeitura, o sítio Santana, o jipe, a carroça e o cine São Luiz.
E para encerrar o assunto, Juvêncio ainda arrematou: - Afinal de contas, água deu, água levou, né mesmo seu Edson?!
Não sei ao certo como este diálogo terminou. O que sei é que Edson Olegário de Santana fora eleito deputado, por sinal, com uma considerável votação.
Mas esta certamente, é uma outra história...
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