Clerisvaldo B. Chagas, 10 de dezembro de 2019
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.226
No auge da sua carreira criminosa, Lampião, desapontado com o engodo militar em Juazeiro do Norte, voltou furioso a Pernambuco e penetrou em Alagoas. Saiu fazendo suas estripulias no Alto Sertão alagoano dirigindo-se à região de Santana do Ipanema, no comando da caterva de 102 cangaceiros. Os avisos chegavam através de vaqueiros que adiantavam as notícias e por famílias rurais em fuga. Certo dia apareceu na urbe o vaqueiro Catingueira montado numa égua em osso, paletó sem camisa, chapéu de couro repuxado para trás espalhando o medo: “Eu estava dentro do mato quando passou Virgulino e uma legião de demônios; ou vem para Santana ou para Olho d’Água das Flores”. A notícia brusca agitou a cidade.
Santana do Ipanema não estava preparada para rechaçar tamanha ameaça. O prefeito estava doente e uma esquiva policial não chegava a nada. Foi aí que um grupo de homens resolutos, resolveu tomar a iniciativa. Foi convocado o Tiro-de-Guerra com 25 atiradores; vários policiais e civis. O próprio padre Bulhões requisitou bastantes rifles da população e barricadas foram feitas na Rua da Poeira, entrada oeste da cidade. 1926. O inverno gelado na região não arrefecia os futuros combatentes. Anoiteceu, mas o frio não afastou os homens da trincheira durante a noite inteira. O dia amanheceu com o Sol dourando as montanhas e a fome bateu. Alguém foi à padaria e abasteceu os convocados com pães e bolachas. Nada de Lampião.
Enquanto isso algumas famílias se retiraram rumo a Palmeira dos Índios, no Agreste. Entre elas, o menino Breno Accioly, futuro contista brasileiro (atualmente a Biblioteca Pública leva o seu nome). Ao restante da população, somente restava aguardar o combate. Entretanto, Lampião, guiado por Gato Bravo – cangaceiro santanense – preferiu assaltar a zona rural e rumar para o distrito de Olho d’Água das Flores, onde permaneceu o dia como senhor da situação. Apesar dos absurdos praticados, não morreu ninguém em Olho d’Água. Mas, no dia seguinte, o bandido assassinou um cidadão no povoado Caboclo.
Bem, passado o susto em Santana do Ipanema, o povo voltou a sorrir sem o resultado do jogo (tiroteio).
O batalhão de polícia para combater os meliantes, só chegou ao Sertão em 1936, dez anos após o caso.
Dois anos depois, 1938, aí sim, Lampião entrava em Santana do Ipanema com Maria Bonita e mais nove demônios, mas só as cabeças.
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